Capítulo 01.1: O Tempo Estava Ótimo,
Apesar do Sol do Início de Verão
O tempo estava ótimo, apesar do sol do início de verão. Era forte, mas ainda não cegava. Os vegetais nos campos absorviam a luz do sol e cresciam rapidamente. Galinhas corriam ao redor, enquanto os pastores conduziam seus cães para os campos próximos, onde haviam deixado suas ovelhas e cabras vagando. Depois de se agachar para arrancar algumas ervas daninhas do sulco, Belgrieve, com o suor brilhando em sua testa, levantou-se e espreguiçou-se.
“Ah... Tão quente.”
O verão ainda não tinha entrado em pleno andamento, contudo parecia muito mais quente quando movia seu corpo. A luz do sol não ajudou.
Em pouco tempo, o filho de Kerry, Barnes, correu em pânico.
“O-O que está fazendo, Sr. Bell?”
“Hmm? Barnes? Bem, como pode ver, estou arrancando ervas daninhas...”
“Não, você não vai! Nossos lavradores podem fazer isso!”
“Tenho tempo de sobra...”
“Nosso pessoal vai ficar sem trabalho nesse ritmo.”
“Sim, bem, é verdade, porém...”
“Vamos. Meu velho me disse para pegá-lo. Por aqui, vamos lá.”
Belgrieve tinha um sorriso irônico no rosto enquanto Barnes o conduzia sob a sombra do gazebo¹. Kerry estava trabalhando lá, examinando seu livro de registro. Ele estava um pouco mais redondo do que antes, um homem corpulento em roupas de alta qualidade. A essa altura, era mais administrador do que fazendeiro e raras vezes trabalhava nos campos.
Kerry era conhecido como o homem mais rico da vila. Seus campos estavam se espalhando; suas ovelhas eram cento e cinquenta, suas cabras, cem; e abriu oficinas para produzir têxteis e queijos, fornecendo trabalho para o resto dos moradores. Foi no campo de Kerry que Belgrieve estava arrancando ervas daninhas. Belgrieve não tinha sido contratado para fazer isso, contudo costumava ajudar em outros campos quando não estava ocupado com o seu, e o de Kerry era um desses.
Kerry sorriu quando o viu.
“Ei, Bell. Deixe-me adivinhar, estava capinando nossos campos de novo.”
“Um pouco. Vi que precisava de cuidados, então...”
“Hahaha, não se preocupe com esses detalhes! No entanto, sabe Bell, não precisa mais trabalhar no campo, entendeu? Todos nós teríamos prazer em contribuir para alimentar mais uma boca. Entre seu trabalho nas montanhas e com os monstros... Diabos, você até ensina as crianças também. Todos nós somos gratos.”
Belgrieve coçou a cabeça desajeitadamente.
“Eu realmente não fiz isso por essa razão.”
“Ahahaha, isso é o que gosto em você! Oi, Barnes! Pegue o vinho, sim? Queijo também!”
Seu filho saiu correndo.
“Ei, vai beber no meio do dia?”
“Não estou relaxando. Experimentei um novo processo no queijo. Aquele mascate que passou pela cidade me contou a respeito.”
“Hmm... Então e o vinho?”
Belgrieve perguntou, olhando para a jarra de cerâmica que Barnes trouxe. Não tinha rótulo.
Kerry riu.
“A verdade é que tenho levantado boatos há alguns anos. Achei que poderia ser o nascimento de uma nova indústria aqui.”
“Espere... Você quer dizer naquele novo terreno!”
“Agora você está entendendo!”
Kerry riu enquanto servia o copo. O líquido carmesim saltou e ricocheteou no vidro.
Seis anos antes, Kerry havia elaborado um plano para cultivar um pedaço de terreno baldio perto da vila. A qualidade do solo era péssima e um monstro lagarto apareceu no meio do processo, então muitos pensaram que o plano havia chegado a um impasse. No entanto, o monstro foi tratado por Belgrieve e Angeline. A terra devastada foi constantemente limpa e cultivada até se tornar um campo esplêndido, embora Belgrieve nunca tivesse imaginado que seria para uvas.
