Capítulo 173: Intermissão: Kuro ① ~ O poder dividido do Todo-Poderoso
Com o passar da noite e o silêncio reinando do lado de fora da janela, Kuro falou em um tom calmo.
“Errr, então, por onde começamos?”
“A-Antes disso, posso te fazer uma pergunta?”
“Unn?”
“O que é essa nossa posição...?”
Estou sentado no sofá, enquanto Kuro está sentada no mesmo lugar... Sim, no mesmo lugar...
O que estou tentando dizer é que Kuro está sentada no meu colo.
Meu coração está batendo absurdamente rápido... Por que os corpos das garotas são tão macios...? A maciez e o calor que sinto no meu colo fazem meu coração disparar como um despertador, e sinto meu rosto ficando cada vez mais corado.
Além disso, Kuro está apoiando o peso do seu corpo no meu, fazendo com que eu sinta o seu calor corporal no meu peito e também no meu colo.
“Quero ficar perto do Kaito-kun... Isso não é bom?”
“N-Não, não é ruim.”
“Ehehe, obrigado. Kaito-kun, você é quentinho.”
Sua expressão, com um sorriso feliz e as bochechas coradas como cerejas vermelhas, é tão fofa que poderia até matar alguém.
Vendo sua fofura irresistível, respondi por reflexo com aprovação, ao que ela esfregou alegremente a nuca no meu peito.
Kuro está um pouco mais infantil e carinhosa do que antes... Talvez, para Kuro, o ato de carinho seja a melhor forma de expressar afeto.
Sentindo o calor dessas ações, envolvi-a em um gentil abraço por trás.
Ela sorriu feliz com minhas ações e então me contou sobre o assunto que estava falando comigo desde o início.
“Então, antes de mais nada... Vou revelar minha verdadeira identidade.”
“Certo.”
Não sei se de fato me importo com a sua verdadeira identidade, porém, para ser honesto, estaria mentindo se dissesse que não me importo nem um pouco.
Segundo Alice, ela é tão poderosa quanto o deus mais poderoso do mundo e o único ser capaz de matar Shiro-san... Nesse caso, que tipo de ser é?
O que consigo imaginar é que deve ser um ser incrível, pelo menos para mim, um mero humano.
“Na verdade, eu sou... ‘Outra Shiro’.”
“Hã?”
“Shiro e eu somos imagens espelhadas uma da outra, e somos dois lados da mesma moeda.”
“Errr, o que isso significa?”
Kuro me disse que é outra Shiro-san... Quando me contou, me lembrei de sua aparência de mais cedo.
É o mesmo rosto da Shiro-san... Aliás, elas são iguais, exceto pela cor do cabelo... Sua aparência sem dúvida faz jus à expressão ‘outra Shiro-san’.
“Kaito-kun, a Shiro que você conheceu é bem harmoniosa. A antiga Shiro era mais fria e indiferente.”
“...”
“Shiro, veja bem, foi quem criou este mundo... Contudo nunca pensou que o que fez era certo ou que suas ações eram grandiosas... Nem um vestígio de qualquer pensamento. Então, mesmo quando criou o mundo, ela ‘dividiu’ seu poder, que era onipotente, ao meio.”
“Ao meio?”
“Sim... E metade desse poder caiu no mundo que criou, dando-lhe o mínimo de conhecimento... E essa metade sou eu.”
De alguma forma, a história começou a fazer sentido para mim.
Kuro é um ser com o mesmo poder que Shiro-san, pois foi criada a partir de suas próprias habilidades e, ao mesmo tempo, era responsável por avaliar o mundo que Shiro-san havia criado.
Como que para confirmar, Kuro assentiu uma vez antes de continuar falando.
“O motivo pelo qual Shiro me criou é simples. Depois que visse o mundo e crescesse junto com ele... Quando este mundo decidisse que não precisava mais da existência do Deus da Criação, ela criou um ser que pudesse matar o Deus da Criação. Shiro nem sequer se importava consigo mesma. Ela pensou que, assim que criasse o mundo, seu papel eventualmente chegaria ao fim. Deixando a administração do mundo para os deuses que criou, sem sequer olhar para sua criação... Apenas esperando que eu voltasse para matá-la ou que decidisse abandonar o mundo e destruí-lo.”
“...”
Sendo honesto, não consigo entender os pensamentos de Shiro-san naquela época. Não, suponho que se possa dizer que ela é divina de certa forma... No entanto ouvir que nem se importa consigo mesma me dá arrepios.
Se necessário, criará um ser para se matar quando seu papel terminar, e se falhar, estará disposta a destruir até mesmo o mundo que criou... É fria demais e pensa sistematicamente...
Todavia, as coisas não saíram como Shiro-san planejou.
Pode até haver alguma indiferença na Shiro-san atual, meio avoada, entretanto acho que se tornou uma espécie de deusa humana, repleta de bondade e amor, e por vários motivos... Eu também gosto muito da atual Shiro-san.
“Bem, depois disso, vi este mundo com meus próprios olhos, vivi nele, amei-o... E fiquei irritada, então dei um soco na cara da Shiro.”
“Hein?”
