Capítulo 32: À deriva, o Senhor Dourado das Trevas
“Tudo bem... O que você quer?” perguntou relutante o dragão dourado, Milgazia, a Xellos.
Seu desconforto era compreensível. A mencionada Guerra das Encarnações, segundo a lenda, havia colocado os dragões contra os mazokus... O que significava que os dois teriam sido inimigos naquela época. O fato de estar disposto a conversar com Xellos agora sugeria que não era de guardar rancor. Bem, isso ou...
“A verdade é que precisamos ter acesso a Bíblia Claire.” respondeu Xellos.
“Vocês, mazokus, precisam?” questionou Milgazia, desconfiado.
“Ah, com certeza não. Eu esperava que essa garota humana pudesse usá-la.”
“Humana?” o ancião dragão dourado me encarou por um tempo antes de perguntar a Xellos. “O que está tramando, Sacerdote?”
“Não é minha conspiração, mas do Lorde Mestre do Inferno. Embora temo que ele não tenha me contado a natureza de sua conspiração... Veja bem, estou apenas fazendo o que me mandam. Um mensageiro relutante, por assim dizer.”
“E se eu recusar?”
“Apenas terei de encontrar outra maneira de conseguir o que procuro.” disse Xellos, o mais calmo possível.
Milgazia o encarou incisivamente por um tempo.
“Muito bem!” suspirou por fim o dragão.
“Não podemos impedi-lo de procurá-la. Faça como quiser.”
“Sua cooperação é muito apreciada.”
“Porém... Vou os acompanhar até lá.”
E com isso, o ancião dragão dourado soltou um uivo em direção aos céus. Sua forma então começou a tremer. Seu corpo se tornou uma névoa dourada, que se condensou em seguida... E Milgazia agora estava diante de nós como um humano de meia-idade loiro e bastante bonito, vestido com roupas azuis largas.
Aha... Aquele uivo deve ter sido o encantamento para seu feitiço de transformação.
“Vou te mostrar o caminho. Venha!” disse Milgazia, que se apresentava como humano.
———
Nós seis, quatro humanos e dois sósias, subíamos a estrada de pedra da montanha. Passamos o tempo todo em silêncio. Tenho certeza de que estávamos todos cheios de perguntas, contudo a atmosfera não era propícia para conversas.
Os dragões nos observavam, quase com medo, do alto de penhascos e atrás de rochas distantes. Milgazia liderou o caminho sem dizer uma palavra e sem olhar para trás, no entanto sua insatisfação era evidente. Quase parecia irradiar hostilidade em nossa direção. Sua linguagem corporal praticamente gritava: “Nyah, nyah! Vocês, humanos idiotas que trabalham para um mazoku, é melhor nem tentarem falar comigo!”.
Essa intensidade estragou qualquer oportunidade de iniciar uma conversa, mas...
Argh! Eu não aguento mais!
Havia tanta coisa que queria perguntar. E, mais do que isso, não sabia quanto tempo levaria para chegar à Bíblia Claire. A ideia de passar o tempo todo em silêncio estava me deixando maluca.
Por mais difícil que fosse, precisava quebrar o gelo! Entretanto, se me dirigisse ao velho do nada, poderia acabar sendo ignorada, ou até mesmo retrucada. Eu me perguntei se talvez devesse ir devagar e tentar falar com outra pessoa primeiro.
Todavia, bem quando estava pesando minhas opções...
“Ei, Xellos!” Gourry chamou do nada.
Espera aí, você vai falar com o Xellos primeiro?
A voz de Gourry provocou uma contração visível nos ombros de Milgazia. É provável que estivesse indignado, pensando: Está tentando puxar assunto pelas minhas costas?
“O que foi?” respondeu Xellos, surpreendentemente tranquilo em comparação.
“Você é, tipo, super velho ou algo assim?” Gourry perguntou casualmente.
Splat! Amelia, Xellos... O alvo da pergunta, e eu caímos de cara no chão em grupo.
“De onde... De onde veio essa ideia?” perguntou Xellos enquanto se levantava.
Gourry apenas coçou a cabeça, pensativo, enquanto respondia.
“Bem... Aquele cara dragão falou sobre a Guerra das Encarnações, e me lembro de já ter ouvido falar a respeito em algum lugar. Então, estava pensando... Isso foi há muito tempo, certo?”
“Sim... Mil e doze anos, para ser mais preciso.”
“Certo? O que quer dizer que tem mais de mil anos. Entendo que não queira revelar sua idade real às pessoas, mas não acho que precisa ficar tão constrangido por uma coisa dessas. Você não parece ter mais de mil anos! Se tivesse me perguntado, teria dito que tem vinte e poucos anos.”
O que Gourry estava dizendo era mais do que absurdo. A aparência dos mazokus não mudava com a idade, e era bastante questionável que a forma como Xellos nos aparecia fosse sua forma ‘verdadeira’ em primeiro lugar.
“Bom... Muito obrigado!” disse Xellos, num tom inexpressivo e compreensível de quem não sabe como mais responder.
A próxima coisa que percebi foi que Milgazia havia parado, virando-se para encarar Gourry, incrédulo.
Sim! Agora é minha chance de falar!
“Não se incomode, senhor. Ele é só, sabe... Assim.”
“Ah... Sim!” respondeu o dragão vagamente antes de recomeçar a andar.
“Mas se me permite perguntar... Como você e todos esses dragões sobrevivem aqui? O que comem?” perguntei, tentando soar o mais despreocupada possível enquanto falava sobre o que vinha me perguntando esse tempo todo.
Quero dizer, o Pico dos Dragões era em suma uma rocha grande e nua. Havia pouca terra ou árvores de tamanho considerável. Claro, talvez houvesse frutas que pudesse colher e pequenos animais que poderia caçar, porém era difícil imaginar um clã de dragões sobrevivendo apenas com tão pouco.
“Para começar, não precisamos de muita comida.” respondeu Milgazia.
Certo, não esperava essa. Meio que achei que ele fosse sibilar que não era da minha conta... Apesar de seu tom ainda ter um pouco de rispidez.
“Filhotes de dragões precisam comer tanto quanto qualquer outro ser, contudo à medida que amadurecemos, aprendemos a nos saciar com vento e luz solar. Depois de um tempo, precisamos comer, no entanto é fácil ficar sem comida por um ou dois meses. Considere a possibilidade: se todos os dragões do mundo consumissem constantemente comida em proporção ao nosso tamanho, teríamos tornado a terra estéril há muito tempo, correto?”
“Entendo... Faz sentido.”
“Agora, uma pergunta para você, humana.”
“Vou me esforçar para responder.”
“Você sabe que Xellos é um mazoku e que está tramando algo, e mesmo assim coopera. Por quê?”
“Bem... É minha única maneira de continuar viva por agora. Não sei o que Xellos e o Mestre do Inferno Fibrizo estão planejando, todavia há outra facção que também não sabe o que eles estão planejando... E querem me matar para impedir seja lá o que for. Sei que o plano do Mestre do Inferno com certeza não será alcançar a paz mundial ou demonstrar amor por todos os seres vivos... E, nesse sentido, as pessoas que tentam me matar podem estar completamente justificadas, mas temo não ser um ser iluminado o suficiente para apenas me render e morrer por algo que sequer entendo.”
“Os seres vivos tentarão sobreviver... Essa é a lei da natureza. Não há motivo para se envergonha.” disse Milgazia. Seu tom era indiferente e ainda não se dignou a olhar para mim, mas... Seria uma gentileza recém-descoberta que senti em sua voz?
“Não pretendo continuar sendo um peão para sempre.” esclareci. “Porém... Se parar de seguir o jogo agora, nunca entenderei o que está acontecendo. Duvido que meus supostos assassinos parem de tentar me matar se eu recuar... Continuarão vindo ‘só por precaução’ e, mais cedo ou mais tarde, conseguirão. Além do mais, não há garantia de que minha morte porá fim aos planos do Mestre do Inferno. O que significa que ir embora sem nunca descobrir a verdade significaria ser morta por nada.”
“Tem certeza de que deveria dizer isso na presença dele?” perguntou Milgazia, indicando Xellos com os olhos quando por fim se virou para mim.
“Ah, não se incomode. Conheço a Srta. Lina bem o suficiente para presumir que ela pensou bastante a respeito.” respondeu Xellos, displicentemente.
“Hmm...” o ancião dragão dourado ponderou por um momento. “Minha preocupação é... Lina, certo? Humana, você é uma das sete partes de Olhos de Rubi Shabranigdu?”
“O quê?” gritei em choque.
Olhos de Rubi Shabranigdu, também conhecido como o Lorde das Trevas do nosso mundo... A lenda dizia que foi selado em sete fragmentos eras atrás, após um combate mortal com o deus do nosso mundo, o Dragão Chamejante Ceifeed. Ceifeed foi gravemente ferido na batalha e deixou quatro avatares antes de desaparecer. Enquanto isso, os lacaios do Lorde das Trevas se espalharam pelo globo.
Quanto aos fragmentos, acreditava-se que um deles havia revivido mil anos atrás, durante a Guerra das Encarnações. Isto foi nas Montanhas Katart, onde destruiu o avatar de Ceifeed, Aqualord, protetor do Norte. E então, há pouco mais de um ano, testemunhei com meus próprios olhos a abertura de um segundo fragmento. Ainda restavam cinco... Será que na verdade sou um deles?
“O que... O que você está dizendo?” perguntei com a voz rouca após uma longa pausa.
“Vocês, humanos, sabem que Olhos de Rubi foi dividido em sete partes e selado, não é?”
“Bem... É uma história famosa, sim.”
“Parece que Ceifeed selou Shabranigdu em almas humanas. Quando um hospedeiro humano morre, o fragmento do Lorde das Trevas se move para outro. Os selos poderiam ter sido mais resistentes em dragões ou elfos, contudo acredito que Ceifeed escolheu humanos em específico por sua curta duração de vida. A reencarnação repetida deve purificar gradualmente os fragmentos do Lorde das Trevas e, com o tempo, destruí-los.”
“No entanto... Como os humanos são criaturas tão frágeis, certas coisas podem enfraquecer um selo. E quando isso acontecer... O Mestre do Inferno, que tem a capacidade de perceber o ciclo da reencarnação, tomará consciência em pouco tempo. Ele pode muito bem tomar medidas para desfazer o selo por completo.”
“Na verdade, mil anos atrás, durante a Guerra das Encarnações, foi ele quem abriu o fragmento nas Montanhas Katart. Então, se tiver algum novo plano em andamento agora... Bem, dá para entender por que alguém pode se preocupar.”
“Você acha que... A Bíblia Claire pode ser a chave para abrir os selos?” perguntei, ainda em silêncio.
Entretanto Milgazia respondeu balançando a cabeça.
“Não... A Bíblia Claire é apenas uma fonte de conhecimento de outro mundo. Se, hipoteticamente falando, você for um dos fragmentos do Lorde das Trevas, o mero ato de percebê-lo não quebraria o selo... Embora possa servir como um passo nessa direção. Claro, também é possível que o plano do Mestre do Inferno não tenha nada a ver com isso.”
“De qualquer forma, não saberemos o que há na caixa até abrirmos a tampa...”
“De fato. Mas não se preocupe. Se determinar o que fazer e quando... E acreditar em si mesma, encontrará a saída de qualquer coisa. Ah, aqui estamos.” disse Milgazia, parando em um local de aspecto normal.
Estávamos subindo uma ladeira bastante larga. À nossa direita, havia um penhasco íngreme, e à nossa esquerda, um bosque de árvores, tendo ao fundo outra colina tão íngreme que poderia muito bem ser um penhasco.
“Onde... Exatamente?” perguntei, olhando ao redor, confusa.
“Nosso destino...” respondeu inalterado o ancião dragão dourado. Então, sem emitir um som, desapareceu no meio do caminho para dentro da parede rochosa à nossa direita. “A Bíblia Claire está por aqui. Pode parecer sólida, porém vocês conseguem atravessá-la. Venha comigo, Lina, a garota humana. O resto deve esperar aqui.”
Diante disso, o grupo trocou olhares.
“Por que só a Lina?” perguntou Amelia.
Milgazia reapareceu do nosso lado da parede e explicou.
“Prometi ao Sacerdote que levaria esta garota até a Bíblia Claire. Não tenho intenção de guiar nenhum outro humano até lá. Podem me seguir se quiserem, contudo não assumirei nenhuma responsabilidade caso se separem.”
“Separar? É como um labirinto lá dentro ou algo assim?” perguntou Gourry desta vez.
“Uma infinidade de caminhos, pode-se dizer. Só conheço o caminho de ida e volta. No entanto, embora o caminho seja perceptível para mazokus e dragões, um humano pode se perder e nunca mais voltar.”
Gourry, Zel e Amelia se entreolharam por mais um tempo.
“Certo, Lina, vamos esperar aqui.”
“Se cuida.”
“Traga umas lembrancinhas!”
V-Vamos lá, vão me deixar sozinha... Bem, certo, acho que ir em um grupo grande não ajudaria muito...
“Xellos, por favor, fique aqui e cuide para que eles não mudem de ideia.” instruiu Milgazia.
“Muito bem!” concordou Xellos, despreocupado.
“E-Espere, Xellos vai ficar para trás? O que devo fazer quando chegar à Bíblia Claire?”
“Quem sabe... Meu único dever era te trazer em segurança aqui. Cumpri esse papel à risca, então pouco me importa o que fizer em seguida.” respondeu Xellos, sem rodeios e despreocupado.
Droga, ele é só um garoto de recados relutante... Ótimo. Eu mesma vou resolver o problema.
“Tudo bem. Vamos prosseguir, garota humana Lina.” convidou Milgazia.
Assenti e peguei sua mão.
———
No momento em que atravessei a parede rochosa, fui tomada por uma sensação estranha. Não sei como descrever. Era como se meu corpo não fosse mais meu... Não, não era bem isso. As palavras certas me escapam. Era diferente de tudo que já havia sentido antes.
“Que lugar é este?” perguntei enquanto seguia Milgazia pelo espaço estranho.
Era tão difícil para mim entender quanto descrever. Num momento era uma caverna rochosa, todavia se deixasse minha mente divagar ou desviasse o olhar por um segundo, ela se transformava em uma passagem de cristal cintilante, um corredor de metal sem características, os intestinos de uma grande fera...
“Não deixe que te incomode.” disse o ancião dragão dourado, subitamente invertido diante dos meus olhos. Não tinha certeza se estava mesmo de cabeça para baixo ou se era uma ilusão de ótica.
“Mais fácil falar do que fazer...” pisquei e vi Milgazia de cabeça para cima de novo... Todavia, em vez de estar bem na minha frente, estava tão à frente que parecia do tamanho de uma formiga. Mesmo assim, eu ainda conseguia sentir sua mão firmemente na minha. Era meio difícil não me incomodar.
“Confie na sensação da sua mão. Seus outros sentidos vão te enganar.” disse o ancião.
Com sua dica, olhei para minha mão esquerda. Acompanhei seu braço com os olhos, até seu ombro, e então... Milgazia pareceu estar bem na minha frente.
“Este espaço apareceu com a Bíblia Claire há mil anos, bem na época da Guerra das Encarnações.” ele disse. “O mais provável é que tenha sido formado por distorções no espaço-tempo causadas pelo conflito de poder entre Olhos de Rubi e Aqualord. Seus fundamentos se assemelham ao plano astral.”
“Como assim?”
Não são seus olhos e ouvidos que percebem, e sim seu espírito. Sentimentos de medo podem transformar o paraíso na própria visão do inferno, e brisas suaves nos gritos dos condenados. Sentimentos de hostilidade podem matar seus alvos, e o desespero auto direcionado pode arruinar seu corpo.
Certo... Resumindo, era um mundo onde aqueles com as vontades mais fortes sobreviviam.
“Claro, é apenas similar. Até um mazoku com poder insuficiente pode se perder aqui para sempre. O mesmo vale para dragões...”
“Hm... Por favor, não se perca.”
“Receio que seja tarde demais.”
“O quêêêêê...”
“É brincadeira.”
Seu, seu... Velho patife!
“Bem, me perdoe por ser um velho patife.”
Eh... Ele leu minha mente. Acho melhor não pensar em nada muito estranho, como que dragões dourados podem ir se [BIP] ou que eles são todos um bando de [BIP]...
“Quer que eu te deixe aqui?”
“É brincadeira. Enfim, quanto falta para chegarmos a Bíblia Claire?”
“Não muito. Mas... O que pretende fazer com o conhecimento sobrenatural que obtiver com ela?”
“Bom... Como falei antes, não quero ser fantoche do Mestre do Inferno ou de Xellos para sempre. O que significa que é provável que terei de lutar contra eles algum dia, então gostaria de ter um bom truque na manga para quando a hora chegar.”
“Talvez não seja de tanta ajuda...” disse o ancião dragão dourado, cansado.
“Não é justo dizer isso antes mesmo de eu tentar...”
“Mesmo que adquira tal conhecimento, existem limites rígidos para o poder que um humano pode exercer. Você não conseguiria derrotar Xellos, muito menos o Mestre do Inferno, em qualquer tipo de confronto direto.”
“Ok, entendo que Xellos é bastante forte, porém...”
“Não, você não entende.” Milgazia soltou um suspiro realmente longo. “Por que acha que concordei com seu pedido para trazê-la aqui tão prontamente?”
“Aposto que não é porque vocês são velhos amigos, é?”
“É porque eu o temo.”
Espere...
“Hã?”
Não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Um ancião dos dragões dourados, dos lordes dos dragões, com medo?
“Mil anos atrás, aquele que levou os dragões à beira da aniquilação... Foi Xellos, agindo pura e apenas por conta própria.”
Fiquei sem palavras. O que Milgazia estava dizendo me deixou boquiaberta.
“Se tivesse recusado, ele ainda teria te guiado até a Bíblia Claire, matando todos os dragões dourados e negros deste pico em sua busca pelo caminho... Não teria sido fácil, posso garantir, contudo também não duvido que teria conseguido. E como não desejo ver meu povo morrer em nome de uma resistência inútil, eu concordei.”
Isto é... Absurdo. Tinha ouvido histórias sobre um único mazoku subjugando os dragões durante a Guerra das Encarnações... No entanto sempre presumi que fosse um exagero. Para descobrir que era verdade, e até que era obra dele...
Quero dizer, sei que Xellos era forte, entretanto... Tão forte assim?
“Sua bravura é admirável, todavia não conseguiria vencê-los em uma luta. Embora vencê-los em esperteza... Pode ser possível, dependendo dos seus métodos.”
“Vou tentar o meu melhor...” respondi, desanimada.
Ficamos em silêncio por um tempo. Não muito tempo depois, Milgazia parou.
“Agora... Aqui estamos.” disse ele.
Também parei, porém, ao olhar ao redor, não consegui ver nada que se parecesse com uma bíblia. O espaço bizarro e incompreensível ao nosso redor parecia um completo vazio.
“Er... Onde está, se posso perguntar?”
“Aqui!” disse o ancião, despreocupado, apontando.
Não, ainda não estou vendo!
“Hmm...” respondi, incerta.
O ancião dragão dourado pensou por um momento e então disse.
“Hmm... Olhos humanos não conseguem percebê-la? Nesse caso... Ah, sim, tente ‘sentir’. Veja se consegue sentir sua presença.”
“Uh-huh...” dei uma resposta vaga e me virei na direção indicada. ‘Sentir’ o quê, exatamente?
Milgazia disse que não conseguiria vê-la, assim sendo, por mais bobo que tudo parecesse, tentei fechar os olhos e...
Lá estava.
Rapidamente abri os olhos de novo. Como antes, o espaço estava vazio. Ainda não conseguia vê-la de fato... No entanto desta vez podia sentir algo ali com certeza. Era um orbe grande o suficiente para caber em minhas duas mãos.
“Este... Orbe?” sussurrei, tocando-o suavemente com a mão direita aberta.
Naquele momento...
“Este não é um mero orbe. É o epicentro de uma ruptura espaço-temporal por onde flui uma torrente de informações sobrenaturais. É o que vocês chamam de Bíblia Claire.” respondeu uma voz, quase inaudível.
“Hã?” por reflexo, soltei o orbe e me virei para Milgazia. “Você acabou de dizer alguma coisa?”
“Não. Você deve ter ouvido a voz da Bíblia Claire. Eu não ouvi nada.” disse ele com simplicidade.
“Hã...”
Então tínhamos algum tipo de orbe falante, não é? Só que, se Milgazia não tinha ouvido sua ‘voz’, isso significava que estava falando direto com a minha mente ou meu espírito.
Estendi a mão direita outra vez... Mas esperei, e o orbe não disse nada dessa vez.
Droga... Resolveu se fazer de tímido agora?
“Você não está tentando aprender nada.” respondeu em seguida a voz silenciosa.
“Gwuh!” gritei, surpresa. “Ah... Isso me assustou. Quer dizer que você, se é que dá pra contar como um ‘você’, responderá às perguntas que eu fizer?”
“Correto.”
“Entendo, entendo...” falei, assentindo com a cabeça.
Tenho certeza que parecia bem boba para Milgazia, que não conseguia ouvir a voz da Bíblia Claire, porém não podia me prender às aparências agora. Sabia que podia só fazer as perguntas sobre o orbe na minha cabeça, contudo falar em voz alta me ajudou a canalizar melhor meus pensamentos.
“Ok, então vamos continuar... Primeiro, sabe o que o Mestre do Inferno está planejando?”
“Não!” ele respondeu sem rodeios. (Para ser justo, não tinha muitas esperanças nessa pergunta.) “Não posso transmitir os pensamentos e sentimentos de outros seres. Só posso transmitir conhecimento.”
“Foi o que imaginei. Nesse caso...” parei por um minuto e então fiz meu principal pedido mentalmente. Conte-me tudo o que sabe sobre o Senhor dos Pesadelos.
Este era meu principal motivo para querer encontrar a Bíblia Claire. Ela poderia ser meu trunfo contra o Mestre do Inferno, Xellos... E todo o resto.
A história de Milgazia, combinada com minha própria experiência, deixou bem claro que mesmo uma série de Dragon Slaves não seria suficiente para um ser do calibre de Xellos. No entanto se pudesse invocar com segurança e confiança o Senhor dos Pesadelos, o maior de todos os Lordes das Trevas, sobre quem ouvi falar pela primeira vez na Cidade de Gyria... Poderia ser o suficiente para virar o jogo.
Todavia, para tornar o feitiço mais estável, precisava saber mais sobre o próprio Senhor dos Pesadelos. A recitação geracional de um manuscrito da Bíblia Claire que ouvi em Gyria não era confiável. Para ser justo, eu já tinha conseguido usar o feitiço duas vezes... Então ou era uma recitação muito boa, ou o Senhor dos Pesadelos era apenas caprichoso.
Por sorte, a verdadeira Bíblia Claire aqui deveria ser capaz de me dar algumas respostas genuínas.
“Sua existência é incompreensível para os demais. Até eu, o que vocês chamam de Bíblia Claire, compreendo apenas uma ínfima fração de sua existência. Porém vou lhe contar o que sei. Este é...”
“A mãe de todas as trevas... O verdadeiro soberano dos mazokus... Aquele que busca um retorno ao passado... Mais sombrio que a própria escuridão... Mais profundo que a noite... Mar do Caos... Ouro à deriva... Vazio que tudo consome...” continuou a Bíblia Claire, agora falando em fragmentos. “A fonte de todo o caos... Seu nome... O Senhor dos Pesadelos.”
E então... A voz silenciou. Isso não parecia certo. Não consegui entender. Senti como se tivesse cometido algum tipo de mal-entendido fundamental.
Mais uma vez, por favor... Conte-me sobre o Senhor dos Pesadelos.
Em resposta ao meu estímulo mental, o orbe recitou mais uma vez a mesma sequência de fragmentos, na mesma ordem... Hein?
Só nesse ponto me dei conta.
Mais uma vez! Do começo!
A voz repetiu as mesmas palavras em minha mente, concluindo mais uma vez.
“Seu nome... O Senhor dos Pesadelos.”
De jeito nenhum... Senti minha boca secar. Os fragmentos que o orbe falava começaram a se unir em torno de uma certa imagem em minha mente. Será que o Senhor dos Pesadelos poderia ser...
“Correto!” respondeu a Bíblia Claire, lendo as últimas palavras dos meus pensamentos.
Só pode estar brincando comigo... Sentia minhas pernas tremendo. Estive lançando feitiços casualmente com o poder daquilo?
De repente, tudo fez sentido. Porque Sylphiel, uma clériga com quem viajamos uma vez, me proibiu de usar o Giga Slave. Por que um mazoku com o poder de Xellos temia o próprio nome do Senhor dos Pesadelos?
Isso era definitivamente o suficiente para fazer o que eu precisava. Tinha total certeza. Contudo...
“O que foi? O que aconteceu?”
Recuperei os sentidos quando senti alguém sacudindo meu ombro. Virei-me e vi Milgazia parado atrás de mim.
“O que houve? O que te disseram?” perguntou o ancião dos dragões dourados.
“Ah, bem... Er...” hesitei, forçando um sorriso.
“Você está bem? Seu semblante parece péssimo...”
“Para ser sincera, não me sinto bem... No entanto posso continuar.” respondi, estendendo a mão para pegar o orbe invisível.
Agora que aquilo estava resolvido, era hora de procurar outra peça para o meu quebra-cabeça de como matar mazokus. Também queria perguntar como restaurar a humanidade de Zel. Não era hora de me perder em choque com o que acabei de descobrir.
Primeiro, a luta contra os mazokus...
“Existe uma maneira de superar o poder dos mazokus?” perguntei em voz alta.
“Para superar o poder de um mazoku deve-se exercer um poder maior que o deles.” respondeu ele de forma tautológica.
É, foi uma forma imbecil de perguntar...
“Existe alguma maneira de um humano mortal possuir poder suficiente para derrotar um mazoku?” tentei esclarecer.
“Apenas usando ferramentas e magias que venham de Deus, ou de um mazoku de nível superior ao que enfrenta. Entretanto há limites, mesmo assim. E como o poder divino não alcança esta terra, não poderá usar magias que venham de Deus.”
“O poder divino não chega aqui? Por que não?”
“Durante a Guerra das Encarnações, para destruir Aqualord, o Senhor das Trevas do Norte, revivido, colocou o Mestre do Inferno, o Mar Profundo, a Grande Besta e Dinastia no Deserto da Destruição, no Mar Demoníaco, na Ilha da Alcateia e no Polo Norte para criar uma barreira. Foi assim que Aqualord foi destruído e por essa razão que os poderes dos outros Lordes não conseguem alcançar esta terra.”
Eu não fazia ideia...
“Certo, nesse caso... Existe uma maneira de um humano usar a Espada da Luz para derrotar um mazoku poderoso?”
“A Espada da Luz é o seu nome para Gorun Nova. Se você extrair todo o seu poder, então...”
A voz parou de repente quando Milgazia arrancou minha mão do orbe.
“O que está...” comecei a perguntar, porém percebi no instante seguinte por que ele tinha feito aquilo. Quando meu corpo caiu para trás, senti algo invisível passar perto do meu peito... Bem no lugar onde estava em pé um momento atrás.
“Por que você a salvou, ancião dragão dourado?” disse uma voz que reconheci na hora.
“Raltark?” gritei para o vazio.
Como se em resposta, uma névoa vaga apareceu um pouco à minha direita, assumindo uma forma humanoide.
“Que espaço curioso é este. Me deu trabalho para te encontrar.” disse a imagem difusa de Raltark à minha frente.
Não sabia se aquela era sua verdadeira forma ou se apenas parecia assim por causa daquele lugar estranho. É provável que tenha percebido que estávamos atrás da Bíblia Claire e veio procurá-la vindo de outra direção.
“Já deveria saber, ancião dragão dourado, que há uma chance de essa garota estar servindo aos interesses do Mestre do Inferno. Preciso me livrar dela agora, só por precaução. Poderia se afastar?” o mazoku fez a pergunta de forma banal, como se estivesse pedindo algo para jantar.
Se Milgazia concordasse com seu pedido, eu estaria frita. Porém...
“Antes de responder, diga-me uma coisa...” disse ele. “Se essa garota decidir desafiar o Mestre do Inferno e Xellos... Você não precisaria mais matá-la, precisaria?”
“Receio que ainda precisaria. Até que saibamos a natureza da trama do Mestre do Inferno, ou qual o papel da garota nesse esquema, ela continua sendo uma ameaça em potencial cuja existência contínua não posso permitir. Afinal, sua própria sugestão pode fazer parte do seu plano.”
“Hmm, entendo...” Milgazia pensou por um momento antes de recusar com indiferença. “Nesse caso não posso deixá-la ficar com você.”
É isso aí! Bem dito vovô!
“Oh... Não pode? E por quê? Não me diga que também planeja ficar do lado do Mestre do Inferno e Xellos.”
“Não. Contudo Xellos está no Pico dos Dragões, na entrada deste lugar, neste momento. Se algo acontecer com a garota, não há como saber o que poderá fazer. Pode acabar matando todos os meus irmãos para me punir.”
“Então dê uma desculpa. Diga que eu, Sacerdote do Dragão, a levei embora antes que você pudesse agir.”
“Há outros motivos para a minha recusa.”
“Ah, é?”
“São os seus métodos... Matar essa garota ‘por precaução’, sem saber a verdadeira situação.”
“Acha que estamos errados?”
“Não sei, no entanto não aprecio sua forma de agir. Seu camarada, General Rashart, nos abordou com uma oferta. ‘Lutem contra Olhos de Rubi conosco em Katart’, foi sua sugestão. Por um tempo, pensei que se nós... Os dragões, os elfos, os humanos e vocês, uníssemos forças, tal coisa poderia de fato ser possível.”
“Entretanto este incidente esclareceu as coisas para mim. O fato de tirar outra vida de maneira tão desconsiderada ‘apenas por precaução’ me diz que, mesmo que lutássemos contra o Lorde das Trevas do Norte juntos, estaríamos apenas sendo usados como escudos. É por esse motivo que não aprecio isso e não posso atender ao seu pedido.”
“Jamais usaríamos os dragões como escudos, embora os humanos sejam uma história diferente.”
“Ambos são igualmente condenáveis.”
“Hmm...” Raltark pareceu incomodado com as palavras de Milgazia. “Eu realmente não entendo... Lutar juntos significa combinar nossas forças. E os humanos, com seus números e sua incapacidade de ferir mazokus, naturalmente fazem a melhor escolha como escudos. O que lhe importa como tratamos os humanos, afinal?”
“O verdadeiro problema é como consegue dizer tais coisas sem o menor remorso. Mesmo que sua briga atual seja contra Olhos de Rubi, isso me diz que vocês, mazokus, seguem sendo nossos inimigos. Seres com coração, e aqueles sem... Aqueles que lutam pela continuação da existência, e aqueles que lutam para acabar com ela... Somos incompatíveis. Essa também é a maior razão pela qual não posso matar essa garota, porque ela está tentando se manter viva.”
“Hmm... Sendo assim, não me deixa outra escolha.” disse Raltark. Ele então declarou com total confiança. “Terei apenas que matá-la sem a sua permissão. Apesar de todas as suas alegações, não tem como me impedir, tem? Mesmo que sacrificasse a própria vida...”
Embora o ancião dragão dourado rebateu com igual confiança.
“Não é bem assim. Sempre há um jeito, um raio de esperança, por mais tênue que seja.”
“Hã? Agora me deixou curioso.”
“Não vai ser um show muito interessante, receio. Vou só fazer... Isto!” disse Milgazia, soltando minha mão e me dando um empurrão.
“Hã?”
Tropecei alguns passos e então olhei para trás...
Mas a Bíblia Claire, Milgazia e Raltark tinham sumido.
“Hmm...”
Por um segundo, fiquei ali parada, sem saber o que tinha acontecido. O ancião dragão dourado me empurrou, e então todos...
“Ah, entendi.”
Por fim me dei conta. Não foram eles que desapareceram; eu é que desapareci. Milgazia havia me lançado no labirinto infinito que até os mazokus tinham dificuldade para atravessar, a fim de me manter fora das garras de Raltark... Pelo menos por enquanto, e evitar uma luta subsequente.
Muito inteligente. Agora, só me restava... Uh... Fazer o quê, exatamente?
O próprio Milgazia só conhecia a entrada e a saída, o que significava que também não conseguiria me encontrar. E então disse: ‘Sempre há um jeito, um raio de esperança, por mais tênue que seja...’
E-Espera aí! Ele não estava me dizendo para encontrar o caminho de volta sozinha, estava? O que devo fazer em um lugar que confundi até mazokus, onde nem consigo dizer onde está à frente?
Ou... Talvez Milgazia estivesse planejando voltar até Xellos e pedir que me encontre. Seria melhor do que contar comigo para sair, ao menos...
Porém, nesse caso, era uma corrida contra o tempo. Será que Milgazia conseguiria voltar, explicar tudo e fazer com que Xellos me encontrasse primeiro? Ou Raltark me encontraria antes? Xellos era muito mais poderoso, apesar de Raltark ter uma vantagem considerável no momento.
E enquanto pensava comigo mesma em tudo...
“Por aqui!” veio a voz de Xellos, aparentemente do nada.
“Hã?”
Olhei ao redor, contudo não vi nada. Mesmo fechando os olhos, não senti nada na área. E ainda assim... Por algum motivo, conseguia dizer com exatidão de onde vinha a voz.
Parecia um pouco cedo demais para Xellos me encontrar, no entanto não podia confiar na minha noção de tempo naquele lugar bizarro. Talvez o que pareceu apenas alguns segundos para mim na verdade tivessem sido horas ou até dias.
“É você, Xellos?” chamei.
“Por aqui!” repetiu a voz, sem responder à minha pergunta.
Hesitei. Aquela era sem dúvida a sua voz, todavia como posso ter certeza que não era outro mazoku o imitando? Era possível que seguisse a voz apenas para encontrar um Raltark sorridente me esperando.
Por outro lado, poderia ser Xellos. Você não vai muito longe na vida se tiver medo de correr um pequeno risco... Todavia, e por mais outro lado, meu pescoço estava em jogo, sabe?
Refleti sobre o assunto por mais um tempo. Não, melhor ir em frente, concluí enfim.
“Por aqui!”
Comecei a andar, seguindo a voz intermitente. Meu entorno, aparentemente rochoso quando estava com Milgazia, agora era feito de algum material que não conseguia identificar. Quanto tempo passei andando por aqui?
De repente, alguém agarrou minha mão.
“Ótimo. Muito bem!” disse uma figura de preto ao aparecer na minha frente, com o sorriso característico e tudo.
“Essa foi rápida, Xellos.”
“Vim assim que o Mestre Milgazia me contou o ocorrido. Fico feliz que esteja bem. Agora, onde está Raltark?”
“Não sei. Ele pode ainda estar por aí, ou pode ter fugido...”
“De qualquer forma, vamos voltar para os outros.”
“Você não precisa me levar de volta para a Bíblia Claire?”
“Acho que não... Já te levei uma vez, como ordenado, e não recebi mais instruções. Então tenho certeza de que está tudo bem.”
Nossa... Que cara preguiçoso.
“Mas tem mais coisas que eu queria perguntar...”
Não tinha recebido uma explicação completa sobre a Espada da Luz, e tampouco tinha perguntado sobre como restaurar a humanidade de Zelgadis.
“Porém se Raltark e Rashart aparecessem aqui juntos, não estou de todo confiante de que conseguiria te proteger. Em condições normais, te mandaria para um lugar seguro enquanto os enfrento... Contudo se estivermos separados aqui, é bem possível que um dos dois consiga escapar a tempo de te encontrar antes de mim.”
“Ah... Bom ponto.”
Ainda havia muito que queria aprender, no entanto o risco era muito alto se Raltark seguisse estando por perto.
“Certo. Vamos voltar por enquanto.”
“Muito bem.”
Xellos me guiou pela mão e eu o segui passivamente.
Finalmente, depois de caminhar um pouco mais... Senti uma leve vertigem, e a paisagem se abriu diante dos meus olhos. Estava de volta à trilha de pedra da montanha, cercada por rostos familiares.
“Ei. Voltei...” falei, acenando.
“Você está segura, Lina?” perguntou Gourry primeiro.
“Parece que sim, graças a Milgazia e Xellos.” respondi com um sorriso.
“Infelizmente, Raltark apareceu e encurtou minha sessão... Mas, ei, a Bíblia Claire não vai a lugar nenhum! Assim que as coisas se acalmarem um pouco, talvez...”
“Abaixem-se agora!” gritou Gourry de repente, me jogando no chão!
Nesse momento... Fwoom! Uma enorme explosão irrompeu de dentro da parede de pedra que levava à Bíblia Claire. Porém antes que qualquer estilhaço pudesse nos atingir, a onda de choque foi desviada em direções aleatórias. Xellos deve ter erguido uma barreira.
À medida que os ecos da explosão se acalmavam, uma figura se aproximou a lentos passos, emergindo da poeira.
“Você é bastante... Cough. Persistente... Raltark!”
“De fato... Vejo que tenho pouco tempo a perder.” respondeu o velho, contudo não havia a confiança habitual em seu rosto. “Acho que devemos terminar com este assunto agora... Não concorda, Sir Xellos?”
“Ora, claro, Mestre Raltark... E Mestre Rashart.”
“Parece estar bastante confiante em suas chances!” gritou uma nova voz atrás de nós.
Virei-me e encontrei o General Rashart parado ali. Ele estava armado com sua espada de prata e trajando sua armadura de dragão.
“No entanto já me recuperei da ferida que me fez daquela vez. Estamos empatados agora.” disse o general antes de se virar para Milgazia, que havia retornado em algum momento. “Não pretende interferir, certo?”
“Não tenho intenção de fazê-lo!” respondeu o ancião dragão dourado mantendo a calma. “Uma coisa é intervir na matança dos impotentes, todavia não vejo necessidade de tomar partido em uma batalha entre mazokus.”
Espere um segundo. Isso significava que me salvou lá na Bíblia Claire porque achava que eu era impotente? Justo, eu acho... Comparada a alguém como Raltark, sem dúvida sou.
“Preferiria não machucar o resto de vocês, mas...” disse Raltark, olhando para o grupo. “Só para saberem, depois que acabarmos com Xellos, vocês serão os próximos a morrer, como o ajudaram e atrapalharam Sir Rashart e a mim muitas vezes. Entretanto, com sua permissão, gostaria de lhes oferecer um entretenimento diferente enquanto terminamos nossos negócios com ele.”
Com essa deixa, Raltark estendeu a mão direita, com a palma voltada para baixo. Um buraco negro se formou no chão rochoso logo abaixo. Duas grandes esferas, cada uma com uma circunferência de aproximadamente um braço humano, emergiram aos poucos. Uma era cinza-claro, a outra de um vermelho ofuscante. Elas se ergueram até a altura do peito de Raltark, onde balançaram instáveis no ar. O buraco no chão então se fechou atrás delas.
Pareciam apenas grandes globos, porém sei muito bem o que eram na verdade.
“Mais mazokus, hein?”
“Não há muito o que ver, estou ciente... No entanto são mais poderosos que Guduza e Duguld, garanto. Adoraria que pudessem se apresentar... Todavia temo que encontrarão a comunicação mútua algo além de vocês.”
“Por mim, tudo bem... De qualquer forma, não nos conheceremos por muito tempo.”
“De fato, não... Agora, vamos começar!” gritou Raltark.
Essas palavras foram o sinal para o início das hostilidades.
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