O vinho era um pouco azedo, porém o sabor era profundo e agradável.
“Nada mau mesmo.”
“Você acha? Então acha que vai vender?”
Belgrieve deu outro gole e passou em torno da boca.
“É um pouco azedo demais. No entanto apenas um pouco de trabalho e vai vender bem.”
Kerry parecia muito feliz em ouvi-lo.
“Isso é um alívio. As uvas ainda são pequenas e não tenho muitas, porém acho que vou plantar mais algumas mudas este ano. Poderia me ajudar então?”
“Claro que vou... O queijo também é muito bom.”
“Não é? Coma o quanto quiser.”
Por um tempo, os dois homens de quarenta anos mastigaram queijo e beberam vinho um em frente ao outro. Então, Kerry falou como se de repente lhe ocorresse:
“Como está Ange?”
“Não posso dizer. Não ouvi muito a seu respeito no ano passado.”
“Ei, está certo de uma situação assim? Parece muito duvidoso.”
“Nenhuma notícia é uma boa notícia, como dizem.”
“Entendo... Continua tendo grande confiança nela, pelo visto.”
“Haha. Quero dizer, no ano passado Ange mencionou que se tornara uma Rank S. Não recebi outra carta desde então. Tenho certeza que está bastante ocupada agora.”
“Rank S é algo incrível?”
“Sim, é o nível mais alto da guilda.”
“Aquela criança abandonada, eh... Ange é de fato incrível.”
“Sim... Tenho orgulho de ser seu pai.”
Passaram-se cinco anos desde que Angeline partiu para a capital Orphen. Belgrieve estava prestes a completar quarenta e dois anos. Enquanto Kerry engordava, seu próprio corpo se firmava e sua constituição muscular não dava o menor sinal de que a idade o afetava. Contudo, as rugas em seu rosto eram mais profundas; seu cabelo tinha crescido e agora ele o enrolava nas costas. Sua barba e bigode ruivos cresciam a cada ano.
Barnes correu em direção a eles com pressa.
“A caravana está aqui, pai! Além disso, há uma carta para o Sr. Bell! É da Ange!”
“Oh! Isso é maravilhoso! Boa hora, hein, Bell?”
“Haha, quase como se planejado.”
Belgrieve pegou a carta com um sorriso irônico e removeu o selo. Kerry e Barnes ansiosamente o observaram ler para si mesmo.
“Entendo... Entendo.”
“O-O que dizia? Como ela está? Está tudo bem?”
Belgrieve ergueu o rosto com um sorriso.
“Ange tirou uma folga prolongada, então voltará no final do mês.”
“Oh...!” Kerry ficou de pé. “Boas notícias! Boas notícias! Tenho que preparar algo.”
“Ei, ei, não dê tanta importância assim.”
“O que está dizendo, Bell? É a primeira vez em cinco anos. Você deveria estar um pouco mais feliz.”
“Haha, só não parece real para mim.”
Mesmo assim, Belgrieve tentou imaginar. Se cinco anos tivessem se passado, Angeline agora teria dezessete. Estaria com certeza mais alta. E o cabelo curto? Seu rosto tinha ficado um pouco mais adulto? Teria um namorado agora? Ele sempre gostou de ver como todas as crianças da vila cresciam, mas ainda mais sua própria filha.
Então era, de fato, motivo de comemoração.
Assim que a alegria o atingiu, Belgrieve encheu seu copo de novo e o ergueu.
“Saúde. Para Ange.”
“Louvado sejam os espíritos e a Grande Deusa Viena!”
Talvez não fosse tão ruim beber ao meio-dia, afinal. Pelo menos, era isso que Belgrieve estava começando a pensar.
Notas:
1. Um gazebo é uma estrutura de pavilhão, às vezes octogonal ou em forma de torre, muitas vezes construída em um parque, jardim ou área pública espaçosa. Alguns são usados ocasionalmente como coretos.
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