quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Monogatari Series — Volume 01 — Capítulo 04

Capítulo 04: Hitagi Crab 004


Aconteceu durante as Férias de Primavera.



Fui atacado por um vampiro.



Nestes dias e na era atual em que trens maglev¹ trabalham, onde viagens escolares ao exterior não são incomuns, é constrangedor o suficiente para me fazer querer me esconder, mas de qualquer maneira, fui atacado por um vampiro.



Ela era assustadoramente linda.



Um lindo demônio.



Ela era — um demônio tão belo.



Embora estejam escondidos atrás da gola da jaqueta do meu uniforme, os traços de sua mordida profunda ainda permanecem no meu pescoço. Espero que meu cabelo cresça antes de o clima começar a esquentar, porém deixando isso de lado — normalmente, quando pessoas normais são atacadas por um vampiro, a história diz que eles são salvos por um caçador de vampiros experiente, pelas forças especiais do Cristianismo, ou talvez até mesmo por um vampiro assassino que caça sua própria espécie, contudo no meu caso, fui salvo por um homem estranho que por acaso estava passando.



Graças a ele fui de alguma forma capaz de voltar a ser humano — estou bem com a luz do sol, cruzes, alho e outros, porém o efeito, ou melhor, o efeito colateral que a experiência teve em mim foi uma melhora notável em minhas habilidades físicas. Não minhas habilidades atléticas, veja bem, mas como meu metabolismo, na forma de recuperação. Embora não sei como teria acabado se o estilete tivesse rasgado minha bochecha, leva menos de trinta segundos para curar algo como um simples grampo perfurando na minha carne. De qualquer forma, para começar, as feridas na cavidade oral tendem a cicatrizar rapidamente para qualquer organismo.



“Oshino — um senhor Oshino?”



“Certo. Meme Oshino.”



“Meme Oshino, hã — um nome que soa bem adorável, tenho que dizer.”



“Você não deve ter esperanças nessa ideia. Ele é um homem de meia-idade, trinta e poucos anos.”



“Entendo. Mas quando criança, ele deve ter sido um personagem bastante moe².”



“Não olhe para pessoas de carne e osso assim. E, espere, você sabe o que essa palavra significa?”



“É parte do conhecimento geral hoje em dia.” disse Senjougahara alegremente. “E personagens como eu são chamados de tsunderes, certo? Fria e agressiva no início, contudo amorosa quando você me conhece.”



“…”



Com o quão fria ela é, ‘tundra’³ combinava melhor.



No entanto estou divagando.



Cerca de vinte minutos de bicicleta do colégio particular Naoetsu, que Hanekawa, Senjougahara e eu frequentamos, ficava um cursinho ligeiramente separado de todas as casas.



Ficava.



Ao que aparenta, alguns anos atrás, uma grande rede de escolas de cursinho abriu um curso em frente à estação, enfrentou problemas financeiros e saiu do mercado. Quando soube da existência do prédio de quatro andares, ele já era uma ruína abandonada por completo, então tudo isso é informação de segunda mão.



Perigo.



Propriedade privada.



Não ultrapasse.



Apesar de uma infinidade de tais sinais e da cerca de segurança em primeiro lugar, o acesso é quase irrestrito graças a todas as lacunas.



Nessas ruínas — vive Oshino.



Ele fixou residência, sem permissão.



Há um mês, começando durante as férias de primavera.



“Deus, minha bunda dói. Está dormente. E minha saia ficou amarrotada.” disse Senjougahara.



“Não é minha culpa.”



“Pare de dar desculpas ou eu vou cortar fora.”



“Qual parte do corpo?”



“É a primeira vez que ando de bicicleta com outra pessoa. Você não poderia ser um pouco mais generoso?"



A generosidade não era um comportamento hostil para ela?



Suas palavras e ações se contradizem.



“Então, como exatamente eu poderia ter tentado?” perguntei.



“Bem, como uma pequena sugestão, não poderia ter me dado sua bolsa para usar como almofada?”



“Você não se importa com ninguém além de si mesma?”



“Por favor, não use uma linguagem tão rude comigo. Disse que era apenas uma pequena sugestão.”



Como repetir isso torna melhor?



Era muito questionável.



“Sabe, aposto que até Maria Antonieta era um pouco mais modesta e humilde do que você.” eu disse.



“Ela é algo como minha discípula.” Senjougahara respondeu.



“Em que linha do tempo?”



