Capítulo 20: Bem, acho que é melhor terminarmos isso
“Hah, eu podia sentir o cheiro dos seus esquemas sujos a léguas de distância.” declarou Amelia, suas vestes flutuando ao vento. “Embora você possa enganar o mundo, nunca poderá me enganar!”
E com aquela colherada cheia de bobagens, ela jogou de lado suas vestes para revelar o traje branco solto que estava usando por baixo. Parecia muito mais fácil de se movimentar.
“Hup!” ela gritou enquanto saltava.
“Wow!” a multidão gritou com admiração.
Amelia pulou da varanda, então...
Splat!
Errou o pouso e beijou o chão.
Oof, isso deve ter doído...
Depois do que pareceu uma eternidade silenciosa, Amelia se levantou de um salto e se sacudiu como se nada tivesse acontecido. Parecia que era feita de um material bem resistente... Deve ter herdado do pai.
Com um dedo dramaticamente apontado para Alfred, ela proclamou.
“Acabou a brincadeira, Al! Entregue-se!”
“Droga!” ele grunhiu. “Como você sabia? Quando me descobriu?”
“Hah, simples! Eu estava olhando para o jardim porque não conseguia dormir, e te vi saindo escondido! Então te segui por curiosidade, apenas para testemunhá-lo se encontrar com esses bandidos e atacar a senhora Lina! Foi quando me ocorreu!”
Sim, dãã... Teria ocorrido a qualquer um naquele momento. Não é lá algo para se gabar...
Espere, isso significa que, depois que a luta começou, ela subiu até o terraço e apenas esperou até que Lorde Clophel estivesse em apuros? Como a mente dessa menina funciona?
Porém, quando Alfred ouviu sua acusação, tudo que fez foi sorrir.
“Entendo... Significa que terei que matá-la também.” ele falou, seus olhos reluzindo com loucura.
“Não tentaria se fosse você.” eu disse com desgosto. “Só há uma maneira de esse cenário acabar para um vilão de segunda categoria como você.”
“Vilão?” Alfred gritou com raiva. “Mas que bobagem! Vocês, idiotas, nunca entenderiam! Estou servindo ao bem maior aqui, pois sou o mais adequado para governar este país! Se eu fosse rei, tornaria este país ainda maior e mais próspero do que jamais foi! Comigo como nosso líder, poderíamos até governar o mundo inteiro!”
Retiro o que disse antes. Esse cara é de terceira categoria, na melhor das hipóteses.
“Heh. Muito bem.” disse Amelia dando um passo à frente. “Então prove sua retidão... Me derrotando!”
Se Alfred era um vilão de terceira categoria, a senhorita Amelia era uma aspirante a super-heroína. Sinto como se estivesse assistindo a uma cena de uma epopeia.
“Não interfira, senhora Lina.” ela disse, seguindo os tropos das sagas heroicas ao pé da letra.
O lado bom é que agora poderia me concentrar em eliminar os peixes pequenos e proteger Lorde Clophel, o que seria moleza.
Sorte pra mim!
Contudo, no meio tempo em que estávamos batendo papo, a luta mortal entre Gourry e Zuma continuava a se desenrolar atrás de mim. Era como se eles estivessem em seu próprio mundo. O pobre Gourry acabou pegando a vara curta aqui... O que, sim, eu meio que forcei na mão dele, mas ainda assim...
Gourry deveria ter tido a vantagem dada sua espada, no entanto Zuma tinha magia. Toda vez que encurralava o assassino em um canto, este retaliaria forçando Gourry a ficar na defensiva com um feitiço que entoava.
“Maldição, isso não está indo a lugar nenhum...” Gourry sussurrou.
Zuma, por sua vez, permaneceu em silêncio. Sabendo que reclamar não melhoraria a situação, Gourry tentou atacá-lo outra vez. E novamente, Zuma recuou.
A batalha dos dois continuou avançando em nossa direção, até chegar a Lorde Clophel... Que se apressou em recuar na minha direção. Cara esperto.
A luta chegou até o homem que Amelia havia eliminado com seu feitiço de antes, onde Zuma decidiu mudar suas táticas.
“Nevoeiro Negro!” ele sibilou.
Uma escuridão assustadora se espalhou ao redor de sua posição, cobrindo em poucos instantes a área.
“Wugh!” Gourry recuou em seguida, para não ser puxado para a escuridão que se aproximava. Uma figura de repente saltou dela em sua direção. “Hah!”
Gourry estocou sua espada, perfurando o alvo... Entretanto não era Zuma!
Empalado na lâmina estava a vítima do feitiço anterior de Amelia. Zuma havia jogado o homem caído a seus pés para fora da escuridão em Gourry para ocupar sua espada.
Contornando o cadáver, o verdadeiro Zuma correu direto para Gourry. Contra qualquer outro oponente ou empunhando qualquer coisa que não fosse a Espada da Luz, Gourry não teria hesitado em jogar sua lâmina de lado. Todavia acabou por hesitar... E, por um segundo, não consegui acompanhar o que aconteceu com meus olhos. As mãos de Zuma se moveram, e seu corpo começou a rolar. Gourry mergulhou para frente, e...
Zing! Um barulho alto e claro ecoou na noite.
Sua espada se partiu enquanto ele próprio rolava pelo chão com um chute de Zuma.
———
“Flecha Flamejante!” Alfred lançou primeiro.
Senhorita Amelia nem tentou desviar. As dezenas de flechas de fogo disparadas por Alfred foram desviadas em várias direções aleatórias sem nem mesmo roçá-la... O trabalho de uma barreira de vento!
“O quê?” Alfred exclamou, seus olhos arregalados enquanto se apressava em passar para seu próximo cântico.
Este foi um que reconheci. Ele claramente sabia que feitiços menores não conseguiam penetrar a barreira de vento, então começou a trabalhar em algo maior. E mesmo enquanto isso acontecia, suas bestas das sombras estavam lentamente se aproximando dela. Porém sem nenhum sinal de pânico, senhorita Amelia apenas começou a entoar em voz baixa algum novo feitiço.
“Presas de Dis!” Alfred entoou, terminando seu feitiço primeiro.
A sombra que projetou na Iluminação dos postes de luz alongou-se de forma não natural, tomando a forma da boca de um dragão. Mais uma vez, invocou uma besta mágica de baixo nível do plano astral em sua própria sombra.
Nada bom! Se aquela coisa mordesse a senhorita Amelia, poderia matá-la...
E, ao contrário da Vinculação das Sombras, esse feitiço não podia ser dissipado com Iluminação. O dragão das sombras abriu suas enormes mandíbulas e seguiu em sua direção!
Nem preciso dizer que eu estava com as mãos ocupadas enquanto isso acontecia. Tentava defender Lorde Clophel e afastar os capangas contratados. Eles não eram lutadores de alto nível nem nada do tipo... Contudo haviam muitos deles. Tinha tempo livre o suficiente para acompanhar as respectivas lutas de Gourry e da senhorita Amelia, no entanto não o suficiente para oferecer qualquer apoio real. Esperava poder acabar com a ralé e ir ajudar um deles, entretanto...
“Graaah! Isso é tão irritante!”
Meu próximo feitiço fez mais alguns capangas voarem.
———
Whip! Gourry se levantou um momento depois. Ele provavelmente se protegeu do impacto do chute de Zuma inclinando-se para frente e recebendo-o com seu peitoral. Todavia quando se levantou de novo, Zuma já corria em sua direção a todo vapor. Preparando sua espada quebrada, Gourry recuou e colocou a mão esquerda no bolso do peitoral.
“Bola de Fogo!” Zuma gritou, conjurando uma luz azul pálida na frente do seu peito.
Naquele exato instante, a mão esquerda de Gourry ficou borrada e Zuma saltou para longe.
Vwoom! Uma explosão tingiu por um instante a névoa noturna de laranja. Gourry jogou uma pedra na Bola de Fogo de Zuma, fazendo-a detonar prematuramente no rosto do assassino. Mas antes que as chamas se apagassem, Zuma emergiu da fumaça. Pronto e esperando, Gourry deu outro golpe!
———
“Quebra de Fluxo!” a voz de Amelia soou alta e clara.
