segunda-feira, 24 de novembro de 2025

The Dragonbone Chair — Volume 02 — Capítulo 22

Capítulo 22: Um Vento do Norte


— Não, eu não quero porra nenhuma! — Guthwulf, Conde de Utanyeat, cuspiu suco de citrino no piso de ladrilhos enquanto o pajem de olhos arregalados se afastava apressadamente. Observando-o partir, Guthwulf se arrependeu de suas palavras precipitadas... Não por compaixão pelo garoto, mas porque de repente percebera que poderia de fato querer alguma coisa. Estava há quase uma hora esperando do lado de fora da sala do trono sem uma gota de nada para beber, e só o próprio Aedon sabia por quanto tempo mais poderia ficar ali apodrecendo.

Voltou a cuspir, o citrino pungente ardendo em sua língua e lábios, e praguejou enquanto limpava um fio de saliva de seu longo maxilar. Ao contrário de muitos dos homens sob seu comando, Guthwulf não estava acostumado a ter um pedaço da raiz amarga do sul sempre enfiado na bochecha, porém durante aquela primavera estranha e úmida... Que o encontrara confinado por dias seguidos no Hayholt, esperando as ordens do Rei, descobrira que qualquer distração, mesmo a de queimar o paladar, era bem-vinda.

Além disso, e sem dúvida por causa do tempo chuvoso, os salões de Hayholt pareciam cheirar a mofo, bolor e... Não, corrupção era uma palavra melodramática demais. De qualquer forma, o citro fortemente aromático pareceu ajudar.

Assim que Guthwulf se levantou, abandonando o banco para retomar o andar frustrado que ocupara a maior parte de sua espera, a porta da sala do trono rangeu e se abriu para dentro. A cabeça raspada de Pryrates apareceu na fresta, os olhos negros, planos e brilhantes como os de um lagarto.

— Ah, que bom Utanyeat! — Pryrates mostrou os dentes. — Quanto tempo o deixamos esperando! O Rei está pronto para recebê-lo agora. — o sacerdote puxou a porta mais para dentro, revelando seu manto escarlate e um vislumbre do salão nobre atrás. — Por favor! — disse.

Guthwulf teve que passar muito próximo de Pryrates ao entrar, encolhendo o peito para minimizar o contato. Por que o homem estava tão perto? Seria para deixar Guthwulf desconfortável... Não havia nenhuma simpatia entre a Mão do Rei e o Conselheiro do Rei... Ou estava tentando manter a porta o mais fechada possível? O castelo estava frio naquela primavera, e se alguém merecia se aquecer, era Elias. Talvez Pryrates estivesse apenas tentando conservar o calor na espaçosa sala do trono.

Bem, se era o que esperava encontrar, havia se equivocado por completo. No momento em que Guthwulf cruzou a soleira e passou pela porta, sentiu o frio descer sobre ele, transformando a pele de seus braços fortes em carne de galinha. Olhando além do trono, viu que várias das janelas superiores estavam abertas, apoiadas em varas. O ar frio do norte que soprava em redemoinhos puxava as chamas das tochas, fazendo-as dançar em seus flancos.

— Guthwulf! — Elias rugiu, meio que se levantando de seu trono de osso amarelado. O enorme crânio de dragão olhou de soslaio por cima do seu ombro. — Tenho vergonha de tê-lo deixado esperando. Venha aqui!

Guthwulf avançou pela passarela ladrilhada, tentando não tremer.

— Você tem muita coisa em que pensar, Majestade. Não me importo de esperar.

Elias recostou-se em seu trono enquanto o Conde de Utanyeat se ajoelhava à sua frente. O Rei usava uma camisa preta com detalhes em verde e prata, e suas botas e calças também eram pretas. A coroa de ferro de Fingil repousava no alto de sua testa pálida, e em uma bainha ao seu lado estava a espada com a estranha empunhadura cruzada. O monarca não a largava havia semanas, no entanto Guthwulf não fazia ideia de sua procedência. O Rei nunca havia mencionado, e havia algo estranho e inquietante na lâmina que impediu Guthwulf de perguntar.

— Não se importa de esperar. — Elias deu um sorriso irônico. — Vamos, sente-se. — o Rei indicou um banco a um ou dois passos de onde o Conde estava ajoelhado. — Desde quando você não se importa de esperar, Lobo? Só porque sou Rei, não pense que fiquei cego e estúpido também.

— Tenho certeza de que, quando tiver algo para a Mão do seu Rei fazer, você me informará.

As coisas haviam mudado entre Guthwulf e seu velho amigo Elias, e o Conde de Utanyeat não gostou nem um pouco. Elias nunca fora reservado, mas agora Guthwulf sentia vastas correntes ocultas se movendo sob a superfície dos eventos diários, correntes que o Rei fingia nem existir. As coisas haviam mudado, e Guthwulf tinha certeza de quem era o culpado. Olhou por cima do ombro do Rei, para Pryrates, que o observava fixamente. Quando seus olhares se encontraram, o sacerdote de túnica vermelha ergueu uma sobrancelha sem pelos, como se estivesse em uma pergunta zombeteira.