“Quer dizer, sim. Ela criou um mundo tão lindo e maravilhoso, e nem sequer o observa, só pensa no futuro, mesmo sem ninguém lhe pedir para fazê-lo, e ainda tem a audácia de me pedir para matá-la... Sinto que está apenas brincando. Então, fiquei muito irritada... Quer dizer, não foi você aquela quem criou este mundo? Então assuma a responsabilidade e cuide deles! Apoie-os quando precisarem!”
Kuro era originalmente a mesma existência que Shiro-san, mas como vivia com o mundo, amava este e construiu um forte senso de identidade... E portanto não conseguia perdoar Shiro-san... Seu outro eu, que permanecia indiferente ao mundo.
“Então, fui ao Reino dos Deuses para derrotar a Shiro... Há 20.000 anos.”
“Quer dizer que a guerra entre o Reino Demoníaco e o Reino dos Deuses, há 20.000 anos... Foi apenas por causa de uma briga entre vocês duas?”
“Bem, acho que poderia descrever assim!”
Observando-a estufar o peito enquanto assentia cheia de orgulho, não pude deixar de ficar surpreso.
“Eu e a Shiro somos totalmente equivalentes em força... Tenho uma magia especial que poderia matar a Shiro com um único golpe, dada a mim pela própria Shiro. Contudo, não queria matá-la, nem destruir o mundo... Só queria lutar e esfregar minhas opiniões na sua cara, no entanto se o fizesse, os outros deuses com certeza lutariam comigo e eu me esgotaria lutando contra eles... Originalmente, nossas forças eram equivalentes, então quanto mais exausta estivesse, mais em desvantagem eu estaria.
“É por isso que você foi lá com os Seis Reis...”
“Hmm. Com a ajuda de todos, tirei Shiro das áreas internas do Reino dos Deuses.”
Parando por alguns instantes, Kuro começou a falar aos poucos sobre aquela época...
——- 20.000 Anos Atrás ——-
Naquele dia, um grande terremoto ecoou por todo o Reino dos Deuses.
O Portão Divino, que era o único caminho que conectava o Reino dos Deuses ao Reino Demoníaco, ao Reino Humano e aos outros mundos naquela época, foi destruído, e seres com imensos poderes mágicos apareceram.
E quem percebeu essa situação anormal primeiro foi um Deus Supremo do Reino dos Deuses...
(O quê... Esse poder mágico? 6 seres... Não, 7?)
Chronois, o Deus do Tempo e do Espaço, sentiu o imenso poder mágico que surgiu de repente no Reino dos Deuses, interrompendo seu trabalho e se levantando.
De fato é possível se mover do Reino dos Deuses para o Reino Demoníaco e o Reino Humano. Todavia, apenas os deuses deveriam ser capazes de se mover do Reino Demoníaco e do Reino Humano para o Reino dos Deuses.
Em outras palavras, o fato de Chronois estar sentindo o poder mágico de seres que não são Deuses...
“Não é possível, sobrescreveram a técnica do Portão? O Portão que a própria Shallow Vernal-sama construiu... Imbuído de uma técnica mágica que a própria Shallow Vernal-sama escreveu... Kuh!”
Assim que se deu conta da situação, Chronois saltou em seguida para fora de seu templo.
Assim que saltou, a uma grande distância... Pôde ver uma densa fumaça subindo na direção do Portão Divino e Chronois instantaneamente parou o tempo do mundo.
“Quem quer que você seja... Eu farei se arrepender do dia em que apontou sua lâmina para o Reino dos Deuses!”
Para Chronois, aquela que governa o tempo, a distância não é um obstáculo para nada.
Começando a se mover ao longo do tempo parado, Chronois alcança o Portão Divino em menos de um piscar de olhos para os outros... Era o que deveria ter acontecido.
“Guh?”
Imediatamente após começar a se mover, Chronois é atingida por um poderoso impacto que a derruba no chão.
Mesmo com as capacidades defensivas de um Deus Supremo, o golpe foi tão poderoso que não conseguiu bloqueá-lo por completo, e embora tenha gritado de angústia, recuperou em seguida a postura.
Os danos ao seu corpo podem ser reparados instantaneamente. Contudo, o espanto em seu rosto não desapareceu.
“Isso é impossível... Quem é você? Como consegue se mover dentro do meu tempo paralisado...?”
“Algo assim é fácil para uma ‘serva’ como eu... Não posso deixar você chegar perto do meu mestre.”
Com seus curtos cabelos platinados esvoaçando, a atacante permanecia inalterada diante de Chronois... Ein confrontou Chronois, que estava em posição de guarda.
“... (Que poder mágico é esse, é inacreditável... É comparável até mesmo ao de um Deus Supremo como eu... Se os outros invasores estiverem no mesmo nível, isso será catastrófico!)]
Uma gota de suor escorre pela testa de Chronois.
Ao sentir a força de Ein em sua pele e estremecer, pensando que poderiam haver outras seis pessoas poderosas do seu nível.
No entanto, Chronois não deixou transparecer seu estado mental em sua expressão e logo se preparou para a batalha... Pois se seres desse nível de poder estavam atacando o Reino dos Deuses, precisava chegar ao local o mais rápido possível...
Assim como Chronois, o Deus da Vida, Life, sentiu o ataque e partiu para a área de onde vieram os invasores, o Portão Divino, e através de sua habilidade, captou a visão dos atacantes pelos olhos dos deuses presentes.
“... (Detectei sete poderes mágicos, mas há apenas três no Portão Divino... Uma Besta Mágica, um Dragão e um Espírito... Os outros seres já se dispersaram, hein? Que problemático... De qualquer forma, eles possuem um poder mágico incrível... Todavia, preciso suprimir esses três.)”
Life também sentiu o poder dos atacantes e, decidindo que esses seres representavam o maior perigo desde a criação do Reino dos Deuses, usou seu poder para controlar a Vida.
Um poder mágico brilhante rodopiava em torno de Life como estrelas cadentes, e cada um se transformou em soldados blindados armados com enormes lanças.
O número dessas tropas facilmente chegou às dezenas de milhares, e todos voaram direto em direção aos invasores, seguindo as instruções de Life.
“Avante, tropas de vanguarda... O quê?”
Entretanto, os soldados blindados nunca alcançaram os três atacantes, e todos começaram a cair ao mesmo tempo.
“Não vou deixar vocês passarem.”
“(Que poder mágico sinistro... É como se fosse a própria morte...)”
Isis desce diante de Life, envolta em seu poder mágico sinistro da morte, brilhando em um tom branco-azulado.
Os soldados blindados, atingidos pelo poder mágico da morte liberado por Isis, caem um a um, extinguindo a luz de suas vidas.
“Se você... Interferir... Eu te matarei.”
“Entendo, você possui um poder mágico considerável... Porém, que tal não me subestimar?”
“?”
Com essas palavras, o corpo de Life emitiu um intenso brilho, e uma legião de soldados, muito maior que a anterior, surgiu ao seu redor.
“Eu sou aquela que governa a vida. É fácil para mim reviver vidas perdidas e até mesmo criar novas... Encarnação da Morte... Não importa quantos soldados mate, eu criarei uma legião que os superará.”
“Não importa... Tudo o que preciso fazer... É matar todos!”
Encarando Life, que tem uma legião de soldados preenchendo seu campo de visão, o poder mágico da morte que Isis veste se intensifica ainda mais.
Vida e Morte, duas forças em conflito, agora colidem silenciosamente.
“Acho que não posso dizer que não vou participar já que é problemático, né?”
Ouvindo o som da batalha ecoando pelo Reino dos Deuses, Fate, o Deus do Destino, observa em silêncio a batalha de cima.
“(O Deus do Tempo e do Espaço e o Deus da Vida estão sendo subjugados. Está me dizendo que cada um deles tem um poder que rivaliza com o nosso... Não tem jeito. Nessa situação, só me resta usar todas as minhas forças e lidar com os cinco restantes.)”
Fate, aquela que governa o destino, tem o poder de determinar as possibilidades.
Portanto, se observar todo o campo de batalha, milagres continuarão a acontecer com seus aliados e infortúnios continuarão a cair sobre seus inimigos.
E no momento em que estava prestes a exercer seu poder para determinar o destino deles, a paisagem ficou estática e seu poder desapareceu.
“Que assustadora você é! Você consegue até mesmo manipular o princípio da causalidade, vocês, Deuses, são seres realmente ultrajantes.”
“(Quando foi que ela fez isso? Como é que eu não senti a sua aproximação?)”
“Nesse caso, vamos te prender aqui mesmo!”
Sacudindo seu manto acorrentado, Shalltear declarou com um tom descontraído.
Rejeitando essas palavras com seu olhar indiferente, Fate respondeu com calma.
“Você, me impedir? Acredita de verdade que conseguiria?”
“Isso é algo que posso fazer. Porque sou uma ilusão vazia... O palhaço que engana o mundo... Livre do destino e da fatalidade.”
“Como esperado de um palhaço. Essa foi uma piada engraçada... Embora eu ache graça...”
O Deus que define o destino e o palhaço que engana o mundo... Assim como os outros Deuses Supremos, Fate também teve que enfrentar um poderoso inimigo.
E assim, enquanto a batalha era travada por seres com habilidades poderosas... O ser mais poderoso do mundo ascendeu pouco a pouco do Trono de Deus e começou a caminhar para o campo de batalha.
Sem saber que havia um ser esperando por sua chegada...
Notas do Autor:
Este é um capítulo de interlúdio em três partes sobre o passado de Kuro.
A batalha contra o Reino dos Deuses terminará na próxima vez. Terminarei o próprio interlúdio amanhã.
Aliás, nesta época... A palavra “empregada doméstica” ainda não existia neste mundo.
Serious-senpai: “Egghhh... Sniff... Quando será a minha vez...?”
<Você pode desempenhar um papel ativo nos interlúdios. Você é até mesmo a protagonista.>
Serious-senpai: “Ehhh. (Kyun~)”
Serious-senpai é uma heroína fácil de agradar.
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Link para o índice de capítulos: I Was Caught up in a Hero Summoning, but That World is at Peace
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