domingo, 27 de outubro de 2024

Vampire Hunter D — Volume 01 — Capítulo 07

Volume 01 — Capítulo 07: A Morte de um Caçador de Vampiros

Foi Greco quem usou o Incenso Enfeitiçador do Tempo para salvar Doris. Na manhã seguinte, depois de ter escutado a conversa entre Rei-Ginsei e o Conde, Greco fez com que um dos bandidos que normalmente o seguiam se passasse por um visitante e chamasse Rei-Ginsei do seu quarto de hotel para o saguão. O bandido já tinha ido embora antes que Rei-Ginsei retornasse, e quando este voltou ao seu quarto, o Incenso Enfeitiçador do Tempo já havia sido substituído por uma vela comum que parecia com ela. Com o incenso em sua posse, Greco ficou de vigia na casa do Dr. Ferringo, e quando o médico-vampiro saiu com Doris, ele os seguiu, mas se manteve longe o suficiente para que não percebessem.

Sua intenção era resgatar Doris e prendê-la firmemente com as algemas conhecidas como obrigação. E, se o destino fosse gentil, também mataria seu senhor feudal, o Conde. De uma só vez, se tornaria um grande homem na cidade, e tinha ambições de ir para a Capital. O fato de ter despachado um Nobre sozinho seria seu maior argumento para o Governo Revolucionário, e sua melhor chance de ganhar avanço na liderança deles.

Porém, a situação havia mudado um pouco. A charrete deveria ir direto para o Conde, contudo parou quando uma garota de branco apareceu de repente e, além disso, a mesma mulher empalou o Dr. Ferringo. Não tendo mais certeza do que estava acontecendo, Greco estava convencido de que algo havia dado errado, e se aproximou do veículo. Vendo a vampira e sua expressão lúgubre enquanto ela se preparava para cravar suas garras na garganta de Doris, Greco deu uma sacudida desesperada no Incenso Enfeitiçador do Tempo.

Tímido no início, quando viu Larmica se contorcendo em agonia se aproximou com a cabeça erguida. O incenso estava em sua mão esquerda. Em sua mão direita, segurava uma estaca de madeira áspera de 30 centímetros de comprimento com tanta força que estava parando a circulação sanguínea em seus dedos. Estacas eram itens cotidianos na Fronteira. A pistola de dez canos no coldre em sua cintura com a trava de segurança desligada e o rifle de calor de grande calibre enfiado na sela do cavalo, que amarrou nas árvores, eram para lidar com os subordinados da Nobreza. Seu amado traje de combate estava na oficina para reparos, assim como a maioria dos equipamentos de seus lacaios.

— Oh. — Doris gemeu enquanto se levantava. Em sua contorção, Larmica deve ter atingido alguma parte do corpo de Doris e a fez se recuperar. Seus olhos ficaram entorpecidos por um breve momento, no entanto se arregalaram assim que notou Larmica. Então olhou para o corpo do Dr. Ferringo, caído no chão não muito longe da charrete, e para Greco e disse. — Doutor... Por que diabos... O que você está fazendo aqui?

— Então é esse o agradecimento que recebo. — disse Greco, subindo no banco de trás da charrete. — Sabe, eu impedi que aquela vadia fizesse de você um trapo ensanguentado. Te segui da cidade até aqui na escuridão da noite. Pensei que renderia ao menos um pequeno favor.

— Você matou o Doutor também?

A voz de Doris tremeu de tristeza e raiva.

— O quê, está brincando, né? A vadia fez isso. Embora ao tê-lo feito tornou o resgate da sua bunda um pouco mais fácil.

Tomando cuidado para não deixar a pequena chama se apagar, Greco moveu Larmica para o banco de trás com a outra mão. A jovem de branco se enrolou sob o assento sem oferecer a menor resistência. Ela não só estava mortalmente imóvel, como também parecia ter parado de respirar.

— Essa é a filha do Conde. Foi ela a responsável por transformar o Doutor em um vampiro?

— Não, esse foi o Conde. Veja, ele o atacou ontem à noite para que pudesse usá-lo para atraí-la para cá. — Greco fechou a boca em seguida, porém era tarde demais.

Doris olhou para Greco com chamas nos olhos.

— E como diabos soube de tudo isso? Sabendo que o Doutor seria atacado nem se deu ao trabalho de alertá-lo, não é? Seu bastardo imundo! O que quer dizer com me salvar? Só está pensando em si mesmo!

— Cale a boca, sua... — afastando-se do olhar ardente de Doris, Greco se reafirmou. — Como ousa falar comigo desse jeito depois que salvei sua vida. Podemos discutir mais tarde. Agora, temos que decidir o que fazer com ela.

— Fazer com ela? — Doris franziu a testa.

— Sim. Tipo, nós a matamos ou a usamos como moeda de troca para negociar com o Conde.

— O quê? Está falando sério?

— Muito sério. E não aja como se não lhe dissesse respeito. Estou fazendo tudo isso por você.

Doris estava atordoada enquanto observava o jovem durão fazer uma declaração absurda após a outra. Então seu nariz se contraiu um pouco. Doris sentiu o cheiro do Incenso Enfeitiçador do Tempo.

Pensando bem, a noite enluarada parecia estranhamente um dia brilhante e ensolarado. Greco disse com orgulho.

— Agradeça ao perfume desta vela. A Nobreza as tem e, pelo que parece, podem transformar o dia em noite e vice-versa. Enquanto estiver acesa, a vadia não consegue mover um músculo e a Nobreza não consegue chegar perto de nós... Foi a vela que me fez pensar. Seria tão fácil matá-la, contudo considerando que é filha do Conde, haveria um inferno a se pagar depois. Então, nós a pegamos como refém para fazer uma troca, e depois tiramos a vida do Conde também, se tudo der certo.

— Greco... Você realmente conseguiria fazer isso? — sua voz lamentosa fez os lábios de Greco se torcer de forma obscena, e quando Doris desviou o olhar, viu o rosto pálido de Larmica enquanto estava deitada sob o banco de trás com a respiração fraca.

Larmica era adorável e não parecia muito diferente de si mesma. Doris sentiu vergonha por ter considerado por um momento usar a jovem como moeda de troca.

— Nobre ou não, não há um pai por aí que não ame sua própria filha. É assim que podemos prejudicá-lo. Diremos que queremos trocá-la por algum tesouro. Então, quando o Conde sair todo confiante, bang, usamos o incenso para pegá-lo e enfiar esta estaca em seu coração. Há rumores de que seus corpos viram pó e desaparecem, no entanto se alguém como meu pai ou o xerife estiver lá para ver, eles seriam testemunhas perfeitas quando eu desse meu relatório ao governo da Capital.

— A Capital?

— Er, esqueça o que mencionei.

Em seu coração, Greco torceu o nariz para Doris.

— De qualquer forma, se os matarmos, nós dois ficaremos com as coisas do Nobre... Sua fortuna, armas, munição, tudo! Tudo pelo enorme serviço à humanidade que faremos.

— Mas essa mulher... Não fez nada contra ninguém da aldeia. — Doris disse veementemente, peneirando tudo que conseguia se lembrar de ouvir desde a infância.

— Abra os olhos. Um Nobre é um Nobre. São todos aberrações sugadoras de sangue atacando a raça humana.

Doris ficou pasma. Esse bandido grosseiro tinha acabado de lançar a mesma maldição sobre eles que ela disse uma vez a D! Eu era igual a ele naquela época. Isso não está certo. Mesmo que sejam nobres, não posso usar a filha indefesa de alguém para atraí-los para a morte. Assim que Doris estava prestes a expressar suas objeções, uma voz sombria como as sombras segurou sua língua.

— Me mate... Aqui... E agora...

Larmica.

— O que é isso? — Greco zombou em seu jeito autoritário, todavia sua expressão era tão medonha que o deixou sem fôlego. Mesmo enquanto estava sujeita à agonia de seu corpo queimando no sol do meio-dia, ela mostrou uma força de vontade incrível.

— O pai... Não é tão tolo que trocaria sua vida pela minha. E não serei um peão em seu joguinho... Me mate... Se não o fizer... Algum dia eu matarei vocês dois...

— Sua vadia! — o rosto de Greco parecia ferver de raiva e medo, e então ergueu sua mão. Como regra geral, não tinha muito autocontrole para começar. — Pare com isso! Não pode fazer algo assim com uma pessoa indefesa! — enquanto falava, Doris agarrou seu braço.

Os dois lutaram na charrete. A força estava a favor de Greco, entretanto Doris tinha habilidades de luta transmitidas a ela por seu pai. De repente, soltando seu braço, plantou seu pé esquerdo com firmeza e colocou toda a força de seu corpo atrás de um chute giratório que explodiu contra o esterno de Greco.

— Oof!

A apertada charrete, com sua base instável, era demais para ele. Greco cambaleou para trás, prendeu sua perna na porta e caiu do veículo.

Nem mesmo olhando de onde veio o baque surdo, Doris saiu de seu assento e tentou falar com Larmica.

— Não se preocupe. Não vou deixar aquele idiota fazer nada com você. Contudo também não posso só te mandar embora. Você sabe quem eu sou, certo? Terá de voltar para minha casa comigo. Nós vamos descobrir o que fazer com lá.

Uma risada baixa que parecia vir das entranhas da terra cortou todos os comentários posteriores de Doris.

— Você é livre para tentar o que quiser, contudo eu não vou a lugar nenhum.

Doris pensou que sua espinha tinha congelado quando viu o lindo rosto a encarar, mais pálido que o luar e agora preenchido por um sorriso maligno de confiança. Não sabia o que tinha acabado de acontecer. Quando Greco caiu da charrete, o Incenso Enfeitiçador do Tempo tinha se apagado!

Larmica agarrou a mão de Doris com um aperto tão frio quanto gelo. Na escuridão, os olhos de Doris distinguiram presas peroladas cutucando os lábios da criança da noite enquanto se levantava.

Doris foi puxada para mais perto com uma força bruta que Greco não conseguia nem começar a comparar, não conseguindo se mover. O hálito de Larmica tinha o cheiro de flores. Flores nutridas com sangue. Duas silhuetas, dois rostos sobrepostos em um.

— Aaaagh! — um grito agitou a escuridão e então se foi. Tremendo, Larmica protegeu o rosto.

Lá no escuro ela tinha visto. Não, tinha sentido. Sentiu a dor da mesma marca sagrada da cruz que seu pai tinha visto no pescoço da garota dois dias antes! Esta só faria sua aparição repentina quando o hálito de um vampiro caísse sobre ela.

Os próprios vampiros não sabiam por que a temiam. Tudo o que era certo era que mesmo sem vê-la, sua pele podia sentir sua presença. Naquele instante, alguma força sem nome os prendeu. Esta era a marca que eles não podiam permitir que os humanos soubessem, algo que supostamente havia afundado nas profundezas aquáticas do esquecimento graças a eras de manipulação psicológica engenhosa... Então como essa garota poderia ter a marca sagrada em seu pescoço?

Embora Doris não entendesse por que Larmica, que tinha uma vantagem esmagadora até um segundo antes, havia perdido a cabeça de repente, supôs que tinha sido salva. Agora tinha que correr!

— Greco, você está bem?

— Oooh, mais ou menos. — a resposta duvidosa que veio do chão ao lado sugeriu que Greco poderia ter batido a cabeça.

— Apresse-se e entre! Arraste seu rabo até aqui, vou deixá-lo pra trás!

E com essa ameaça Doris pegou as rédeas e deu uma estalada. Sua intenção era jogar Larmica para longe com um solavanco repentino para frente. Mas os cavalos não se moveram.

Doris enfim notou um homem vestindo uma capa preta invernal parado na frente dos cavalos e segurando-os pelas rédeas. Já fazia algum tempo que várias figuras estavam paradas na orla da floresta.

— Como o médico estava atrasado, pensei que algo poderia estar errado, e minhas suspeitas se mostraram corretas... — disse uma das silhuetas em uma voz de raiva mal contida. Era o Conde. Embora seu coração estivesse afundando em desesperança, Doris seguia sendo a mesma mulher guerreira que resistiu amargamente ao Conde o tempo todo. Vendo que o chicote que o Doutor havia arrancado de sua mão antes estava no assento ao lado, Doris o agarrou e balançou em direção ao homem com a capa invernal.

— Hã? — Doris gritou, e o homem, Garou, devolveu um amplo sorriso. Ela tinha certeza de que tinha rasgado o lado do seu rosto, porém o homem balançou a cabeça para fora do caminho e pegou a ponta do chicote entre os dentes. Grrrrr! Com um rosnado bestial, ele... Aquilo, começou a mastigar o chicote de Doris, uma arma que resistiu a espadas sem problemas.

— Um lobisomem! — Doris gritou surpresa.

— Isso mesmo... — o Conde respondeu. — Um de meus servos, contudo, diferente de mim, é bastante sangue quente. Outra coisa que pode querer considerar... Eu o ordenei que, se você nos der algum problema, tinha minha permissão para machucá-la. Pode ser divertido ver uma noiva sem alguns dedos das mãos e dos pés.

De repente, um estrondo soou. Ainda deitado de bunda no chão, Greco disparou sua arma. Pólvora de alta potência, do tipo que poderia abrir um buraco na armadura de criaturas maiores com facilidade, envolveu o Conde e aqueles ao seu redor em chamas. O Conde nem se dignou a olhar para Greco, e as chamas foram engolidas pela escuridão no instante seguinte. Tal era o poder do campo de força do Conde.

— Raaarrrrrr! — o lobisomem rosnou para Greco. No meio de sua transformação, encarou-o com olhos vermelho-sangue. Greco deu um grito e congelou. Vapor branco subiu da virilha de suas calças. O medo havia tomado conta de sua bexiga, no entanto quem poderia culpá-lo?

Os ombros de Doris afundaram. O último pedaço de vontade que possuía foi completamente arrancado.

— Pai...

Larmica caiu no chão como uma brisa. Com os olhos brilhantes, o Conde lançou lhe um olhar duro e disse.

— Tenho uma excelente ideia do que estava tentando fazer. Filha ou não, desta vez não vou deixar que escape. Será punida quando retornarmos ao castelo. Agora, se afaste!

Ignorando Larmica enquanto ela se dirigia silenciosamente para a retaguarda, o Conde estendeu a mão para Doris.

— Bem, agora, é melhor você vir comigo.

Doris mordeu o lábio.

— Não fique tão satisfeito ainda! Não importa o que aconteça comigo, D vai mandar todos vocês para o além.

— Irá mesmo? — o Conde forçou um sorriso. — Agora mesmo o rapaz e seu irmão mais novo estão sendo cuidados por alguns conhecidos. Em uma luta justa, poderia ter prevalecido, mas eu dei aos seus inimigos uma arma secreta.

— Pai... — da linha das árvores até a retaguarda do Conde, Larmica apontou para onde Greco estava agachado no chão. — Aquele homem tinha o Incenso Enfeitiçador do Tempo.

— O quê!

Mesmo através da escuridão, a contorção repentina do rosto do Conde era evidente.

— Isso não é possível. Eu o entreguei para Rei-Ginsei... — aqui o Conde parou por um momento, e depois de examinar de perto o rosto da filha disse. — Posso ver que está falando a verdade... O que significa que o rapaz está...

— Correto.

Uma voz baixa fez todos que estavam ali se encolherem de medo. O Conde olhou por cima do ombro de novo, e os olhos de Doris dispararam na mesma direção, em direção a Larmica. Ou melhor, em direção a algo que se aproximava das árvores às suas costas. Uma figura de beleza sobrenatural.

— Estou bem aqui.

Um gemido que ficou aquém da fala saiu da garganta do Conde.

Nunca imaginei que esse maldito pudesse voltar vivo...

Se o Incenso Enfeitiçador do Tempo não tivesse desempenhado seu papel fundamental no duelo, a sobrevivência do Caçador seria certa. Porém, a menos que tivesse uma aeronave de algum tipo, D levaria mais uma hora a cavalo para cobrir a distância do local de seu duelo com Rei-Ginsei até aqui.

E, ainda assim, aqui estava. Ele tinha sido um com a escuridão, e nem o olhar penetrante do Conde nem o radar tridimensional das sentinelas robôs o detectaram.

As sentinelas robôs se viraram na direção de D, contudo um ataque era impossível, é claro.

— Não tente nada engraçado... Não terei misericórdia dela. — Garou estava prestes a atacar Doris quando uma voz baixa, contudo não particularmente áspera, o deteve.

— Doris, você e sei lá o que... Tragam a charrete aqui. Sejam rápidos!

— S-Sim senhor! — Doris respondeu num tom sonhador, não apenas pelo alívio que sentiu em ser resgatada, como também por D tê-la chamado pelo nome pela primeira vez.

— Garou, pegue a garota! — o Conde ordenou.

Enquanto a figura negra se preparava mais uma vez para pular no veículo, foi atingida por outra voz castradora... A de Doris.

— Chegue perto de mim e vou arrancar minha língua com uma mordida!

O lobisomem rosnou alto e parou. Tantas irritações. Greco se escorou na charrete.

— Estou preparada para morrer antes de me tornar um de sua espécie. Se tiver que ser aqui e agora, não vai me incomodar.

As ameaças de um humano insignificante, uma mera garota de dezessete anos, silenciaram o Conde. Ao que tudo indica, D e Doris venceram esse encontro extravagante. O Conde estava obcecado por Doris e a teria a qualquer preço. Por outro lado, se Doris morresse, seria o fim de tudo.

— Nós resolveremos isso outra hora.

A charrete agitou o ar noturno enquanto acelerava para o lado de D, e o este colocou o braço em volta do ombro de Larmica pela primeira vez. No instante seguinte, as duas figuras subiram agilmente para a charrete.

O que foi surpreendente sobre todo esse encontro foi que D nem sequer tocou na espada em suas costas. Mesmo quando tomou Larmica como refém, não a ameaçou com sua lâmina. Larmica se moveu para trás como seu pai ordenou, e no segundo em que sentiu a presença de D atrás dela, descobriu que não conseguia mover um músculo. Estava paralisada pela aura avassaladora que irradiava dele... Uma que somente os sentidos sobre-humanos dos vampiros poderiam apreciar em sua completude. A mesma aura impediu o Conde e Garou de levantarem a mão em seu contra.

— O que está pretendendo fazer com minha filha? — o Conde gritou para D, que manteve um olhar firme treinado nele e em seu grupo do banco traseiro do veículo.

Não houve resposta.

— A pequena imbecil se colocou em meu caminho em todas as oportunidades e me custou a chance de uma vida... Não a considero mais minha filha. Deixe-a ficar no sol até que a decadência a leve até a medula dos ossos!

Suas palavras foram insensivelmente duras para um pai, entretanto, no geral, a raça vampira tinha noções bastante diluídas de amor e consideração, em comparação aos seres humanos. É bem possível que tenha sido essa característica que os levou às alturas da prosperidade e os guiou para sua eventual queda. Quando as palavras de seu pai chegaram aos seus ouvidos, Larmica nem levantou uma sobrancelha.

— Doutor, voltaremos para buscá-lo mais tarde! — seguindo o grito triste de Doris, a charrete avançou.

Depois de terem percorrido um curto caminho pelas planícies, eles puderam ouvir um cavalo relinchando à frente. Aparentemente, quem quer que estivesse lá fora os notou.

— Quem é? É você, mana?

— Dan! Você está bem, não é? — Doris perguntou, sua voz quase chorosa enquanto dirigia a charrete até seu irmão. O garoto estava a cavalo e segurava as rédeas de um segundo cavalo. Aquele era de Rei-Ginsei, e o trouxeram para Doris. Eles planejaram que ela fosse para casa os acompanhando, mas infelizmente pegaram uma bagagem indesejada. A razão pela qual D levou Doris e Greco para dentro da charrete foi para resolver seus problemas de transporte.

— Vou aliviar nossa carga. Vocês dois, montem no cavalo. Dan, venha aqui comigo.

Por “vocês dois” quis dizer Doris e Greco. Como muitas das coisas que estavam acontecendo estavam além de sua compreensão, Greco sentiu que seu cérebro estava meio embaralhado, então seguiu as ordens sem o menor protesto. As transferências foram efetuadas em questão de segundos.

— Tem certeza de que ainda consegue lidar com a charrete se ela estiver com você? — Doris perguntou de seu assento na sela. A verdadeira questão era: quantos presentes notaram o ciúme em sua voz? D não respondeu, todavia chicoteou os cavalos com o chicote de Doris.

O vento uivava nos ouvidos da garota enquanto a floresta e os demônios eram deixados cada vez mais para trás.

— Dan, você não se machucou, não é?

Doris mal conseguiu fazer a pergunta enquanto cavalgava ao lado deles. O grupo estava a toda velocidade para impedir que o Conde os alcançasse, e as rodas da charrete giravam descontroladamente.

— Nem um pouco. Eu ia te perguntar a mesma coisa... Ei, é óbvio que está bem. D cuidou de tudo. Ele não deixaria ninguém machucar um fio de cabelo seu.

— Não, acho que não deixaria. — Doris concordou, seus olhos cheios de alegria.

— Eu queria que tivesse visto, mana. — Dan disse em voz alta. — D levou menos de quinze segundos para se livrar daqueles malucos. É uma pena que o último tenha escapado, mas não teve jeito, já que D estava ferido e tudo.

— Hã? Está ferido?

Era compreensível que Doris empalidecesse, contudo por que Larmica de repente olhou para D de seu assento não estava claro.

— Caçadores são mesmo incríveis. Ele foi esfaqueado no estômago e isso nem o incomodou, o bom e velho D cavalgou pelo caminho mais difícil comigo nas costas e puxando outro cavalo atrás de nós. Você deveria ter visto. Quando D tinha as rédeas, aqueles malditos cavalos saltavam sobre a maior fenda ou um pântano cheio de sanguessugas gigantes sem pestanejar. Ah, sim, e não paravam, não importava o quão íngreme fosse a inclinação... Vou pedir para que me ensine todas essas coisas de cavalo e espada mais tarde!

— Ah, seria ótimo. Vejo que presta bastante atenção quando é ele quem o faz agora... — as palavras de Doris eram exuberantes, porém o poder delas se esvaiu e foram despedaçadas pelo vento. Talvez seus instintos de donzela tivessem lhe dado alguma dica de como a história deles iria terminar.

Mortalmente imóvel e observando a escuridão à frente, Larmica de repente murmurou.

— Traidor.

— O que disse? — Doris era a imagem da raiva. Ela percebeu que a vampira estava se referindo a D. Larmica nem olhou para a garota, mas chamas sangrentas dispararam de seus olhos enquanto encarava o perfil gélido de D.

— Você tem habilidade e poder o suficiente para intimidar o Pai e a mim, porém se esqueceu do seu orgulhoso sangue nobre. Sentido algum tipo de dever para com os humanos... Pior ainda, é tolo o suficiente para servi-los nos caçando. Me sinto suja apenas por estar falando com você. O Pai não se incomodaria em segui-lo até aqui. Me mate aqui!

— Cale a boca! Nós não recebemos ordens de prisioneiros! — Doris rugiu. — O que vocês, nobres de alto escalão, fizeram conosco? Só porque quer se alimentar, porque quer sangue humano quente, mordem as gargantas de pessoas que nunca lhe fizeram mal e as transformam em vampiros. Eles simplesmente se viram e atacam a família que os amava, no final, sua família se ve obrigada a cravar uma estaca em seus corações. Demônios é o que são. Você é o Diabo. Tem ideia de quantas pessoas morrem todo ano, pais e filhos clamando por seus entes queridos enquanto são mortos em maremotos e terremotos causados ​​pelos controladores climáticos que sua espécie comanda? — Doris cuspiu as acusações em Larmica como um bocado de sangue, contudo esta apenas devolveu um sorriso frio.

— Nós somos a Nobreza, a classe dominante. Os governantes têm o direito de tomar tais medidas para garantir que os sentimentos rebeldes da classe baixa sejam mantidos sob controle. Deveria se considerar sortuda por termos permitido que sua raça continuasse. — e então, com um longo olhar para Greco enquanto o homem meditava e corria em seu cavalo, prosseguiu. — De fato, atacaremos sua espécie para beber apenas uma única gota de sangue doce. No entanto o que aquele homem fez? Eu ouvi. Por desejá-la, não fez nada para avisar aquele velho decrépito, mesmo quando sabia que seria atacado, não é verdade?

Doris não conseguia encontrar nada para dizer.

A voz de Larmica continuou a dominar a noite.

— Todavia eu não o condeno por isso. — ela riu. — Pelo contrário, o homem deve ser elogiado. Não é apropriado sacrificar os outros para satisfazer nossos próprios desejos? Os fortes governam os fracos, e os superiores deixam os inferiores na poeira... Esse é o grande princípio que governa o cosmos. Há muitos entre vocês que parecem compartilhar nosso ponto de vista.

— Hahaha! — Doris riu de repente de volta, em tom zombeteiro. — Não me faça rir. Se são governantes tão grandes, o que querem comigo?

Agora foi a vez de Larmica ser silenciada.

— Também ouvi algo. Fiquei doente de ouvir, porém parece que seu pai quer me fazer sua noiva. Toda noite vindo farejando minha casa como um cachorro no cio, e eu o rejeito... É de se pensar que ele já estaria cansado disso. A Nobreza deve estar com dificuldades para conseguir mulheres. Ou é outra coisa? Poderia ser que seu pai seja mais estranho que os outros?

A luxúria assassina nos olhos de Larmica era como um raio de calor que voou para o rosto de Doris. Para não ficar para trás, Doris respondeu com uma chuva de faíscas de seu próprio ódio. Era como se houvesse um jato titânico de brasas invisíveis entre o cavalo a galope e a charrete de corrida quando seus olhos se encontraram.

De repente, D puxou as rédeas.

— Oh! — Doris engasgou enquanto se apressava para parar seu cavalo também. Greco sozinho estava perdido sobre o que fazer, contudo decidiu que ficar com os demais por mais tempo só pioraria as coisas, e correu para a escuridão.

Embora ninguém tivesse certeza do que estava fazendo, todos seguiram a liderança de D, desmontando quando desceu da charrete. Larmica logo se virou para os outros três.

— O que pretende fazer? — Larmica perguntou.

— Como disse há pouco, fomos longe o suficiente para que o Conde não nos persiga. Agora tudo o que temos que fazer é lidar com você. — D disse suavemente. Um tom tenso surgiu no rosto de Larmica, e então no de Doris e Dan. — Fui contratado para mantê-la segura. Portanto, terei que matar seu pai. No entanto qualquer outra coisa é outra questão... O que significa que agora preciso que meu empregador decida o que fazer com sua pessoa. Bem?

Seu “Bem?” final foi direcionado a Doris. Ela estava perplexa. As duas estavam discutindo alguns segundos antes. Pensou que odiava a vampira o suficiente para matá-la, mas a garota que viu parecia uma jovem linda e indefesa, mais ou menos da sua idade.

Esta filha da detestável Nobreza. Se não fosse por sua família, eu e Dan estaríamos vivendo em paz agora... Quero matá-la. Tenho que matá-la. Posso entregá-la meu chicote e fazê-la lutar com D. Seria justo. Se a déssemos uma chance como essa, não haveria nada do que se envergonhar.

— O que quer fazer? — D perguntou.

— Me mate! — Larmica disse com os olhos em chamas.

E então Doris balançou a cabeça.

— Deixe-a ir. Não tenho coragem de matar. Não poderia fazer isso, mesmo que ela seja uma Nobre...

D se virou para Dan.

— E você?

— Está claro como o dia, não é? Não posso fazer nada tão baixo quanto cortar uma mulher a sangue frio... E você também não pode, certo?

Então os Langs viram um sorriso se espalhar pelo rosto de D. Por anos, mesmo décadas, os dois se lembrariam da expressão de D e se orgulhariam do fato de serem responsáveis ​​por ela. Era apenas um sorriso.

— Bem, aí está. É melhor que vá agora.

E com essas palavras D virou as costas para Larmica, entretanto ela o insultou de qualquer maneira.

— A estupidez de todos vocês me espanta. Não se iludam achando que sou de alguma forma grata. Vou fazê-los se arrependerem de sua decisão de me libertar! Se estivesse na sua posição, teria mandado todos serem massacrados como porcos. E seu irmão também.

Os outros três não se viraram para olhá-la novamente, apenas voltaram para a charrete.

— Pegue este cavalo.

Doris largou as rédeas na frente de Larmica.

— Até as crianças conhecem o princípio cósmico, ao que parece. — disse D calmamente do assento do condutor.

— O quê?

— Sobrevivência do mais apto, a força faz a justiça... Não é isso que seu Ancestral Sagrado costumava dizer.

Os olhos de Larmica se arregalaram, mas um momento depois ela riu alto.

— Você não é apenas terrivelmente mole, como parece que também é dado a delírios. Está mencionando o Ancestral Sagrado? Não há chance de criaturas humildes do seu tipo conhecerem alguém de sua grandeza. Ele que fez nossa civilização, nosso mundo inteiro e as leis pelas quais governamos. Cada um de nós seguiu fiel as suas palavras.

— Cada um? Então é por isso que o pobre velho bastardo está sempre com problemas...

— O pobre velho bastardo? Quer dizer... Não, você não poderia... — a voz de Larmica carregava uma pitada de medo. Ela se lembrou de certo rumor plausível que havia sido sussurrado em um grande baile no castelo quando era apenas uma criança. — Tanta habilidade e tanto poder... Pode ser que você seja...

O chicote estalou.

Quando a charrete saiu em disparada, deixando apenas o guincho torturado das rodas em seu rastro, a filha da Nobreza esqueceu de pegar as rédeas do cavalo a sua frente enquanto permanecia imóvel ao luar.

— Milorde, pode ser...



No dia seguinte, Dan e D acompanharam Doris quando saia para reivindicar o corpo do Dr. Ferringo. Os três então fizeram uma visita ao xerife e o confiaram os restos mortais antes de trazer todos os delitos de Rei-Ginsei e Greco à tona.

Tendo recebido um comunicado da vila de Pedros sobre a Força de Defesa da Fronteira, o xerife foi até as ruínas e descobriu o trio de cadáveres horríveis lá. Com base no depoimento de Doris, concluiu que a gangue de Rei-Ginsei estava conectada ao desaparecimento da patrulha da FDF. Em uma tentativa de descobrir o paradeiro daquela patrulha, delegados especiais correram para as vilas vizinhas.

— Bem, Rei-Ginsei não ficará solto por muito tempo agora. Claro, também há uma boa chance de que tenha feito como o vento ontem à noite e desaparecido para longe.

No caminho de volta para a fazenda, à expressão de Doris estava ensolarada, tinha pelo menos um de seus problemas resolvido. Todavia D disse.

— Se ele se tornar um Nobre, ainda que tenha todos os seus membros arrancados continuaria sendo uma ameaça.

Rei-Ginsei tinha ambições de se juntar à Nobreza. Dada sua habilidade e natureza intrigante, para não falar de uma vingança que envergonharia uma serpente, era impensável que fugisse com o rabo entre as pernas ou desistisse antes de atingir seus objetivos. Pode ter fugido, mas estava claro que havia se escondido em algum lugar e estaria observando o que eles fariam. Ainda poderia cumprir as ordens do Conde.

Um inimigo diurno... Por sua causa os movimentos de D eram muito restritos. Até agora, só tinha que se preocupar em pegar sua lâmina à noite. Porém agora, seria impossível atacar o Conde em seu castelo e deixar Doris e Dan sob o escrutínio de um inimigo apreciável que possuía armas estranhas e habilidades ainda mais estranhas.

— Mesmo assim, é uma pena que eles não tenham prendido aquele bastardo do Greco. — Dan murmurou.

O xerife estava envolvido no caso Rei-Ginsei, contudo não conseguia chegar ao fundo das atividades de Greco. Os três acompanharam o homem da lei até a casa do prefeito para interrogá-lo, no entanto o prefeito completamente enojado apareceu e os informou que Greco havia retornado bastante agitado na noite anterior, pegou todo o dinheiro da casa, bem como o traje de combate que tinha acabado de voltar da oficina, e saiu em seu cavalo. O xerife fez Doris e os outros esperarem em seu escritório enquanto verificava com alguns dos parceiros de crime de Greco, entretanto todos disseram que não sabiam onde ele estava.

Rei-Ginsei e Greco... Com o paradeiro de ambos desconhecido, havia pouco que o xerife pudesse fazer, apenas a descrição de Greco foi enviada de maneira informal para as outras aldeias e solicitou que, se o homem fosse encontrado, que fosse detido por ter informações importantes sobre o assassinato do Dr. Ferringo.

— Mas não podemos acusá-lo neste caso. — disse o xerife a uma Doris visivelmente insatisfeita. — Pelo que me disse, parece que o Doutor foi morto por essa garota Nobre. E quanto à questão de ser transformado em vampiro em primeiro lugar... Bom, mesmo agora não está claro se uma pessoa sofre algum dano quando essa mudança acontece. Queria muito que a Capital nos desse uma decisão clara a respeito...

Relutante, Doris acabou por assentir.

Não estava claro se transformar alguém em vampiro poderia ou não ser considerado assassinato. De uma perspectiva, a mudança causou apenas uma mudança na personalidade, não uma perda absoluta de vida. A questão perseguiu a humanidade ao longo da história, permanecendo indecisa até hoje. Por consequência, Greco não poderia ser acusado de um crime, embora não tenha informado o xerife quando soube que o Conde iria “matar” o Dr. Ferringo.

— Pelo contrário, aos olhos da lei, Greco pode ser considerado um herói por resgatá-la.

Ao ver as sobrancelhas finas de Doris se erguerem em fúria, o xerife acrescentou o mais rápido que pôde.

— E embora não tenha autoridade para me envolver em disputas pessoais... — o resto estava implícito... Quando eu encontrar o safado, vou dar uma boa surra nele. Doris e Dan se entreolharam e sorriram.

Doris se viu na primeira calmaria pacífica desde que o Conde a atacou.

Havia uma montanha de trabalho a ser feito. A proteína sintetizada colhida pelos robôs tinha que ser colocada em pacotes, empilhada na borda do jardim e coberta com uma tenda repelente de água até que o comerciante viajante fizesse sua visita mensal. Os Langs não a vendiam, e sim a trocavam por necessidades diárias. A proteína que Doris e Dan cultivavam era bem conhecida por sua densidade, e o comerciante sempre dava a eles uma taxa excepcional em troca.

A ordenha e o cuidado geral das vacas também foram negligenciados. Claro, a aldeia de Ransylva era onde a maior parte disso era comercializada; embora tivesse sido excluída de todas as lojas, ela não podia mais deixar as vacas descuidadas. A batalha de Doris com o Conde não colocou comida na mesa.

Com Dan e um robô maltratado para ajudá-la, o trabalho levaria três dias inteiros, porém D fez tudo em apenas meio dia. Ele habilmente despejou enormes tigelas de extrato de proteína leitosa em embalagens plásticas e então as carregou da área de processamento para o jardim quando tinha uma pilha de um certo tamanho. As caixas pesavam uns bons 30kg cada, e D carregava três delas de cada vez. Quando viu pela primeira vez, Dan arregalou os olhos e exclamou.

— Wow! — contudo depois de três horas seguidas desse transporte sobre-humano, seu queixo caiu e ficou sem palavras.

A velocidade com que D ordenhava as vacas era quase milagrosa. No tempo que Doris levou para fazer uma vaca, ele fez três. E apenas usando a mão esquerda. A direita ficava livre para pegar a espada ao seu lado a qualquer momento. Era assim que os Caçadores eram.

Imagino de que tipo de família ele vem...

Não era a primeira vez que essa pergunta lhe ocorria, no entanto não tinha sido respondida nos dias em que estavam lutando, e dessa forma Doris não teve tempo de perguntar de qualquer maneira. Na verdade, era o código da Fronteira que não se deveria bisbilhotar o passado dos viajantes, e o comportamento de D em particular não convidava a perguntas.

Doris observava o perfil de D com um olhar distante nos olhos enquanto este trabalhava quieto com uma mão na vaca, o fluido branco se acumulando em uma lata de alumínio.

A cena parecia tão familiar; talvez fosse o coração febril e jovem da garota que a fazia sentir que continuaria assim para sempre. Embora não tenha sido há muito tempo que Doris perdeu seu pai, e sua batalha para proteger seu irmão e a fazenda começou, de repente percebeu o quão exausta estava.

— Feito. Você ainda não terminou?

Com a pergunta de D, Doris retornou de suas fantasias.

— Er, não, já terminei aqui.

Quando se levantou e tirou a lata de debaixo da vaca, sentiu como se estivesse nua diante dele.

— Seu rosto está vermelho. Você está ficando resfriada ou algo assim?

— Não, não estou. Deve ser só o pôr do sol.

O interior do celeiro estava manchado de vermelho.

— Entendo. O Conde talvez torne a vir aqui outra vez. É melhor você comer cedo e colocar Dan para dormir.

— Acho que tem razão.

Doris agarrou a alça da lata com as duas mãos e a carregou para um lado do celeiro. Por algum motivo, estava se sentindo sem forças.

— Deixe. Eu carrego. — disse D, tendo visto como suas pernas estavam bambas.

— Vou ficar bem!

Seu tom era tão áspero que se surpreendeu. Lágrimas rolaram com as palavras. Deixando a lata no chão, ela saiu correndo soluçando.

Enquanto D a seguia, embora seu passo casual dificilmente parecesse uma perseguição, Dan lançou um olhar apreensivo para a cena da varanda.

— A irmã correu para trás chorando. Vocês dois brigaram ou algo assim?

D balançou a cabeça.

— Não. Sua irmã só está preocupada com você.

— Sabe, alguém me disse que um homem não deve fazer as mulheres chorarem.

D sorriu ironicamente.

— Tem razão. Vou me desculpar.

Dando alguns passos, D então se virou de volta para Dan.

— Ainda se lembra daquela promessa que fez, não lembra?

— Sim.

— Ainda que tenha oito anos agora, em mais cinco anos, você será mais forte que sua irmã. Não se esqueça.

Dan assentiu. Quando ele levantou o rosto, estava brilhando com lágrimas.

— Você vai embora, D? Depois que matar o Conde, quero dizer.

D desapareceu sem dar uma resposta.

Doris estava encostada na cerca. Seus ombros tremiam. Os passos de D não fizeram nenhum som quando foi e ficou atrás dela.

Uma brisa fresca soprou através do mar gramado além da cerca e através das tranças pretas de Doris.

— Você deveria voltar para casa.

Doris não respondeu, mas depois de um tempo murmurou.

— Eu deveria ter procurado outra pessoa. Depois que você se for, não poderei viver como antes. Aquela lata de ordenha agora... Costumava carregar duas de cada vez. Não poderei colocar Dan na linha quando precisar, nem terei força para afastar qualquer sujeito que venha aqui me cortejar. Mas isso não o impedirá de ir embora do mesmo jeito.

— Esse foi o acordo. Acabará com sua tristeza ou minha morte.

— Não! — Doris de repente enterrou o rosto no peito musculoso dele. — Não, não, não.

Ela não sabia o que estava protestando. Nem sabia por que chorava. Nem a jovem mulher chorando, como se chorar pudesse impedir um fantasma de desaparecer, nem o jovem com o ar melancólico que a sustentava se moveram por muito tempo. E então, depois de um tempo...

Doris levantou o rosto de repente. Logo acima de sua cabeça, D começou a rosnar suavemente. Doris estava prestes a perguntar.

— O que foi? — quando sua cabeça foi forçada para trás contra o peito dele por sua força formidável. Mais alguns segundos se passaram.

As duas silhuetas se fundiram no brilho vermelho, contudo entre os dois vieram as palavras.

— Estou bem agora. — em uma voz febril.

Nada mais foi dito, e logo D afastou com gentileza Doris para longe e se voltou para a casa.

Quando virou a esquina do celeiro, uma voz disse provocativamente.

— Por que não bebeu o sangue dela?

Originou-se em torno de sua cintura.

— Cale a boca. — pela primeira vez a voz de D carregava emoção indisfarçável.

— A garota sabia. Sabia o que você queria. Oh, vamos, não faça essa cara comigo. Pode lutar o quanto quiser, no entanto há o sangue da Nobreza na medula dos seus ossos. O fato de que quando gosta de uma mulher está mais interessado em se agarrar em seu pescoço pálido do que em colocá-la na cama é prova desse fato.

Era verdade. Quando Doris desnudou sua alma para D, e pôde sentir seu corpo quente soluçando contra seu peito, a expressão de D se tornou o mesmo rosto lúgubre de vampiro que tinha quando bebeu o sangue das Medusas de Midwich na escuridão do aqueduto subterrâneo. Todavia, de alguma forma, com sua força de vontade verdadeiramente impressionante, conseguiu lutar contra o desejo dessa vez.

Enquanto D continuava andando, a voz disse.

— A garota viu seu outro rosto. Não apenas isso, como aposto que sentiu seu hálito enquanto roçava seu pescoço. Sentiu o cheiro do seu sangue amaldiçoado. E ainda assim disse que não se importava. Vá com calma na rotina de cara legal. Você luta contra seu próprio desejo e nega os desejos da garota... É o jeito de um dampiro adulto agir? Está sempre fugindo... Do seu sangue e das pessoas que querem você. Quando os diz que está fadado a se separar, é apenas uma desculpa bonita. Escute-me. Seu pai...

— Cale a boca. — as palavras que D disse foram as mesmas de um momento antes, mas a aura assustadora por trás delas deixou claro que era muito mais do que apenas uma ameaça. A voz ficou em silêncio. Subindo as escadas para a varanda, D virou um olhar pensativo para a pradaria e murmurou.

— Ainda assim, eu tenho que ir... Ir e encontrá-lo.



— Oh, merda!

Enquanto o olhar duro de D preenchia o campo de visão das lentes, uma figura sombria se abaixou com pressa, com medo de que D o visse. Entretanto esqueceu que estava agora em uma colina a uns bons 300 metros de distância. Não era ninguém menos que o filho encrenqueiro do prefeito, Greco, que muitos acreditavam ter fugido da aldeia há muito tempo, usando seu traje de combate.

— Aquele filho da puta vai ficar com toda a diversão! — resmungou Greco, batendo seu binóculo eletrônico contra o chão. Na noite anterior, depois de decidir que discrição era a melhor coisa a se fazer, subiu ao topo desta colina e ficou de olho na fazenda. Deitado de bruços, alcançou seus alforjes e puxou o Incenso Enfeitiçador do Tempo de entre a comida e as provisões embaladas lá.

— Heh, você terá o que merece quando o sol se puser. Vou usar esta gracinha para fazê-lo rastejar no chão, então te pregar com uma estaca. Então vou pegar Doris pela mão e dar um beijo de despedida neste buraco de merda esquecido por Deus. — ele disse com despeito, virando os olhos para a fazenda de novo. Na noite anterior, ficou tão assustado com o Conde e seu lobisomem que abandonou qualquer pensamento de matá-los e decidiu sequestrar Doris. E claramente, a pessoa que falou sobre despachar com uma estaca era D.

— Será que vai ser tão tranquilo assim? — as palavras choveram sobre Greco em uma voz fria.

— O quê...?

Olhando para cima, Greco viu um jovem bonito sentado em um galho logo acima de sua cabeça. Seu sorriso era inocente, porém seu braço esquerdo estava faltando abaixo do cotovelo, e seu coto estava envolto em um pano branco ensanguentado. Não foi preciso apresentações. E, mesmo assim, menos de vinte e quatro horas depois de perder um braço, ele subiu em uma árvore e assustou Greco até a morte sem parecer pior pelo desgaste, além de uma pequena escuridão ao redor dos olhos. Que força ele tinha, tanto física quanto mental!

Rei-Ginsei voltou ao chão sem fazer barulho.

— O que... O que diabos você quer?

— Não banque o inocente. Sou o legítimo dono daquela vela. Graças a você, perdi meu braço. Saí para a fazenda na esperança de encontrar o Conde, contudo vejam só, encontrei outra pessoa de meu interesse. Então, os três ainda estão saudáveis ​​e inteiros?

Sua fala era refinada, no entanto Greco sentiu uma coerção esmagadora nela que o fez balançar a cabeça em concordância.

— Eu suspeitava disso. Nesse caso, terei que marcar alguns pontos rápidos aqui se quiser ser um deles. — após essa declaração enigmática, o belo rapaz se dirigiu a Greco com familiaridade. — O que acha de unir forças comigo?

— Trabalhar com você?

— Pelo que observei na árvore, me parece que está obcecado pela jovem da fazenda. No entanto, o guarda-costas dela continua sendo um obstáculo. Tenho outro motivo para querer tirá-lo do caminho. O que me diz?

Greco hesitou.

Rei-Ginsei o repreendeu.

— Tem certeza de que pode matá-lo, mesmo com a vela e seu traje de combate? Com ​​sua habilidade?

Greco estava sem resposta. Era essa a razão pela qual ainda não tinha descido e sequestrado Doris. Graças ao efeito que teve na filha do Conde, conseguiu verificar que o Incenso Enfeitiçador do Tempo era altamente eficaz contra vampiros puros, mas quando se tratava de um dampiro meio-humano, não tinha muita confiança. Ele vestiu o traje de combate, porém como tinha acabado de voltar da oficina, não estava acostumado a trajá-lo ou manuseá-lo, e se tivesse que invocar seu poder, era duvidoso que pudesse usá-lo em seu potencial máximo.

— Quer dizer que, se eu me juntar a você, podemos matá-lo? — suas palavras eram prova suficiente de que havia caído no feitiço de Rei-Ginsei.

Sufocando seu sorriso, o belo jovem assentiu.

— De fato. Assim que o sol se pôr, vou enfrentá-lo, então espere o momento certo para acender a vela, por favor. Se ele se deixar exposto por um instante, bem, é aí que minhas lâminas entram. — Rei-Ginsei falou apontando para as lâminas de picanço em seu quadril.

Greco se decidiu.

— Claro... Contudo o que acontece depois disso?

— Depois?

— Sei que está planejando entregar a garota ao Conde, no entanto é justo o que eu tenho me esforçado para evitar que aconteça.

— Nesse caso, pegue-a e fuja. — Rei-Ginsei respondeu, como se não se importasse. Vendo o agora estupefato Greco, acrescentou. — Apenas prometi ao Conde que mataria o dampiro. Não me importa nem um pouco de quem a garota se tornará propriedade. Esse assunto é entre você e o Conde, não é? Entretanto, sendo um ser humano e tudo mais, se quiser, direi aos meus compatriotas espalhados pela Fronteira para ajudá-lo em sua fuga do Conde.

— Você realmente faria isso? — o tom de Greco se tornou um apelo. A questão de como poderia irritar o Nobre perseguidor se conseguisse escapar com Doris era um ponto de sua preocupação. Todavia por que diabos Rei-Ginsei diria uma coisa dessas? Porque não tinha certeza de que apenas pegar o Incenso Enfeitiçador do Tempo seria o suficiente para derrotar D.

A esgrima indescritível que o Caçador demonstrou ao cumprir sua promessa de despachar três dos capangas valiosos do líder da gangue sobre-humana em menos de quinze segundos cada, e a invencibilidade que demonstrou ao se levantar outra vez, apesar da espada enfiada em sua barriga... O mero pensamento dessas coisas foi o suficiente para dar arrepios em Rei-Ginsei. Só para estar preparado para qualquer eventualidade, decidiu usar o idiota que havia encontrado. Depois que D fosse morto, Greco teria sobrevivido à sua utilidade, e seria esmagado como um inseto.

— Bem, acredito que temos um acordo então. — Rei-Ginsei mostrou um sorriso tão lindo que envergonharia uma flor, e estendeu a mão restante.

— Hum, tudo bem. — Greco hesitou em pegar sua mão. — Mas eu ainda não confio completamente em você. Só para deixar claro, se tentar algo engraçado, vou destruir a vela na hora.

— Justo.

— Então temos um trato.

Eles compartilharam um firme aperto de mão.



A lua redonda nasceu. Estranhamente grande e branco, o inquietante disco lunar enviou ondas selvagens de ansiedade pelos corações de todos que o observavam. Um velho fazendeiro chamado Morris acordou de repente quando sentiu um calafrio. Sentando-se na cama, o velho olhou para a janela do quarto e sentiu seus cabelos se arrepiarem. A janela que tinha certeza de ter trancado estava aberta agora.

Porém não foi a janela aberta que aterrorizou o velho.

Sua neta Lucy, de quem cuidava desde que ela perdeu os pais em um acidente, estava perto da janela em sua pequena camisola, olhando para o avô com olhos vazios. Seu rosto estava mais pálido do que o luar que entrava pela janela.

— Lucy, qual é o problema?

Quando notou as duas listras vermelhas descendo pela garganta da neta, o velho congelou na cama.

— Eu sou... Conde Lee. — Lucy murmurou. Com uma voz de homem! — Dê-me Doris Lang... Se não fizer isso... Esta noite, amanhã à noite... Toda noite as fileiras dos mortos-vivos aumentarão...

E então sua neta desabou no chão.



Depois do jantar, Dan ficou inseparável de D, contudo nem o garoto conseguiu resistir aos encantos inevitáveis do sono, e teve que se retirar para seu quarto. Doris desapareceu em seu próprio quarto, deixando D sozinho na sala de estar, que era iluminada apenas pelo forte luar. Ele estava dormindo lá desde a primeira noite, pois disse que o quarto nos fundos da casa era muito apertado. Seu corpo estava deitado no sofá, seus olhos frios e claros como gelo. A hora estava se aproximando das onze da noite.

Uma luz branca piscou.

A porta do quarto se abriu e Doris saiu. Uma toalha de banho puída a cobria dos seios até as coxas. Atravessando a sala de estar sem fazer barulho, ela parou diante do sofá. Seus seios fartos estavam arfando. Respirando fundo duas vezes, Doris deixou a toalha cair.

Imóvel, sem piscar, D fixou os olhos na forma nua da garota. Seu corpo bem proporcionado e ligeiramente musculoso ainda não era dotado de toda a sensualidade de uma mulher, no entanto tinha mais do que o suficiente do charme virgem pálido que sempre tirava o fôlego dos homens.

— D... — a voz de Doris ficou presa na garganta.

— Eu não terminei meu trabalho aqui.

— Vou te pagar adiantado. Pegue...

Antes que pudesse falar, seu caloroso corpo estava em cima dele e seu hálito doce estava fazendo cócegas em seu nariz.

— Ei, eu...

— O Conde virá de novo. — Doris ofegou. — E dessa vez será o fim... Pelo menos, é o que sinto. Talvez não tenha a chance de lhe dar sua recompensa, então me tome em seus braços, chupe meu sangue, faça o que quiser comigo.

A mão de D afastou as longas tranças da garota, expondo o rosto que haviam escondido ao ar da noite. Seus lábios se encontraram.

Por alguns segundos, ambos permaneceram juntos, e então D se sentou rapidamente.

Seus olhos correram para a janela. Ali ficava o portão principal.

— O que é? O Conde? — a voz de Doris estava tensa.

— Não. Sinto dois grupos. O primeiro é um par, e o segundo... Há muitos deles. Cinquenta, não, por volta de cem pessoas.

— Cem pessoas?

— Vá acordar Dan.

Doris desapareceu em direção ao seu quarto.



Perto do portão da fazenda, um par de silhuetas parou de repente seus cavalos e olhou para trás através da pradaria. Inúmeros pontos de luz se aproximaram, vindos da direção da cidade. Enquanto a dupla aguçava os ouvidos, puderam ouvir um estrondo de vozes que beirava a raiva, misturado com o bater de inúmeros cascos.

— O que poderia ser isso? — murmurou Rei-Ginsei.

— Pessoas da cidade. Algo deve ter acontecido. — disse Greco, observando os pontos de luz nervosamente. Eram tochas acesas.

— De qualquer forma, faríamos bem em nos esconder e ver o que acontece.

Os dois se apressaram em se mesclar as sombras da cerca da fazenda.

Eles não tiveram que esperar muito; a procissão de moradores se reuniu diante da entrada da fazenda logo depois que se esconderam. A testa de Greco franziu. Liderando o bando estava seu pai, o prefeito Rohman. Vapor subia de sua cabeça calva. Ao redor de seu pai estavam os empregados contratados de sua família, todos armados até os dentes com bestas e rifles laser; os moradores também carregavam lanças e rifles.

Mais da metade parecia ter acabado de ser arrastados para fora da cama, vestidos de pijama e chinelos. Por mais engraçado que parecesse, isso testemunhava com precisão o quão séria a situação havia se tornado. As sombras de ódio e medo caíam pesadamente em cada rosto.

Era uma multidão. Não havia sinal do xerife.

— Doris! Doris Lang! Desliguem essa barreira! — rugiu o prefeito em frente ao portão.

Uma luz se acendeu em uma janela da casa.

Logo depois, um par de figuras surgiu na varanda da frente.

— Qual diabos é o seu negócio a essa hora da noite? Você trouxe a cidade inteira aqui para roubar o lugar ou o quê? — essa era a voz de Doris.

— Só desliguem a barreira logo! Então nós discutiremos isso. — o prefeito berrou de volta.

— Já está desligado, seu idiota. Pretende ficar aí fora a noite toda?

Uma série de raios de fogo disparou ao redor do prefeito, derretendo a corrente do portão.

A multidão se espalhou para o jardim da frente.

— Pare aí! Chegue mais perto e atiro em vocês! — mais do que a ameaça de Doris, mais do que o rifle laser apoiado em seu ombro, foi a visão de D parado ali atrás dela que deteve a multidão enlouquecida e os parou a três metros da varanda.

Para intimidar um grupo, tinha que mirar em uma pessoa no centro de sua fúria e cuidadosamente separá-la das outras. Assim como seu pai lhe ensinou, Doris alinhou o cano de seu rifle laser perfeitamente com o esterno do prefeito, deixando a promessa de que não cederia um centímetro em sua ameaça.

— Ok, quero algumas respostas. Qual é o seu negócio? E onde diabos está o xerife? Estou avisando agora, se ele não estiver aqui, não devo uma boa resposta a vocês, não importa que tipo de reclamação tenham. Dan e eu pagamos nossos impostos.

— Aquele pé no saco levou umas palmadas e foi jogado na própria prisão. Vamos deixá-lo sair de novo quando tivermos cuidado de todos vocês. — disse o prefeito com desgosto. E então, ainda olhando para Doris, acenou com uma mão. — Vamos, mostre a ela.

A multidão se abriu e um velho de cabelos grisalhos deu um passo à frente. Em seus braços segurava uma menina com tranças no cabelo.

— Sr. Morris, Lucy está... — Doris começou, mas engoliu o resto das palavras. Duas manchas repugnantes de sangue marcavam a garganta pálida como parafina da garota.

— Há mais.

Com as palavras do prefeito como deixa, dois casais patéticos se apresentaram.

O moleiro Fu Lanchu e sua esposa Kim, o caçador Machen e sua esposa, ambos os casais estavam na casa dos trinta, embora as esposas de ambos os homens ainda fossem famosas na aldeia por sua beleza. A visão das mulheres, agora erguidas por seus maridos enquanto seus olhos vazios apontavam para o céu e sangue fresco pingava em suas gargantas, disse tudo a Doris.

— O Conde fez isso, o bastardo cruel...

— É verdade. — Machen disse com um aceno de cabeça. — Minha esposa e eu estávamos exaustos de um dia duro de trabalho e fomos dormir cedo. Pouco tempo depois, acordei sentindo frio e encontrei minha esposa não ao meu lado, onde deveria estar, mas parada ao lado de uma janela aberta, me encarando com aqueles olhos ardentes. E quando pulei da cama para ver o que diabos estava acontecendo...

O moleiro Lanchu continuou de onde Machen parou.

— De repente, minha esposa disse com voz de homem... “Me entregue Doris Lang. Se não o fizer, sua esposa ficará assim para sempre, nem viva nem morta.”. Ele disse exatamente essas palavras.

— No momento em que ela parou de falar, apenas caiu e não se moveu nem falou desde então! — a voz de Machen era um verdadeiro grito. — Corri para tomar seu pulso, porém não havia nenhum vestígio. Também não está respirando. E, no entanto, seu coração segue batendo.

— Eu não acreditei em nada do que Greco estava dizendo. — disse o Sr. Morris. — Conhecendo você, imaginei que se algum vampiro a tivesse mordido... Teria acabado se matado. Por que, se fosse verdade, pensei em emprestar o máximo de ajuda que um velho tolo pudesse e ajudá-la a destruir nosso senhor. Contudo por que minha neta Lucy teve que sofrer em seu lugar... Ela tem apenas cinco anos!

O apelo choroso e pesaroso do velho aos poucos derrubou o cano da arma de Doris. Com a voz agora despojada de sua obstinação, Doris perguntou.

— Então o que está dizendo que devemos fazer?

O prefeito virou seu olhar cheio de adagas para D. Acariciando sua cabeça calva, falou.

— Primeiro, expulse o vagabundo atrás de você da sua fazenda. Depois, vá para o asilo. Não estou dizendo que vamos agarrá-la e entregá-la ao Conde como tributo ou algo tão cruel quanto isso. Entretanto terá que seguir a lei da aldeia. Nesse meio tempo, cuidaremos do Conde.

Doris vacilou. O que o prefeito propôs tinha seus méritos. Desde que foi mordida por um vampiro, a única coisa que a manteve fora do asilo foi a ajuda do Dr. Ferringo e do xerife. Agora, o médico idoso estava morto, e o xerife não estava aqui. Todavia havia três pessoas aqui que foram transformadas em mortas-vivas em seu lugar, e muitos moradores com olhos cheios de ódio.

Seu rifle caiu frouxamente no chão.

— Leve-a embora. — o prefeito ordenou com triunfo.

E naquele momento, D disse.

— Como pretende cuidar dele?

O burburinho da multidão, que continuou incessantemente durante a discussão de Doris com o prefeito, parou em seguida. Ódio, horror, ameaça... Enquanto o olhavam com todas as emoções que sentiam em relação ao desconhecido, o Caçador de Vampiros D desceu devagar as escadas da varanda com sua espada sobre o ombro. A multidão se encolheu sem dizer uma palavra. Todos, exceto o prefeito. No instante em que os olhos de D o encontraram, o homem ficou paralisado.

— Como pretende cuidar dele? — D tornou a perguntar, parando a alguns passos do prefeito.

— Bem, hum... Na verdade...

D estendeu a mão esquerda e colocou a palma contra o rosto de polvo do prefeito. Por um momento, a voz do homem falhou, e então continuou.

— Jogue-a... No maldito asilo... E então negocie. Diga ao Conde... Que não deve mais machucar ninguém na cidade... Se não fizer isso, nós mataremos o amor da vida dele...

O rosto do prefeito se contorceu e gotas de suor formaram correntes em sua testa, quase como se estivesse lutando contra uma força titânica dentro de si.

— Depois que negociássemos... Diríamos a Doris que havíamos destruído o Conde ou algo assim... A deixaríamos sair... Depois o Conde poderia fazer o que quisesse, torná-la uma de sua espécie, sangrá-la até a morte, tanto faz... Você é o diabo... Seu pequeno bastardo. Se der mais ajuda a Doris...

— Não é você quem não está sendo cooperativo?

D tirou a mão. O prefeito deu alguns passos para trás, seu rosto parecendo que qualquer demônio que o possuía tinha acabado de sair. Gotas de suor escorriam por seu rosto.

— Esta jovem me contratou... — D falou com uma voz sombria. — E como não terminei o que fui contratado para fazer, não posso ir embora agora. Ainda mais depois de ouvir sua confissão detalhada.

De repente, seu tom tornou-se autoritário.

— A Nobreza não morrerá se ficarem parados e não fizerem nada. Quantas vezes vão ceder, e quantas pessoas estão dispostos a sacrificar para aqueles que não têm nada além da extinção pela frente? Se essa é a mentalidade humana, então não há absolutamente nenhuma chance de eu deixar que fiquem com a garota. Um velho que só consegue chorar pela criança tirada dele, e maridos que teriam outra garota no lugar de suas próprias esposas contaminadas... As chamas do inferno podem levar vocês, e todos os outros nesta aldeia também. Eu enfrentarei humanos e nobres de igual maneira. Defenderei esta família mesmo que tenha que deixar uma montanha de cadáveres e um rio de sangue do tipo que nem podem começar a imaginar, alguma objeção?

As pessoas viram o brilho carmesim de seus olhos através da escuridão, os olhos de um vampiro! D deu um passo à frente, e a multidão silenciada foi empurrada para trás por uma onda de medo primitivo.

— Eu objeto.

Todos pararam no que era uma voz linda para um grito tão alto.

— Quem é esse?

— Deixem-no passar!

Uma voz após a outra surgiu do fundo do bando, e enquanto a multidão se dividia ao meio, um jovem que era quase ofuscantemente bonito deu um passo à frente. Embora a beleza de seu semblante fosse grande, foi o estado incomum de seus braços esquerdo e direito que chamou a atenção das pessoas. Seu braço direito estava envolto até o ombro no que parecia ser a manga metálica de um traje de combate, e seu braço esquerdo estava faltando do cotovelo para baixo. Oferecendo o coto do braço, Rei-Ginsei disse.

— Vim agradecer por ontem. — seu tom fazia parecer uma saudação amável.

— Você? Pessoal, esse é o bastardo que atacou a patrulha da FDF!

O prefeito e o resto da multidão começaram a murmurar quando ouviram Doris gritar isso.

Rei-Ginsei respondeu sem se incomodar.

— E suponho que tenham alguma prova disso, não é? Encontraram algum vestígio da patrulha, os cadáveres dos cavalos, alguma coisa? É verdade, houve alguns desentendimentos entre nós no passado, contudo não posso deixar que lancem mais calúnias sobre meu bom nome.

Doris cerrou os dentes. Rei-Ginsei sem dúvida a tinha em desvantagem no que diz respeito ao caso FDF. Sem vítimas, não poderia ser acusado de um crime. Embora se o xerife estivesse lá, há pouca dúvida de que teria prontamente levado Rei-Ginsei sob custódia como testemunha material.

— Senhor Prefeito, posso ser tão ousado a ponto de fazer uma sugestão?

Saudado por um lampejo de dentes perolados, o prefeito devolveu um sorriso nervoso. Como todos os que foram escravizados pelo sorriso de Rei-Ginsei, não percebeu o diabo que se escondia por trás daquela faceta.

— E o que seria? — perguntou o prefeito.

— Por favor, permita-me lutar com nosso amigo, aqui e agora. Se ele vencer, você deixará esta família em paz, e se eu vencer, a garota irá para o asilo. Como isso lhe convém?

— Bem, não sei... — o prefeito vacilou. Sua posição de fato não lhe permitiria confiar um assunto dessa magnitude a um homem que não conhecia nem um pouco, ainda mais alguém tão envolto em suspeitas quanto Rei-Ginsei.

— Vocês podem fazer alguma coisa então? Amanhã à noite haverá mais vítimas.

O prefeito se decidiu. Todos os moradores foram mantidos sob controle pela energia de D. Tinha que ver o que o homem poderia fazer.

— Muito bem.

— Mais uma coisa... — Rei-Ginsei disse, estendendo um único dedo do traje de combate. Claro que era de Greco. Para evitar que Doris percebesse, ele vestiu apenas uma manga. Se sua conexão com Greco viesse à tona, eles perceberiam onde o Incenso Enfeitiçador do Tempo estava agora. — Despachem alguém para as vilas vizinhas e retirem os mandados contra mim.

— Ok, entendido. — o prefeito disse, as palavras saindo como um gemido. Sem ninguém além deste jovem arrojado em quem confiar, não tinha outro recurso senão ceder a todas as suas exigências.

Rei-Ginsei se virou para Doris e perguntou.

— E isso está bom para você também?

— Claro. Você vai acabar tendo sua outra mão decepada. — Doris respondeu.

D perguntou.

— Onde quer fazer isso? — ele não mencionou o fato de que seu oponente estava tentando ganhar o favor da Nobreza, ou que tentou estrangular um jovem indefeso.

— Bem aqui. Nosso duelo logo terminará.

Apenas a lua observava as pessoas se movendo.

Em frente à varanda, os dois se enfrentaram, a três metros de distância.

Os moradores que enchiam o jardim da frente, e Doris e Dan na varanda, estavam com a respiração suspensa. Quando todos soltaram um suspiro profundo aparentemente na hora certa, três lâminas de picanço voaram do quadril direito de Rei-Ginsei. O sistema de aprimoramento muscular do traje de combate às tornou mais rápidas do que nunca, mais rápidas do que o olho humano poderia acompanhar, e mesmo assim todas foram derrubadas do céu bem na frente de D por um clarão prateado.

Em um piscar de olhos, D estava no ar sobre a cabeça de Rei-Ginsei. Espada erguida para matar, no momento em que a multidão engasgou com a premonição da lâmina cortando a cabeça de Rei-Ginsei, o vitorioso Caçador cambaleou no ar.

Quem poderia perder essa chance? Mais uma vez a mão direita de Rei-Ginsei entrou em ação, enviando um fluxo de luz branca. Era a estaca de madeira de Greco, que mantinha presa na parte de trás do cinto. Com a habilidade normal de Rei-Ginsei, D talvez tivesse se esquivado, apesar de sua agonia, no entanto agora tinha a velocidade adicional do traje de combate. A espada longa ainda erguida acima da cabeça, com a estaca enfiada no coração e saindo pelas costas, D enviou uma névoa tênue de sangue enquanto caía no chão.

— Acertei ele!

O grito de júbilo não veio nem de Rei-Ginsei nem dos moradores. A multidão estava mais confusa com a estranha sensação de que a noite havia se tornado dia do que com o final horrível do duelo.

— Greco! Ah, então você estava em conluio com esse desgraçado!

Com aquele grito, Doris mirou seu rifle na figura que apareceu na frente da cerca segurando uma vela em uma mão, todavia um golpe repentino e forte no cano da arma a jogou para trás, atingindo seu dono na testa.

— Agora é nossa chance! Peguem-na!

Dando um sorriso fraco para os aldeões enquanto atacavam Dan e a irmã inconsciente a quem Dan se agarrava, Rei-Ginsei prendeu a última lâmina de picanço que retornava ao seu cinto e tirou a manga do traje de combate.

A desacordada Doris foi jogada em um cavalo, assim como seu irmão berrante e nada cooperativo, e os aldeões voltaram pelo portão.

— O que estão fazendo? — Greco fez uma careta, prestes a ir buscar o cavalo que havia escondido nos fundos da fazenda.

Rei-Ginsei estava se abaixando sobre o corpo do já falecido D. Levantando a mão esquerda, olhou para a palma e para o dorso dela com desconfiança.

— Eu só não consigo entender... — ele gemeu. — Esta é a mesma mão que engoliu as aranhas de Chullah e fez o prefeito revelar seus segredos... Deve haver algum segredo. — ao dizer essas palavras, pegou uma lâmina de picanço do quadril e cortou a mão esquerda na altura do cotovelo, o que fez os olhos de Greco se arregalarem. Então descartou a mão nos arbustos próximos. — Não poderia ficar tranquilo se não fizesse isso. Além do mais, acredito que isso nos deixa quites. — falou friamente.

Rei-Ginsei caminhou em direção ao portão sem nem olhar para trás, mas Greco gritou em um tom excessivamente familiar.

— Ei, espere aí. Por que não tomamos uma bebida na cidade ou algo assim? Juntos, nós dois poderíamos fazer grandes coisas.

Parando de repente, Rei-Ginsei se virou. O olhar em seus olhos cativou Greco.

— Da próxima vez que nos encontrarmos, considere sua vida acabada. — e então foi embora.

— Tch, desgraçado convencido. — Greco murmurou com todo o veneno que conseguiu reunir, e então também se dirigiu para a saída. Suas pernas congelaram. Parecendo assustado, se virou de volta. — Devo estar imaginando coisas. — murmurou, e então não perdeu tempo voltando pelo portão.

Greco pensou ter ouvido o que parecia ser uma risada. E não tinha vindo do cadáver de D, e sim dos arbustos escuros onde sua mão esquerda decepada tinha sido descartada...



— Hahaha... Tudo ocorreu justo como planejado. É uma pena que eu tenha tido que esperar mais um dia, contudo suponho que só aumentou meu ardor mais.

Parado no mesmo topo da colina onde Greco havia encontrado Rei-Ginsei durante o dia, a figura tirou o binóculo eletrônico dos olhos e riu baixinho. Com presas brancas derramando-se sobre seus lábios vermelhos, era ninguém menos que o Conde Magnus Lee.

Uma carruagem estava estacionada perto de uma árvore, e o luar iluminava o lobisomem Garou parado ao lado dela em sua capa invernal. Naturalmente, estava com seu rosto e forma humanos no momento.

O lobisomem perguntou.

— Então, o que faremos a seguir?

— Isso deveria ser óbvio. Nós forçamos nossa entrada naquele pequeno vilarejo miserável e pegamos a garota. Aquele maldito prefeito com certeza planeja trancá-la no asilo enquanto negocia comigo, porém não vou aceitar demandas. Por todos os inconvenientes que me causaram até agora, criarei mais mortos-vivos em sua aldeia amanhã à noite, e ainda mais na noite seguinte. Seus filhos e os filhos de seus filhos terão uma história para contar sobre o horror da Nobreza. Considerem um presente para comemorar minhas núpcias. Após nosso retorno, ordene aos robôs que comecem os preparativos para a cerimônia.

— Sim, senhor.

Dando um aceno magnânimo para seu servo curvado, o Conde estava prestes a entrar em sua carruagem quando se virou e perguntou.

— Como está Larmica?

— Como instruiu, senhor, ela foi punida com Incenso Enfeitiçador do Tempo, e parecia estar com muita dor, pois ainda estava deitada no chão de seu quarto quando me despedi.

— É mesmo? Muito bem então. Se servir para impedi-la de abrigar mais pensamentos de desobediência ao seu pai, então tudo voltará a ser como deveria. Apenas desejo tomar a garota humana como minha esposa. Viver para sempre, sugando o sangue que jorra de sua garganta pálida como cera noite após noite. Convidada passageira? As palavras de nosso Ancestral Sagrado não se aplicam a mim, ouso dizer. O resto da minha espécie pode enfrentar a extinção, contudo a garota e eu ficaremos aqui para sempre e manteremos os humanos sob controle com poder e medo. Apenas observem!

Mais uma vez Garou assentiu profundamente.

O Conde fechou a porta da carruagem com firmeza por dentro.

— Vá! O amanhecer está próximo. Claro, não acredito que haverá necessidade de queimá-lo, no entanto tenho Incenso Enfeitiçador do Tempo pronto para o caso.

Nem o Conde nem Garou notaram que, logo após D ter sido derrubado pela estaca de Rei-Ginsei, uma carruagem veio da floresta no lado oposto da fazenda e seguiu em direção à cidade.



Por algum tempo depois que Greco partiu, apenas uma brisa refrescante e a luz da lua dominaram a fazenda. O gado dormia pacificamente, todavia uma risada perturbadora surgiu de repente na escuridão silenciosa e solene.

— Hehehe... Já faz um tempo desde que consegui ficar no centro das atenções. Comer aranhas e fazer o careca derramar suas entranhas foi muito bom, mas quero um pouco mais de tempo sob os holofotes... É claro, ele e eu poderíamos ser mais felizes se eu deixasse as coisas do jeito que estão agora, porém ainda há coisas que precisam ser feitas nesta vida. E meio que gosto daquela garota e seu irmãozinho. Detesto ter que fazer, entretanto acho que posso salvá-lo mais uma vez.

Por salvá-lo, referia-se a D.

A voz veio de dentro dos arbustos. Ao mesmo tempo, algo parecia estar se movendo ali. Oh, era a mão. Os dedos. Como se possuísse mente própria, a mão esquerda que Rei-Ginsei havia arrancado de D e jogado fora agora movia todos os cinco dedos.

A mão estava de costas para o chão e a palma apontada para o céu. A superfície da palma ondulava, como se um pedaço de músculo estivesse sendo empurrado para a superfície de dentro. Contudo a parte realmente surpreendente ainda estava por vir. Alguns vincos surgiram na superfície do caroço, depressões se formaram na carne em alguns lugares, enquanto outras partes incharam, formando por fim um rosto humano!


Duas narinas minúsculas se abriram no nariz aquilino ligeiramente torto, e quando os lábios se torceram em um sorriso sarcástico, expuseram dentes como pequenos grãos de arroz. O tumor perturbador com um rosto respirou fundo, e então suas pálpebras até então fechadas se abriram.

— Bem, hora de começar, eu acho.

Com essas palavras como uma deixa, o braço começou a se mover. Embora os nervos e tendões tivessem sido cortados, o estranho carbúnculo tinha a capacidade de reanimar a parte do braço e fazê-lo cumprir suas ordens. Os dedos da mão prostrada nadaram no ar e agarraram um galho do arbusto logo acima. Agarrando-se ao galho e se levantando, a mão caiu de volta ao chão com a palma para baixo.

— Ok, hora de fazer uma pequena viagem.

Os cinco dedos se curvaram como pernas de aranha e o pulso arqueou-se no ar. Arrastando o antebraço pesado atrás dele, serpenteando com habilidade por entre os arbustos e avançando em direção a D. Quando chegou ao toco de seu braço esquerdo, os dedos mais uma vez correram, virando para a direita e combinando ambos os lados do corte perfeitamente.

D estava caído de costas, deixando a palma de sua mão voltada para o céu. O rosto bizarro do carbúnculo ficou nu ao luar. E foi então que a mão começou a agir de forma realmente estranha. Inalou por um longo tempo, como se estivesse respirando fundo. Dado o tamanho pequeno da palma de D, parecia ter uma capacidade pulmonar incrível. O vento assobiava e uivava enquanto corria para a boca minúscula. Depois que essa incrível demonstração de habilidade de sucção durou uns bons dez segundos, parou para respirar e repetiu o mesmo comportamento mais três vezes. E então o carbúnculo fez algo ainda mais inacreditável.

Virando o cotovelo para que a palma ficasse para baixo com considerável habilidade, os dedos afundaram no chão e começaram a rasgar o solo.

Talvez graças às pontas dos dedos de aço de D, eles pegaram o chão duro como se fosse lama, e em pouco tempo havia um monte considerável de terra no qual a palma começou a enfiar seu próprio rosto. No silêncio, um som assustador de mastigação pôde ser ouvido. O tumor estava comendo a terra! À luz da lua, essa refeição sobrenatural continuou, e vários minutos depois o monte de terra havia desaparecido por completo. Para onde tinha ido? Bem na boca do carbúnculo. Mas onde no mundo poderia colocar toda essa terra? O formato do braço não havia mudado nem um pouco. E ainda assim, a mão decepada havia consumido tanto o ar quanto a terra. Porém para que fim?

A palma virada para baixo soltou um pequeno arroto.

— Sem água e fogo, deve demorar um pouco, contudo não há muito que possamos fazer a respeito. — disse a si mesmo, e então todo o braço abruptamente alcançou o peito de D.

Não podia ser! Os dois lados do corte ao longo do braço de D estavam juntos de novo, embora recolocar o braço depois que ambos os lados tivessem sangrado até secar fosse impossível... O braço se levantou mesmo assim.

Então o carbúnculo se limitou a dizer.

— Isso deve ser muito mais rápido do que usar meus dedos.

Em seguida, abriu bem a boca e mordeu a ponta da estaca que se projetava do peito de D.

— Oof!

Com um grunhido estranho, puxou a estaca para fora.

Descartando o implemento de madeira com um movimento do pulso, a palma mais uma vez se virou para o céu.

O ar uivou. Mais uma vez ele estava sendo sugado selvagemente, embora agora estivesse claro que estava sendo consumido da mesma forma como a terra havia sido. Chamas azuis pálidas podiam ser vistas tremeluzindo profundamente nas bochechas do carbúnculo toda vez que inalava. Com sua terceira respiração, chamas jorravam de sua boca e nariz. Terra, vento, fogo e água eram comumente conhecidos como os quatro elementos. Tendo consumido apenas dois deles, terra e vento, o carbúnculo os transformou em calor dentro de si, e então em força vital, e agora estava bombeando a própria vida de volta para o corpo de D.

Este jovem lindo... O grande caçador de vampiros D, tinha um gerador de força vital vivendo na palma de sua mão!

Em algum momento, o vento diminuiu, e a fazenda tranquila ficou ainda mais serena pela lua, no entanto em uma parte da fazenda o milagre perturbador continuou. E a ferida que a estaca havia deixado no coração de D, uma ferida que era morte certa para todos os descendentes de vampiros, gradualmente fechou.

***

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