Elias esfregou as têmporas por um momento.

— Você terá trabalho suficiente e ainda mais em breve, eu lhe prometo. Ah, minha cabeça. Uma coroa é realmente uma coisa pesada, amigo. Às vezes, gostaria de poder largá-la e ir para algum lugar, como fizemos tantas vezes no passado. Companheiros livres da estrada! — o Rei desviou o sorriso sombrio de Guthwulf para seu conselheiro. — Sacerdote, minha cabeça dói de novo. Traga-me um pouco de vinho, por favor?

— Agora mesmo, meu Senhor.

Pryrates foi para os fundos da sala do trono.

— Onde estão seus pajens, Majestade? — perguntou Guthwulf.

O Rei tinha um aspecto de terrível cansaço, pensou. Os bigodes em suas bochechas com a barba por fazer se destacavam, negros contra sua pele pálida.

— E por que, com todo respeito, está trancado nesta caverna congelante de salão? Está mais frio que o traseiro preto do Diabo aqui dentro, e além de tudo cheira a mofo. Deixe-me acender uma fogueira na lareira.

— Não. — Elias acenou com a mão larga, dispensando-o. — Não quero que fique mais quente. Já estou aquecido. Pryrates diz que é só uma febre intermitente. Seja lá o que for, o ar fresco me faz bem. E há bastante brisa, então não precisa temer estagnação ou mau humor.

Pryrates retornara com a taça do Rei; Elias a esvaziou de um gole só e secou os lábios com a manga.

— Muita brisa, Majestade. — Guthwulf sorriu com amargura. — Bem, meu Rei, o senhor... E Pryrates... Sabem mais, e sem dúvida não têm nada a aprender com um guerreiro. Existe alguma outra maneira de eu poder servi-lo?

— Creio que talvez possa, embora a tarefa possa não ser do seu agrado. Primeiro, porém, diga-me, o Conde Fengbald retornou?

Guthwulf assentiu.

— Falei com ele esta manhã, senhor.

— Eu o chamei. — Elias estendeu sua taça para mais vinho, e Pryrates trouxe o jarro e o serviu. — Mas já que o viu, diga-me agora, suas notícias são boas?

— Receio que não, senhor. O espião que procura, o capanga de Morgenes, ainda está à solta.

— Maldito seja! — Elias esfregou um ponto bem ao lado da sobrancelha. — Ele não tinha os cães que lhe dei? E o mestre-caçador?

— Sim, Majestade, e ele os deixou ainda caçando, porém, para ser justo com Fengbald, devo dizer que o senhor lhe impôs uma tarefa quase impossível.

Elias estreitou os olhos, encarando-os, e por um momento Guthwulf sentiu que estava diante de um estranho. Então, o bater da jarra contra a taça quebrou a tensão e Elias relaxou.

— Bom... — disse o Rei. — Tem razão. Terei que tomar cuidado para não descontar minhas frustrações em Fengbald. Ele e eu... Compartilhamos uma decepção.

Guthwulf assentiu, observando o Rei.

— Sim, senhor, fiquei alarmado ao saber da doença de sua filha. Como está Miriamele?

O Rei olhou por um breve instante para Pryrates, que terminou de servir e recuou.

— É muito amável da sua parte perguntar, Lobo. Não achamos que ela esteja em perigo, contudo Pryrates tem certeza de que a brisa marítima de Meremund será o melhor remédio para seus males. No entanto é uma pena adiar o casamento.

O Rei olhou para sua taça de vinho como se fosse a boca de um poço onde tivesse acabado de jogar algo valioso. O vento assobiava nas janelas abertas.

Depois de alguns longos momentos, o Conde de Utanyeat sentiu-se compelido a falar.

— Você disse que havia uma pequena tarefa que eu poderia fazer por você, meu Rei?

Elias ergueu os olhos.

— Ah. Claro. Desejo que vá a Hernysadharc. Já que fui forçado a aumentar os impostos para compensar a maldita e miserável seca, aquele velho esquilo das montanhas, Lluth, me desafiou. Ele enviou aquele afetado Eolair para me acalmar com palavras doces, todavia o tempo das palavras acabou.

— Acabou, meu Senhor? — Guthwulf ergueu uma sobrancelha.

— Acabou. — rosnou Elias. — Quero que leve uma dúzia de cavaleiros... Mais do que isso e Lluth não teria escolha a não ser resistir, e os leve até Taig para enfrentar o velho avarento em seu covil. Diga-lhe que me recusar é como me dar um tapa na cara... Cuspir no próprio Trono de Ossos do Dragão. Mas seja sutil, não diga nada na frente de seus cavaleiros que o envergonhe e o obrigue a resistir... Entretanto, deixe claro que se me negar mais, suas muralhas correrão o risco de cair em chamas sobre sua cabeça. Faça-o temer, Guthwulf.

— Assim o farei, Senhor.

Elias deu um sorriso tenso.

— Ótimo. E enquanto estiver lá, fique de olho em qualquer sinal do paradeiro de Josua. Não há notícias de Naglimund, embora meus espiões estejam por perto. É possível que meu irmão traiçoeiro tenha ido para Lluth. Pode até ser ele quem esteja alimentando a teimosia de Hernystir!

