quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Monogatari Series — Volume 01 — Capítulo 05

Capítulo 05: Hitagi Crab 005


Duas horas depois.

Eu tinha deixado o antigo cursinho onde Oshino e a vampira agora conhecida como Shinobu viviam e estava na casa de Senjougahara.

A residência Senjougahara.

Os Apartamentos Tamikura.

Um prédio de madeira de dois andares construído há trinta anos, com uma caixa de correio comunitária de chapa metálica na frente. Ele tinha um chuveiro e um banheiro com descarga, pelo menos. Um apartamento de um cômodo medindo pouco mais de trinta metros quadrados, com uma pequena pia. Vinte minutos de caminhada até o ponto de ônibus mais próximo (não da estação de trem, que fique claro). O aluguel, incluindo a taxa de manutenção, taxas de bairro e serviços públicos, é estimado em trinta a quarenta mil ienes por mês.

É muito diferente do que ouvi de Hanekawa.

Deve ter refletido em meu rosto já que Senjougahara explicou.

“Minha mãe se juntou a uma religião, uma religião duvidosa.”

Espontânea, como se estivesse dando uma desculpa.

Como se estivesse tentando dissimular.

“Ela não apenas deu a eles tudo o que possuíamos como também assumiu uma enorme dívida. Uma crente e seu dinheiro logo se separam.”

“Religião? Você quer dizer...”

Ela estava envolvida em algum culto arrancador de dinheiro.

E todos nós sabemos ao que levava.

“Meu pai assumiu minha custódia depois que meus pais pediram o divórcio incontestado no final do ano passado, e agora moramos juntos aqui. Bem, digo isso, porém raramente o vejo porque as dívidas estão em seu nome e ele ainda está trabalhando duro para saldá-las. Estou morando sozinha para todos os efeitos e amo a liberdade.”

“...”

“No entanto a escola ainda tem meu endereço antigo arquivado, então não pode culpar Hanekawa por não saber.”

Ei.

Você tinha permissão pra fazer isso?

“Prefiro não anunciar meu paradeiro para pessoas que podem se tornar meus inimigos um dia.”

“Inimigos...”

Parecia exagero, contudo talvez tal cautela não fosse improvável para pessoas com segredos para guardar.

“Senjougahara. Quando diz que sua mãe se junto a uma religião — poderia ter sido por sua causa?”

“Que pergunta desagradável.” Senjougahara riu. “Quem pode dizer? Não tenho ideia. Talvez não.”

Foi — uma resposta desagradável.

No entanto talvez o natural para uma pergunta desagradável.

Minha pergunta foi de fato desagradável, tanto que repensando, me desprezo por tê-la feito. Não deveria ter perguntado, e este era o momento em que Senjougahara deveria ter enviado uma chicotada com sua fiel língua ácida.

Por ter vivido sob o mesmo teto, sua família não poderia ficar sem notar que sua filha não tinha mais peso — especialmente sua mãe. Esta não era uma escola onde poderia só sentar e assistir às mesmas aulas. Uma anomalia incrível que afligia o corpo de sua querida filha única teria vindo à tona imediatamente. Depois que os médicos praticamente jogaram a toalha e recorreram a uma rotina diária de exames, ninguém poderia culpá-la por buscar consolo.

Ou talvez ela não estivesse isenta de culpa.

Eu não sei.

Qual o sentido de agir como se soubesse?

Em qualquer caso.

Em qualquer caso, eu estava — sentado em uma almofada em uma mesa baixa e olhando com olhos vidrados para uma xícara de chá que havia sido enchida para mim, no Quarto 201 dos apartamentos Tamikura, a casa de Senjougahara.

Era ela, então esperava ouvir: “Espere lá fora.”, mas fui convidado a entrar. Até me foi preparado um chá. Foi um pouco chocante.

“Vou quebrar todos os seus ossos.” disse ela.

“O que?”

“Sinto muito. Quero dizer, sinta-se em casa.”

“...”

“Bem, talvez estivesse certo da primeira vez...”

“Você acertou em cheio na sua segunda tentativa! Não poderia ter feito melhor! Isso é mesmo impressionante da sua parte, Senjougahara, nem todo mundo pode corrigir seus próprios erros assim!”

... Porém essa foi à extensão da nossa conversa, assim que fiquei confuso. Não era como se pudesse pronunciar alguma frase ingênua sobre irromper a casa de uma garota que acabei de conhecer. Tudo o que pude fazer foi olhar para o meu chá.

Senjougahara estava tomando banho naquele momento.

Como um rito para se limpar, ou algo assim.

Senjougahara deveria lavar seu corpo com água fria e colocar um conjunto de roupas limpas, novas ou velhas serviriam — segundo Oshino.

Resumindo, fui trazido junto por essa razão. Bem, ela quase teve que ir porque tínhamos ido da escola para a casa de Oshino na minha bicicleta, e ele aconselhou isso.

Tendo olhado em volta dos cem metros quadrados de sala vazia que não se parecia em nada com o quarto de uma jovem, eu me inclinei para trás na pequena gaveta atrás de mim — e pensei no que Oshino tinha dito.

“O omoshi-kani. Um caranguejo pesado.”

Depois de Senjougahara ter transmitido suas circunstâncias — não exatamente a história de sua vida, mas ainda assim, sua situação do início ao fim — Oshino acenou a cabeça com um “entendo”, olhou para o teto por um momento, e falou aquelas palavras como se tivessem apenas vindo até ele.

“Um caranguejo pesado?” repetiu Senjougahara.

“É um pedaço do folclore das áreas montanhosas de Kyushu. Dependendo do local, pode ser chamado de caranguejo do peso, caranguejo pesado, caranguejo pesado de pedra ou mesmo omoishi-gami. Essa última instância é uma brincadeira com kani, ‘caranguejo’ e kami, ‘deus’. Os detalhes variam, porém o que as histórias têm em comum são as pessoas sendo privadas de peso. Encontrá-lo — encontrá-lo da maneira errada ao que parece faz com que sua presença desapareça também.”

“Sua presença…”

Evanescente.

Tão — evanescente.

E — muito mais bonita agora.

“Não apenas a sua presença.” Oshino elaborou. “Em alguns casos desagradáveis, toda a sua existência. Eles têm algo na região de Chubu chamado de ‘pedra de peso’, mas acho que é algo totalmente diferente. Quero dizer, isso é uma pedra e este é um caranguejo.”

“Um caranguejo? É de fato um caranguejo?”

“Não seja idiota, Araragi. Eles não pegam muitos nas montanhas de Miyazaki e Oita. Estamos falando sobre uma lenda.” Oshino parecia bastante chocado. “Às vezes, estar ausente se presta melhor quer falar. Os delírios e a calúnia não tendem a fazer as pessoas agirem?”

“Para começar, os caranguejos são japoneses?”

“Araragi, você está pensando em lagostins? Da América? Não está familiarizado com os contos populares japoneses? O Caranguejo e o Macaco. Acredito que haja uma aberração caranguejo famosa na Rússia, e um bom número deles na China também, contudo o Japão tem sua própria quota.”

“Oh sim. O Caranguejo e o Macaco. Acho, agora que mencionou. Contudo Miyazaki e — por que algo vindo dessas partes?”

“Não me pergunte quando você foi atacado por um vampiro em um remanso no Japão. Não é como se a localização significasse alguma coisa. Dada a situação certa e propícia — ele surgirá aí, isso é tudo.”

É claro que a geografia e o clima são fatores importantes, complementou Oshino.

“Nesse caso, nem mesmo precisa ser um caranguejo. Alguns rumores dizem que é um coelho ou uma mulher bonita — para não falar da pequena Shinobu.”

“Hã, é como a face da Lua.”

E espere. Ele apenas a chamou de ‘pequena Shinobu’.

Senti uma pontada de simpatia, apesar de tudo.

Ela era uma vampira lendária e ainda...

Que comovente.

“No entanto, como a senhorita diz que encontrou um caranguejo, devemos estar lidando com um caranguejo. Esse é o padrão, no final de tudo.”

“O que isso deveria significar?” Senjougahara perguntou a Oshino sem piscar. “Como é chamado não importa para mim, mas─”

“Eu não diria isso. Os nomes são importantes. Como acabei de dizer ao Araragi, não há nenhum caranguejo nas montanhas de Kyushu. Pode ser diferente no norte, entretanto eles são raros no sul.”

“É provável que possa encontrar caranguejos de água doce, no entanto.” observei.

“Pode ser, porém esse não é o verdadeiro problema aqui.”

“Então o que é?” exigiu Senjougahara.

“É que pode ter sido originalmente um deus, não um caranguejo. Esse omoshi-kani deriva de omoishi-gami — porém esta é minha teoria pessoal. A maioria das pessoas pensa que é um caranguejo primeiro e um aspecto de deus é um pensamento posterior. A verdade é que a visão direta seria de que os dois surgiram ao mesmo tempo.”

“‘A maioria das pessoas’? ‘Visão direta’? Eu não sei de nenhum monstro.” Senjougahara objetou.

“Não poderia não sabê-lo. Afinal.” disse Oshino, “Você o encontrou”.

“...”

“E — ainda está aí.”

“Está dizendo que — pode ver algo?”

“Eu não. Não vejo nada.” Oshino respondeu com uma risada alegre e despreocupada que parecia, de fato, incomodar Senjougahara.

Como acontece comigo.

Qualquer um pensaria que ele estava zombando dela.

“É muito irresponsável da sua parte admitir que não ve nada.” disse Senjougahara.

“É assim? Os espíritos são basicamente invisíveis ao olho humano. Ninguém pode vê-los ou tocá-los de forma alguma. Essa é a norma.”

“Essa é — a norma.”

“Dizem que fantasmas não têm pernas ou que vampiros não refletem nos espelhos, porém não é esse o ponto. Resumindo, coisas desse tipo não são identificáveis ​​em primeiro lugar, contudo tenho uma pergunta para você, mocinha. Coisas que ninguém pode ver ou de alguma forma tocar de fato existem neste mundo?”

“Está me perguntando? Você mesmo disse que está bem aí.”

“Sim, disse, no entanto algo que ninguém pode ver ou tocar de alguma forma não é inexistente, cientificamente falando? Estar lá e não estar é exatamente a mesma coisa.”

É o que quero dizer, disse Oshino.

Senjougahara não parecia convencida.

Não há dúvida de que não é uma linha de raciocínio convincente.

Não do seu ponto de vista.

“Mas, mocinha, considere-se como tendo o lado mais sortudo do infortúnio. Araragi, parado ali, não apenas encontrou algo, ele foi atacado. Por um vampiro, por sinal. Que desgraça para o ser humano moderno.”

Deixe-me em paz.

É sério.

“Sua situação é melhor quando comparada a isso, mocinha.”

“E por que isto?” Senjougahara perguntou.

“Porque os deuses estão em toda parte. Eles estão por toda parte e não estão em lugar nenhum. Estava ao seu redor antes de se tornar como é agora — e poderíamos muito bem argumentar que não estava.”

“Soa quase como um koan¹ zen.”

“É Shinto². Talvez Shugendo³.” disse Oshino. “Está equivocada, mocinha, em pensar que se tornou do jeito que é por causa de algo que você fez — é só que sua perspectiva mudou.”

Foi assim desde o início.

Isso — mas isso quase não era diferente do que os médicos que haviam jogado a toalha afirmavam.

“Minha perspectiva? O que está tentando me dizer?”

“Estou dizendo que não suporto vê-la bancando a vítima, mocinha.” Oshino soltou de forma abrupta algumas palavras duras.

Assim como fez comigo.

Ou como fez com Hanekawa.

Estava preocupado sobre como Senjougahara reagiria — contudo ela não respondeu.

Quase parecia que estava aceitando humildemente.

“Hã.” Oshino parecia impressionado ao ver o seu estado. “Nada mal. Tinha certeza de que você era uma princesa arrogante.”

“Por que – pensou isso?” Senjougahara perguntou.

“Porque a maioria das pessoas que encontram o Caranguejo do Peso são assim. Você não o encontra por escolha própria e, na maior parte do tempo, não é um deus prejudicial. Não é como um vampiro.”

Não prejudicial?

Não é prejudicial — e, portanto, não ataca?

“Tão pouco possui pessoas. Está aí, isso é tudo. A menos que, mocinha, tenha algum desejo, ele não se manifesta. Veja bem, não vou cavar muito em suas circunstâncias. Não é como se quisesse salvá-la.”

“...”

Ela estava — indo salvar a si mesma sozinha.

Oshino sempre dizia o mesmo.

“Me interrompa se já ouviu essa história, mocinha. É um conto de fadas de outro país. Era uma vez um jovem. Um rapaz virtuoso. Um dia, na cidade, ele se depara com uma velha estranha e esta lhe pede que venda sua sombra.”

“Sua sombra?”

“Isso mesmo. A própria sombra que cresce de seus pés quando você está no sol. Venda para mim por dez moedas de ouro, disse a velha. O rapaz concordou sem hesitar um momento. Por dez moedas de ouro.”

“... Então o que aconteceu?”

“O que teria feito mocinha?”

“Quem sabe — é difícil dizer sem estar nessa situação. Posso vendê-la, ou não. Dependeria do preço também.”

“Essa é a resposta certa. As pessoas às vezes perguntam o que é mais valioso, seu dinheiro ou sua vida, no entanto essa é uma pergunta errônea. ‘Dinheiro’ pode significar um iene, ou pode significar um trilhão, enquanto do outro lado, nem todas as vidas são iguais entre os indivíduos. Detesto por completo o ditado vulgar de que toda a vida é igual. Contudo deixando isso de lado — o rapaz não conseguia imaginar que sua sombra fosse mais valiosa do que dez moedas de ouro. Por que ele iria? De que forma não ter uma sombra te incomoda? Não o prejudicaria de forma alguma.”

Oshino continuou, gesticulando. “Mas eis o que aconteceu como resultado. O rapaz é perseguido pelos habitantes da cidade e pela própria família. Criando discórdia com aqueles ao seu redor que dizem — é assustador não ter uma sombra. Claro que sim, porque realmente é. As pessoas falam sobre uma sombra assustadora, porém não ter nenhuma é muito mais assustador. Algo que deveria estar lá sem estar lá — certo? Em outras palavras, o rapaz vendeu o que deveria estar por dez moedas de ouro.”

“...”

“Ele procurou pela velha senhora para conseguir sua sombra de volta, mas não conseguiu encontrá-la, não importa quanto tempo ou quanto tentasse — ou assim diz a história.”

“E—” Senjougahara respondeu, sua expressão inalterada. “Qual é o seu ponto?”

“Eh, não há ponto. Apenas pensei que, bem, talvez acabasse a tocando. O rapaz que vendeu sua sombra e a moça privada de seu peso, entende?”

“Não é — como se eu tivesse vendido.”

“Exato. Não vendeu. Foi uma troca. Perder peso pode ser mais inconveniente do que perder sua sombra, entretanto em termos de não encaixar é a mesma coisa. Ainda assim — isso é tudo?”

“O que está querendo dizer?”

“Isso é tudo, é o que quero dizer.” Oshino bateu palmas diante do peito como se dissesse que o assunto estava encerrado. “Ok. Entendido. Você quer recuperar seu peso e eu vou ajudar. Afinal, Araragi foi quem a apresentou.”

“... Você vai — me salvar?”

“Não estou te salvando, mas posso ajudar.”

Vamos ver, Oshino disse, checando o relógio de pulso em seu braço esquerdo.

“O sol ainda está brilhando, então volte para casa por agora. Quando estiver lá, limpe seu corpo com água fria e coloque roupas limpas, ok? Vou fazer meus próprios preparativos enquanto isso. Já que você é colega de classe do Araragi, deve frequentar aquela escola estrita, mas vocês conseguirão sair de casa no meio da noite?”

“Eu consigo.”

“Então nos encontraremos aqui de novo à meia-noite?”

“Tudo bem — porém um conjunto roupas limpas?”

“Não precisam ser novas, no entanto seu uniforme escolar não vai servir. É usado todos os dias.”

“... E seus honorários?”

“Hã?”

“Por favor, não se faça de bobo. Não está me salvando como um ato de caridade, está?”

“Hm. Hrm.” Oshino se virou para olhar para mim, avaliando. “Suponho que cobrarei, mocinha, se isso a fizer se sentir melhor. Tudo bem, então que tal cem mil ienes.”

“... Cem mil ienes.” Senjougahara repetiu a soma. “Cem mil ienes — hã.”

“É uma soma que pode ser ganhar em um mês ou dois trabalhando meio período em um restaurante. Creio que seja razoável.”

“… Isso não é nada parecido com o tratamento que recebi.” comentei.

“Não é? Quero dizer, também custou cem mil ienes para a representante de classe.” rebateu Oshino.

“Estou dizendo que você me cobrou cinco milhões de ienes!”

“O que esperava? O seu caso foi um vampiro.”

“Pare de atribuir tudo ao vampirismo! Odeio quando as pessoas confiam em modismos como esse!”

Ignorando minhas queixas, Oshino perguntou a Senjougahara. “Você pode pagar?”

“Claro.” Senjougahara respondeu. “Sim, sem falta.”

E então—

E agora, duas horas depois, aqui estávamos.

Na casa de Senjougahara.

Dei uma olhada em volta — outra vez.

Cem mil ienes não é uma quantia pequena para os padrões normais, contudo sua residência de um quarto me fez pensar que era particularmente grande para Senjougahara.

Não havia nada lá além da cômoda, uma mesa pequena e uma pequena estante de livros. Considerando o quão voraz leitora ela parecia ser, sua coleção era escassa, o que significava que provavelmente dependia muito de livrarias e bibliotecas.

Como os estudantes esforçados de outrora.

Bem, isso é realmente o que ela era.

Senjougahara inclusive disse que estava recebendo ajuda financeira.

De acordo com Oshino, Senjougahara se saiu com sorte em comparação comigo — entretanto eu não tinha tanta certeza.

Sim, ser atacado por um vampiro não é uma piada pela ameaça à sua vida e os problemas que acaba causando. Mais de uma vez pensei que as coisas seriam mais fáceis se eu estivesse morto e, mesmo agora, depois de um único passo em falso, me sinto assim.

Então.

Talvez Senjougahara estivesse do lado mais sortudo do infortúnio. Todavia — dado o que Hanekawa me contou sobre Senjougahara, a aluna do ensino fundamental, parecia errado encaixar tão bem e ver dessa forma.

As duas não eram iguais, para dizer o mínimo.

Então, um pensamento me ocorreu.

Hanekawa — e quanto a Hanekawa?

O caso de Hanekawa Tsubasa.

Uma mulher cujo nome significava ‘asa’ e cujo sobrenome começava com outro caractere para a mesma palavra, um par de apêndices incompatíveis.

Assim como fui atacado por um demônio e Senjougahara encontrou um caranguejo, Hanekawa foi enfeitiçada por um gato. Foi o que aconteceu durante a Semana Dourada4. Foi tão intenso que parecia um passado distante assim que acabou, porém haviam se passado apenas alguns dias.

Hanekawa, entretanto, mal tinha qualquer lembrança da Semana Dourada e parecia apenas saber que era graças a Oshino que ela estava bem, ou talvez não soubesse de nada, mas de qualquer forma — eu lembrava de tudo.

De fato foi um caso horrível.

E isso vem de mim, que havia lidado com um demônio naquele ponto. Nunca imaginei que um gato pudesse ser mais assustador do que um demônio.

Então, da perspectiva de ser uma ameaça à vida e tudo, poderia apenas dizer que o caso de Senjougahara foi menos grave do que o de Hanekawa — no entanto considerando o que Senjougahara deve ter sentido ao chegar onde estava agora...

Considerando sua situação atual.

Se eu a considerasse.

Que tipo de vida a levou a um lugar onde a generosidade era considerada um comportamento hostil?

O garoto que vendeu sua sombra.

Aquela que foi privada de seu peso.

Estava além de mim.

Não correspondia a mim — entendê-la.

“Eu terminei meu banho.”

Senjougahara saiu do banheiro.

Tão nua quanto no dia em que nasceu.

“Gaaahhh!”

“Saia do caminho. Não posso pegar minhas roupas com você aí.”

Friamente, irritada com seu cabelo molhado, Senjougahara apontou para a gaveta atrás de mim.

“Roupas, vista algumas roupas!”

“É isso que estou tentando fazer.”

“Por que agora?”

“Está dizendo que eu não deveria?”

“Estou dizendo que já deveria ter feito!”

“Esqueci de trazê-las comigo.”

“Então use uma toalha ou algo assim!”

“De forma alguma, que falta de classe.” pronunciou Senjougahara com uma expressão serena.

Estava claro como o dia que discutir com ela seria inútil, então rastejei para fora do caminho da cômoda, em direção à estante, e foquei minha visão e minha mente ali como se para fazer um inventário.

Urrgh.

Vi uma mulher nua pela primeira vez...

M-Mas — algo estava errado, não foi como imaginava. Embora não ache que nutria ilusões, o que queria, o que sonhava, não era esse strip-tease infantil, esse deixar levar...

“Roupas limpas.” disse ela. “Acha que branco seria melhor?”

“Não me pergunte...”

“Só tenho roupas íntimas estampadas.”

“Não me pergunte!”

“Não entendo, por que está gritando assim quando tudo que estou fazendo é pedir um conselho? Você está passando pela menopausa?”

O som de uma gaveta sendo aberta.

O farfalhar de roupas.

Ahh, tarde demais.

A imagem estava gravada em minha mente e não ia desaparecer.

“Araragi. Não me diga que ficou sexualmente excitado com a visão do meu corpo nu.”

“Ainda que estivesse, não é minha culpa!”

“Apenas tente colocar um dedo em mim. Vou arrancar a língua dando fim ao calvário.”

“Bem, você não é casta!”

“Estou falando sobre a sua língua, não a minha.”

“Ok, agora me assustou!”

Começava a suspeitar que tentar entender essa mulher da minha perspectiva era uma missão tola.

Está além dos humanos entender os humanos.

Isso deveria ser óbvio.

“Ok. Pode olhar agora.”

“Oh, posso? Nossa...”

Afastei-me da estante e fui em sua direção.

Ela ainda estava de calcinha.

Sequer usava meias.

E assumiu uma pose terrivelmente provocativa.

“Qual é o seu objetivo aqui?” gritei.

“Vamos. Este é o meu agradecimento especial por me ajudar hoje, então aja pelo menos um pouco feliz.”

“...”

Foi a sua maneira de me agradecer.

Eu não entendi.

Na verdade, queria um pedido de desculpas mais do que qualquer agradecimento.

“Aja pelo menos um pouco feliz!”

“Agora está ficando com raiva de mim?”

“Seria apenas educado fornecer alguma opinião.”

“O-Opinião...?”

Seria educado?

O que devo dizer?

Uhh...

“Tipo.” Arrisquei. “Q-Que corpo bonito tem aí?”

“... Eu não posso acreditar em você.” ela cuspiu com o tipo de nojo reservado a pilhas de lixo podre.

Na verdade, havia um pouco de pena misturada ali também.

“É por isso que você foi um virgem por toda vida.”

“Por toda vida? Você é uma viajante do tempo ou algo assim?”

“Poderia, por favor, não borrifar sua saliva? Posso pegar sua virgindade.”

“A virgindade não é algo que uma mulher pode pegar!”

Bom, não que um homem pudesse, também.

“Espere, temos falado como se fosse um fato eu ser virgem!”

“Bem, não é? Nenhuma aluna do fundamental jamais lhe daria atenção.”

“Tenho duas objeções a esse! Em primeiro lugar, não sou um pedófilo e, em segundo lugar, alguma aluna do fundamental em algum lugar daria!”

“Por que declarar o segundo ponto se o primeiro é verdadeiro?”

“...”

Por que de fato.

“Porém está certo.” Senjougahara concedeu. “Estou tirando conclusões precipitadas.”

“Contanto que entenda.”

“Pare de cuspir. Posso pegar sua, exceto-para-profissionais, virgindade.”

“Nesse caso, admito que sou um completo Cherry Boy5!”

Tendo me encurralado para que fizesse uma confissão vergonhosa, Senjougahara deu um aceno satisfeito.

“Deveria ter dito desde o início. Este momento de felicidade vale com facilidade a metade de sua vida restante, então apenas aprecie.”

“Você é o Ceifador ou o quê...”

Um acordo para ver uma mulher nua?

Um novo tipo de mau-olhado.

“Eu não me preocuparia.” Senjougahara assegurou enquanto tirava e vestia uma camisa branca sobre o sutiã azul-claro. Parecia ridículo fazer outra contagem de seus livros, então apenas a encarei. “Não vou contar a Hanekawa, sabe?”

“Hanekawa?” perguntei.

“Você não tem uma queda por ela?”

“Não é verdade.”

“Oh. Vejo os dois conversando o tempo todo, então fiquei com essa impressão e pensei em tentar uma pergunta complicada.”

“Mantenha as perguntas complicadas fora das conversas casuais.”

“Cale-se. Quer que eu o elimine?”

“Que tipo de autoridade você pretende ser?”

Ainda assim, parecia que Senjougahara estava observando seus colegas de classe mais do que deixava transparecer. Me pergunto se saberia que sou o vice-representante de classe. Não, na verdade, era apenas mais um exemplo dela nunca saber quem poderia se tornar seu inimigo algum dia?

“Conversamos o tempo todo porque Hanekawa começa a conversar comigo.” expliquei.

“Parece que está esquecendo o seu lugar. Está tentando dizer que é Hanekawa quem tem uma queda por você?”

“Absolutamente não.” respondi. “Hanekawa só faz isso porque é atenciosa. Simples e excessivamente atenciosa. Ela tem essa noção engraçada e equivocada de que o pior perdedor da classe é quem mais precisa de sua simpatia. Acredita que os perdedores não têm folga suficiente ou algo assim.”

“Tem razão, que engraçado e equivocado.” Senjougahara assentiu com a cabeça. “O pior perdedor é apenas o pior simplório.”

“... Espere aí, não fui tão longe.”

“Está escrito na sua cara.”

“Não está!”

“Sabia que o negaria, assim que o escrevi um momento atrás.”

“Você não pode ser tão boa em armar pra mim!”

Em primeiro lugar—

Mesmo sem meus esclarecimentos, Senjougahara tinha que estar familiarizada com a personalidade de Hanekawa. Quando falei com Hanekawa depois da aula, parecia bastante — preocupada com Senjougahara.

Ou talvez fosse exatamente esse o problema aqui.

“Então — o senhor Oshino ajudou Hanekawa também?”

“Hmm. Suponho.”

Senjougahara terminou de abotoar sua camisa e estava indo para um casaco de lã branco. Parecia estar decidindo a metade superior de sua vestimenta antes de começar a parte inferior. Entendo, pensei, então todos temos nossa própria maneira de nos vestir. Talvez meu olhar não a incomodasse nem um pouco; ela estava de frente para mim, de toda forma, enquanto continuava a se vestir.

“Hmph.” disse.

“Então — acho que está tudo bem confiar nele. Sei que ele não age sério e é um cara despreocupado, petulante e frívolo, mas uma coisa que posso dizer a respeito é que é bom no que faz. Pode ficar tranquila. Não é apenas meu testemunho, Hanekawa concorda, então não há erro.”

“Entendo. Contudo, sabe, Araragi, me desculpe, porém mal tenho meia confiança no senhor Oshino ainda. Já fui enganada muitas vezes para acreditar fácil assim.”

“...”

Cinco pessoas — tentaram frases semelhantes com ela.

Todos eram fraudes.

E — é provável que não fosse toda a extensão disso.

“Visito o hospital por hábito, neste momento. Para ser honesta, quase me resignei com a forma como meu corpo está.”

“Resignada...”

A que se resignou?

Do que desistiu?

“Não posso esperar encontrar nenhum Van Helsing6 ou Lorde Darcy7 em nosso mundo peculiar.”

Não tinha resposta.

“Embora possa encontrar um ou dois ajudantes inúteis e trapalhões.” Senjougahara disse em seu tom mais sarcástico. “E é por isso que, Araragi, eu — não posso ser tão otimista a ponto de pensar que um colega que, por acaso, me pegou quando escorreguei nas escadas foi, por acaso, atacado por um vampiro nas férias de primavera, e que o homem quem por acaso salvou você também esteve envolvido com a representante da classe — e, além do mais, está disposto a me ajudar.”

E então—

Senjougahara começou a tirar o casaco de lã.

“Finalmente colocou essa coisa, então por que está tirando agora?”

“Esqueci de secar meu cabelo.”

“Espera, será que você é só uma idiota?”

“Por favor, cuidado com a sua boca, Araragi? E se ferir meus sentimentos?”

Seu secador de cabelo parecia absurdamente caro.

Parecia que prestava muita atenção a seu traje.

Visto desse ângulo, Senjougahara também parecia estar vestindo roupas íntimas bem na moda, mas aquele alvo da minha adulação, encantador senhor supremo da melhor parte da minha vida até um dia atrás, de alguma forma parecia não mais do que um pedaço de pano agora. Parecia que um terrível trauma estava sendo plantado em mim no tempo presente do particípio.

“Otimista, hein.” eu disse.

“Não acha?”

“Pode ser. Por outro lado, por que não ser otimista?”

“...”

“Não é como se estivesse fazendo algo errado ou trapaceando, assim não se desculpe por isso. Como agora.”

“Como agora?” Senjougahara parecia confusa. A senhorita não parecia perceber o quão imperturbável era. “Hm — não estou fazendo nada mau.”

“Certo?”

“Imagino.”

Senjougahara não tinha terminado.

“Mas.” continuou. “Mas — posso estar trapaceando.”

“Hã?”

“Não é nada.”

Senjougahara terminou de cuidar do cabelo, guardou a secadora e começou a se vestir de novo. Ela procurou em sua gaveta por roupas novas, tendo colocado em cabides a camisa agora úmida e o casaco de lã que usava com o cabelo ainda molhado.

“Se eu reencarnar.” disse Senjougahara “Gostaria de ser a Sargento-mor Kururu8.”

“...”

Isso não só não foi perguntado, como sinto que seu comportamento sádico e egocêntrico já a coloca na metade do caminho...

“Sei o que quer dizer.” ela acusou. “Não apenas não foi perguntado, como eu nunca poderia ser assim em um milhão de anos?”

“Bem, acertou metade.”

“Sabia.”

“... Você não poderia ter pelo menos dito Primeiro Cabo Dororo9?"

“Para mim, as palavras ‘interruptor de trauma’ estão muito próximas para me sentir cômoda.”

“Entendo... Mas você sabe—”

“Sem ifs ou bts.”

“O que diabos é um ‘bts’?”10

Você não conseguia nem adivinhar a palavra que ela talvez tenha falado incorretamente.

Naturalmente, não tinha ideia do que ela estava tentando dizer, porém mesmo enquanto pensava assim, Senjougahara mudou de assunto.

“Ei, Araragi. Posso te perguntar uma coisa? Não que importe muito.”

“Sim.”

“O que quis dizer com ‘como a face da Lua’?”

“Hã? Do que está falando?”

“Foi o que disse antes, para o senhor Oshino.”

“Hmm...”

Ah.

Certo, me lembrei.

“Sobre o caranguejo.” Expliquei. “Aquele cara, Oshino, disse que também pode ser um coelho ou uma mulher bonita. É disso que estava falando. As pessoas no Japão veem coelhos na lua, enquanto em outros países dizem que é um caranguejo ou a face de uma pessoa.”

Bem, não é que eu veja algo parecido, mas é assim que a história conta.

“Entendo.” Senjougahara acenou com a cabeça, se animando. “Estou surpresa que saiba de um fato tão ridículo. Você conseguiu me impressionar pela primeira vez.”

Ela disse ridículo.

Disse pela primeira vez na vida.

Então decidi dobrar a aposta.

“Bem, sei uma ou duas coisas quando se trata de astronomia e cosmologia. Acabei tomando um gosto por isso durante um tempo.”

“Está tudo bem, não precisa tentar parecer inteligente comigo. Já entendi. Essa é a única coisa que sabe, certo?”

“Você deve pensar que ‘abuso verbal’ é apenas uma expressão bonita.”

“Tudo bem então, vá em frente e chame a polícia verbal.”

“...”

Tive a sensação de que a verdadeira polícia não saberia o que fazer com ela.

“Olha.” insisti. “Não sou tão sem noção. Hum, por exemplo, no Japão é um coelho na face da Lua, mas sabe por quê?”

“Não há coelhos na Lua, Araragi. Você está no ensino médio e ainda acredita nisso?”

“Hipoteticamente falando.”

Esperar. Hipoteticamente?

Queria dizer no sentido figurado?

Isto não estava indo tão bem...

“Houve uma vez um deus, ou talvez fosse o Buda, mas esqueça, digamos que havia um deus. Pelo bem do deus, um coelho escolheu pular no fogo e cozinhar a si mesmo como uma oferenda divina. Movido por seu auto sacrifício, o deus fixou sua forma na Lua no céu para que as pessoas nunca se esquecessem do coelho.”

Estava partindo de um conhecimento pouco preciso resgatado de vagas memórias de um programa de TV que tinha visto quando criança, porém tinha certeza de que esses eram os detalhes.

“Isso foi uma coisa cruel para o deus fazer.” comentou Senjougahara. “É como se o coelho tivesse sido posto em exposição.”

“Não, não é esse tipo de história.”

“Eu também não sei sobre aquele coelho. Seu cálculo transparente de que uma demonstração de auto sacrifício ganharia o reconhecimento do deus é quase gritante.”

“Definitivamente não é esse tipo de história.”

“Em qualquer caso, não é para gente como eu.”

Tendo dito isto.

Ela começou a tirar a blusa de novo, a nova.

“... Está orgulhosa do seu corpo e tentando se exibir ou o quê?”

“Não sou tão convencida a ponto de me orgulhar do meu corpo. Estava apenas virada do avesso e ao contrário também.”

“É quase habilidoso.”

“Admito que vestir roupas não é o meu forte.”

“Então você é como uma criança.”

“Não, a roupa é pesada.”

“Ack.”

Fui desconsiderado.

Certo, se uma bolsa se sentia pesada, as roupas também.

Se tudo tivesse dez vezes o peso, suas roupas não seriam nada ignoráveis.

Eu me arrependi.

Foi uma coisa insensível — uma coisa descuidada de se dizer.

“Isso.” ela disse. “Posso me cansar, porém nunca me acostumarei — contudo você é na verdade bastante erudito, Araragi. Me surpreendeu. Pode ser que aja algum cérebro nessa sua cabeça.”

“Claro que existe.”

“Não de as coisas como garantidas... O crânio de um organismo como você contendo matéria cerebral seria um evento que beira um milagre, certo?”

“Uau, isso é uma coisa bem cruel de se dizer.”

“Não se incomode. Estou apenas afirmando fatos aqui.”

“Eu diria que alguém nesta sala merece morrer...”

“O que? Hoshina não está aqui, no entanto.”

“Você poderia ter alegado que um mentor a ser respeitado, nosso professor de sala de aula, merece morrer?”

“O caranguejo também?”

“Hã?”

“Escolheu saltar no fogo, como o coelho?”

“O-Oh... Bem, não encontrei nada sobre o caranguejo. Imagino se há uma história por trás. Nunca pensei a respeito... Provavelmente porque a Lua tem mares nela?”

“Não há mares na Lua. Como pode dizê-lo de forma tão presunçosa?”

“O que? Não existem? Não estava lá...”

“Tanto quanto sua astronomia. Não são mares reais, são apenas chamados assim.”11

“Oh…”

Hmmm.

Sem dúvida eu não poderia esperar acompanhar uma pessoa inteligente de verdade.

“Oh céus, Araragi, parece que mostrou suas verdadeiras cores. Que imprudência de minha parte afirmar, mesmo por um momento, que você possui algum conhecimento.”

“Você deve pensar que sou estúpido mesmo.”

“Como descobriu isso?”

“Você parece genuinamente chocada!”

Então ela pensou que estava escondendo.

Sério?

Senjougahara lamentou:

“Por minha causa, Araragi, você percebeu quão lamentável é sua mente... Eu me sinto responsável.”

“Ei, espera, sou tão estúpido assim?”

“Relaxe. Discriminar as pessoas por causa de suas notas é algo que eu nunca faria.”

“A maneira como expressou isso já está disparando o alarme!”

“Poderia não cuspir sua saliva? Posso pegar sua escolaridade incompleta.”

“Nós estudamos na mesma escola!”

“Sim, mas e depois?”

“Urk...” ela me pegou aí.

“Uma pós-graduação para mim, enquanto você vai abandonar o ensino médio.”

“Cheguei ao último ano e não vou desistir agora!”

“Em breve, estará chorando e implorando para ser liberado.”

“A fala de um vilão que só vejo em quadrinhos escapou da sua língua?”

“Vamos comparar as porcentagens das provas. Noventa e nove para mim.”

“Guh...” me venceu. “Trinta e cinco para mim...”

“Então zero, se arredondar.”

“O que? Mentirosa, um cinco arredonda... Espera, está arredondando as dezenas? Como se atreve a fazer isso com a minha nota?”

Ela tinha mais de sessenta pontos percentuais sobre mim, estava chutando cachorro morto!

“Não me sinto vitoriosa até estar cem pontos acima.”

“Vai arredondar o seu às dezenas também...”

Impiedosa.

“Então, de agora em diante, não quero que chegue a um raio de 20.000 quilômetros de mim.”

“Está me chutando da face da Terra?”

“A propósito, o deus fez o favor ao coelho e realmente festejou com ele?”

“Hã? Oh, voltamos nisso. Ele se banqueteava... Se o olhar mais a fundo, se tornaria uma história bizarra, ok?”

“Já é, indo mais fundo ou não.”

“Ah, sim? Por que eu saberia, sou estúpido.”

“Não faça beicinho. Vai destruir meu humor.”

“Vai começar a se sentir mal por mim?”

“Compadecer-me de você sozinho não vai livrar o mundo da guerra.”

“Não fique teorizando sobre o mundo quando não pode nem mesmo salvar um único ser humano! Comece ajudando a vidinha triste à sua frente! Sei que está a altura do desafio!”

“Hmph. Tudo bem, me decidi.” disse Senjougahara, tendo se vestido por fim com uma blusa branca, uma jaqueta branca e uma saia larga branca. “Se tudo correr bem, haverá caranguejos em Hokkaido.”

“Tenho certeza de que pode comer caranguejos sem ir até Hokkaido, e não acho que eles estejam na época agora, mas claro, se é isso que quer fazer, fique à vontade.”

“Você vem comigo.”

“Por quê?”

“Oh, você não sabia?” Senjougahara sorriu. “Caranguejos, Araragi, são deliciosos.”



Notas:
1. Koan é uma narrativa ou diálogo no budismo zen que contém aspectos que são inacessíveis à razão. Desta forma, o Koan tem, como objetivo, propiciar a iluminação espiritual do praticante.
2. Shinto é a espiritualidade tradicional do Japão, considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais.
3. Shugendo pode ser traduzido como “caminho de poder espiritual pela ascese”, ou seja, uma forma de aquisição de poderes espirituais (de cura, adivinhação, etc) através de práticas ascéticas severas realizadas nas montanhas.
4. A Semana Dourada é a junção de quatro feriados nacionais no final de abril / início de maio, que ocorre no Japão. Combinada com alguns fins de semana, torna-se uma das datas preferidas das pessoas, o que causa uma grande aglomeração nas cidades.
5. Cherry boy é um termo para designar um garoto inexperiente sexualmente, virgem.
6. Van Helsing é um personagem fictício do romance de horror gótico ‘Drácula’, de 1897. O personagem é conhecido por ser um caçador de vampiros e outras criaturas sobrenaturais, sendo um especialista em doenças obscuras, além de ser um cientista de métodos nada ortodoxos.
7. Lorde Darcy é outro personagem fictício envolvendo com ocultismo e magia, atuando como detetive.
8. Sargento Mor Kururu é um personagem do anime e mangá Keroro Gunso. Conhecido por sua personalidade complexa, mostrando falta de empatia junto com alguns problemas para se socializar.
9. Dororo é outro dos personagens de Keroro Gunso, passando a maior parte de seu tempo afastado do pelotão, ele é esquecido com frequência pelos companheiros, fazendo com que seu “interruptor de trauma” seja ativado.
10. Imagino que se refira a frase “sem ‘se’ ou ‘mas’”, porém com algum erro na forma como ela pronunciou o segundo.
11. Não estou bem certo, mas imagino que se refira a ‘Mare’, um termo latino utilizado na exogeologia para designar diversas configurações morfológicas na superfície da Lua. Isso porque essas configurações foram, de fato, confundidas como mares e oceanos pelo astrônomo Michael Florent van Langren.

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