domingo, 19 de setembro de 2021

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 01 — Capítulo 00.1





Capítulo 00.1: Prólogo


Dezessete Anos Atrás
Havia momentos em que sua perna direita perdida doía — uma dor fantasma, como chamavam. Era a mesma dor ardente de quando aquele demônio negro a arrancou com os dentes. Já fazia oito anos desde então e, nesse tempo, ele se cansou de seu tormento incessante.

Foi em um daqueles dias que Belgrieve saltou antes do amanhecer com a sensação de queimação em uma perna há muito desaparecida. Segurando o coto restante de sua coxa por vários minutos agonizantes, que pareceram horas, coberto por um suor frio e gorduroso até que a dor por fim diminuiu.

“Droga...”

Ele suspirou, então saiu da cama. Não poderia voltar a dormir agora.

Do lado de fora da janela, uma faixa tênue de branco apareceu no horizonte. No entanto, as estrelas ainda estavam visíveis em toda a sua glória e a escassa luz no alto apenas tornava o mundo todo mais escuro em comparação.

Belgrieve equipou cuidadosamente a prótese rústica que havia deixado ao lado da cama, batendo contra o chão algumas vezes para se certificar de que estava bem fixada. Já conseguia andar sem dificuldade. Na verdade, após o longo período de reabilitação pelo qual passou, poderia até lutar com uma espada. Contudo, por infelicidade, não era de fato confiável o suficiente para voltar ao seu ganha-pão.

Havia pessoas no mundo que se autodenominavam aventureiros. O mais fraco do grupo coletaria ervas e outras matérias-primas, enquanto aqueles com um pouco de habilidade sob seus cintos ganhariam a vida caçando bestas chamadas monstros. Era uma troca na qual a capacidade de colocar comida na mesa em qualquer noite dependia de quaisquer tarefas que a guilda estivesse oferecendo naquele dia, mas matar um inimigo poderoso poderia render a um aventureiro uma incrível riqueza e fama.

Na realidade, estava longe de ser um trabalho estável. Muitos zombavam deles; era visto como um trabalho para rufiões e fracassados ​​que não conseguiam manter um emprego adequado. Mesmo assim, a sociedade não poderia funcionar sem eles, e ainda havia uma fila interminável de pessoas que se tornaram aventureiros de qualquer maneira.

“A vida deles é uma aventura por si só.”

Alguém disse certa vez, de forma bastante sarcástica.

No entanto, essa declaração continha uma pitada de verdade. Foi uma vida vivida perpetuamente entre o prazer e a morte. Era isso que significava ser um aventureiro.

Passaram-se sete anos desde que Belgrieve voltou para sua cidade natal — uma vila rural chamada Turnera. Ele tinha vinte e cinco anos agora. Tendo perdido seus pais cedo, Belgrieve partiu para a cidade de Orphen aos quinze anos na esperança de fazer sucesso e se tornar o assunto de Turnera. Entretanto, mal havia estado lá por dois anos antes de um monstro fugir com tudo abaixo de seu joelho direito.

Ele tentou assumir pequenos trabalhos por um tempo — colher ervas e coisas do gênero — enquanto se reabilitava, mas acabou voltando para casa quando percebeu a realidade da situação. Vivendo na pequena vila desde então, fazia vários trabalhos que envolviam em maior parte o cuidado dos campos.

Enquanto saia de casa, o ar agradável e fresco encheu seus pulmões e a brisa suave bagunçou seu cabelo ruivo curto. Ao redor, podia ouvir galinhas cacarejando. Os criadores de aves madrugadoras já estavam se preparando para o trabalho e os pastores haviam destrancado as cercas para conduzir seus rebanhos às pastagens verdes fora da vila, onde poderiam comer até se fartar. Cabras e ovelhas baliam, caminhando ruidosas como uma massa viva com cães pastores correndo enérgicos ao redor delas ao longo do caminho.

Aos poucos, o mundo foi iluminado pelos raios da luz da manhã sobre a cordilheira distante.

Ele não tinha caminhado muito quando encontrou Kerry, um fazendeiro que estava a caminho de seus campos. Ambos tinham a mesma idade e costumavam brincar juntos quando eram crianças.

“Ei, Bell.”

Kerry sorriu.

“Bom dia e tudo mais.”

O incomodava um pouco o quão feminino seu apelido era, porém Belgrieve já havia desistido dessa frente.

“Bom dia, Kerry. Parece que alguém está trabalhando duro.”

“Pode apostar. Estou prestes a plantar algumas cebolas. Que tal dar uma mão, hã?”

“Com prazer — é o que gostaria de dizer, mas pode esperar até amanhã? O velho Caiya me reservou para colher ervas hoje.”

“Sem problemas, só pensei em perguntar. Mas, ei, você também está muito ocupado, não é?”

“Não é nada, sério. Me chame se houver alguma coisa a fazer amanhã.”

“Hahaha, talvez eu aceite. Bem, até mais.”

“Até mais.” disse Belgrieve, e Kerry saiu para os campos.

Embora Belgrieve tenha sido motivo de chacota quando voltou, agora era visto como um membro confiável da comunidade. Seria o primeiro a se voluntariar para os empregos que ninguém queria e usaria seu conhecimento de aventureiro para colher ervas e expulsar monstros. Ele também ajudava com os campos e, sempre que caçava, compartilhava seus despojos com a vila. Nesse ponto, os aldeões o viram sob uma luz completamente nova.

Usando sua caminhada matinal para patrulhar a vila, Belgrieve se certificou de que não havia sinais de monstros por perto. Então retornou para sua casa, praticou um pouco com sua espada, tomou o café da manhã, empacotou o almoço e partiu para as montanhas.

“É outono, muito bem...”

Depois que o sol subiu, o céu ficou tão vasto e azul. As árvores estavam mudando para tons de vermelho e amarelo, e era como se o calor do verão de apenas um mês atrás tivesse sido um sonho. Contudo não era hora de ser descuidado. Se baixasse a guarda, seria inverno antes que percebesse.

Belgrieve examinou a vegetação rasteira e as videiras enroladas em torno das árvores em busca de suas frutas. Uma por uma, as plantas que procurava encheram sua cesta.

“Grama almea, fruta de vime, grama da lua cheia... As uvas já estão na estação?”

Belgrieve arrancou uma das pequenas uvas selvagens e jogou-a na boca; era doce e azedo.

“Na medida. As crianças vão adorar.”

Ele não foi solicitado para colhê-las, porém empilhou uvas da montanha e frutas akebia sobre as ervas de qualquer maneira.

Explorar a montanha sempre foi um trabalho perigoso. Os encontros com monstros era um risco, é claro, no entanto mesmo os animais selvagens eram uma ameaça considerável para a maioria dos humanos. Os lenhadores faziam seu trabalho nas florestas ao redor da vila, mas hesitavam em se aventurar além nas cadeias de montanhas.

Um ex-aventureiro como Belgrieve poderia lidar com a maioria dos monstros e criaturas que habitavam essas partes. Ele não perdeu um dia de treinamento desde que voltou. A perda de sua perna direita o deixou muito distante do auge de sua condição física, entretanto nada que vivesse nessas montanhas poderia derrubá-lo.

Depois de reunir sua cota de ervas antes que o sol estivesse no auge, Belgrieve encontrou um belo local ensolarado para se sentar e almoçar. Era um pedaço simples de pão duro e queijo de cabra, contudo as frutas que colheu o elevaram a uma iguaria.

O pão foi devorado, a água de seu cantil tragada, seguido de uma profunda respiração. O ar do outono era refrescante e revigorante; apenas um pouco de descanso foi o suficiente para se recarregar por completo.

“Ótimo, parece que posso ajudar Kerry hoje.”

Encontrando tudo que estava procurando mais cedo do que o esperado, poderia estar de volta na vila à noite.

Foi mais ou menos no momento em que Belgrieve se levantou e se espreguiçou que ouviu um grito fraco. De imediato tomou sua espada, seus olhos se estreitando enquanto examinava a área. Não podia sentir nenhum monstro. No entanto, o grito era audível enquanto se concentrava. Foi o gemido de um bebê.

“Tão profundo nas montanhas?”

Murmurou para si mesmo com cautela.

Havia monstros chamados duendes que imitavam a voz de bebês. Embora não fossem fortes, eram do tipo traiçoeiro que usaria truques e magia para mexer com o senso de direção de um viajante cansado.

Belgrieve já havia estado nessas montanhas tantas vezes que as considerava seu próprio quintal e nunca havia encontrado nenhum duende lá antes — entretanto nada tinha a perder em ser cauteloso. Mantendo a mão no punho da espada, lentamente seguiu em direção à voz.

Depois de separar o matagal, o que encontrou o deixou quase sem palavras.

“Mas o que...”

Não era um duende; não era outro senão um bebê humano, deitado em uma cesta tecida com videiras de glicínias. Estava chorando, talvez de estômago vazio. Na verdade, com a quantidade de som que estava fazendo, era um milagre que uma fera não o tivesse pegado antes. Nesta época do ano, as montanhas abrigavam cães selvagens, lobos e ursos se empanturrando para o inverno.

Belgrieve se aproximou e observou o bebê com atenção. Seu cabelo era preto, bastante raro por aqui. Quando o pegou, o bebê parou de chorar e o encarou de volta com seus olhos arregalados de cor preta. Ele quase podia ver seu próprio reflexo naquelas pupilas turvas.

Ele fez uma careta. Quem poderia tê-lo deixado aqui? Era sempre uma grande notícia em Turnera quando uma criança nascia ou estava para nascer. As orelhas do bebê não eram pontudas, então não era um elfo. Então, quem era o pai que veio até aqui para abandonar seu bebê? Nenhuma quantidade de ruminação poderia levá-lo a uma resposta.

“E agora…?”

Belgrieve hesitou por um momento. No entanto, ao ver o bebê ficar tão calmo e aliviado enquanto o aninhava nos braços, sentiu que não poderia apenas deixá-lo em paz, especialmente com a confiança refletida em seus olhos.

Belgrieve acariciou com suavidade a cabeça do bebê que começou a cochilar, sentindo-se em paz.

O fundo da cesta estava coberto várias vezes com trapos velhos e ervas secas que, supostamente, mantinham o mal à distância. Parecia que a criança não foi abandonada por ódio ou negligência.

“Certo.”

Ele suspirou.

“Não tenho escolha, tenho?”

Quando Belgrieve desceu aquela montanha, carregava uma nova cesta e um bebê.


***

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