Capítulo 101: Findale era um lugar animado
Findale era um lugar animado devido à sua proximidade com a capital da Rodésia. Funcionou como um ponto de retransmissão para os comerciantes que chegavam à capital vindos de todas as partes do mundo e trazendo consigo mercadorias e alegria. As ruas estavam repletas de todos os tipos de barracas lotadas, e uma lona de mercadorias estava estendida diante de cada parede vazia. Os viajantes faziam apresentações de rua e tocavam suas músicas para entreter os transeuntes — para receber gorjetas ocasionais, é claro.
Uma mulher parou em frente a uma peixaria administrada por uma mulher mais velha. A peixeira sorriu, enxugando o suor da testa antes de cumprimentar a cliente.
“Bom dia, Mabel. Saindo para fazer compras de novo?”
Mabel assentiu alegremente.
“Sim, posso pegar uma cesta com esses peixinhos? Oh, alguns desses curados com sal também.”
“Pode deixar! Eu aprecio muito todas essas grandes compras. A lanchonete está funcionando bem?”
“Graças a você.”
“Adoraria passar por lá se não estivesse tão ocupada. Apenas não consigo encontrar algum tempo.”
“Não se preocupe com isso. Você tem sua própria loja para administrar.”
Enquanto as duas conversavam amigavelmente, uma unidade de homens vestidos com o uniforme do exército imperial marchou em sua direção. A aproximação deles foi anunciada pela batida estrondosa de seus pés marchando no chão, levantando uma nuvem de poeira.
“Você aí.”
“Sim?” Mabel virou-se e lá estava François, o terceiro filho do Arquiduque Estogal. Atrás de François estava um homem alto com um casaco preto, e os soldados imperiais estavam de prontidão nas proximidades.
O homem de casaco preto tinha uma aparência bastante estranha. Seu longo cabelo — preso em um coque apertado atrás da cabeça — provavelmente era castanho, mas sua cor havia desbotado com o passar dos anos e agora estava com listras brancas. Apesar do que as rugas profundas em seu rosto pudessem sugerir, parecia ter apenas quarenta e tantos ou cinquenta e poucos anos. Uma velha cicatriz de lâmina ia do olho direito até o queixo.
A peixeira inclinou a cabeça em reverência.
“O-O que um oficial imperial está fazendo... Quero dizer, que negócio o traz aqui, senhor?”
Porém François não lhe deu uma segunda olhada. Ele olhou Mabel de cima a baixo antes de dizer.
“Você é Mabel do Restaurante Grama Verde, correto?”
“S-Sim, sou... Hmm, precisa de algo de mim?”
“Entendo. Você será executada por traição contra o império.” declarou François, gesticulando para a mulher com um aceno de cabeça. Um de seus soldados avançou logo depois e, desembainhando a espada, cortou Mabel do ombro até os seios. O sangue espirrou no ar, pontuado pelo grito da peixeira.
O cadáver de Mabel caiu de costas no chão antes mesmo que tivesse a chance de gritar. Os transeuntes pararam em estado de choque, murmurando entre si e lançando olhares furtivos para a tragédia.
“Agora vamos esperar...” disse François, olhando para o cadáver. O sangue escorria do corte em seu torso, encharcando suas roupas e se acumulando no chão.
A peixeira, encolhida e tremendo, conseguiu fazer uma pergunta.
“S-Senhor... O que... O que ela fez para merecer tal punição?”
“É como eu disse — traição. Não há Restaurante Grama Verde. Não existe.”
“H-Hã? Então...”
“Silêncio — isso não lhe diz respeito. Não enfie o nariz onde não deve.”
A peixeira de rosto pálido fugiu para os fundos da loja. O cheiro acre de sangue fresco começou a permear, agitando ainda mais a multidão.
François estreitou os olhos.
“Acho que não estava aqui.”
“Não, espere.” interrompeu o homem alto, parando François antes que pudesse sair.
O cadáver de Mabel ergueu-se do chão como se estivesse sendo puxado por cordas. Os contornos de seu corpo se desvaneceram em uma espécie de névoa que foi subitamente levada pelo vento, e onde antes estava a mulher Mabel, agora estava uma alta mulher élfica. Seu lindo cabelo prateado até a cintura estava amarrado na ponta, e usava um manto bege sobre uma vestimenta oriental em camadas feita de tecido de cânhamo. Suas feições eram tão finas quanto as de qualquer outro elfo, contudo suas sobrancelhas eram grossas e rebeldes, dando-lhe uma impressão obstinada.
A elfa colocou a mão na testa e balançou a cabeça como se tivesse acabado de acordar do sono. Nenhuma ferida marcou sua carne; o sangue que estava acumulado no chão havia sumido.
“Bem, aqui estou...” murmurou.
François sorriu.
“Te encontrei. Você virá conosco!”
Os soldados imediatamente a cercaram com suas espadas e lanças em punho. Depois de olhar para todos, a elfa fez um leve movimento com a mão e, um momento depois, todos os soldados caíram no chão com gritos altos. O sangue escorria de suas mãos, braços e pernas, e suas armas caíram no chão. Os espectadores rapidamente se dispersaram, gritando por suas vidas.
François olhou para ela enquanto pegava a espada em seu quadril.
“Acho que não será tão fácil...”
“Espere. Este é o meu trabalho.” interrompeu o homem alto, empurrando François para o lado para enfrentar a elfa furiosa.
“Eu não te vi antes… Um amigo deles?”
“Não tenho obrigação de responder.” O homem desembainhou a espada — um alfanje longo e largo, embora faltasse uma ponta pontiaguda.
A elfa respirou fundo antes de avaliá-lo.
“Um ferimento no olho direito e um alfanje... Hector, o Carrasco. E pensar que você se tornaria o cachorrinho de alguém como ele — está envergonhando todos os aventureiros de Rank S.”
“Chega de conversa. Venha em silêncio ou prepare-se para perder um membro. Escolha.”
“Não escolho nenhum dos dois!” a mulher elfa acenou com a mão. A força de um impacto percorreu o alfanje de Hector como se tivesse acabado de bloquear o golpe de uma espada. Os olhos de Hector se arregalaram quando deu um forte passo à frente para repelir essa força invisível, conseguindo manobrar seu alfanje para contornar o ataque e avançar. No entanto a elfa o evitou, saltando com grande agilidade do chão e aterrissando no beiral saliente de uma loja próxima.
“Não! Ela está fugindo!” François gritou com raiva.
“Não no meu turno!” Hector cravou seu alfanje no chão. A espada perfurou a pedra facilmente, apesar de faltar a ponta. De repente, sua sombra ficou borrada como a superfície de um lago ondulante, e da escuridão surgiu três guerreiros esqueléticos em armaduras e portando armas. Eles correram pela parede em busca da elfa, e o primeiro a atacou com sua lâmina.
“Hmph!” a elfa estendeu o braço. Antes que pudesse tocá-la, a lâmina parou como se colidisse com uma arma invisível. Ela balançou os braços cruzados à sua frente como se estivesse brandindo duas espadas. No mesmo instante, os esqueletos foram cortados em tiras, com armadura e tudo, e se transformaram em neblina.
Entretanto Hector não estava ocioso. Com um grande salto, passou voando pelo beiral e desceu do alto. A elfa em seguida cruzou os braços, prendendo o alfanje entre as duas espadas invisíveis. As telhas rasparam umas nas outras sob seus pés e seus braços rangeram nas juntas.
“Tão pesado!”
“Entendi!” torcendo o corpo, Hector acertou um chute no flanco da elfa. Sua postura desmoronou e a mulher foi jogada de cabeça para baixo no telhado. Porém, conseguiu se endireitar no último segundo, contudo ainda assim acabou colidindo com uma das barracas da peixaria, virando uma cesta e espalhando peixes pelo chão.
“Ow, ow... Desculpe, senhora...” no entanto não teve um segundo para descansar quando a lâmina de Hector desceu sobre seu corpo mais uma vez. A elfa imediatamente saltou para o lado, mas não sem um corte agudo do ombro esquerdo até o bíceps e perdendo uma quantidade preocupante de sangue.
“Sua perna é a próxima.”
A elfa recuou com um salto para trás, todavia Hector estava em sua perseguição obstinada, e sua espada fez um arco no ar enquanto atacava sua perna. A mulher élfica estendeu o braço, sua espada invisível travando na lâmina do alfanje, entretanto uma expressão de angústia cruzou seu rosto enquanto o sangue escorria de seu ferimento. Percebendo sua hesitação momentânea, Hector saltou além de sua defesa e deu um chute em seu ombro.
“Argh!” ela imediatamente caiu de joelhos. Hector, pairando próximo com olhos frios, pressionou a ponta do alfanje em seu pescoço. Sua expressão deixou claro o quão desapaixonado ele era.
“Você foi uma decepção.”
“Hah... Esse é o Carrasco então... Não vai me deixar escapar assim tão fácil.”
“Poupe seu fôlego; não poderá fugir de mim. Agradeça por não estar aqui para matá-la.”
“Ah, ha! Que assustador... Então acho que terei que explodir para as alturas.”
O ar mudou de repente. Os olhos de Hector se arregalaram — ele podia sentir a lâmina invisível vindo em sua direção, desta vez acompanhada de uma aura de sede de sangue incomparável a qualquer ataque que tivesse acontecido antes. Hector cambaleou para trás para evitá-lo, golpeado pelo ar quando este passou zunindo por ele.
Embora Hector tenha levantado a guarda em preparação para um ataque subsequente, não demorou em percebeu que era um erro.
“Droga!”
“Bom dia, seus canalhas!” em um instante, a elfa já estava a vários passos de distância, com um sorriso travesso no rosto enquanto colocava a mão no peito. Sua forma mudou e ficou turva como uma miragem, e então desapareceu.
Hector estalou a língua enquanto embainhava a lâmina, mas seus lábios se curvaram em um sorriso cruel.
“Ela estava escondendo suas garras... Embora apenas por um momento, me fez sentir derrotado.”
François olhou para Hector indignado.
“Seu insolente...”
“Hehe... E pensar que ela conheceria magia de teletransporte. Já faz muito tempo que não caço uma presa tão interessante.”
“Pare de agir tão despreocupado... Demorou tanto para encontrá-la, e agora foi tudo em vão. Pior ainda, nós a deixamos desconfiada de nós!”
“Porém não vai se esconder. Não seja tão impaciente.”
O casaco de Hector arrastou-se atrás dele quando se virou. François olhou em volta amargamente antes de rugir para os soldados atordoados que caíram no chão.
“Por quanto tempo vocês vão sonhar acordados? De pé!”
Os soldados levantaram-se apressadamente e recuperaram os armamentos caídos.
○
A estação já havia começado no outono quando eles desceram do Umbigo da Terra para Istafar. Porém ainda estavam nas profundezas das terras do sul, então fazia calor enquanto o sol estava alto, e os casacos se tornavam insuportáveis quando estava no auge. Em casa, Turnera já teria dado adeus ao curto período de verão, as montanhas circundantes seriam tingidas de amarelo e vermelho e todas as famílias estariam ocupadas se preparando para o inverno.
Yakumo enfiou as mãos nos bolsos e franziu a testa.
“Não podemos seguir para o norte quando a neve cobrir o solo. Se quisermos chegar a Turnera, devemos nos apressar.”
“Hmm... Me desculpe, parece que estamos te apressando.”
“Faz parte do trabalho. Não se preocupe, não se preocupe.” Yakumo riu enquanto inseria a haste do cachimbo entre os lábios. Enquanto isso, Angeline bebeu um copo de suco e soltou um lânguido ‘Phew’.
Seu grupo havia crescido. Além das pessoas com quem vieram para o Umbigo da Terra, agora se juntavam a eles Percival, Yakumo e Lucille, bem como Touya e Maureen. Como o grupo agora era bem grande e haviam partido ao mesmo tempo que muitos outros aventureiros pelo mesmo caminho, era possível se revezar na vigilância. Assim, terminaram esta etapa da jornada com pouco esforço.
Quando viajaram por ali pela primeira vez, Belgrieve havia se esgotado como estrategista do grupo, detector de inimigos e vigia, entre outras coisas, contudo desta vez estava cercado por aventureiros capazes que poderiam assumir essas funções e não precisavam se esgotar. No entanto, ele era antes de tudo um agricultor, e a vida na estrada lhe era cansativa.
“A partir daqui, seria mais rápido seguir para o norte, até Khalifa, e depois passar pelo Ponto de Checagem de Yobem, talvez.” sugeriu Kasim.
Duncan assentiu.
“Sim, a estrada para Khalifa está bem conservada e não deve ser uma viagem longa para um cavalo rápido.”
“Khalifa, hein...” Percival murmurou. “Eu estive vagando por lá há um tempo. Era um lugar animado.”
“Passei por aqui.” disse Duncan, acariciando a barba. “Segue estando muito animado. Suspeito que seja tão populoso quanto Orphen.”
“Qual é o clima lá? É como Istafar?” Marguerite perguntou ansiosamente, com dúvida sincera.
Khalifa era uma grande metrópole situada onde a principal rota comercial oriental de Tyldes se cruzava com a rota sul. Periodicamente, todos os reis e representantes dos clãs e grupos étnicos de Tyldes se reuniam ali em um grande conselho. Era — por direito e de fato — o coração da nação. A oeste de Khalifa ficava o Ducado de Estogal, enquanto Istafar ficava ao sul. O norte levava a um ponto de checagem para o território élfico, e ao leste ficava Keatai. Foi um local de intersecção de muitos povos, resultando numa cultura própria e bastante singular. Foi também o lar de um número vertiginoso de pessoas que rivalizava com a população de Orphen, que era a maior cidade do norte de Estogal. Entretanto, ao contrário de Orphen, a mistura de culturas resultou em uma infinidade de rotinas e modos de vestir diferentes, e homens bestas eram uma visão mais corriqueira lá. Dizia-se que essa abundância caleidoscópica de povos fazia a cidade parecer ainda mais opressora do que Orphen.
Embora o coração de Khalifa fosse uma cidade de edifícios altos de pedra, tudo fora dela consistia em tendas de todos os formatos e tamanhos. Havia muitas tribos diferentes em Tyldes, e a maioria era nômade; na verdade, aqueles que se estabeleceram num só lugar eram a minoria. Assim, ergueriam suas próprias tendas ao redor do perímetro e viveriam delas. A floresta de tendas formava um bairro residencial em constante mudança, bem como um mercado movimentado.
“Talvez fosse melhor descrito como um enorme acampamento.” disse Duncan.
“Certo.” concordou Percival, balançando a cabeça. “Um lugar barulhento. Se gosta de agitação, não ficará entediado lá.”
“Hmm, parece bom. Adoraria passar por lá.”
“Então, Maggie, vai voltar para Turnera com Duncan...?”
“Por que está tão interessada em me expulsar?” Marguerite gritou, cutucando Angeline com beicinho. Anessa e Miriam riram, enquanto Duncan deu uma risada estrondosa.
“Vamos, vamos, precisamos voltar antes que a neve caia, então não teremos tempo de explorar a cidade.”
Yakumo sorriu enquanto batia na cinza do cachimbo.
“Hehehe... Duncan tem ainda mais motivos para se apressar. Ele está deixando alguém esperando.”
“Uh... C-Certo.” Duncan coçou timidamente a bochecha.
Marguerite gargalhou.
“Sim, Hannah está esperando!”
Angeline assentiu.
“Entendo, então é Hannah... Trate-a bem.” naturalmente, Angeline conhecia Hannah desde muito jovem, assim como o marido de Hannah antes de seu falecimento. Angeline lembrou como Hannah parecia solitária depois que ele se foi, então ela acolheu com satisfação esse desenvolvimento em sua vida amorosa agora.
Yakumo encheu seu cachimbo com ervas frescas.
“É bom ter alguém assim em sua vida.”
“Senhor Bell e o senhor Duncan são iguais.” observou Lucille.
Angeline inclinou a cabeça.
“Iguais?”
“Ambos estão em uma jornada para encontrar alguém, através das terras em busca do amor.”
“H-Hã...” Duncan murmurou.
Yakumo riu ao ver seu comportamento tímido.
“Ah, amor. Eu deveria seguir o exemplo deles.”
“Você vai se casar?” Lucille perguntou em completa descrença.
Yakumo fez uma careta e cutucou Lucille.
“O que há com esse olhar?”
Percival teve um ataque de tosse, aparentemente de tanto rir.
“Meu Deus, vocês duas se dão bem.”
“Não é?” Miriam assentiu.
“‘Você tem um amigo em mim’.” cantou Lucille.
“Prefiro manter distância.” Yakumo deu um tapa na mão que Lucille colocou em seu ombro, mas a garota não se intimidou e aninhou a ponta do nariz no mesmo ombro. Yakumo a olhou com a testa franzida.
“Por que está se apegando a mim? É desagradável.”
“Quero dizer, não temos ninguém querido o suficiente para viajar. Nós duas estamos sozinhas.”
“Fale por si mesma. Não estou solitária.”
“Vocês realmente se dão bem...” Angeline deu uma risadinha, porém também se sentiu um pouco deprimida. Embora pudesse ficar sinceramente encantada com a felicidade de outra pessoa, agora sentia inveja ao pensar que aquele que mais amava no mundo encontraria tal felicidade.
Esses pensamentos devem ter obscurecido sua expressão, pois Anessa encarou-a com curiosidade.
“Algo errado?”
“N-Nada...” Angeline disse, levando a xícara aos lábios para brincar.
Eles estavam agora sentados no refeitório da pousada em que estavam hospedados. Estava lotado de clientes barulhentos. Embora alguns se aproximassem de Marguerite, com a atenção atraída para sua beleza élfica, fugiriam logo depois com um olhar de Percival.
Yakumo olhou em volta.
“Então, o que vocês vão fazer enquanto vamos para Turnera?”
“Se bem me lembro, íamos procurar uma pista na capital imperial.” disse Marguerite.
Percival tomou um gole de suco.
“Se for para acreditar nas palavras daquele garoto...”
“É provável que esteja dizendo a verdade.” disse Kasim. “Também conheço o velho Salazar, Olhos de Serpente.”
“São familiarizados?”
“Não, nós conversamos há muito tempo — como colegas arquimagos, sabe? Contudo, bem, admito que Salazar é inteligente, no entanto não parecia ter nenhum interesse em nada que os outros estivessem fazendo. Não sei se ele vai te ajudar ou não...”
“É esse tipo de pessoa, hein? Parece um problema.” comentou Percival, recostando-se na cadeira.
Kasim assentiu.
“Sim. Se fosse o tipo de cara que ajudaria a procurar alguém, eu certamente teria pedido para encontrar Bell para mim. Mas é difícil até falar com ele sobre qualquer coisa. É inevitável que torne a conversa sobre si mesmo.”
“O quê, todos os arquimagos são assim?”
“Claro que não. Basta olhar para mim, bem aqui. Não sou um cara decente e honesto?”
“Você é...?" Marguerite brincou com um sorriso, as pontas dos dedos batendo na mesa.
Kasim sorriu de volta, girando os dedos. No momento seguinte, o cabelo de Marguerite estava flutuando e se enrolando em nós. Marguerite agarrou-se com pressa, tentando conter o caos.
“O que está fazendo, estúpido?”
“Hehehe... Mostre algum respeito pelos mais velhos.”
“Bom... Se tivesse que dizer, ele provavelmente não é tão decente... Kasim, quero dizer.”
“Ah, olha só! Agora até o Percy está dizendo isso! Bem, não vou negar que a maioria dos arquimagos pode ser um pouco teimosa. Certo, Merry?”
“Absolutamente! Nossa velha bruxa me deixou maluca com sua teimosia!”
“Oh, vamos lá... Quer que eu conte a Maria o que acabou de dizer?”
“Vá em frente. Estou apenas contando as coisas como as coisas são.” retrucou Miriam, indiferente à ameaça de fofoca. Anessa apenas balançou a cabeça.
Angeline bebeu outro copo de suco e disse.
“É por isso que vamos pedir que Touya nos apresente.”
“Certo, vamos esperar que tudo corra bem. Porém será que eles se dão tão bem com Salazar...? Hehehe. Vão ficar surpresos ao vê-lo pela primeira vez. Acho que vale a pena apenas ver o cara.”
“Hã? Como ele é, como ele é?”
“Será um segredo. Não é mais divertido assim?” Kasim gargalhou, recusando-se a satisfazer a curiosidade crescente de Miriam.
“Então nosso próximo destino é a capital imperial! Hehe, mal posso esperar para ver!” Marguerite declarou com entusiasmo.
“A que distância fica de Istafar?”
Anessa espalhou um mapa. Istafar ficava em território Tyldean, contudo ficava perto do Império Dadan e de Lucrecia. Seguir para oeste ao longo das montanhas os levaria a Lucrecia e ao Império Rodesiano. As estradas eram espaçosas e muitos mascates usavam a rota. Estimava-se que levaria menos de um mês para chegar à fronteira. De lá, saltavam de uma cidade para outra até chegarem à capital da Rodésia.
“O caminho para a capital está bem conservado, graças a todos os comerciantes do leste, por isso a viagem não será difícil. Certo, Ishmael?” Duncan perguntou enquanto empilhava os pratos vazios.
“Na verdade, existem diligências públicas que pode usar e muitos trabalhos que pode realizar como guarda de comerciantes e caravanas.”
“Você está voltando para a capital também, Ishmael?” Anessa perguntou.
“Sim.” Ishmael assentiu. “Será uma jornada fácil se eu os acompanhar.”
“Como diriam as pessoas do passado... ‘Nenhum caminho é longo com boa companhia. Uma pena que eu não tenha uma’.”
“Cala a boca.”
Eles precisariam estar com Touya e Maureen para se encontrarem com Salazar. Parece que continuaremos viajando com um grande grupo, pensou Angeline.
“Espero que encontre Satie, senhor.” disse Lucille, puxando o chapéu para baixo.
“Adoraria se fosse assim. No entanto não estou tão esperançoso.” respondeu Percival.
Yakumo ficou inquieta.
“Dificilmente dá para perceber por aqui, mas o inverno está próximo. Se estiver indo para a capital, não estará de volta a Turnera até a primavera.”
“Era inverno quando nos conhecemos em Orphen.” disse Lucille.
“Agora que mencionou, é verdade.” disse Angeline, balançando a cabeça.
Eles conheceram Yakumo e Lucille no final do inverno, em uma etapa da viagem de volta a Turnera. Mais tarde, descobriu-se que elas estavam atrás de Charlotte, então esse encontro não foi uma coincidência.
O nariz de Lucille se animou.
“Estou feliz por poder ver Char... Ela tem um cheiro muito bom.”
“Acha que eles estão bem?” talvez Char tenha deixado o cabelo crescer desde que foi cortado em Bordeaux, pensou Angeline.
Miriam riu.
“Charlotte está com Graham. Tenho certeza de que está bem.”
“Ah, sim, o Paladino está em Turnera, não está...?” Yakumo parecia um pouco inquieta. “Nunca imaginei que encontraria uma lenda viva. Estou começando a ficar nervosa.”
“Aquele velho não é assustador nem nada...”
“Não, ele é super assustador, meu tio-avô é.”
“Isso é porque você é sua sobrinha-neta. Nunca pensei que Graham fosse assustador antes. Ele estava sempre rodeado de crianças.” disse Anessa.
Ishmael parecia intrigado.
“Então o Paladino é bom com crianças? Sempre o imaginei como alguém que se elevava acima das nuvens.”
“Sim, nós, aventureiros, só tendemos a ver seu poder majestoso, entretanto as crianças gostam dele, e Graham pareceu agradavelmente surpreso com isso.” explicou Duncan, relembrando seu tempo em Turnera com um sorriso. “Vivendo esse tipo de vida, você quase poderia esquecer que era um aventureiro.”
Durante a maior parte de sua vida, Graham viajou de um lugar para outro como um guerreiro errante. Para ele, sua vida em Turnera deve ter sido uma amostra há muito esperada de algo caloroso e fundamentado. A maioria dos aventureiros ficou entediada com esse conforto e deixou suas terras natais em busca de algo mais emocionante. Ele se perguntou por que sentia tanta saudade daquela vida. Agora que pensou sobre isso, foi muito estranho.
“Então até o Paladino, o auge dos aventureiros, acabou tendo uma vida tranquila no campo.” disse Yakumo, enchendo o cachimbo. “É uma coisa curiosa. Bem, entendo que a idade afeta a todos, e o corpo não é tão ágil como era antes.”
“Você só se cansa disso, pura e simplesmente.” disse Percival com um bocejo.
“Está cansado, Percy...?” Angeline perguntou, sua cabeça inclinada para o lado em um sinal de curiosidade.
“No meu caso, não importa — se fico cansado ou odeio, não posso fazer mais nada. Desde que me reencontrei com Bell, é como se pudesse sentir a determinação se esvaindo de mim.”
“Da minha parte, não acho que seja uma coisa ruim.” disse Kasim.
“Nem eu.” admitiu Percival. “Todavia não posso deixar tudo passar ainda. Precisamos encontrar Satie primeiro.”
“É bom ter um objetivo claro. Para viajantes como nós, há momentos em que não sabemos por que estamos fazendo o que fazemos.”
“Não é por excitação? Para ver coisas que nunca viu antes?” Marguerite sugeriu.
Yakumo pensou em sua resposta enquanto observava a fumaça subindo de seu cachimbo.
“Quando era jovem, talvez. Porém me acostumei com tudo e cansei de coisas novas. E ainda assim, não parei de vagar. Meu coração está procurando por algo, contudo não sei o que é.”
“Também comecei a me perguntar a respeito.” disse Duncan. “Vivi mais de trinta anos e passei mais da metade desse tempo como aventureiro, no entanto era como se estivesse indo de um lugar para outro procurando o que não estava lá... E no fim, nunca encontrei descobrir o que era.”
“Não estava procurando uma linda esposa? Você encontrou o amor.” sem que ninguém percebesse, Lucille pegou seu instrumento de seis cordas e começou a dedilhar uma música.
Percival riu alto.
“Você não está indo para Turnera porque encontrou seu ‘algo’? Não decepcione sua esposa.”
“Hmm...” Duncan disse timidamente, parecendo se encolher.
Kasim se espreguiçou e ajeitou o chapéu.
“Agora, então... Já é hora de ir para a guilda, Ange.”
“Certo...”
Eles precisavam se encontrar com o mestre da guilda, Oliver, para atender seu pedido. Mesmo que tivessem uma pista sobre Salazar, Angeline pensou em pedir informações sobre Satie de qualquer maneira. A nebulosidade em seu coração poderia ser desviada concentrando-se no que estava acontecendo diante de seus olhos. Apesar de tudo, ainda ficava feliz sempre que conversava com Belgrieve, e havia diversão e entretenimento em se misturar com Percival e Kasim. Angeline se divertia sinceramente quando todos se reuniam para conversar.
Por que me tornei uma aventureira? Angeline se perguntou. No seu caso, apenas olhou para Belgrieve e desejou seu elogio. Essa aspiração estava tão próxima e almejada, todavia de repente parecia que tinha ido para longe. De um ponto de vista superficial, Angeline estava encantada por poder ajudar o pai a se reunir com seus velhos amigos, entretanto por dentro estava mais em conflito. Kasim veio, e depois Percival; aos poucos, as conexões com o passado de Belgrieve foram ficando cada vez mais claras. E era uma sensação solitária saber que não tinha lugar nessas memórias.
Ela sabia que era inútil fazer comparações, contudo estava começando a ter pensamentos estranhos, como se perguntar se Belgrieve apreciava mais as lembranças de seus antigos camaradas do que as suas vidas juntos. Então, quando se assegurou de que venceria o concurso, sentiu como se estivesse insultando o passado de Belgrieve.
Angeline estava ansiosa e por esse motivo — embora não houvesse nenhuma conexão lógica — estava fazendo Belgrieve mimá-la ainda mais do que o normal. Ela se agarrava a ele e implorava para que a carregasse nas costas, e cada vez, como sempre fazia, Belgrieve gentilmente concordava com um sorriso irônico no rosto.
A visão do mesmo velho pai que sempre conheceu foi um alívio, no entanto por trás de sua aparência de alegria forçada, havia uma voz insistente que sussurrava: ‘Não é isso; isso não está certo’. Talvez fosse por esse motivo que ficava assumia uma estranha atitude fria logo após receber o amor dele. A própria pessoa sabia o quão instável havia se tornado. Estou apenas adiando o assunto? imaginou. Mas o que mais devo fazer?
“Ange, vamos lá.” Kasim gritou chamando-a — evidentemente, ela estava se distraindo e suas palavras a trouxeram de volta à realidade. Angeline então se levantou, deu um tapa no rosto para acordar e virou a cabeça para resolver os problemas.
“Cuide do pai por mim, Sr. Percy.”
“Bell não está doente nem nada... Bom, vou apenas alimentá-lo com algo para animá-lo. Ainda assim, aquele Bell... Por que ele é o único agindo como um homem velho? Temos a mesma idade, sabe?”
“Quantos anos você tem, senhor?” Lucille perguntou, piscando com curiosidade.
“Hã? Ah, tenho... Quarenta... Esqueci.”
“Oh não. Já tem idade suficiente para se tornar esquecido?” Miriam riu.
Percival franziu a testa, erguendo os dedos para contar.
“Eu... Devo ter mais de quarenta anos, porém... Foram quatro ou cinco? Bem, tanto faz. Vou ao mercado.”
“Compras? Também vou! Quero sair!” Marguerite cantou, chutando os pés no ar.
“Tudo bem, tudo bem, acalme-se.” disse Percival, como se estivesse lidando com uma sobrinha turbulenta.
A guilda de Istafar estava crescendo. Muitos materiais raros foram trazidos depois da grande onda e os comerciantes com essas informações privilegiadas invadiram, causando uma grande confusão. Embora o Umbigo da Terra não fosse de conhecimento público, grande parte da economia de Istafar dependia dele.
Com isso dito, a maioria dos aventureiros não vendeu apenas seus saques na cidade mais próxima. Eles o levariam de volta às suas bases, onde poderiam conseguir um preço ainda melhor. A quantidade de materiais que circulavam pela cidade era bastante baixa quando comparada com o número de aventureiros que desafiaram o abismo, e por isso houve uma guerra de licitações travada pelos escassos materiais. Com uma rápida olhada nesta atividade desenfreada, Angeline seguiu Kasim até a sala do mestre da guilda.
Oliver estava sentado em sua mesa, folheando alguns documentos. Assim que entraram, ele ergueu os olhos do trabalho, parecendo agradavelmente surpreso.
“Ora, veja só... É bom vê-los de volta inteiros.”
“Prazer em vê-lo novamente, Sr. Oliver... Obrigado por isso.” Angeline foi até sua mesa e largou o cristal mágico que haviam pegado emprestado.
Oliver o pegou com cuidado.
“Estou feliz que você encontrou alguma utilidade para isto. Então, sobre os materiais?”
“Nós os deixamos com sua assistente. Estão sendo avaliados agora. Deve ser tudo o que nos pediu.”
“Muito obrigado por seu trabalho duro. Agora podemos fazer mais bolas de cristal... Pagarei assim que seu valor for determinado.”
“Ok... Hum, há algo que eu queria perguntar. Posso?”
“Hmm? Claro, o que é?”
“Estou à procura de alguém.”
Oliver estreitou os olhos antes de convidar seus dois visitantes para se sentarem.
“Procurando por alguém? Pode me dar uma descrição?”
“Ela é uma elfa — uma mulher chamada Satie.”
“Elfa...” Oliver franziu a testa, cruzando os braços. “Eu vi uma mulher elfa... Há pouco tempo. Estava em um grupo com um garoto.”
“Ah, não ela.” tinham que ser Touya e Maureen. Angeline explicou que eles se encontraram no Umbigo da Terra e estavam voltando juntos.
Oliver encolheu os ombros.
“Entendo; você já a conhece, então...”
“Algo mais?”
O olhar de Oliver vagou enquanto ruminava sobre a descrição, todavia no fim, fechou os olhos e balançou a cabeça.
“Lamento não poder ajudar em nada.”
“Não, obrigado... Você já fez o suficiente.” Angeline inclinou a cabeça agradecida.
“Hmm...” Kasim a observou, parecendo um pouco impressionado.
○
Belgrieve respirou fundo e depois exalou. Ele estava sentado na cama meditando dessa maneira quando foi interrompido por uma batida na porta. Seus olhos se abriram.
“Sr. Bell, está acordado?”
“Anne? Estou acordado.”
A porta se abriu para Anessa entrar.
“Como está se sentindo?”
“Descansei bem, então estou bem. Obrigado.”
“Entendo... Isso é bom...” ela parecia aliviada enquanto se sentava em uma cadeira próxima.
“Todos foram ao mercado — exceto Ange e o Sr. Kasim; eles foram para a guilda.”
“Hmm? Você não queria ir?”
“Oh, pensei que seria um incômodo se sua situação piorasse, então fiquei para trás.” disse Anessa com um sorriso travesso.
Belgrieve coçou a cabeça.
“Desculpe fazê-la se preocupar.”
“Não precisa... Ah, deixe-me pegar um chá.” Anessa serviu uma xícara de chá de uma garrafa de madeira. “Parece que provavelmente estamos indo para a capital.”
“Entendo. Outra longa jornada pela frente...”
“Ahaha! Você é bastante robusto, mas acho que as viagens afetam de maneiras diferentes das batalhas.”
“Talvez... É certamente perturbador até mesmo dormir em uma cama diferente.”
Anessa riu enquanto o entregava a xícara.
“Senhor Percy não ficou feliz com isso. Ele disse que vocês tem a mesma idade, mas você é o único que demonstra.”
“Não chegarei a lugar nenhum se me mantiver no padrão do Percy. Meu Deus, todo mundo parece me colocar em um pedestal...” Belgrieve deu uma risada perturbada antes de tomar um gole. A frescura do líquido permeou seu peito.
Os dois beberam chá em silêncio por um tempo, até que Belgrieve ergueu os olhos.
“Ange está agindo de forma estranha.”
A expressão de Anessa endureceu, um pouco assustada.
“Estranha? Como assim?”
“Sua atitude está estranhamente fria, como se estivesse tentando se distanciar de mim, ou pelo menos é o que parece... Mas então, de repente, está em cima de mim... É como se estivesse instável.”
“Hmm. Bem...” Anessa se mexeu, esfregando as pontas dos dedos dos pés enquanto pressionava o copo nos lábios.
“Poderia entender se estivéssemos seguindo caminhos separados outra vez. Contudo se for outra coisa, se Ange está pensando muito sobre alguma coisa, eu só estava me perguntando o que poderia estar a incomodando. Isso aconteceu uma vez antes. Acho que está fazendo o mesmo de antes... Você sabe de alguma coisa, Anne?”
“Vejo que já percebeu a situação...” Anessa resmungou. Ela coçou a bochecha. “No entanto não tenho certeza se deveria ouvir isso de mim. Ange está pensando nas coisas à sua maneira...”
“Bem... Acho que está certa. Tenho certeza que Ange tem algo em mente... Eu não deveria ser super protetor.”
“Hehehe... Entretanto ela ainda te ama. Isso não mudou. É mais como se estivesse confusa com tudo o que está mudando ao seu redor.”
“Tanto eu quanto ela, vivíamos em um mundo muito pequeno. Sendo honesto, não acredito que consegui ver Kasim e Percy de novo. Em apenas dois anos, o nosso mundo expandiu-se bastante.”
“É muito estranho, não é? Esses laços que unem as pessoas... Mas Ange está perdida por causa deles... Ah, não, me desculpe. Não é nada.” sua língua quase escorregou e se apressou em mudar de assunto. Porém Belgrieve percebeu de qualquer maneira. Esse seu lado — não como pai de Angeline, contudo como amigo de Kasim e Percival — de fato seria um lado estranho para Angeline.
“É assustador quando o que conhece e ama começa a mudar.”
“Ah... Hum...” Anessa murmurou, encolhendo-se. Evidentemente, percebeu que havia deixado escapar.
Belgrieve estendeu a mão para lhe dar um tapinha em seu ombro.
“Há muito menos que um pai pode fazer por um filho do que você imagina. Quando Ange está perturbada e magoada, ela precisa do apoio dos amigos... Bom, também não há nada de errado em ela ter um namorado.”
“Ahaha... Bom.”
“Anne. Acho que o mundo de Ange cresceu graças a você e a Merry. Por favor, continue a ser amigo dela.”
“Claro que eu vou.” Anessa sorriu com um rubor nas bochechas.
Os pensamentos de Belgrieve voltaram-se para o passado. Ele havia perdido os pais ainda jovem e os adultos da vila o criaram no lugar deles. Eles o trataram com gentileza, contudo foram Kerry e seus outros amigos que substituíram sua solidão pelo carinho que sentiam por ele.
Belgrieve partiu para Orphen para se tornar um aventureiro, onde foi passado de grupo em grupo até por fim conhecer Percival. Numa altura em que não conseguia reconhecer o seu próprio valor, sempre foram os seus amigos que o aceitaram.
Aos poucos, Angeline foi saindo. Estava cercada por adultos que podia respeitar e amigos em quem podia confiar e, como pai, estava grato por vê-la cercada por tanto apoio. Todavia, quando uma criança se preparava para deixar o pai, o que este poderia fazer por ela? Belgrieve pensou um pouco, entretanto saiu de mãos vazias. Não importa o que fizesse, seria demais.
Belgrieve ficou sentado ali com a testa franzida. Era como se as preocupações de Angeline fossem contagiosas. No final das contas, achou que era motivo de comemoração o fato de sua filha estar trabalhando com seus próprios pensamentos e emoções, em vez de confiar nos ensinamentos de seu pai. Não era sua intenção interferir nisso. No entanto ainda assim, uma parte sua se sentia um pouco solitária.
É realmente problemático ser pai. Belgrieve sorriu ironicamente enquanto acariciava a barba.
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