— Serei seu Olho e também sua Mão, meu Rei.

— Se me permite, Rei Elias? — ao lado do Rei, Pryrates levantou um dedo.

— Fale, sacerdote.

— Também gostaria de sugerir que nosso senhor de Utanyeat fique de olho no garoto, o espião de Morgenes. Ajudaria a complementar o esforço de Fengbald. Precisamos daquele garoto, Majestade... De que adianta matar a serpente se os filhotes forem soltos?

— Se eu encontrar o jovem víbora... — Guthwulf sorriu. — Terei prazer em esmagá-lo sob meus calcanhares.

— Não! — gritou o soberano, assustando Guthwulf com sua veemência. — Não! O espião precisa viver, e qualquer um de seus companheiros, até que os tenhamos aqui em Hayholt, em segurança. Há perguntas que precisamos fazer a eles. — Elias, como se envergonhado por sua explosão, voltou um olhar estranhamente suplicante para o velho amigo. — Compreende isso, não é?

— Claro, Majestade! — respondeu Guthwulf sem perder um segundo.

— Só precisam ser trazidos até nós com seus corações ainda batendo em seus corpos. — disse Pryrates, calmo como um padeiro falando de farinha. — Então descobriremos tudo.

— Já chega. — Elias deslizou mais para trás em seu assento de ossos.

Guthwulf ficou surpreso ao ver gotas de suor brotando em sua testa, enquanto o Conde de Utanyeat tremia no ar frio.

— Vá, velho amigo. Traga-me toda a lealdade de Lluth, ou, se não, o mandarei de volta para me trazer sua cabeça. Vá.

— Fique com Deus, Majestade.

Guthwulf desceu do banco sobre um joelho, levantou-se e recuou pelo corredor. Os estandartes acima de sua cabeça balançavam, açoitados pelo vento; nas sombras fluidas projetadas pelas tochas bruxuleantes, os animais do clã e as feras heráldicas pareciam engajados em uma dança sinistra e irregular.



***



Guthwulf encontrou Fengbald no salão da antecâmara. O Conde de Falshire havia limpado a areia da estrada do rosto e do cabelo desde o encontro naquela manhã e vestia um gibão de veludo vermelho com a águia prateada de sua família estampada no peito, suas penas entrelaçadas em um padrão fantasioso.

— Ei, Guthwulf, você o viu? — perguntou.

O Conde de Utanyeat assentiu.

— Sim, e você também vai. Maldito seja, é ele quem deveria estar respirando ar salgado em Meremund, em vez de Miriamele. Está parecendo... Sei lá, parece terrivelmente doente. E a câmara do trono está fria como gelo.

— Então é verdade? — perguntou Fengbald, carrancudo. — Sobre a princesa? Pensei que ele tivesse mudado de ideia.

— Ela foi para o oeste, para o mar. Seu grande dia terá que esperar um pouco, ao que tudo indica. — Guthwulf deu um sorriso irônico. — Tenho certeza de que encontrará algo para manter seu interesse até a princesa retornar.

— Esse não é o problema. — a boca do Conde de Falshire se torceu como se tivesse sentido um gosto azedo. — Só temo que esteja tentando voltar atrás na promessa. Ouvi dizer que ninguém sabia que ela estava doente até sua partida.

— Está se preocupando demais. — disse Guthwulf. — É coisa de mulheres. Elias precisa de um herdeiro. Seja grato por se encaixar melhor do que eu nos requisitos para ser seu genro. — Guthwulf mostrou os dentes num sorriso irônico. — Eu iria até Meremund e a pegaria.

O senhor de Utanyeat fez uma saudação irônica e se afastou, deixando Fengbald parado diante das altas portas de carvalho da sala do trono.



***



De longe, no corredor, ela percebeu que era o Conde Fengbald, e que este estava de mau humor. Seu andar balançando os braços, como um menino sendo mandado embora da mesa de jantar, e o bater alto e deliberado dos saltos de suas botas nas pedras do chão anunciavam seu humor à sua frente.

Ela estendeu a mão e puxou o cotovelo de Jael. Quando a garota de olhos acovardados ergueu o olhar, já certa de que havia feito algo errado, Raquel fez um gesto em direção ao Conde de Falshire que se aproximava.

— É melhor tirar esse balde do caminho, garota. — Raquel pegou a vassoura da mão de Jael. O balde de água com sabão estava no centro do corredor, bem no caminho do nobre que se aproximava.

— Depressa, sua garota estúpida! — sibilou, com um toque de alarme na voz. No momento em que as palavras saíram, Raquel soube que não deveria tê-las pronunciado. Fengbald estava xingando a si mesmo, o rosto contraído em um rosnado petulante. Jael, num frenesi de pressa descoordenada, deixou o balde deslizar por entre os dedos molhados. Ele atingiu o chão com um baque forte, e um jato de água com sabão transbordou pela borda, espirrando no corredor. Fengbald, agora próximos delas, pisou em cheio na poça que se espalhava. Perdeu o equilíbrio por um instante, jogando os braços para cima enquanto deslizava, depois agarrou-se a uma tapeçaria na parede para se apoiar, enquanto Raquel observava com horror, impotência e expectativa. Foi um golpe de sorte que a tapeçaria tenha sustentado o peso de Fengbald por tempo suficiente para que este recuperasse o equilíbrio; no entanto, um instante depois, a própria tapeçaria se soltou em um canto superior e deslizou suavemente pela parede, afundando na poça ensaboada.

Raquel olhou para o rosto avermelhado do Conde de Falshire por apenas um instante antes de se virar para Jael.

— Desapareça, sua vaca desajeitada. Ande logo. Agora! — Jael, com um olhar desesperado para Fengbald, virou-se e correu, seu traseiro gordo abanando lamentavelmente.

— Volte aqui, sua vagabunda! — Fengbald gritou, o queixo tremendo de raiva. Seus longos cabelos negros, agora desgrenhados, caíam sobre seu rosto. — Eu te darei o que merece por esse... Por esse...!

Raquel, mantendo o olhar fixo no Conde, curvou-se e levantou a ponta encharcada da tapeçaria da água. Não havia como pendurá-la de volta; ela ficou segurando-a, observando-a pingar enquanto Fengbald se enfurecia.

— Olha! Olha as minhas botas! Vou mandar cortar a garganta daquela vadia imunda por isso!

O Conde voltou o olhar para Raquel.

— Como ousa mandá-la embora?

A mulher baixou os olhos, o que não era difícil, já que o jovem nobre era pelo menos trinta centímetros mais alto que ela.

— Sinto muito, Senhor! — disse, e seu medo sincero imprimiu um tom convincente de respeito à sua voz. — Aquela é uma garota estúpida, Mestre, e vai apanhar pelo que fez, porém sou a Senhora das Camareiras e assumo a culpa. Sinto muito, muito mesmo.

Fengbald a encarou por um momento e seus olhos se estreitaram. Depois, tão rápido quanto uma flecha, estendeu a mão e deu um tapa no rosto de Raquel. Sua mão voou até a marca vermelha que se espalhava por sua bochecha, como a poça se espalhara pelas lajes.

— Então de isto para a vagabunda gorda. — Fengbald cuspiu. — E se eu a encontrar de novo, diga que lhe quebrarei o pescoço.

O Conde encarou a Senhora das Camareiras por um momento e então continuou andando pelo corredor, deixando um rastro de pegadas de salto e biqueira brilhando úmidas nas lajes.



***



“Tenho certeza de que o fará.” Raquel pensou consigo mesma mais tarde, sentada na cama, segurando um pano úmido contra a bochecha ardendo. Do outro lado do corredor, no dormitório das empregadas, Jael soluçava. Raquel não tivera coragem nem de gritar com a moça, a simples visão do rosto inchado de Raquel fora castigo suficiente para fazer a garota gorducha e de coração mole ter um paroxismo de lágrimas.

“Doces Rhiap e Pelippa. Prefiro levar dois tapas a ouvi-la choramingando.”

Raquel rolou para o catre duro. Ela o mantinha sobre uma tábua por causa das costas sempre doloridas, e puxou o cobertor sobre a cabeça para abafar o som do choro de Jael. Enrolada no cobertor, podia sentir seu próprio hálito quente envolvendo seu rosto.

“Deve ser assim que é ser roupa suja no cesto.” pensou, e então se repreendeu por tamanha ingenuidade. “Você está ficando velha... Velha e inútil.”

De repente, sentiu as lágrimas chegando, as primeiras que chorava desde a notícia sobre Simon.

“Estou tão cansada. Às vezes, acho que vou cair onde estou, cair como uma vassoura quebrada aos pés desses jovens monstros... Pisando forte no meu castelo, nos tratando como se fôssemos lixo... E eles provavelmente me jogariam para fora junto com a poeira. Estou tão cansada... Se ao menos... Se...”

O ar sob o cobertor estava denso e quente. Ela havia parado de chorar... De que serviam as lágrimas, afinal? Deixe-as para suas garotas estúpidas e inconstantes... E agora sentia-se caindo no sono, sucumbindo ao seu peso como se estivesse se afogando em água morna e pegajosa.

E em seu sonho Simon não estava morto, não morrera no terrível incêndio que também levara Morgenes e vários dos guardas que correram para apagá-lo. Até o Conde Breyugar, diziam, perecera na catástrofe, esmagado pelo desabamento do teto em chamas... Não, Simon estava vivo e saudável. Algo no garoto estava diferente, todavia Raquel não conseguia dizer o quê... O olhar em seus olhos, a linha mais dura de seu maxilar? Mas não importava. Era Simon, vivo, e enquanto sonhava, o coração de Raquel foi outra vez preenchido. Ela o viu, o menino morto, seu menino morto, na verdade... Não o criara como uma mãe até que fosse levado embora? E este estava parado em um lugar de brancura quase absoluta, olhando para uma grande árvore branca que se estendia no ar como uma escada para o Trono de Deus. E embora permanecesse resolutamente com a cabeça jogada para trás e os olhos fixos na árvore, Raquel não pôde deixar de notar que seu cabelo, aquele emaranhado espesso e avermelhado, precisava de um corte urgente... Bom, cuidaria disso em breve, com certeza... O menino precisava de uma mão firme...



***



Quando acordou, puxando o cobertor sufocante para o lado em pânico e encontrando mais escuridão ao seu redor, desta vez a escuridão da noite, o peso da perda e da dor voltou a deslizar como uma tapeçaria molhada. Quando se sentou na cama e se levantou devagar, o pano de prato caiu solto, seco como uma folha de outono. Não havia necessidade de ficar ali, definhando como uma menininha agitada. Havia trabalho a ser feito, Raquel lembrou a si mesma, e nenhum descanso deste lado do Céu.



***



O tamborim soou, e o tocador de alaúde dedilhou um acorde suave antes de começar o último verso.



E agora vens, minha bela dama,

em tecido de Khandery e sedas também?

Então, se queres reinar sobre o meu coração,

Põe-te a pé agora e segue para o Salão de Emettin!




O músico terminou com uma enxurrada de notas delicadas e fez uma reverência enquanto o Duque Leobardis aplaudia.

— Salão de Emettin! — disse o Duque a Eolair, Conde de Nad Mullach, que seguiu o exemplo de Leobardis com seus próprios aplausos obedientes. Secretamente, o hernystiro tinha certeza de que já tinha ouvido melhores. Não se deixava levar pelas baladas de amor tão populares ali na corte de Nabban.

— Gosto dessa canção. — sorriu o Duque. Seus longos cabelos brancos e bochechas rosadas lhe davam a aparência de um velho tio-avô querido, do tipo que bebia cerveja preta demais nas festas Aedonitas e depois tentava ensinar as crianças a assobiar. Apenas o manto branco esvoaçante, com detalhes em lápis-lazúli e ouro, e o diadema dourado na cabeça com o martim-pescador de madrepérola, o proclamavam diferente dos homens comuns. — Vamos, Conde Eolair, pensei que a música era a alma do Taig. Lluth não se considera o maior patrono dos harpistas de Osten Ard, e o seu Hernystir o lar natural dos músicos? — o Duque se inclinou sobre o braço de sua cadeira azul-celeste para dar um tapinha na mão de Eolair.

— O Rei Lluth realmente mantém seus harpistas ao seu lado o tempo todo. — concordou Eolair. — Por favor, Duque, se pareço preocupado, não é de forma alguma por qualquer mesquinharia de sua parte. Sua gentileza é algo do qual jamais esquecerei. Não, devo admitir que ainda estou incomodado com os assuntos que discutimos antes.

Uma expressão de preocupação surgiu nos suaves olhos azuis do Duque.

— Eu já lhe disse, Eolair, que há um tempo para tais coisas. É muito cansativo ter que esperar, porém aí está. — Leobardis fez um gesto para o tocador de alaúde, que esperava pacientemente ajoelhado. O músico se levantou, fez uma reverência e se afastou. Sua vestimenta fantasticamente intrincada ondulava ao seu redor enquanto se juntava a um grupo de cortesãos igualmente trajados com robes e túnicas suntuosamente bordadas. As damas complementavam seus trajes com chapéus exóticos com asas como aves marinhas ou cristas como as barbatanas de peixes brilhantes. As cores da sala do trono, assim como as dos trajes dos cortesãos, eram suaves: azuis de bom gosto, beges amarelados, rosas, brancos e verdes espuma. A impressão era a de um palácio construído com delicadas pedras do mar, tudo alisado e suavizado pela força do oceano.

Além dos cavalheiros e damas da corte, ocupando toda a parede sudoeste voltada para a cadeira do Duque, ficavam as altas janelas em arco que davam para o mar verde e agitado, banhado pelo sol. O oceano, que se lançava incessantemente contra o promontório rochoso onde se erguia o palácio ducal, era uma tapeçaria vibrante e viva. Observando durante o dia a luz em movimento dançando em sua superfície ou revelando trechos de mar calmo, pesados ​​e translúcidos como jade, Eolair desejava varrer os cortesãos do caminho, expulsá-los da sala aos tropeços e aos guinchos para que nada obscurecesse sua visão.

— Talvez você tenha razão, Duque Leobardis. — disse Eolair por fim. — É preciso parar de falar em algum momento, mesmo quando o assunto é vital. Suponho que, sentado aqui, eu deveria estar aprendendo uma lição com o oceano. Ele não precisa se esforçar muito para conseguir o que quer; eventualmente, desgasta as rochas, as praias... Até as montanhas.

Leobardis gostava mais desse tipo de conversa.

— Ah, sim, o mar nunca muda, não é? E, no entanto, está sempre mudando.

— É verdade, meu senhor. E nem sempre está calmo. Às vezes, há tempestades.

Quando o Duque inclinou a cabeça em direção ao hernystiro, sem saber se essa observação significava algo mais do que o óbvio, seu filho Benigaris entrou na sala, cumprimentando alguns dos cortesãos que o cumprimentaram enquanto se dirigia à cadeira do Duque.

— Meu pai; Conde Eolair! — disse ele, curvando-se uma vez para cada um. Eolair sorriu e estendeu a mão para apertar a de Benigaris.

— É bom vê-lo! — disse o hernystiro.

Benigaris estava mais alto do que quando o vira pela última vez, todavia o filho do Duque tinha então apenas dezessete ou dezoito anos. Quase duas décadas se passaram, e Eolair não ficou descontente ao ver que, apesar de ser uns bons oito anos mais velho, era Benigaris quem tinha a cintura mais grossa, não ele. Porém, o filho do Duque era alto e de ombros largos, com olhos escuros e intensos sob sobrancelhas grossas e negras. Uma figura bastante imponente com sua túnica cintada e colete acolchoado, um contraste vibrante com seu pai afável.

— Sim, faz muito tempo. — concordou Benigaris. — Conversaremos no jantar hoje à noite.

Eolair não achou que parecesse muito animado com a perspectiva. Benigaris se virou para o pai.

— Sir Fluiren está aqui para vê-lo. Está com o camareiro no momento.

— Ah, o bom e velho Fluiren! Que ironia para você, Eolair. Um dos maiores cavaleiros que Nabban já produziu.

— Só seu irmão Camaris foi chamado de maior. — interrompeu Eolair, não avesso a ressuscitar as memórias de uma Nabban mais marcial.

— Sim, meu querido irmão. — Leobardis sorriu com tristeza. — Bem, pensar que Fluiren viria me ver como emissário de Elias!

— Há uma certa ironia. — disse Eolair, despreocupado.

Benigaris torceu os lábios em impaciência.

— Ele está te esperando. Acho que você deveria vê-lo rapidamente, como um gesto de respeito ao Supremo Rei.

— Ora, ora! — Leobardis lançou um olhar divertido para Eolair. — Está ouvindo meu filho a me dar ordens? — quando o Duque se virou para Benigaris, Eolair pensou que poderia haver algo no olhar de Leobardis além de diversão... Raiva? Preocupação? — Sim, então, diga ao meu velho amigo Fluiren que o verei... Deixe-me pensar... Sim, no Salão do Conselho. Gostaria de se juntar a nós, Eolair?

Benigaris interveio.

— Pai, acho que o senhor não deveria convidar nem mesmo um amigo tão confiável quanto o Conde para ouvir comunicações secretas do Supremo Rei!

— E qual a necessidade, posso perguntar, de esconder segredos de Hernystir? — perguntou o Duque. A raiva transparecia em sua voz.

— Por favor, Leobardis, tenho coisas que preciso fazer de qualquer maneira. Entrarei mais tarde para cumprimentar Fluiren. — Eolair se levantou e fez uma reverência.

Ao parar no caminho através da sala do trono para contemplar mais uma vez a esplêndida vista, ouviu as vozes de Leobardis e de seu filho se erguerem atrás dele, em uma discussão abafada.

“Ondas criam mais ondas, como dizem os nabbanos.” pensou Eolair. “Parece que o equilíbrio de Leobardis é mais delicado do que pensei. Sem dúvida, é por isso que não está tão disposto a falar francamente comigo sobre seus problemas com o Rei. Ainda bem que Leobardis é mais durão do que aparenta.”

Ao ouvir os cortesãos sussurrando em suas costas, se virou para ver vários deles olhando em sua direção. Sorriu e saudou. As mulheres coraram, cobrindo a boca com as mangas esvoaçantes; os homens devolveram um firme aceno e logo depois desviaram o olhar. Sabia o que estavam pensando... Ele era uma curiosidade, um ocidental rústico e inculto, mesmo sendo um velho amigo do Duque. Não importava o que vestisse, ou quão perfeita fosse sua fala, ainda pensariam da mesma forma. De repente, Eolair sentiu uma profunda saudade de sua casa em Hernystir. Havia passado tempo demais em cortes estrangeiras.

As ondas batiam contra as rochas abaixo, como se o mar não se satisfizesse até que sua monstruosa paciência por fim derrubasse o palácio em suas garras aquáticas.

Eolair passou o resto da tarde passeando pelos corredores altos e arejados e pelos jardins meticulosos do Sancellan Mahistrevis. Embora fosse agora o palácio do Duque e a capital de Nabban, outrora fora a sede de todo o império do homem em Osten Ard; agora com importância diminuída, suas glórias seguiam sendo muitas.

Erguido no alto rochoso da Colina Sancelline, as muralhas ocidentais do palácio davam para o mar, que sempre fora a alma de Nabban... De fato, todas as casas nobres de Nabban usavam aves aquáticas como símbolos de seu poder: o martim-pescador Benidrivine da linhagem do atual Duque, a águia-pesqueira Prevan e o albatroz Ingadarine; até mesmo a Garça de Sulis, que certa vez sobrevoara, brevemente, o Hayholt em Erkynlandia.

A leste do palácio, a cidade de Nabban estendia-se pela península, uma cidade populosa e fervilhante de colinas e aglomerações, afinando-se finalmente à medida que a península se alargava em direção aos prados e fazendas da Terra dos Lagos. Do mundo conhecido a este ducado peninsular e véu nupcial de possessões insulares, as perspectivas de Nabban se estreitaram, e seus governantes se voltaram para si mesmos. Mas outrora, não muito tempo atrás, o manto dos Imperadores Nabbanos cobria o mundo, desde o salobro Wran até os confins da gélida Rimmersgardia; naqueles dias, as disputas entre águias-pesqueiras e pelicanos e os esforços de garças e gaivotas traziam como recompensa um prêmio que valia qualquer risco.

Eolair caminhou pelo Salão das Fontes, onde jatos de borrifos cintilantes arqueavam-se para se misturar como uma névoa fina sob a treliça aberta do teto de pedra, e se perguntou se ainda restava em Nabban a vontade de lutar, ou se apenas haviam se conformado com sua própria diminuição gradual, de modo que as provocações de Elias só serviam para empurrá-los ainda mais para dentro de sua bela e delicada concha. Onde estavam agora os homens de grandeza como aqueles que esculpiram o império de Nabban na pedra bruta de Osten Ard... Homens como Tiyagaris ou Anitulles...?

“Claro...” pensou ele. “Havia Camaris...” um homem que, se não tivesse encontrado em si mesmo um chamado mais forte para servir do que para ser servido, poderia ter segurado o mundo disposto na palma da mão. Camaris fora sem dúvida um homem poderoso.

“E quem somos nós, hernystiros, para falar?” perguntou-se. “Desde a morte de Hern, o Grande, que homens poderosos se ergueram em nossas terras ocidentais? Tethtain, que tomou o Hayholt de Sulis? Talvez. Porém quem mais? Onde fica o Salão das Fontes de Hernystir, onde estão nossos grandes palácios e igrejas?”

“Contudo, claro, essa é a diferença.” seu olhar foi além das fontes jorrando para a torre da catedral de Sancellan Aedonitis, o palácio do Leitor e da Mãe Igreja. “Nós, os hernystiros, não olhamos para os riachos das colinas e dizemos: como posso trazer isso para minha casa? Construímos nossas casas ao lado do riacho. Não temos um Deus sem rosto para glorificar com torres mais altas que as árvores de Circoille. Sabemos que os deuses vivem nas árvores e nos ossos da terra, e nos rios que jorraram alto como qualquer fonte, correndo das montanhas Grianspog.”

“Nós nunca quisemos governar o mundo.” Eolair sorriu para si mesmo, lembrando-se do Taig em Hernysadharc, um castelo feito não de pedra, e sim de madeira: com um coração de carvalho para combinar com os corações de seu povo. “A verdade é que tudo o que queremos é ficar em paz. Ainda assim, com todos esses anos de conquista, talvez esse povo de Nabban tenha esquecido que às vezes é preciso lutar por isso também.”

Ao sair da sala das fontes, Eolair de Nad Mullach passou por dois guardas da legião que entravam.

— Maldito montanhês! — ouviu um deles dizer, olhando para sua vestimenta e para o rabo de cavalo de cabelo preto.

— Bom, sabe como é... — respondeu o outro. — De vez em quando os pastores precisam vir ver como é uma cidade.



***



— E como está minha sobrinha Miriamele, Conde? — perguntou a Duquesa.

Eolair estava sentado à sua esquerda, perto da cabeceira da longa mesa. Fluiren, recém-chegado e distinto filho de Nabban, ocupava o lugar de honra à direita do Duque Leobardis.

— Ela parecia bem, minha senhora.

— Você a viu muito enquanto esteve na corte do Supremo Rei? — a Duquesa Nessalanta inclinou-se em sua direção, erguendo uma sobrancelha delicadamente desenhada.

A Duquesa era uma mulher mais velha, severamente bela, embora Eolair não tivesse como adivinhar quanto dessa beleza se devia aos habilidosos procedimentos de seus cabeleireiros, costureiras e damas de companhia. Nessalanta era exatamente o tipo de mulher que fazia Eolair... Familiarizado com a companhia do sexo frágil, se sentir perdido. Ela era mais jovem que o marido, o Duque, no entanto era mãe de um homem já no auge da vida. O que era beleza duradoura e o que era artifício? Por outro lado, que importância tinha? Nessalanta era uma mulher poderosa, e apenas o próprio Leobardis tinha maior influência sobre os assuntos da nação.

— Não tive muitas oportunidades de estar na companhia da Princesa, Duquesa, todavia tivemos várias chances de conversar durante o jantar. Ela estava encantadora como sempre, mas acho que já estava com muita saudade de Meremund.

— Hmmm. — a dama colocou um pedaço do pão na boca e lambeu com delicadeza os dedos. — Foi interessante você mencionar isso, Conde Eolair. Acabei de receber notícias de Erkynlandia de que ela retornou ao castelo em Meremund. — a Duquesa elevou a voz. — Padre Dinivan?

Algumas cadeiras adiante, um jovem padre ergueu os olhos de sua refeição. Embora seu couro cabeludo estivesse raspado no estilo monástico, o cabelo que restava era cacheado e bastante longo.

— Sim, minha senhora? — perguntou.

— O Padre Dinivan é o secretário particular de Sua Santidade o Leitor Ranessin. — explicou Nessalanta.

O hernystiro fez uma careta de admiração e Dinivan riu.

— Não acho que seja atribuível a nenhuma grande inteligência ou talento da minha parte. — disse ele. — O Leitor também acolhe cães vadios. O Escritor Velligis fica muito chateado. ‘O Sancellan Aedonitis não é um canil’, costuma dizer ao Leitor, mas Sua Santidade sorri e responde: ‘Nem Osten Ard é uma creche, porém o Senhor Benevolente deixa Seus filhos permanecerem, apesar de todas as suas travessuras.’ — Dinivan arqueou as sobrancelhas espessas. — É difícil argumentar com o Leitor.

— Não é verdade... — disse a Duquesa enquanto Eolair ria. — Que quando você viu o Rei ele disse que sua filha tinha ido para Meremund?

— Sim, sim, foi o que disse. — disse Dinivan, mais sério agora. — Disse que a Princesa tinha adoecido, e os médicos da corte recomendaram o ar marinho.

— Sinto muito em ouvir isso.

Eolair olhou para além da Duquesa, para o Duque e o velho Sir Fluiren, que conversavam baixinho em meio ao alvoroço do jantar... “Para um povo refinado...” refletiu ele. “Os nabbanos certamente apreciavam conversas barulhentas à mesa.”

— Bem... — pronunciou Nessalanta, recostando-se na cadeira enquanto um pajem se aproximava com uma bacia para os dedos. — Isto só prova que não se pode forçar as pessoas a serem o que não são. Miriamele tem sangue nabbano, é claro, e o nosso sangue é salgado como o mar. Não fomos feitos para sermos tirados da costa. As pessoas devem ficar onde pertencem.

“E o que...” o Conde se perguntou. “Está tentando me dizer, minha graciosa senhora? Para ficar em Hernystir e deixar seu marido e seu ducado em paz? Para, na verdade, voltar para a minha própria espécie?”

Eolair observava a discussão de Leobardis e Fluiren com melancolia. Sabia que fora manipulado: não havia como ignorar a Duquesa e se intrometer na conversa. Enquanto isso, o velho Fluiren trabalhava com o Duque, transmitindo as bajulações de Elias. E ameaças? Não, provavelmente não. Elias não teria enviado o digno Fluiren para tal coisa. Tinha Guthwulf, a Mão do Rei, pronto para usar sempre que tal ferramenta fosse necessária.

Resignado, manteve sua conversa superficial com a Duquesa, todavia não estava muito entusiasmado. Tinha certeza agora de que ela conhecia sua missão e era hostil a esta. Benigaris era o menino dos seus olhos, e estivera evitando Eolair a noite toda. Nessalanta era uma mulher ambiciosa e, sem dúvida, sentia que a sorte de Nabban estaria mais assegurada se estivesse subjugada ao poder de Erkynlandia... Mesmo uma Erkynlandia dominadora e tirânica, em vez de com os pagãos de Hernystir.

“E...” Eolair percebeu de repente. “Ela própria tinha uma filha em condições de se casar, Senhorita Antippa. Talvez seu interesse pela saúde de Miriamele não fosse apenas o de uma tia bondosa para com sua sobrinha.”

A filha do Duque, Antippa, já estava prometida, pelo que sabia, a um certo Barão Devasalles, um jovem nobre de aparência afetada que, naquele exato momento, estava em uma queda de braço com Benigaris em uma poça de vinho na outra ponta da mesa. Embora talvez Nessalanta estivesse de olho em objetivos maiores.

“Se a Princesa Miriamele não quiser... Ou não puder se casar...” refletiu Eolair. “Então talvez a Duquesa esteja de olho em Fengbald para se casar com sua filha. O Conde de Falshire seria um partido muito melhor do que qualquer barão nabbano de segunda categoria. E o Duque Leobardis seria então amarrado a Erkynlandia com cordas de aço.”

“Assim que agora...” percebeu o Conde. “Não havia apenas o paradeiro de Josua com que se preocupar, como também o de Miriamele. Que confusão!”

“Imagine o velho Isgrimnur vendo isso, com todas as suas queixas sobre intrigas! Sua barba pegaria fogo!”

— Diga-me, Padre Dinivan... — disse o Conde, virando-se para o padre. — O que o seu livro sagrado tem a dizer sobre a arte da política?

— Bem... — um olhar de concentração obscureceu momentaneamente o rosto simples e inteligente de Dinivan. — O Livro de Aedon fala frequentemente das provações das nações. — ele pensou por mais um momento. — Uma das minhas passagens favoritas sempre foi: Se o seu inimigo vier falar com uma espada, abra a porta para ele e fale, mas mantenha a sua própria espada à mão. Se ele vier de mãos vazias, cumprimente-o da mesma forma. Porém se vier trazendo presentes, fique em cima de seus muros e lhe atire pedras. — Dinivan limpou os dedos na batina preta.

— Um livro sábio, de fato. — assentiu Eolair.

***

Link para o índice de capítulos: The Dragonbone Chair

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