sábado, 4 de janeiro de 2025

A Quiet Place — Capítulo 12

Capítulo 12


Afinal, a esposa de Asai não havia morrido na Cosméticos Takahashi; ela já estava morta quando chegou. Ou pelo menos foi o que Asai deduziu do conteúdo do relatório. Ele foi levado a concluir isso a partir dos pontos abaixo.



1. A empregada, Komako Hanai, não visitou a casa de Kubo em 7 de março, e Kubo tirou aquele dia de folga do trabalho. Pode-se presumir que passou o dia todo em casa.

2. Quando a Sra. Hanai chegou à casa na manhã do dia 8, descobriu que uma parte do piso de tatame e uma divisória das portas de papel haviam sido queimadas. Kubo disse que seu cigarro havia incendiado um jornal enquanto estava no banheiro, mas que apagou o fogo antes que ficasse muito grande. Também havia evidências de que água havia sido jogada no aquecedor a gás.

3. Havia três baldes na cozinha que provavelmente foram usados ​​para apagar o fogo. Nenhum dos baldes estava seco, todos tinham água no fundo.

4. Houve um terremoto de nível 3 em Tóquio às 15:25 do dia 7 de março. O jornal o caracterizou como forte o suficiente para fazer objetos caírem das prateleiras e escreveu que ‘muitas pessoas correram para a rua’.

5. Em outro jornal, Asai leu o seguinte: ‘Da noite do dia 6 até o dia 7, uma frente fria passará pela área de Kanto. As temperaturas serão cerca de três graus mais baixas do que a média. Há possibilidade de neve em áreas montanhosas’.

6. O passatempo de Konosuke Kubo era colecionar brinquedos artesanais tradicionais. De acordo com a Sra. Hanai, havia pipas de papel de todo o país decorando as paredes e penduradas no teto da sala de estar.

7. Em sua coleção havia uma lanterna Yamaga de Higo.

8. Não havia lojas especializadas ou lojas de departamento na área de Tóquio que vendessem ou exibissem lanternas Yamaga. (Asai havia o pesquisado mesmo depois de ler o relatório.) Ele havia encontrado lojas de departamento que haviam exposto produtos da Prefeitura de Kumamoto ou da área de Kyushu, porém nenhuma delas havia exibido uma lanterna Yamaga.

9. O haicai de Eiko apresentava uma lanterna Yamaga. Ela deve tê-la visto na casa de Konosuke Kubo. Em um haicai separado, havia escrito sobre um amuleto Somin Shorai. Asai presumiu que também fizesse parte da coleção de Kubo.

10. A Sra. Hanai havia observado que Konosuke Kubo e Chiyoko Takahashi tinham apenas as interações mais básicas de vizinhos, trocando apenas cumprimentos quando se encontravam. A Sra. Takahashi nunca havia entrado na casa de Kubo.



Era isso. Combine essas dez peças separadas de dados e que outra conclusão poderia ser tirada?

De acordo com sua irmã Miyako, Eiko havia saído de casa à uma da tarde em 7 de março. Ela deve ter ido para a casa de Kubo.

A empregada, Sra. Hanai, havia dito ao investigador que tinha três dias de folga por mês, contudo não em nenhum dia definido da semana. Kubo costumava a avisar com dois ou três dias de antecedência quando não seria necessária. Obviamente, estava se certificando de que não estaria por perto nos dias em que Eiko estivesse de visita. Cada vez que Kubo e Eiko se encontravam, provavelmente faziam planos para o próximo encontro.

Em outra parte do relatório, estava escrito que Kubo às vezes voltava do trabalho no meio do dia e deixava a Sra. Hanai sair mais cedo. Esses também devem ter sido dias em que esperava por Eiko. Três vezes por mês no dia de folga da empregada não era muito comum para um caso clandestino.

Como Eiko e Kubo se conheceram? Ele ainda não tinha descoberto essa parte do quebra-cabeça. Teria de ouvi-lo direto de Kubo. Porém isso não vinha ao caso. O resultado era tudo o que de fato precisava considerar.

No começo, Asai acreditou que sua esposa tinha ido para um hotel para casais com outro homem, chegando até a perguntar em todos os três hotéis no topo da colina em Yoyogi, contudo agora que percebeu que ela se encontrava com seu amante na casa onde este morava sozinho, percebeu o quão mais seguro era esse arranjo. Ao contrário de um hotel, não havia funcionários para ver seus rostos e nenhum perigo de esbarrar em outros hóspedes ao entrar. Era uma casa enorme com um jardim separando-a dos prédios de cada lado. Você podia fazer muito barulho sem que ninguém ouvisse.

A Sra. Hanai havia relatado que havia um cômodo na casa que não tinha permissão para limpar. Ela pensou que era o quarto pertencente à esposa no sanatório em Nagano, no entanto e se fosse o quarto principal? Se fosse esse o caso, então conteria duas camas de solteiro ou uma cama de casal. Como a esposa de Kubo estava fora, quem usava a outra cama ou a outra metade da cama de casal? Kubo deve ter limpado o quarto sozinho. A Sra. Hanai suspeitou erroneamente que continha algum tipo de item valioso que seu cliente não queria que um funcionário manuseasse. Entretanto esse não era o caso... Era óbvio que Kubo não queria que a empregada descobrisse o que vinha fazendo lá.

A princípio, Asai achou muito difícil imaginar Eiko indo para a casa de Kubo. Ele a conhecia no papel de esposa, todavia a Eiko que era íntima de Kubo não era Eiko a esposa, e sim Eiko a mulher. Uma mulher que não conhecia. Uma mulher que alegou doença para recusar os avanços sexuais do marido, então, quando este se acostumou ao casamento sem sexo, quebrou as regras que a própria havia estabelecido. E saiu do casamento para quebrá-las.

Asai tentou vê-la sob essa nova luz, porém como Eiko sempre estava em casa quando voltava do trabalho, era impossível imaginar. Sua experiência pessoal de viver com a esposa contrastava com a imagem desagradável em sua cabeça.

Era sua tentativa de ver as coisas de uma forma positiva? Ou apenas a bravata de um homem que não queria desempenhar o papel de marido traído?

Como agora sabia, às 15:25 do dia 7 de março houve um terremoto em Tóquio, forte o suficiente para que objetos caíssem das prateleiras. Uma casa pré-guerra como a de Kubo deve ter sido abalada até os alicerces. Era fácil imaginar uma das pipas de papel se soltando e caindo no aquecedor a gás. Normalmente, não haveria necessidade de aquecedor no meio da tarde no início de março, contudo já tinha visto uma notícia que mencionava uma frente fria passando naquele dia. O aquecedor devia estar ligado para que a pipa desalojada pousasse na chama antes de cair.

Onde na casa Kubo e Eiko estavam naquele momento? O que faziam? Não queria pensar sobre isso. O que sabia era que o fogo tinha sido descoberto cedo e extinto antes de causar muitos danos.

No entanto como Asai poderia ter certeza de que sua esposa e Kubo estavam juntos naquele momento? A chave estava no relatório da agência de detetives. A empregada, Sra. Hanai, havia testemunhado que havia encontrado três baldes, ainda molhados, quando chegou no dia seguinte. Para Asai, esta era uma prova absoluta.

Uma única pessoa tentando apagar um incêndio usaria um balde, ou, no máximo, dois. Em um estado de pânico, é normal encher um balde e correr em direção ao fogo, esvaziando a água sobre as chamas. Todavia é claro que apenas um balde não seria suficiente para apagá-lo por completo. As chamas recuariam por um instante e então tornariam a se inflamar, saltando para qualquer lugar que não tivesse sido encharcado nos arredores. Sozinho, você teria que correr de volta para a fonte de água, encher seu balde o mais rápido possível e então retornar ao fogo. Na sua pressa, não teria tempo para encher um segundo balde... Talvez encher um pela metade, no máximo?

Só que, e se houvesse duas pessoas? Enquanto uma pessoa jogava água no fogo, a outra poderia estar enchendo um segundo balde. E se elas se movessem rápido o suficiente, talvez até fosse possível encher um terceiro. Uma linha de transporte com três baldes é impossível para apenas uma pessoa, mas perfeitamente factível com duas. Ou talvez as duas pessoas estivessem jogando água nas chamas juntas. Apenas um tatame e parte de uma divisória da porta foram queimados, então parecia que duas pessoas trabalhando juntas impediram que o fogo se espalhasse.

Tinha que ser. Eiko estava lá na casa de Konosuke Kubo quando o incêndio começou.

A descoberta repentina de um incêndio na sua sala de estar... Bem, seria um choque para qualquer um. Você entraria em pânico. Teria uma visão de chamas atravessando o telhado enquanto a casa queimava até o chão. Testemunhas de um incêndio em casa testemunharam com frequência que não se lembravam de encher baldes e jogá-los nas chamas, que se moviam em algum tipo de transe. O coração começa a bater forte, enviando sangue extra pelas suas veias; sua respiração fica mais pesada, como se estivesse subindo uma colina íngreme.

Foi aí, pensou Asai. Foi quando Eiko teve o ataque cardíaco.

O coração de Eiko estava frágil, tanto que o médico a aconselhou a evitar qualquer excitação ou choque que pudesse afetá-lo. E que trauma maior poderia haver do que descobrir um incêndio? O suficiente para causar um choque até mesmo em alguém com um coração saudável.

Ela fez todo o possível para proteger seu coração. Até pediu a cooperação do marido para evitar o sexo que poderia prejudicá-lo. E foi assim que aos poucos o acostumou a uma vida de abstinência.

Mas nos últimos meses esteve com ótima saúde. Não parecia diferente de qualquer pessoa normal e saudável. Na verdade, era como se tivesse se esquecido de vez de sua doença. Embora seguisse tendo um coração fraco, desde que nada desencadeasse um ataque, não era provável que a afetasse muito.

Quando Eiko viu o incêndio, seu coração se assustou, e a torrente de sangue resultante inundou sua artéria coronária. Porém seus vasos sanguíneos eram frágeis e o fluxo havia sido bloqueado.

Sua reação também teria tido uma causa psicológica. Ela deve ter percebido sua situação imediatamente. Os bombeiros chegariam ao local; haveria multidões de curiosos. A polícia e os bombeiros provavelmente a questionariam após apagar o fogo:

— Onde a senhora estava quando notou o fogo?

— E o que estava fazendo naquele momento?

— Qual é a natureza exata do seu relacionamento com o Sr. Konosuke

Kubo?

— Quando diz amigos próximos, exatamente quão próximos quer dizer?

— Então, senhora, você só visitou a casa do Sr. Kubo no dia de folga da governanta, está correto? Por que o visitou com tanta frequência em um momento que poderia levar a mal-entendidos?

— Seu marido está ciente da natureza do seu relacionamento?

Era bem possível que esse tipo de pergunta estivesse ecoando nos ouvidos de Eiko.

E as fofocas? Haveria muitos vizinhos prontos para especular sobre a visão de uma mulher correndo da casa em chamas.

— Quem é essa?

— Não parece a esposa dele.

— Claro que não é... Ela está em um sanatório em Nagano. Ele mora sozinho desde então.

— Ah, então deve ser...

Enquanto as chamas enchiam a sala de estar e Eiko enchia com pressa baldes com água da torneira da cozinha, passando-os para Kubo jogar no fogo, sua cabeça devia estar girando com esses pensamentos. Talvez tivesse pegado um balde e corrido para a sala de estar, levantando-o bem alto no ar e jogando a água nas chamas. Esforço físico extremo combinado com ansiedade extrema, poderia haver algo mais traumático?

De repente, sentiu uma dor paralisante no coração. Ela caiu de joelhos, a pele encharcada de suor frio, estremeceu de terror e começou a vomitar.

Ele conseguiu apagar o fogo, mas qual foi a reação de Kubo quando viu Eiko caída no chão?

Não estava em posição de chamar um médico. Como explicaria a situação?

E como poderia deixar a família de Eiko... Em outras palavras, seu marido, saber o que havia acontecido? Eiko talvez tivesse mencionado seu marido a Kubo. Mesmo que nunca o tivesse conhecido, provavelmente sabia seu nome, sua posição no ministério, talvez até mesmo seu endereço e número de telefone residencial. Porém ainda que soubesse de tudo isso, como diabos explicaria o motivo da ligação? Como você pede a um homem para ir à sua casa para pegar o corpo morto de sua esposa?

Kubo também teve que pensar em sua própria esposa. Podia estar em um sanatório no momento, contudo era provável que ficasse sabendo dos eventos daquele dia em algum momento. Não, estava fadada a ficar... Afinal, houve um incêndio em sua casa e uma mulher estranha em estado de angústia. Kubo deve ter pensado rápido. Se tivesse chamado um médico, o incêndio e a presença de sua companheira seriam conhecidos. O corpo de bombeiros seria alertado e todos os vizinhos ficariam sabendo. Seria apenas uma questão de tempo até que alguém contasse à sua esposa.

Só haveria um possível curso de ação, encobrir tudo. Teve a ideia de fazer parecer que Eiko havia falecido em algum lugar diferente desta casa. Não poderia carregá-la muito longe, então teria que ser em algum lugar próximo. Era razoável supor que foi assim que acabou na boutique de Chiyoko Takahashi.

De acordo com o relatório, Konosuke Kubo e Chiyoko Takahashi não eram próximos. Não eram mais do que vizinhos que por vezes trocavam cumprimentos. No entanto era uma emergência. Deve ter corrido, em pânico, para a boutique, admitido que se encontrava em uma situação muito delicada e apelado para a Sra. Takahashi ajudá-lo. Ela quase com certeza estaria sozinha na loja no momento, e isso teria possibilitado que os dois elaborassem um plano que ninguém mais suspeitaria.

O jardim da frente de Kubo era grande e elevado acima da estrada que passava na frente. Havia um aterro, coberto com uma cerca de bambu, e atrás dele alguma vegetação espessa. Em outras palavras, a casa estava bem escondida de qualquer olhar curioso. A casa e a entrada dos fundos da propriedade da Sra. Takahashi estavam no mesmo nível alto, então deve ter sido relativamente fácil transportar Eiko dessa forma sem ser vista.

Nesse ponto, Eiko já podia estar morta. Não, deve ter morrido, decidiu Asai. Quando Chiyoko Takahashi disse à estudante universitária para correr e buscar o Doutor Ohama, ela estava deitada na sala de tatame nos fundos, sem respirar mais.

— Eu olhei para o meu relógio. É muito importante fazer isso. Eram 16:35 da tarde do dia 7 de março... Suas pupilas estavam dilatadas e seu coração tinha parado de bater. Não havia nada que eu pudesse fazer... De acordo com a Sra. Takahashi, sua esposa deu seu último suspiro cerca de trinta minutos antes da minha chegada... E então baseei a hora da morte no que a Sra. Takahashi me informou... Provavelmente não mais que uma hora... Sim, bem, suponho que é possível...

Todas as palavras do Doutor Ohama. Após questionamentos persistentes de Asai, o médico enfim admitiu que Eiko poderia ter falecido há uma hora.

Asai tinha certeza de que todas as evidências apontavam para essa ser a razão pela qual Kubo havia transferido sua terra para Chiyoko Takahashi.

O Hotel Chiyo apareceu apenas seis meses após a morte de Eiko. As negociações devem ter começado logo após o incidente. Quanto a Sra. Takahashi pagou a Kubo por sua terra?

Asai imaginou o rosto da dona da loja de cosméticos, sua maneira cuidadosa de falar e seu jeito envolvente. Todavia por baixo espreitava algo não tão agradável, uma ganância e astúcia, e a ousadia que vinha com seus trinta e poucos anos. Talvez não fosse apenas a mulher mantida pelo atacadista de cosméticos; e se eles tivessem conspirado juntos para explorar a fraqueza de Kubo?

Hotéis para casais eram um negócio próspero. Lá em cima, todos os hotéis estavam prosperando. Asai imaginou que a Sra. Takahashi havia desistido há muito tempo de seu negócio de cosméticos fracassado e pensou em entrar no ramo hoteleiro. E então, de repente, surgiu uma oportunidade de ouro para adquirir a terra de que precisava. Kubo revelou sua fraqueza quando pediu sua ajuda. Assim, deve ter conseguido um preço excelente. Era chantagem, pura e simples. Certamente, Genkichi Higai deve ter se envolvido de alguma forma. Ou talvez tenham contratado um tipo yakuza para ameaçar Kubo. O nome de Konosuke Kubo pode ter sido adicionado à lista de membros do conselho apenas por uma questão de aparências.

Para dizer a verdade, Asai não estava tão interessado no método exato que a Sra. Takahashi usou para obter a terra de Kubo. Seu interesse real se voltara para o próprio Kubo. O homem que matou sua esposa.

Ele poderia ter investigado se os dias das excursões de Eiko correspondiam aos dias de folga de Kubo, ou aos dias em que saía mais cedo do trabalho, porém realmente não precisava.

De volta ao ministério, Asai examinou documentos, se encontrou com fabricantes e empresários, participou de reuniões, elaborou propostas. Mas em cada momento de silêncio sua mente era assaltada pela imagem do homem alto com o rosto longo.

***

Para aqueles que puderem e quiserem apoiar a tradução do blog, temos agora uma conta do PIX.

Chave PIXmylittleworldofsecrets@outlook.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário