Capítulo 108: Quem diabos é ela?
Em minha direção, que estou pasmo com a surpresa ao saber desse fato, Sua Majestade Chris abre a boca com um sorriso no rosto.
“Não é estranho que esteja surpreso. Sinto muito por não ter contado a você.”
“Ah, não!”
“Eu estava em dívida com o Rei do Submundo-sama há muito tempo, e quando ouvi que ela estava interessada em alguém do outro mundo, quis conhecê-lo, então pedi que me deixasse ser seu cocheiro.”
“É-É mesmo...”
“Naquela época, pensei que Miyama-sama era uma pessoa muito normal, mas parece que meus olhos estavam nublados. Aproveito a oportunidade para me desculpar por menosprezá-lo sem pensar duas vezes.”
Falando comigo em uma linguagem educada, Sua Majestade Chris abaixa profundamente a cabeça.
Suponho que ele é uma pessoa sincera, porém como estou recebendo desculpas do monarca de um país, sinto que estou recebendo uma punição.
“P-Por favor, levante a cabeça. Sua Majestade Chris.”
“Então, se me der licença... Miyama-sama, não há necessidade de me chamar pelo meu título honorário. Não, na verdade, sinto que seria repreendido pelo Rei do Submundo-sama se Miyama-sama usasse meu título honorário para se dirigir a mim.”
“N-Nesse caso, vou chamá-lo de Chris-san...”
“Sim. Mais uma vez, prazer em conhecê-lo.”
“Prazer em conhecê-lo também.”
Chris-san, apesar de seu status como Imperador do Império Archlesia, é bastante pé no chão e uma pessoa educada.
Seu cabelo é lindo, como se fossem fios de safiras e seus olhos são como esmeraldas... Ele é sem dúvida o epítome de um príncipe e, embora seja um daqueles ikemen esbeltos, não parece tão irritante quanto os outros ikemen da Terra.
Quando Chris-san me pediu para sentar em uma cadeira, Alice também se sentou ao meu lado, como se fosse óbvio.
Então, como se Chris-san de repente se lembrasse de sua existência, voltou seu olhar para Alice.
Falando nisso, aquela Alice barulhenta estava em silêncio desde que chegamos a este castelo...
“A moça ali deve ser a companheira de Miyama-sama, certo? Desculpe pela demora em cumprimentar...”
“Ah, não precisa me cumprimentar ou algo assim.”
“!?”
Em resposta a Chris, que falou com um sorriso gentil, Alice... Respondeu com uma voz fria que não consigo imaginar que ela teria normalmente.
Vi os cavaleiros esperando atrás de Chris-san franzir as sobrancelhas com a sua atitude fria.
“Alice? O que está acontecendo com você...”
“As únicas pessoas com quem quero interagir são ‘aquelas com quem acho que vale a pena interagir’. Então, não tenho nada para falar com o tão gracioso, Sua Majestade, o Imperador.”
“O quê?”
O ar na sala fica tenso quando ouvem aquelas palavras ditas de maneira despreocupada.
Acho que isso deveria ser óbvio. Agora mesmo, Alice disse que só interage com pessoas que são valiosas para ela, e quando disse que não falaria com Chris... Significa...
“O que quer dizer é que, para você, eu sou... Uma pessoa sem valor?”
“Isso mesmo.”
“O quê? Sua vadia!”
Ela disse... Alice foi lá e disse mesmo tudo.
Agora havia sido dito de forma bem clara ao Imperador do Império Archlesia que sua existência não tinha valor.
Naquela atmosfera tensa, Chris-san retém seus cavaleiros que estavam furiosos e colocam as mãos em suas espadas.
Embora Chris-san não pareça estar bravo, a surpresa ainda pode ser vista em seus olhos.
Contudo, Alice não pareceu se importar com eles, pois tirou uma pequena faca do nada e colocou-a na mesa, movendo-a como se estivesse brincando com a lâmina.
“Bem, o senso de valor de cada pessoa é diferente, sabia? Tenho o hábito de dar valor aos outros na minha cabeça... Quanto a Sua Majestade, o Imperador, seria apenas um dos brindes que eu daria, então cerca de ‘uma moeda de cobre’, suponho.”
“Hoohhh... Este é um preço bem barato, hein.”
“Que rude! O que você sabe sobre Sua Majestade, o Imperador?”
“Chris Dia von Archlesia. Nascido como o terceiro filho do antigo Imperador Duran Dia von Archlesia, graduou-se como o primeiro da sua turma na escola de magia do país aos dez anos de idade. Seguiu uma carreira em finanças, inicialmente pretendendo se tornar um tesoureiro, todavia temendo o destino de seu país, expulsou seus dois irmãos mais velhos para suceder ao trono. Mostrando uma habilidade tão grande que o tornou conhecido como o Imperador Sábio, foi chamado de o maior político de todos os tempos. Atualmente com 24 anos, seu passatempo é andar a cavalo, e seu livro favorito é ‘An Ode for the Banner’... Qualquer um saberia sobre essas informações se gastasse algum tempo investigando.”
“!?”
Enquanto falava com uma tremenda fluência sobre o passado de Chris-san, Alice pega outra faca e a coloca na mesa.
Aquela atmosfera estranha, que era diferente do normal, me deixou, e obviamente, Chris-san sem palavras sobre o que ouvimos... Até mesmo os cavaleiros furiosos ficaram atordoados.
“Ele fará tudo por seu país. Se for pelo bem de seu país e de seu povo, não importa quanta desonra lhe traga, se curvará a qualquer um. Assim como uma ferramenta para a melhoria de seu país... Que pensamento nobre é esse, mas você é muito tedioso.”
“Tedioso?”
“Não estou interessada em conchas vazias como aquelas pessoas que se sacrificam para os outros. Não, não estou dizendo que seja um mau Imperador ou coisa do tipo. Como falei antes, acho que é muito nobre, uma pessoa inteligente digna de ser chamada de ‘Imperador Sábio’. Porém, não estou interessada na sua pessoa... Olhando-o, só consigo ver uma boneca bem-feita.”
“!?”
“Alice! Você falou demais!”
Chris-san fica atordoado com suas palavras frias e afiadas, e não consigo deixar de levantar minha voz e gritar para Alice.
Não sei por que Alice de repente começou a dizer essas coisas, contudo é óbvio que esta agindo muito diferente do normal.
No entanto, Alice não parece se incomodar com meu grito, pois coloca uma terceira faca na mesa antes de se virar para mim.
“Kaito-san está tão gentil como sempre... É por isso que gosto tanto de Kaito-san, e quero ouvir você o máximo que puder... Por desgraça, não posso fazer isso desta vez... Certo?”
“!?”
Depois de me responder, Alice balança a mão ao longo dos punhos das facas alinhadas, e o impacto faz as três facas voarem no ar.
E então, Alice as agarrou no ar... Foi o que pensei, entretanto as facas de repente desapareceram da mão de Alice e ficaram presas em dois lugares na parede e uma delas no teto.
Não tenho ideia de quando jogou aquelas facas ou como fez aquilo, mas foi muito rápido.
Na minha frente, sem palavras, Alice me disse com uma voz fria.
“Quando se é convidado por alguém para ser seu amigo... Não precisa confiar nessas pessoas que ‘usam Magia de Inibição de Reconhecimento para esconder seus soldados’.”
“Eh?”
“Eles estavam nos seguindo depois que passamos pelo ‘portão’, não estavam? Ei, vocês três... Saiam daqui. Se não... Essas facas vão acertar vocês da próxima vez, ok?”
“...”
Com as palavras que Alice disse calmamente... Como se seguisse suas ordens, o cenário nas paredes e no teto tremeu como estática, e pessoas vestidas de preto apareceram.
Os três estavam nos seguindo desde os portões do castelo? Entendo, então é por essa razão que Alice ficou em silêncio desde que entramos no castelo...
Porém, por que não os senti? Deveria ter sido capaz de detectar a aproximação deles com minha Magia de Simpatia, contudo...
“Não é culpa de Kaito-san. As roupas que estão vestindo são feitas de um material que impede que o poder mágico vaze para fora, então não é de se espantar que não os tenha notado.”
“Como você os notou?”
Os três homens vestidos de preto, cuja presença foi descoberta, rapidamente se movem atrás de Chris-san, alinhando-se em uma fileira.
Chris-san pergunta a Alice com um olhar de descrença no rosto, todavia Alice não responde e puxa um fio fino.
Ao que parece estava amarrado às facas que lançou, pois as facas no teto e uma das facas nas paredes logo retornaram para sua mão... Contudo a outra presa na parede não voltou, como se estivesse presa muito fundo.
“Arehh? Acho que devo ter usado um pouco mais de força! Que descuido, hein.”
Vendo que não conseguia tirá-lo, Alice coçou a cabeça com um sorriso irônico no rosto, antes de caminhar até a faca presa na parede e tentar puxá-la para fora.
“Arehh? Está presa? N-Não consigo tirá-la... Fugyaaahhh!”
“...”
Parece ter ficado presa na parede mais fundo do que imaginava, pois Alice o puxou com toda a força... E caiu de bunda.
Como devo dizer... Ela não está tão tensa estando no meio de uma situação crucial como essa.
No momento em que soltei um suspiro quando olhei para Alice, que estava agindo como sempre, comparada ao frio na barriga que senti antes, ouvi um murmúrio baixo.
“Você simplesmente baixou a guarda, não foi?”
“““???”””
Alice, que deveria estar de bunda no chão, desapareceu, e quando olhei de volta na direção da voz... Antes que percebesse, Alice estava segurando uma espada fina na mão, que mantinha em volta do pescoço dos três homens vestidos de preto.
“Isso não é bom, vocês devem sempre ter cuidado... Os três já teriam morrido, sabia?”
“““...”””
Com uma voz mais baixa do que o normal... Alice, que disse aquelas palavras que até me deram arrepios, olhou para mim.
“Eu raramente faço algo desse tipo. Só quando a remuneração é boa e estou de bom humor. O trabalho de proteger uma pessoa, quero dizer...”
Com uma voz fria e seu aperto ainda na espada, Alice moveu aos poucos seu olhar para Chris-san e os cavaleiros ao redor.
“Bem, ganhei muito dinheiro de Kaito-san desta vez, e como um serviço... Estarei protegendo Kaito-san enquanto estiver no império Archlesia. Então, só quero dizer algumas palavras antes de sua discussão.”
Depois de murmurar, Alice se virou para os homens vestidos de preto.
Ela normalmente passava uma impressão um tanto despreocupada, embora agora, junto com sua máscara de ópera minimalista... Parecia uma assassina.
“Se eu vir você espreitando Kaito-san de novo... Eu te mato, ok?”
“““...”””
Foi assustador como disse aquela fala desconfortável de forma tão natural.
Essas palavras frias me dizem o óbvio, como se tivesse tirado várias vidas até agora... O som desaparece do ambiente e o silêncio domina a sala.
“Ou algo assim!”
No silêncio frio, Alice parece ter perdido o interesse e abaixa a espada que estava segurando.
Então, depois de guardar a espada em algum lugar... Talvez em sua caixa mágica, se senta no assento ao meu lado e cruza os braços lentamente.
“E é por isso que... Espero que nos dê um jantar chique... Ouch!”
“...”
“Por que você me bateu, Kaito-san?”
“Não, deveria ser eu quem está fazendo o tsukkomi aqui... O que há com a atitude destoante da que tinha há um minuto?”
Bati na cabeça de Alice por reflexo enquanto a mesma retornava ao seu tom normal, imaginando o que era toda essa cena de antes.
“Não tem jeito! Fico arrepiada quando estou no modo sério por longos períodos de tempo, então preciso mudar quando necessário!”
“Por muito tempo, só foram por alguns minutos...”
“Não, não, fico facilmente cansada depois de fazer isso por mais de um minuto. Os músculos do meu rosto vão ficar uma bagunça. Meu corpo inteiro quebraria. Então, Kaito-san, por favor, me dê uma massagem suave... Gyyaaaahhh!”
“...”
“Eh? Sério? Estamos nesse tipo de direção e você queria esse tipo de brincadeira? Não, bem, posso lidar com uma variedade de situações, mas não gosto de dor... Você fez de novo!”
Não é realmente por causa do que aconteceu antes, não, em vez disso, bati meu punho na cabeça de Alice de novo porque ela começou a brincar depois daquele momento que tivemos antes.
No entanto, pensando bem, posso não conhecer Alice muito bem.
Ela é uma idiota, uma dona de loja diversa sem perspicácia para negócios, entretanto sabe muitas coisas e, por vezes, é como se fosse uma pessoa diferente, dizendo palavras ásperas.
Não sei se estou me sentindo estranho a respeito do que houve, já que vivi uma vida longe da carnificina... Porém, de certa forma, sinto que Alice é diferente das pessoas que conheci antes.
Querida mãe, pai — tive um vislumbre do lado de Alice que é diferente do normal. É como se sua presença fosse tão afiada quanto uma lâmina fria, sério — quem diabos é ela?
Notas do Autor:
Um vislumbre parcial das habilidades de Alice como trabalhadora no submundo.
Contudo, mesmo que ela tenha tal habilidade... Sua cabeça costuma estar na ponta receptora dos nós dos dedos de Kaito... Entendo, deve ser uma M¹, hein...
Nota do Tradutor:
1. Masoquista, pessoa que sente prazer com dor ou humilhação.
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