“Gostaria que parasse de tirar proveito de tudo o que digo ao acaso. Está agindo como se fôssemos amigos ou algo assim. Ouvindo-o, um estranho pode até pensar que somos colegas de classe.”



“Nós somos colegas de classe!”



Quanto ela iria me negar?



Isso era muito frio.



“Caramba...” lamentei. “Acho que lidar com você requer uma quantidade inacreditável de paciência.”



“Araragi. Do jeito que diz, quase soa como se eu fosse difícil de conviver, não você.”



Isso é exatamente o que quero dizer.



“Onde está sua própria bolsa?” perguntei a ela. “Você está de mãos vazias. Não leva uma?” na verdade, não conseguia me lembrar de alguma vez ter visto Senjougahara carregando algo consigo.



“Tenho todos os meus livros guardados dentro da minha cabeça. Então, os deixo no armário da escola. Se esconder todos os meus artigos de papelaria em volta do meu corpo, não há necessidade de uma bolsa. E no meu caso, não preciso de roupas de ginástica mais.”



“Ah, entendo.”



“Se minhas duas mãos não estiverem livres, será mais difícil lutar quando a hora chegar.”



“…”



Seu corpo inteiro era uma arma.



Ela era uma arma humana.



“O único problema que tenho é com os produtos de higiene, porque me incomoda mantê-los na escola. Sem amigas, também não posso pegá-los emprestados de ninguém.”



“... Você está sendo terrivelmente aberta sobre isso, sabe.”



“Por que não? Menstruação é mês em latim. É um fenômeno natural, nada para se envergonhar. Diria que é mais indecente ser discreto sobre isso.”



Não tinha tanta certeza de não ser pelo menos um pouco discreto.



Não, é uma questão de escolha pessoal.



Não cabe a mim dizer.



Talvez o que deveria pontuar em vez disso é sua admissão ainda mais aberta — que ela não tinha nenhuma amiga.



“Oh, isso mesmo.” eu disse, virando-me para encará-la depois de chegar a uma ‘entrada’.



Embora fosse tudo igual para mim, procurei por uma entrada particularmente grande porque, a julgar por seu comentário anterior sobre sua saia, Senjougahara, sendo uma garota, pode não querer que seu uniforme se sujasse.



“Entregue os seus materiais ou o que for.”



“Hã?”



“Tire. Vou guardá-los.”



“Hã? Hã?”



Pela expressão dela, parece que fiz uma exigência ultrajante. Parecia perguntar se algo estava errado com minha cabeça.



“Oshino é, bem, ele é um cara estranho, porém salvou minha vida tecnicamente —”



Não apenas isso.



Ele salvou a de Hanekawa também.



“—E eu não posso deixá-lo com uma pessoa perigosa. Então, vou guardar seus artigos de papelaria.”



“Você só me diz depois de chegarmos até aqui?” Senjougahara olhou para mim. “Parece que caí em uma armadilha.”



“…”



Nah, isso foi exagero.



No entanto, Senjougahara lutou silenciosamente com o assunto por um tempo. Ela fazia uma careta para mim e, em seguida, olhava para um ponto perto de seus pés.



Eu me perguntei se ela iria se virar e ir embora, porém finalmente, como alguém preparado para o pior, disse: “Entendido. Pegue eles.”



Então, tirando uma miríade de artigos de papelaria de seu corpo como se fosse um show de mágica, ela começou a me entregá-los. O que eu tinha visto pouco antes era apenas a ponta de sua maldade e loucura. Poderia até dizer que os bolsos dela se esticaram até a quarta dimensão; pode ser a ciência do século vinte e dois4. Disse que os guardaria, mas estava saindo tantos materiais que comecei a duvidar se minha bolsa estava à altura.



... Alguém assim passear em público sem restrições com certeza equivalia à negligência por parte das autoridades...



“Não me entenda mal.” Senjougahara avisou depois que terminou de entregar tudo para mim. “Não é como se estivesse baixando minha guarda perto de você.”



“Você pode muito bem...”



“Se está tentando se vingar de mim por perfurá-lo com o grampo e me enganar para entrar nesse cursinho abandonado, você estará fazendo a pessoa errada pagar.”



“…”



Não, quanto a qual pessoa, eu estaria certo.



“Entendeu?” ela perguntou. “Tenho cinco mil dos meus amigos mais desordeiros prontos para atacar sua família se eles não ouvirem de mim pelo menos uma vez a cada minuto.”



“Está tudo bem... Pare de se preocupar.”



“Quer dizer que você não vai precisar nem de um minuto inteiro?”



“Eu não sou aquele boxeador.”



E espere. Ela não pensou duas vezes antes de mirar na minha família.



Não pude acreditar nela.



Além disso, cinco mil amigos? Que mentira.



Uma mentira ousada para quem não tinha amigos.



“Diga, ouvi que suas duas irmãzinhas ainda estão no ensino fundamental.”



“…”



Ela conhecia a composição da minha família.



Ela pode ter mentido, contudo não estava brincando.



Em qualquer caso, exibir um pouco da minha ‘imortalidade’ não a fez confiar em mim nem um pouco. Oshino sempre disse que relacionamentos de confiança eram importantes nessas coisas, e minha situação atual não era boa desse ponto de vista.



No entanto, o que pode ser feito?



A partir daqui, o problema era apenas de Senjougahara.



Fui apenas um guia.



Passamos por um rasgo na cerca de arame, chegamos ao terreno e entramos no prédio. Ainda era noite, porém estava bastante escuro lá dentro. Havia um monte de lixo no chão após dias e meses de abandono, e você poderia tropeçar em algo se não tomasse cuidado.



Foi quando percebi.



Uma lata vazia por aí não era nada mais do que uma lata vazia para mim, mas tinha dez vezes mais massa para Senjougahara.



Em termos relativos, foi esse o caso.



Não era como nos mangás antigos, onde você falava de ‘dez vezes a gravidade’ ou ‘um décimo da gravidade’5 e deixava pra lá. A simples conclusão de que ‘mais leve é ​​igual a mais atlético’ não funcionava. Pior, estava tão escuro, em um lugar que ela não conhecia. Talvez Senjougahara não pudesse ser culpada por exibir o nível de cautela de um animal selvagem.



Mesmo se fosse dez vezes mais rápida.



Seria apenas um décimo mais forte.



Sua relutância em entregar seus artigos de papelaria também começou a fazer sentido a esse respeito.



E — por que ela não carregava uma bolsa?



Por que também não podia carregar uma.



“... Por aqui.”



Segurando o pulso de Senjougahara, saí da entrada onde estava incerta. Ela ficou surpresa porque fui um pouco repentino, mas enquanto ouvi um “O quê?”, fui seguido sem resistência.



“Não espere nenhum agradecimento.” respondeu.



“Entendo.”



“Na verdade, você deveria estar me agradecendo.”



“Eu não entendo!”



“Coloquei esse grampeador em volta da sua boca para que atingisse o interior da sua bochecha, não o exterior. Não queria deixar uma ferida visível.”



“…”



Não conseguia ouvir isso como nada além do pensamento de um agressor ‘Vai fica visível no rosto, então dê um soco na barriga’.



“Não teria importado se tivesse atravessado minha bochecha.” apontei.



“Achei que você provavelmente ficaria bem, levando em consideração o quão pele dura seu rosto parece.”



“Se está tentando me consolar, não está funcionando. E ‘provavelmente ficaria’?”



“Minha intuição está certa cerca de um décimo das vezes.”



“Isso é tudo?”



“Bem —” Senjougahara fez uma pausa antes de continuar. “Foi tudo um desperdício de consideração no final.”



“... Parece que sim.”



“Se eu dissesse que a imortalidade parece conveniente, você se sentiria magoado?” ela fez uma pergunta.



Eu respondi. “Não muito, agora.”



Não muito — agora.



Mas durante as férias de primavera?



Se alguém tivesse dito isso para mim então — as palavras poderiam ter me matado. Poderiam ter causado um ferimento fatal.



“Você poderia dizer que é conveniente — mas também poderia dizer que é inconveniente. Isso é tudo.”



“Que insosso. Não entendo.” Senjougahara encolheu os ombros. “É como quando as pessoas falam sobre uma atitude de ‘o diabo pode se importar’? Satanás provavelmente não o faz, porém poderia?”



“Nada insosso aí. Ele absolutamente não quer.”



“Oh.”



“E de qualquer maneira, não sou mais imortal. Apenas me curo um pouco mais rápido do que o normal. Caso contrário, sou um humano comum.”



“Hã, entendo.” Senjougahara murmurou, parecendo desapontada. “Estava planejando tentar todo tipo de coisa com você se eu tivesse a chance. Que pena.”



“Ao que parece, algum planejamento muito grotesco estava acontecendo nas minhas costas...”



“Que rude. Eu só ia fazer &% no seu /- e depois *^.”



“O que esses símbolos deveriam significar?”



“E eu queria fazer isso e aquilo com você também.”



“O que esse sublinhado supostamente sugere?”



Oshino tendia a ficar no quarto andar.



O prédio tinha elevador, contudo é óbvio que estava fora de serviço. Isso significava que nossas opções eram arrebentar o teto do elevador e usar os cabos para subir até o quarto andar ou subir as escadas. Acho que seria justo dizer que qualquer um escolheria a última opção.



Comecei a subir as escadas, ainda puxando Senjougahara pela mão.



“Deixe-me dizer uma última coisa, Araragi.”



“O que é?”



“Posso não parecer com minhas roupas, contudo, na verdade, meu corpo pode não valer o suficiente para quebrar a lei.”



“…”



Parecia que a Srta. Senjougahara Hitagi seguia as noções mais elevadas de castidade.



“Isso foi muito indireto para você? Então deixe-me dizer sem rodeios. Se você desnudar seus instintos básicos e me estuprar, farei qualquer coisa e tudo ao meu alcance para retribuir ao estilo da ficção.”



“…”



Quanto à vergonha e pudor, ela não tinha nenhuma.



Na verdade, ela era simplesmente assustadora.



“Sabe, não se trata apenas do que você disse agora, mas olhando para tudo que faz, Senjougahara, você parece um pouco, eu acho, muito autoconsciente? Como se talvez devesse diminuir o seu complexo de perseguição?”



“Ugh. Você não sabe que é melhor deixar algumas coisas sem dizer, mesmo que sejam verdadeiras? ”



“Então estava ciente disso?”



“De qualquer forma, este prédio parece que está prestes a desabar. Não posso acreditar nisso — a pessoa chamada Oshino mora aqui?”



“Sim... Bem, ele é um cara muito estranho.”



Embora se me perguntasse como se compara a Senjougahara, nesse momento eu teria que pensar sobre isso.



“Não deveríamos ter entrado em contato com antecedência?” ela se preocupou. “Já é um pouco tarde, porém somos nós que procuramos conselhos...”



“Deixando de lado meu choque com a sua aparente demonstração de bom senso, ele infelizmente não tem um telefone celular.”



“Que enigmático. Quase um personagem suspeito. O que exatamente ele faz?”



“Não sei os detalhes, mas — ele diz que se especializou em casos como o meu e o seu.”



“Hmph.”



Estava longe de ser uma explicação adequada, mas Senjougahara não tentou indagar mais a respeito. Talvez tenha pensado que estava prestes a se encontrar com ele de qualquer maneira, ou que não adiantava perguntar. Ela estava certa de qualquer maneira.



“Ei. Você usa o relógio no braço direito, Araragi.”



“Hã? Oh, sim.”



“Você é do contrário ou algo assim?”



“Comece perguntando se sou canhoto!”



“Uh, hã. Bem, e é?”



“…”



Eu era do contra.



O quarto andar.



Como o prédio era um cursinho, tinha três salas de aula — contudo com as portas de todas as três quebradas, elas e o corredor que as conectava eram agora uma única área. Quando espiei dentro do mais próximo primeiro, me perguntando onde Oshino estava.



“Oh, Araragi. Então você finalmente chegou.”



Oshino Meme estava bem ali.



Sentado de pernas cruzadas em cima de sua cama improvisada (se é que se pode chamar assim) de uma série de escrivaninhas apodrecidas juntas e amarradas com barbante de plástico, ele estava de frente para mim.



Como se estivesse me esperando.



Como sempre — como se ele visse tudo chegando.



Quanto a Senjougahara — ela estava visivelmente assustada.



Embora tenha contado a ela com antecedência, o comportamento imundo de Oshino se desviava num nível significativo, sem dúvida, dos padrões estéticos de uma colegial moderna. Qualquer um pareceria tão maltrapilho quanto ele morando nessas ruínas, mas até eu, um garoto, poderia dizer que a aparência de Oshino não era higiênica. Para sermos de fato honestos. Todavia, acima de tudo, sua camisa havaiana psicodélica foi o golpe fatal.



Penso isso toda vez que o vejo, mas realmente, o fato de que tal pessoa é meu salvador pode ser deprimente... Embora tenho certeza que alguém tão madura como Hanekawa não se incomode nem um pouco.



“Ah, então você trouxe outra garota hoje, Araragi? Sempre com uma nova quando nos encontramos. Ora, estou muito feliz por você.”



“Pare de me fazer parecer um tipo desprezível.”



“Hah — hm?”



Oshino lançou um olhar atento na direção de Senjougahara.



Como se estivesse olhando para algo atrás dela.



“... Prazer em conhecê-la, senhorita. Eu sou Oshino.”



“Prazer em conhecê-lo — sou Senjougahara Hitagi.”



Ela conseguiu dar-lhe uma saudação adequada.



Então ela não estava discriminando com sua língua ácida. Pelo menos, parecia que poderia ser educada com os mais velhos.



“Araragi é meu colega de classe e me falou de você.”



“Hm. É mesmo.”



Oshino acenou com a cabeça de forma significativa.



Ele olhou para baixo, tirou um cigarro e o colocou na boca. Mas em vez de acendê-lo, o manteve ali e o utilizou para indicar as janelas, ou melhor, o cenário além dos fragmentos aleatórios de vidro que há muito haviam deixado de funcionar como janelas.



Então, depois de um longo silêncio, ele se virou para mim.



“Então, Araragi. Você tem uma queda por garotas com franja reta?”



“O que acabei de dizer para não fazer? E garotas com franja reta? Não é isso que você chamaria de um velho pedófilo? Não me confunda com a sua geração que teve Full House transmitindo na TV quando estava passando pela puberdade.”



“Certo.” Oshino riu.



Senjougahara fez uma careta em resposta.



A palavra ‘pedófilo’ pode ter sido o que causou isso.



“Hm — de todo jeito.” eu disse. “Pegue os detalhes diretamente com ela, porém Oshino — cerca de dois anos atrás, essa garota aqui—”



“Não me chame assim.” Senjougahara ordenou.



“Então, do que quer que eu te chame?”



“Senhorita Senjougahara.”



“…”



Ela estava em seu juízo perfeito?



“... Se-nho-ri-ta Sen-jou-ga-ha-ra.”



“Não permitirei que você diga isso como uma máquina. Diga normalmente.”



“Senhorinha Senjougahara.”



Ela me cutucou nos olhos.



“Você quase me cegou!”



“Olho por olho.” disse ela.



“Como se tira um olho de sentimentos feridos? Onde está à equivalência nisso?”



“Minhas observações inadequadas são uma liga de 40 gramas de cobre, 25 gramas de zinco, 15 gramas de níquel, 5 gramas de timidez e 97 quilos de malícia.”6



“Isso é quase tudo malícia!”



“Além disso, eu estava mentindo sobre a timidez.”



“E agora você se livrou do elemento mais importante!”



“Oh, fique quieto. Vou te apelidar de ‘cólicas menstruais’ se não parar com isso.”



“Esse é o tipo de bullying pelo qual as pessoas se matam!”



“O que quer dizer? É literalmente um fenômeno natural, nada para se envergonhar.”



“Então não seja maliciosa a respeito!”



Senjougahara parecia ter se satisfeito e finalmente voltou para Oshino.



“Não, antes de prosseguirmos, permita-me uma pergunta.”



Seu tom sugeriu que não estava perguntando apenas a Oshino, mas a mim e a ele, enquanto apontava para um canto da sala de aula. Ali, segurando os joelhos, estava agachada uma garotinha que parecia deslocada mesmo em um cursinho porque era muito pequena, por volta dos oito anos. Uma garota loira e pálida que usava capacete e óculos de proteção.



“O que, exatamente, é aquela criança?”



A julgar por sua frase, Senjougahara reconheceu que a garota não era totalmente um alguém. Na verdade, um olhar espinhoso que ultrapassou até mesmo o de Senjougahara e que se concentrou em um único ponto, Oshino, e não vacilou, teria alertado qualquer um ligado a essas coisas.



“Oh, você não precisa se preocupar com isso.” expliquei antes que Oshino tivesse uma chance. “Ela não pode fazer nada, apenas fica sentada lá — não é nada. Uma criança que não é uma sombra nem uma forma. Nem mesmo um nome ou uma presença.”



“Espere um segundo, Araragi.” Oshino interrompeu. “Você está certo em dizer que ela não tem sombra, forma ou mesmo uma presença, porém eu a dei um nome ontem. Ela trabalhou duro durante a Semana Dourada, e é um grande inconveniente não ter nada para chamá-la. E sem um nome, nunca deixará de ser hedionda.”



“Um nome, hein? Qual é?” sabia que estava ignorando Senjougahara com a pergunta, porém estava interessado, então perguntei.



“Eu a chamei de Oshino Shinobu.”



“Shinobu — hã.”



Um verdadeiro nome japonês. É também uma leitura alternativa para o ‘Oshi’ em Oshino.



Não que isso importasse.



“Escrito com o caractere de ‘coração’ sob o de ‘lâmina’. Um nome adequado para ela, não acha?7 Eu a deixei reutilizar meu sobrenome — que por sorte usa o mesmo caractere. Servindo a dois propósitos e tendo três significados. Estou muito impressionado com minha sensibilidade, se posso dizer eu mesmo.”



“Bem, porque não.”



Realmente não importava.



“Depois de pensar um pouco.” meu salvador continuou. “Reduzi a Oshino Shinobu ou Oshino Oshino, com um estilo ‘O’ do período Edo no nome dado, mas decidi priorizar como soa em vez da uniformidade linguística. Também sou fã da forma como no papel se assemelha à senhorita representante de classe, com dois caracteres no sobrenome, porém apenas um no primeiro.”



“Por que não.”



Absolutamente não importava.



Embora, bem, ‘Oshino Oshino’ parece fora de questão.



“Então.” Senjougahara disse, como se sua paciência tivesse acabado há muito tempo. “O que é aquela criança?”



“Como eu disse — não é nada.” respondi.



A casca de um vampiro.



Os restos de um lindo demônio.



Você pode dizer isso, contudo o que mais eu poderia ter feito? Isso não tinha nada a ver com Senjougahara de qualquer maneira. Era meu problema. Apenas meu carma, que devo enfrentar pelo resto da minha vida.



“Não é nada? Ok, então.”



“…”



Que mulher indiferente.



“É como minha avó do lado paterno sempre dizia.” Acrescentou ela. “O oposto do ódio não é amor, mas indiferença.”



“Espere, o quê?”



Isso foi de alguma forma muito confuso.



“Mas de todo jeito.” Senjougahara Hitagi desviou seu olhar da ex-vampira loira pálida, agora conhecida como Oshino Shinobu, para Oshino Meme. “Ouvi dizer que poderia me salvar.”



“Salvá-la? Isso é impossível.” Oshino disse em seu tom de provocação usual. “Você vai ser salva por si mesma, senhorita.”



“…”



Whoa.



Os olhos de Senjougahara se estreitaram para metade.



Estava manifestamente duvidosa.



“Até agora.” disse. “Cinco pessoas falaram coisas semelhantes para mim. Todos eles eram fraudes. É o seu caso também, senhor Oshino?”



“Haha. A senhorita é uma pessoa bem animada. Algo de bom aconteceu com você?”



Por que continua provando-a de volta, eu me perguntei. Funcionou com algumas pessoas, como Hanekawa, porém Senjougahara seria a última pessoa a aceitá-lo.



Ela é do tipo que respondia à provocação com um ataque preventivo.



“Vamos, vamos.” fui forçado a intervir e mediar.



Como se quisesse me colocar entre os dois.



“Mantenha seu nariz fora disso. Eu vou te matar.”



“…”



Uma ameaça de morte tão casual, Senjougahara.



Por que as faíscas deveriam cair sobre mim?



Ela era como uma bomba incendiária.



Ela vai ficar além do meu vocabulário, não vai?



“Bem, em qualquer caso.” os modos despreocupados de Oshino contrastavam com os dela. “Não vamos chegar a lugar nenhum a menos que você comece a falar. Não sou bom em ler mentes. E o mais importante, gosto de diálogo. No fundo sou um falador. Mas guardo segredos, então não precisa se preocupar.”



Senjougahara não respondeu.



“U-Uhm, então para começar com uma explicação simples—” comecei.



“Está tudo bem, Araragi.” Senjougahara interrompeu novamente antes que eu pudesse repassar o essencial. “Vou fazer isso sozinha.”



“Senjougahara—”



“Posso fazer isso sozinha.” disse ela.



Notas:
1. Maglev (Magnetic levitation transport ou comboio de levitação magnética) é um veículo semelhante a um trem que transita numa linha elevada sobre o chão e é propulsionado pelas forças atrativas e repulsivas do magnetismo através do uso de supercondutores.
2. Moe é uma gíria que originalmente refere-se a um interesse em particular para personagens femininas como “fofas” ou “adoráveis”.
3. Tundra é o bioma no qual a baixa temperatura e estações de crescimento curtas impedem o desenvolvimento de árvores.
4. Referência a Doraemon, um gato robô enviado do século 22 com um bolso infinito onde guarda infinitos apetrechos.
5. Referência a Dragon Ball Z.
6. Referência a Fullmetal Alchemist.
7. O mesmo que seu outro nome Heart-Under-Blade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário