sábado, 10 de maio de 2025

The Dragonbone Chair — Volume 01 — Capítulo 07

Capítulo 07: A Estrela do Conquistador


A primavera e o verão do primeiro ano do reinado de Elias foram mágicos, ensolarados, com pompa e ostentação. Todo Osten Ard parecia renascido. A jovem nobreza retornou para preencher os salões há muito silenciosos do Hayholt, e a diferença era tão marcante que poderiam ter trazido cor e luz do dia consigo para o que antes era um lugar escuro. Como nos tempos de juventude de John, o castelo estava repleto de risos e bebidas, e do ostentar de lâminas de batalha e armaduras brilhantes. À noite, a música voltava a ser ouvida nos jardins de setos, e as esplêndidas damas da corte iam para, ou fugiam de, compromissos na escuridão cálida como fantasmas graciosos e esvoaçantes. O campo do torneio voltou à vida, brotando tendas multicoloridas como um canteiro de flores. Para o povo comum, parecia que todo dia era feriado e que a festa não teria fim. O Rei Elias e seus amigos se divertiam furiosamente, como crianças que logo precisariam ser colocadas na cama, e sabem disso. Toda a Erkynlandia parecia agitar-se e cair como um cachorro bêbado de verão.

Alguns aldeões resmungavam que era difícil semear a safra da primavera com tanta negligência e despreocupação no ar. Muitos dos sacerdotes mais velhos e azedos resmungavam contra a disseminação da licenciosidade e da gula, mas a maioria das pessoas ria desses pessimistas. A monarquia de Elias era apenas recém-criada, e Erkynlandia... Toda Osten Ard, ao que parecia, havia saído de um longo inverno de maturidade para uma época de juventude impetuosa. Como isso poderia ser anormal?



***



Simon sentiu os dedos doerem enquanto traçava laboriosamente as letras no pergaminho cinza. Morgenes estava na janela, segurando um longo pedaço canelado de cachimbo de vidro contra a luz do sol enquanto o examinava em busca de sujeira.

“Se ele disser uma palavra sobre a coisa não estar limpa direito, vou ir embora.” pensou Simon. “A única luz do sol que vejo agora é a que se reflete nos béqueres que lustro.”

Morgenes se afastou da janela e levou o pedaço de cachimbo de vidro para a mesa onde Simon escrevia com dificuldade. Quando o ancião se aproximou, Simon se preparou para a repreensão, sentindo uma onda de ressentimento que pareceu se alojar entre suas omoplatas.

— Um ótimo trabalho, Simon! — disse Morgenes enquanto colocava a pipeta ao lado do pergaminho. — Você cuida muito melhor das coisas por aqui do que eu jamais conseguiria sozinho.

O doutor lhe deu um tapinha no braço e se inclinou.

— Como está indo?

— Terrível! — Simon se ouviu dizer. Mesmo que o nó de ressentimento ainda estivesse lá, estava enojado com o tom mesquinho de sua própria voz. — Quero dizer, nunca vou ser bom nisso. Não consigo escrever as letras direito sem que a tinta borre, e também não consigo ler nada do que estou escrevendo!

Sentiu-se um pouco melhor por ter dito o que sentia, porém também se sentia estúpido.

— Está se preocupando à toa, Simon. — disse o doutor, e se endireitou. Parecia distraído: enquanto falava, seus olhos percorriam o quarto. — Primeiro, todo mundo faz ‘borrões’ no começo; algumas pessoas passam a vida inteira escrevendo borrões... Não significa que não tenham nada de importante a dizer. Segundo, é claro que não consegue ler o que está escrevendo, o livro está escrito em nabbaneo. Você não conhece a língua.

— Então por que tenho de copiar palavras que não entendo? — rosnou Simon. —Isso é tolice.

Morgenes voltou seu olhar penetrante para Simon.

— Já que eu lhe disse para fazê-lo, suponho que também sou um tolo.

— Não, eu não quis dizer isso... É só que...

— Não se dê ao trabalho de explicar.

O doutor puxou um banquinho e sentou-se ao lado de Simon. Seus dedos longos e curvos tateavam sem rumo o lixo da mesa.

— Quero que copie estas palavras porque é mais fácil se concentrar na forma e no formato das suas letras se você não estiver distraído com o assunto.

— Hmmmph. — Simon sentiu-se apenas parcialmente satisfeito. — Pode me dizer que livro é, afinal? Continuo olhando as figuras, porém sigo sem conseguir entender.

Ele tornou a virar a página para uma ilustração que havia observado muitas vezes nos últimos três dias, uma xilogravura grotesca de um homem com chifres, olhos enormes e fixos, e mãos negras. Figuras encolhidas se amontoavam a seus pés; acima da cabeça do homem com chifres, um sol flamejante pairava contra um céu negro como tinta.

— Como esta... — Simon apontou para a estranha imagem. — Aqui embaixo está escrito ‘Sa Asdridan Condiquilles’... O que significa?

— Significa... — disse Morgenes enquanto fechava a capa e pegava o livro. — ‘A Estrela do Conquistador’, e não é o tipo de coisa que precisa saber. — o velho colocou o livro em uma pilha que mal se equilibrava contra a parede.

— Mas eu sou seu aprendiz! — protestou Simon. — Quando vai me ensinar alguma coisa?

— Garoto idiota! O que acha que estou fazendo? Estou tentando te ensinar a ler e a escrever. Isso é o mais importante. O que você quer aprender?

— Magia! — respondeu Simon sem pestanejar.

Morgenes o encarou.

— E quanto à leitura...? — perguntou o doutor, ameaçador.

Simon estava irritado. Como sempre, as pessoas pareciam determinadas a impedi-lo a todo momento.

— Eu não sei. — falou. — O que há de tão importante em ler e escrever, afinal? Livros são apenas histórias sobre coisas. Por que devo querer ler livros?

Morgenes sorriu, como um arminho¹ velho encontrando um buraco na cerca do galinheiro.

— Ah, garoto, como posso ficar bravo com você... Que coisa maravilhosa, encantadora e perfeitamente estúpida de se dizer! — o doutor deu uma risada apreciativa, vinda do fundo da garganta.

— O que quer dizer? — as sobrancelhas de Simon se juntaram enquanto franzia a testa. — Por que é maravilhoso e estúpido?

— Maravilhoso porque tenho uma resposta tão maravilhosa. — Morgenes riu. — Estúpido porque... Porque os jovens são feitos estúpidos, eu suponho. Como as tartarugas são feitas com cascos e as vespas com ferrões, é a proteção deles contra as crueldades da vida.

— Como assim? — Simon ficou completamente perplexo agora.

— Livros... — disse Morgenes num gesto imponente, recostando-se em seu banco precário. — Livros são magia. Essa é a resposta simples. E livros também são armadilhas.

— Magia? Armadilhas?

— Livros são uma forma de magia... — o doutor ergueu o volume que acabara de colocar na pilha. — Porque atravessam o tempo e a distância com mais segurança do que qualquer feitiço ou encantamento. O que fulano pensava sobre tal há duzentos anos atrás? Você pode voar de volta através das eras e perguntar a ele? Não... Ou pelo menos, provavelmente não.

— Contudo, ah! Se ele escreveu seus pensamentos, se em algum lugar existe um pergaminho, ou um livro com seus discursos lógicos... Falará com você! Através dos séculos! E se desejar visitar a distante Nascadu, ou a perdida Khandia, também precisará apenas abrir um livro...

— Sim, sim, acho que entendo tudo isso. — Simon não tentou esconder sua decepção. Aquilo não era o que queria dizer com a palavra ‘magia’. — E as armadilhas, então? Por que ‘armadilhas’?

Morgenes inclinou-se para a frente, balançando o volume encadernado em couro sob o nariz de Simon.

— Um texto é uma armadilha. — explicou de maneira jovial. — E do pior tipo. Um livro, veja bem, é o único tipo de armadilha que mantém seu cativo... Que é o conhecimento, vivo para sempre. Quanto mais livros tiver... — o doutor acenou com a mão que o envolvia. — Mais armadilhas, então maior a chance de capturar alguma fera particular, elusiva e brilhante... Uma que, de outra forma, poderia morrer sem ser vista.

Morgenes terminou com um grande floreio, largando o livro de volta na pilha com um baque forte. Uma pequena nuvem de poeira se ergueu, as partículas se agitando na luz do sol que vazava pelas grades da janela.

Simon encarou a poeira cintilante por um momento, organizando os pensamentos. Acompanhar as palavras do ancião era como tentar pegar ratos usando luvas.

— Mas e a magia de verdade? — perguntou por fim, com uma ruga teimosa entre as sobrancelhas. — Magia como dizem que Pryrates pratica lá na torre?

Por um breve instante, uma expressão de raiva... Ou seria medo... Contorceu o rosto do doutor.

— Não, Simon... — respondeu baixinho. — Não me diga que Pryrates existe. Ele é um homem perigoso e tolo.

Apesar das próprias lembranças horríveis do sacerdote vermelho, Simon achou a intensidade do olhar do doutor estranha e um pouco assustadora. Reuniu coragem para fazer outra pergunta.

— Você faz magia, não faz? Por que Pryrates é perigoso?

Morgenes se levantou de repente e, por um momento, Simon temeu que o velho o agredisse ou gritasse. Em vez disso, Morgenes se virou rigidamente para a janela e olhou para fora por um instante. De onde Simon estava sentado, o cabelo ralo do doutor era uma auréola eriçada acima de seus ombros estreitos.

Morgenes se virou e caminhou de volta. Seu rosto tomado pela seriedade, atormentado pela dúvida.

— Simon... — disse enfim. — Provavelmente não me fará bem algum dizer isso, contudo quero que fique longe de Pryrates. Não se aproxime dele e não fale a seu respeito... Exceto comigo, é claro.

— Por quê?

Ao contrário do que o doutor poderia pensar, Simon já havia decidido ficar longe do alquimista. No entanto Morgenes não costumava ser tão acessível, e Simon não iria desperdiçar a oportunidade. — O que há de tão ruim no sacerdote?

— Já se deu conta que as pessoas têm medo de Pryrates? Que quando este desce de seus novos aposentos na Torre de Hjeldin as pessoas correm para sair do seu caminho? Há um motivo. Ele é temido porque ele próprio não tem nenhum ápice de medo. Isso transparece em seus olhos.

Simon levou a ponta da pluma à boca e mastigou, pensativo, depois a tirou de novo.

— Nem um ápice de medo? O que significa?

— Não existe o que se chama ‘falta de medo’, Simon... A menos que um homem seja louco. Pessoas que são chamadas de destemidas geralmente são boas em escondê-lo, e é algo bem diferente. O velho Rei John conhecia o medo, e seus dois filhos sem dúvida o conheceram... Eu também. Pryrates... Bem, as pessoas percebem que não teme nem respeita as coisas que o resto de nós teme. Isto é o que muitas vezes queremos dizer quando chamamos alguém de louco.

Simon achou tudo aquilo fascinante. Não tinha certeza se conseguia acreditar que Preste John ou Elias já tivessem sentido medo, todavia o assunto de Pryrates era por si só convincente.

— Ele é louco, doutor? Como pode ser? É um sacerdote e um dos conselheiros do rei. — mas Simon se lembrava dos olhos e do sorriso cheio de dentes, e sabia que Morgenes estava certo.

— Deixe-me colocar de outra forma. — Morgenes enrolou um cacho da barba branca como a neve no dedo. — Eu falei de armadilhas, de buscar conhecimento como se estivéssemos caçando uma criatura elusiva. Bom, enquanto eu e outros buscadores de conhecimento saímos em busca de nossas armadilhas para ver que fera brilhante tivemos a sorte de capturar, Pryrates abre a porta à noite e espera para ver o que entra.

Morgenes tirou a pena de Simon, levantou a manga de seu manto e limpou um pouco da tinta que havia manchado a bochecha do garoto.

— O problema com a abordagem de Pryrates... — continuou o sábio. — É que, se você não gosta da fera que vem a chamar, é difícil... Muito, muito difícil, fechar a porta outra vez.



***



— Hah! — rosnou Isgrimnur. Um toque, consegui o tocar! Admita!

— Um mero sussurro no meu colete. — disse Josua, erguendo uma sobrancelha em fingida surpresa. — Sinto muito que a enfermidade o tenha levado a tais medidas desesperadas...

No meio da frase, sem alterar o tom, se lançou para a frente. Isgrimnur agarrou a lâmina de madeira com o próprio cabo com um estalo e desviou o golpe para o lado.

— Enfermidade? — sibilou o homem mais velho com os dentes à mostra. — Vou lhe dar uma enfermidade que o fará chorar de volta para sua ama de leite!

Ainda veloz apesar de sua idade e corpulência, o Duque de Elvritshalla avançou, com a empunhadura das duas mãos permitindo-lhe manter bom controle enquanto brandia a espada de madeira em arcos amplos. Josua saltou para trás, aparando o golpe, com os cabelos ralos pendendo em pontos úmidos de suor sobre a testa. Por fim, ele viu uma abertura. Quando Isgrimnur girou a espada de treino em outro movimento sibilante, o príncipe se abaixou, usando sua própria lâmina para ajudar a desviar o golpe do Duque para além de sua cabeça, então enganchou um pé atrás do calcanhar de Isgrimnur e puxou. O Duque caiu de costas no chão como uma árvore velha. Um momento depois, Josua também havia caído na grama ao lado de Isgrimnur. Com a única mão, desamarrou agilmente seu colete grosso e acolchoado e rolou de costas.

Isgrimnur, ofegante, não disse nada por vários longos momentos. Seus olhos estavam fechados; gotas de suor em sua barba brilhavam sob a forte luz do sol. Josua se inclinou para encará-lo. Então, com uma expressão de preocupação no rosto, estendeu a mão para desfazer o nó do colete de Isgrimnur. Assim que colocou os dedos sob o nó, a grande mão rosada do Duque se ergueu e o golpeou na lateral da cabeça, virando-o de costas. O príncipe levou a mão ao ouvido e estremeceu.

— Hah! — Isgrimnur ofegou. — Isso vai te ensinar... Seu pequeno patife...

Outro período de silêncio se seguiu enquanto os dois homens jaziam ofegantes, olhando para o céu sem nuvens.

— Você trapaceia, homenzinho. — disse Isgrimnur por fim, sentando-se. — Da próxima vez que você voltar para Hayholt, vou me vingar. Além disso, se não estivesse um calor infernal, e eu tão gordo, teria golpeado suas costelas há mais de uma hora.

Josua sentou-se, protegendo os olhos. Duas figuras se aproximavam pela grama amarela do campo do torneio. Uma delas estava envolta em um longo manto.

— Está quente. — disse Josua.

— E estamos em novendre! — resmungou Isgrimnur, tirando o colete de duelo. — Os dias do verão estão longe, e ainda faz este calor infernal! Onde está a chuva?

— Talvez assustada. — ele olhou de soslaio para as duas figuras enquanto se aproximavam.

— Ei, meu jovem irmão! — saudou uma das duas figuras. — E velho Tio Isgrimnur! Parece que vocês se cansaram da brincadeira!

— Josua e o calor quase me mataram, Majestade. — respondeu Isgrimnur enquanto o rei se aproximava. Elias vestia uma rica túnica verde-mar. Pryrates, de olhos escuros, caminhava ao seu lado em um manto vermelho esvoaçante, um morcego escarlate.

Josua se levantou, estendendo a mão para Isgrimnur enquanto o homem mais velho se levantava com dificuldade.

— O Duque Isgrimnur, como sempre, exagera. — disse o príncipe em um tom gentil. — Fui forçado a derrubá-lo no chão e sentar em cima dele para salvar minha própria vida.

— Sim, sim, estávamos assistindo às suas brincadeiras de cavalaria da Torre de Hjeldin. — disse Elias, acenando de forma casual para onde a massa da torre se erguia sobre a muralha externa de Hayholt. — Não é, Pryrates?

— Sim, senhor.

O sorriso de Pryrates era fino como um fio, sua voz rouca e seca.

— Seu irmão e o Duque são homens de fato poderosos.

— A propósito, Majestade... — disse Isgrimnur. — Posso lhe perguntar uma coisa? Detesto incomodá-lo com assuntos de Estado em um momento como esse.

Elias, que estivera olhando para o campo, virou-se para o velho Duque com um olhar de leve aborrecimento.

— Acontece que estou discutindo alguns assuntos importantes com Pryrates. Por que não vem me ver quando estou discutindo esses assuntos? — ele tornou a se virar. Do outro lado do campo do torneio, Guthwulf e o Conde Eolair de Nad Mullach, um parente do Rei Lluth de Hernystir, perseguiam um garanhão rebelde que havia perdido as rédeas.

Elias riu da cena e deu uma cotovelada em Pryrates, que o presenteou com outro sorriso superficial.

— Hum, perdão, Majestade. — retomou Isgrimnur. — Mas estou tentando discutir esse assunto com o senhor há duas semanas. Seu chanceler Helfcene continua me dizendo que o senhor está muito ocupado...

— Na Torre de Hjeldin. — acrescentou Josua secamente. Por um momento, os irmãos se olharam, então Elias se virou para o Duque.

— Ah, muito bem, então. O que foi?

— Se trata da guarnição real em Vestvennby. Eles já se foram há mais de um mês e continuam sem reposição. A Marca Gelada segue sendo um lugar selvagem, e não tenho homens suficientes para manter a rota Wealdhelm ao norte aberta sem a guarnição de Vestvennby. Não enviará outra tropa?

Elias voltou o olhar para Guthwulf e Eolair, duas pequenas figuras brilhando no calor enquanto perseguiam o garanhão que se esvaía. Ele respondeu sem se virar.

— Skali de Kaldskryke afirma que há homens mais do que suficientes, velho tio. Diz que você está acumulando seus soldados em Elvritshalla e Naarved. Por quê? — sua voz era enganosamente leve.

Antes que o furioso Isgrimnur pudesse responder, Josua se pronunciou.

— Skali Nariz Afiado é um mentiroso se diz isso. Você é um tolo se acredita em suas palavras.

Elias se virou, com os lábios franzidos.

— É mesmo, irmão Josua? Skali é um mentiroso? E devo acreditar na sua palavra, quem nunca tentou esconder seu ódio por mim?

— Vamos lá, acalmem-se... — Isgrimnur interrompeu, perturbado e mais do que um pouco assustado. — Elias... Vossa Majestade, já conhece minha lealdade, fui o amigo mais fiel que seu pai já teve!

— Oh, sim, meu pai! — Elias bufou.

— E, por favor, não desconte seu descontentamento com esses rumores escandalosos, pois é só isso que são. Sobre Josua, ele não o odeia! É tão leal quanto eu!

— Disso... — disse o rei. — Não tenho dúvidas. Eu guarnecerei Vestvennby quando estiver pronto, e não antes!

Por um momento, Elias os encarou com os olhos arregalados. Pryrates, há muito tempo em silêncio, ergueu a mão branca para puxar a manga da túnica de Elias.

— Por favor, meu senhor. — disse o sacerdote. — Este não é o momento nem o lugar para tais assuntos... — lançou um olhar impudente e de pálpebras pesadas para Josua. — Ou assim humildemente creio.

O rei encarou seu lacaio e então assentiu uma vez.

— Tem razão. Me permiti ficar irritado por nada. Perdoe-me, tio. — disse ele a Isgrimnur. — Pois, como o senhor disse, está um dia quente. Perdoe meu temperamento.

Elias sorriu. Isgrimnur balançou a cabeça.

— Claro, senhor. É fácil deixar o mau humor nos dominar com um clima tão sufocante. É estranho, tão tarde no ano, não é?

— É mesmo. — Elias se virou e sorriu de orelha a orelha para o sacerdote de manto vermelho. — Pryrates, apesar de toda a sua posição sagrada na Igreja, parece não conseguir convencer Deus a nos dar a chuva pela qual oramos... Consegue, conselheiro?

Pryrates olhou para o Rei com estranheza, abaixando a cabeça para dentro da gola do manto como uma tartaruga albina.

— Por favor, meu senhor... — disse. — Vamos retomar nossa conversa e deixar estes cavalheiros com suas esgrimas.

— Sim. — o Rei assentiu. — Suponho que será melhor.

Quando a dupla começou a se afastar, Elias parou. Seu rosto se virou devagar para encarar Josua, que estava recolhendo as espadas de madeira para praticar na grama seca.

— Sabe, irmão... — disse o Rei. — Faz muito tempo que nós dois não cruzamos espadas. Observá-lo me fez relembrar daqueles velhos tempos. O que acha de fazermos um pouco de exercício, já que estamos todos aqui no campo?

Um momento de silêncio se passou.

— Como quiser, Elias. — respondeu Josua por fim, e jogou uma das lâminas de madeira para o Rei, que agarrou o cabo habilmente com a mão direita.

— Na verdade... — disse Elias, com um meio sorriso nos lábios. — Não acredito que tenhamos lutado desde o seu... Acidente. — Elias adotou uma expressão ainda mais solene. — Sorte sua que não foi a sua mão que empunha a espada que se perdeu.

— Sorte, mesmo. — Josua se afastou um passo e meio, depois se virou para Elias.

— Em outra mão... — começou Elias. — Ah, foi uma péssima escolha de palavras, não foi? Minhas desculpas. Por outro lado, é um azar termos que duelar com esses pobres remos de madeira.

O Rei balançou a espada de treino.

— Gosto tanto de ver você usar... Como se chama sua lâmina fina? Ah, Naidel. É uma pena que não a tenha aqui.

Sem aviso, Elias saltou para a frente, desferindo um golpe forte em direção à cabeça de Josua. O príncipe amparou o golpe, permitindo que este deslizasse, e então investiu para a frente. Elias conteve a investida e a desviou com grande habilidade. Os dois irmãos recuaram, circulando.

— Sim. — Josua ergueu a espada à sua frente, o rosto magro encharcado de suor. — É uma pena que Naidel não esteja comigo. Também é uma pena que você não tenha Cravo Brilhante em mãos.

O príncipe arremeteu uma estocada baixa. O Rei recuou com passos rápidos e então contra-atacou.

— Cravo Brilhante? — disse Elias, respirando um pouco ofegante. — O que quer dizer com isso? Você sabe que ela está enterrada com nosso pai.

Ele se esquivou de um golpe de costas e empurrou Josua para trás.

— Ah, sim, estou ciente. — disse Josua, aparando o golpe. — Mas a espada de um Rei, assim como seu reino, deve ser usada com sabedoria. — uma estocada. — E com orgulho. — um contra-ataque. — Deve ser usada com consciência e cuidado... Por seu herdeiro.

As duas lâminas de madeira deslizaram juntas com um ruído semelhante ao de um machado cortando madeira. A pressão desceu até os punhos se encaixarem, e os rostos de Elias e Josua ficarem a poucos centímetros de distância. Os músculos se contraíram sob as camisas dos irmãos; por um instante, eles ficaram quase imóveis, o único movimento sendo um leve tremor enquanto empurravam um contra o outro. Por fim, Josua, que não conseguia segurar a empunhadura com as duas mãos como o Rei, sentiu sua lâmina começar a deslizar. Com um rápido encolher de ombros flexível, se soltou e saltou para trás, abaixando a lâmina à sua frente outra vez.

Enquanto se encaravam através da extensão de grama, com os peitos arfando, um badalar alto e profundo ecoou pelo campo do torneio: os sinos da Torre do Anjo Verde marcando o meio-dia.

— Já basta, cavalheiros! — gritou Isgrimnur, com uma expressão forçada no rosto. Não havia como ignorar o ódio evidente que fluía entre os dois. — Os sinos estão soando, e isso significa que é hora da refeição. Podemos encerrar o jogo? Se eu não sair do sol e encontrar um jarro de vinho, receio não conseguir chegar a Aedonmansa este ano. Estes velhos ossos do norte não foram feitos para suportar um calor tão cruel.

— O Duque tem razão, meu senhor. — disse Pryrates com a voz rouca, pousando a mão no pulso de Elias, que ainda segurava a espada erguida. Um sorriso reptiliano apertou os lábios do sacerdote. — Você e eu podemos terminar nossos negócios enquanto caminhamos de volta.

— Muito bem! — resmungou Elias, e jogou a espada por cima do ombro, onde ela atingiu o chão e deu uma cambalhota, depois caiu no chão. — Obrigado pelo exercício, irmão.

O Rei se virou e ofereceu o braço a Pryrates. Os dois se afastaram, escarlates e verdes.

— O que me diz, Josua? — perguntou Isgrimnur, pegando a espada de madeira da mão do príncipe. — Vamos tomar um pouco de vinho?

— Sim, suponho que sim. — respondeu Josua, abaixando-se para pegar os coletes enquanto Isgrimnur recuperava a espada que o monarca havia jogado fora. Ele se endireitou, olhando para o horizonte. — Os mortos sempre se interpõem entre os vivos, tio? — perguntou baixinho, passando a mão pelo rosto. — Deixe pra lá. Vamos encontrar um lugar fresco.



***



— É verdade, Judith, está tudo bem. Raquel não vai se importar...

A mão inquisitiva de Simon foi capturada a poucos centímetros da tigela. O aperto de Judith, apesar de toda a sua cor rosada e roliça, era bastante forte.

— Já basta com essa conversa de ‘Raquel não se importaria’! Raquel quebraria todos os ossos deste meu frágil e velho corpo.

Empurrando a mão de Simon de volta para o colo dele, Judith soprou uma mecha de cabelo dos olhos e enxugou os dedos no avental manchado.

— Deveria saber que o mais leve aroma do pão aedontide assando te faria acordar como um cão de acampamento de Inniscrich.

Simon traçou padrões tristes no balcão coberto de farinha.

— Mas Judith, você tem montes e montes de massa, por que não posso provar da tigela?

A mulher se levantou do banco e se moveu graciosamente para uma das centenas de prateleiras da cozinha, como uma barcaça em um rio plácido. Dois jovens ajudantes de cozinha se espalharam à sua frente como gaivotas assustadas.

— Agora, onde... — resmungou consigo mesma. — Onde está aquele pote de manteiga?

Enquanto ela se levantava, com o dedo na boca, numa pose pensativa, Simon se aproximou da tigela da batedeira.

— Não se atreva, rapazinho. — Judith lançou as palavras por cima do ombro, sem nem se virar para encará-lo.

“Será que ela tinha olhos por todos os lados?”

— Não é que não haja sobra, Simon. Raquel não quer que você estrague seu jantar. — ela continuou examinando as prateleiras organizadas e repletas de produtos enquanto o garoto se recostava e a encarava com raiva.

Apesar das frustrações ocasionais, a cozinha era um lugar agradável. Mais comprida até que os aposentos de Morgenes, parecia pequena e íntima, repleta do calor pulsante dos fornos e dos aromas de boas comidas. Ensopado de cordeiro fervia em panelas de ferro, pães aedontide cresciam no forno e cebolas marrons e finas pendiam como sinos de cobre na janela embaçada. O ar estava carregado com os aromas de especiarias, gengibre e canela picantes, açafrão, cravo e pimenta moída. Ajudantes de cozinha rolavam barris de farinha e de peixe pela porta, ou tiravam pães dos fornos com pás planas de madeira. Um dos principais aprendizes fervia pasta de arroz no fogo em uma panela com leite de amêndoas, para a sobremesa do Rei. E a própria Judith, uma mulher enorme e gentil que fazia a cozinha gigante parecer tão íntima quanto a cabana de um fazendeiro, comandava tudo sem levantar a voz uma única vez, uma soberana gentil, embora com olhar aguçado, em seu reino de tijolos, panelas e lareiras.

A boa mulher voltou com o pote perdido de manteiga e, enquanto Simon observava com pesar, pegou uma escova de cabo longo e passou a manteiga sobre os pães trançados de aedontide.

— Judith... — perguntou Simon por fim. — Já estamos quase em Aedonmansa², por que não neva? Morgenes disse que nunca viu neve esperar tão tarde no ano.

— Isso eu não sei, tenho certeza. — disse Judith rapidamente. — Também não choveu em novendre. Imagino que seja apenas um ano seco. — ela franziu a testa e escovou mais uma vez o pão mais próximo.

— Eles andaram dando de beber as ovelhas e vacas da cidade a água no fosso de Hayholt. — disse Simon.

— Sério?

— Sim. Dá para ver os anéis marrons nas bordas onde a água desceu. Tem lugares onde dá para ficar em pé onde a água nem chega aos joelhos!

— E você encontrou todos, não duvido.

— Acho que sim. — respondeu Simon, orgulhoso. — E, ano passado, nessa época, estava tudo congelado. Pense nisso!

Judith ergueu os olhos da glace de pão para encarar Simon com seus olhos azuis claros e gentis.

— Sei que é emocionante quando coisas assim acontecem. — falou. — Contudo lembre-se, rapaz, precisamos dessa água. Não haverá mais refeições deliciosas se não chover nem nevar. Você não pode beber a água do Kynslagh, sabia?

O Kynslagh, assim como o Gleniwent que o alimentava, era tão salgado quanto o mar.

— Já sei. — retrucou Simon. — Tenho certeza de que vai nevar em breve... Ou chover, já que está tão quente. É só que será um inverno muito estranho.

Judith estava prestes a dizer mais alguma coisa quando parou, olhando por cima do ombro de Simon para a porta.

— Sim, menina, o que foi? — perguntou. Simon se virou e viu uma jovem conhecida de cabelos cacheados parada a poucos metros de distância... Hepzibah.

— Raquel me mandou procurar Simon, senhora. — respondeu ela, fazendo uma meia reverência preguiçosa. — Ela precisa que ele pegue algo de uma prateleira alta.

— Bem, querida, não precisa me perguntar. Ele está aqui sentado, deslumbrado com os meus doces, sem ajudar nem nada. — Judith fez um gesto para enxotar Simon. O garoto não viu, pois admirava o avental justo de Hepzibah e os cabelos ondulados que sua touca não conseguia controlar nem conter. — Pela misericórdia de Lysia, rapaz, ande logo. — Judith se inclinou e o cutucou com o cabo da escova.

Hepzibah já havia se virado e estava quase saindo pela porta. Enquanto Simon descia do banco para segui-la, a cozinheira pousou a mão quente em seu braço.

— Aqui. — indicou. — Parece que estraguei este... Veja, está todo torto.

Ela lhe entregou um pãozinho quente, torcido como um pedaço de corda e com cheiro de açúcar.

— Obrigado! — agradeceu o rapaz, arrancando um pedaço e enfiando-o na boca enquanto corria para a porta. — Está gostoso!

— Claro que está! — gritou Judith em suas costas. — Se você contar para Raquel, vou te esfolar!

Quando terminou de lançar sua ameaça, já estava gritando para uma porta vazia.



***



Só precisou de alguns passos para que Simon alcançasse Hepzibah, que não andava muito rápido.

“Ela estava me esperando?” perguntou-se, se sentindo estranhamente sem fôlego, e então decidiu que era mais provável que alguém que recebesse uma tarefa que os livrasse das garras de Raquel se demorasse o máximo que pudesse.

— Você... Gostaria de um pouco disto? — perguntou ele, ofegando um pouco. A criada pegou um pedaço do pão doce, cheirou-o e o colocou na boca.

— Ah, é muito bom. — comentou, e então presenteou Simon com um sorriso deslumbrante, os olhos se enrugando nos cantos. — Me dá outro pedaço?

Simon tirou outra fatia e a entregou.

Os dois saíram do salão e foram para o pátio. Hepzibah cruzou os braços como se fosse se abraçar.

— Ah, está frio! — exclamou a garota. Na verdade, estava bem quente, um calor escaldante, considerando que era o mês de decimbre, mas agora que Hepzibah havia mencionado, Simon tinha certeza de que conseguia sentir uma brisa.

— Sim, está frio, não está? — perguntou, e voltou a se calar.

Enquanto passavam pela esquina da torre interna que abrigava as residências reais, Hepzibah apontou para uma pequena janela logo abaixo da torre superior.

— Está vendo ali? — perguntou ela. — Outro dia, vi a Princesa parada ali, penteando o cabelo... Nossa, ela tem um cabelo tão lindo, não é?

Uma vaga lembrança do dourado refletindo a luz do sol da tarde surgiu na mente de Simon, porém não se deixou distrair.

— Ah, acho que você tem um cabelo muito mais bonito. — disse, e então se virou para olhar para uma das torres de guarda na muralha do bastião mediano, com um rubor traiçoeiro subindo por suas bochechas.

— Sério mesmo? — riu Hepzibah. — Acho o meu muito enrolado. A Princesa Miriamele tem damas para pentear os seus. Sara, você a conhece, a moça loira? Conhece uma das suas damas. Sara disse que essa dama lhe contou que a Princesa fica muito triste, às vezes, e que quer voltar para Meremund, onde cresceu.

Simon observava com grande interesse o pescoço de Hepzibah, envolto nos cachos castanhos e cacheados que pendiam de sua touca.

— Hmmm. — mussitou o jovem.

— Quer saber de mais uma coisa? — perguntou Hepzibah, desviando o olhar da torre. — O que está olhando? — ela gritou, contudo seus olhos estavam alegres. — Pare com isso, já falei que meu cabelo está desgrenhado. Quer saber mais uma coisa sobre a Princesa?

— O ​​quê?

— Seu pai, o Rei, quer casá-la com o Conde Fengbald, no entanto a Princesa não quer. O Rei está muito zangado com sua atitude, e Fengbald ameaça deixar a corte e voltar para Falshire, embora ninguém saiba por que ele faria isso. Lofsunu diz que o Conde nunca o fará, já que ninguém em seu condado tem dinheiro suficiente para apreciar seus cavalos, roupas e coisas.

— Quem é Lofsunu? — Simon quis saber.

— Oh. — Hepzibah pareceu recatada. — É um soldado que conheço. Está trabalhando junto com a guarda do Conde Breyugar. Ele é muito bonito.

O resto do pão aedontide se transformou em cinzas úmidas na boca de Simon.

— Um soldado? — disse, tentando manter a calma. — É... Um parente seu?

Hepzibah riu, um som que Simon estava começando a achar um pouco irritante.

— Um parente? Misericordiosa Rhiap, não! Não faz nada além de ficar atrás de mim o tempo todo! — voltou a rir. Simon gostou ainda menos. — Talvez você o tenha visto... — continuou ela. — É um guarda no quartel leste? Ombros largos e barba?

Enquanto falava, esboçou no ar um homem em cuja sombra dois Simons poderiam caber confortavelmente em um dia de verão.

Os sentimentos de Simon estavam em guerra com sua natureza mais sensata. Seus sentimentos venceram.

— Soldados são estúpidos. — resmungou, irritado.

— Não são! — disse Hepzibah. — Retire o que disse! Lofsunu é um bom homem! Um dia ele vai se casar comigo!

— Bem, vocês formarão um belo casal. — rosnou Simon, e então se arrependeu. — Espero que sejam felizes. — concluiu, torcendo para que os motivos de seu ressentimento não fossem tão cristalinamente claros quanto tinha certeza de que eram.

— Bem, seremos! — disse Hepzibah, apaziguada, e encarou dois guardas alabardeiros caminhando nas ameias acima de suas cabeças, com longas lanças apoiadas nos ombros. — Um dia, Lofsunu será sargento, e teremos uma casa própria em Erchester. Seremos tão... Tão felizes quanto possível. Mais felizes do que aquela pobre Princesa, pelo menos.

Fazendo uma careta, Simon pegou uma pedra redonda e a arremessou contra o muro do pátio.



***



O Doutor Morgenes, andando de um lado para o outro nas ameias, olhou para baixo enquanto Simon e uma das jovens criadas passavam por baixo. Uma brisa seca soprou seu capuz para trás enquanto o casal passava. Sorriu e silenciosamente desejou boa sorte a Simon... O garoto parecia precisar. Seu porte desajeitado e seus acessos de mau humor o faziam parecer mais criança do que homem, mas tinha a altura necessária e demonstrava a promessa de crescer até ela um dia. Simon estava sobre a linha divisória, e até mesmo o doutor, cuja idade ninguém no castelo conseguia adivinhar, lembrava-se de como era.

Houve um súbito bater de asas no ar vindo de trás; Morgenes se virou, porém lentamente, como se já o esperasse. Qualquer um que o observasse teria visto uma sombra cinzenta esvoaçante que pairou no ar à sua frente por alguns segundos, e então desapareceu nas dobras espaçosas de suas mangas cinzentas.

As mãos do doutor, que estavam vazias um momento antes, agora seguravam um pequeno rolo de pergaminho fino amarrado com uma fina fita azul. Segurando-o na palma da mão, desenrolou-o com um dedo delicado. A mensagem estava na língua sulista de Nabban e da Igreja, embora as letras eram runas de Rimmersgardia.



Morgenes...



Os fogos do Pico das Tormentas foram acesos. De Tungoldyr, vi suas fumaças por nove dias e suas chamas por oito noites. As Raposas Brancas despertaram novamente e, na escuridão, ameaçam as crianças. Também enviei palavras aladas ao nosso pequeno amigo, todavia duvido que o encontrem desprevenido. Alguém andou batendo em portas perigosas.

— Jarnauga



Ao lado da assinatura, o autor havia desenhado uma pena grosseira em um círculo.

— Tempo estranho, não é? — disse uma voz seca. — E, ainda assim, tão agradável para caminhar sobre as ameias.

O doutor se virou, amassando o pergaminho na mão. Pryrates estava ao seu lado, sorrindo.

— O ar está cheio de pássaros hoje. — disse o sacerdote. — O senhor estuda pássaros, doutor? Conhece muito sobre seus hábitos?

— Tenho algum conhecimento superficial sobre eles. — disse Morgenes em voz baixa. Seus olhos azuis estavam semicerrados.

— Eu mesmo pensei em estudá-los. — assentiu Pryrates. — Eles são fáceis de capturar, sabe... E guardam tantos segredos que a mente curiosa consideraria valiosos. — ele suspirou e esfregou o queixo liso. — Ah, bem, apenas mais uma coisa para considerar... Meu tempo já está tão ocupado. Bom dia, doutor. Aproveite o ar.

Pryrates se afastou pela ameia, as botas estalando na pedra.

Por um longo tempo, depois que o sacerdote se foi, Morgenes permaneceu em silêncio, olhando para o céu azul-acinzentado do norte.



Notas:
1. Arminho é um mamífero da família Mustelidae. É um tipo de doninha e está relacionado a outras espécies, incluindo o furão e a doninha-pequena.
2. Festividade de 24 de decimbre.

***

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