O chão ao redor dela brilhou com uma luz mágica semelhante à Iluminação. Ela tomou a forma de uma estrela de seis pontas, cercou o dragão das sombras e as bestas das sombras de Alfred, então liberou um clarão ofuscante.
Alfred apenas ficou ali, sem voz e boquiaberto. Todas as suas criaturas das sombras desapareceram com a luz.
O feitiço da senhorita Amelia provavelmente funcionava no mesmo princípio que eu usei para escapar da estranha dimensão de bolso de Kanzel. As bestas mágicas sombrias, tendo sido convocadas contra sua vontade, tinham uma conexão tênue com este mundo. A abertura momentânea de um portão de volta para o seu próprio mundo, sob a influência de uma barreira de seis pontas que representava o equilíbrio entre os mundos, as enviou de volta para onde pertenciam.
“I-Impossível!” Alfred olhou ao redor, incrédulo, e quando olhou de volta para a senhorita Amelia... Esta estava em cima dele.
“O quê?”
Smack! O cotovelo dela acertou Alfred no queixo, fazendo-o cambalear e cair de costas. Ele não moveu um músculo depois disso. O cara estava acabado.
E foi mais ou menos nesse momento que acabei com o último dos seus capangas.
———
Gourry desceu sua espada quebrada em Zuma, que ainda estaria fora de seu alcance mesmo se a lâmina estivesse inteira. Porém Gourry não havia calculado mal a distância. Não, quando balançou sua espada, a lâmina ejetou de sua empunhadura e voou em direção ao assassino a curta distância. Pelo visto havia soltado a lâmina quando detonou a Bola de Fogo.
Zuma não teve tempo de se esquivar, então a desviou rebatendo-a pelo lado plano da lâmina. Seus movimentos eram quase desumanos, contudo...
Deu a Gourry uma abertura momentânea.
“Luz, venha!” uivou, conjurando uma lâmina brilhante do cabo de sua espada.
Zuma se moveu rapidamente para se esquivar, no entanto...
Crack! A luz o atingiu no ombro, forçando-o a mergulhar para trás. Gourry tentou pegá-lo com o golpe de volta, mas só roçou o casaco do assassino. Porém seu primeiro golpe cortou o braço direito de Zuma no ombro.
A partida já estava quase decidida agora. Talvez percebendo que havia perdido, Zuma se preparou para recuar. Ele saltou para trás pelo ar...
Que era justo o que estive esperando. De jeito nenhum deixaria alguém tão perigoso escapar.
“Lança Flamejante!”
No instante em que os pés de Zuma deixaram o chão, previ sua trajetória e lancei meu feitiço! Não havia como desviar dessa!
Exceto, para minha total surpresa, que Zuma afastou a Lança Flamejante com a mão restante, dispersando a chama carmesim! Era melhor do que levar um golpe direto, claro, contudo foi uma coisa louca e imprudente de se fazer... Com a mão esquerda agora reduzida a cinzas, o assassino desapareceu pela estrada escura.
“Parece que acabou.” sussurrou senhorita Amelia.
Eu assenti com firmeza. Isso deveria acabar com o caos em Saillune... Entretanto para mim? Seguia não estando fora de perigo.
Tinha que me perguntar... Quão poderoso era o mazoku Kanzel?
———
O amanhecer chegou com o palácio tomado em uma confusão. Nós voltamos, explicamos as coisas para Sir Phil e jogamos o inconsciente Alfred em um dos prédios independentes com um guarda postado junto.
Christopher era nosso maior problema agora. Parecia que Alfred era o principal culpado o tempo todo, no entanto seu pai certamente estava envolvido. A questão era... Até que ponto?
Sir Phil levou Gourry e eu para procurar Christopher. Nós o encontramos sentado sozinho em um sofá no salão de entrada do palácio, olhando para o nada. Nesse ponto, era provável que já tivesse ouvido falar sobre a captura de Alfred, o que o afetou. Seu semblante parecia ter envelhecido da noite para o dia.
“Chris.” Sir Phil o chamou.
“É você, irmão?” sussurrou o segundo príncipe, virando-se para nós com um sorriso de autocensura no rosto.
“Eu sei de tudo.” disse Sir Phil, sentando-se no sofá em frente a seu irmão.
Gourry e eu também nos sentamos, cada um de um lado de Sir Phil. Os membros da realeza sempre carregavam uma adaga para autoproteção, e tínhamos medo de que um Christopher desesperado pudesse atacar de repente Sir Phil se as coisas dessem errado.
Todavia o segundo príncipe apenas fez um leve aceno e disse.
“Como ele está... Como está Al?”
“Ainda inconsciente. Tenho certeza de que acordará em breve.”
“Entendo...” Christopher suspirou.
Um pesado silêncio pairou sobre o salão por um tempo. Ambos os irmãos pareciam igualmente incertos sobre o que fazer a partir dali.
“A culpa é realmente minha.” Christopher enfim falou, tropeçando em suas palavras. “Enchi a cabeça do meu próprio filho com meus planos... Desde criança, não fiz nada além de resmungar sobre a injustiça de nossas circunstâncias. Uma e outra vez falando sobre como poderia ter sido rei se tivesse nascido antes... Então, quando Al me contou seu plano e me apresentou a Kanzel do lado de fora do palácio... Longe de impedi-lo, o encorajei. Alegre, até. Não direi que estava fora de mim... Não, embora soubesse que isso levaria a algo assim, pressionei minhas ambições sobre meu filho e o arrastei para a lama comigo... Eu me arrependo tanto... Como pai...”
Ali, o príncipe ferido tornou a dar um profundo suspiro.
“Castigue-me como achar melhor.” prosseguiu. “É o preço que mereço pagar pela minha vida de ganância. Talvez seja o fim que de fato mereça. Mas Al... Al é diferente. Impus meus desejos e o fiz acreditar que eram os dele próprio. Pode me chamar de pai indulgente se quiser, porém se possível... Por favor... Sei que é egoísmo pedir, contudo... Por favor, meu irmão. Por favor, não seja tão duro com ele...”
“Como será tratado dependerá apenas do próprio Alfred.” Sir Phil respondeu.
Nesse momento, ouvi um tumulto entre os soldados do lado de fora. Uma figura surgiu então na porta, silhuetada pela luz em suas costas. Era Alfred, segurando uma espada na mão.
“Al?” Christopher e Sir Phil exclamaram, levantando-se em seguida.
Houve um tumulto de passos e os soldados o cercaram na porta, mantendo distância.
“Fiquem longe!” o jovem príncipe gritou enquanto cambaleava aos poucos para o corredor. Seu rosto era uma máscara contorcida de loucura.
“Al, como você...?” seu pai o chamou num suave tom.
“Escapei, é claro. Vocês pensaram mesmo que eu ficaria sentado naquela sala?”
“E o guarda?” Sir Phil perguntou em voz baixa.
“O guarda?” um sorriso distorcido se espalhou por seus lábios. “Por favor! Por que eu precisaria de um guarda? No entanto, me lembro de um soldado que não sabia seu lugar... Sabe o que ele me disse? ‘Temo não poder deixá-lo sair’! Que ousadia, não acha? Então o lembrei de sua lealdade! Agora poderá me servir melhor no outro mundo!”
“Basta, Al!” Christopher disse com a voz trêmula.
Os soldados se moveram para nos cercar, todavia a situação deve ter sido totalmente desmoralizante. Nenhum deles atacou o príncipe enlouquecido.
“Pare com isso!” seu pai gritou. “Essa situação foi longe demais, Alfred! Acabou... Está tudo acabado!”
“Não!” Alfred balançou a cabeça apaixonadamente em resposta. “Não, não! Você está errado, pai! Não acabou! Ainda não é o fim!”
Seu olhar se voltou para Sir Phil, com os olhos injetados de sangue e se aproximando a passos lentos. Sir Phil se levantou enquanto Gourry e eu colocamos nossas mãos em nossas espadas.
“Pare! Pare agora!” Christopher insistiu, colocando-se entre Sir Phil e Alfred.
“Saia do meu caminho, pai!” Alfred sibilou com a mandíbula cerrada, seus dentes rangendo de forma audível.
“Pare com isso, Al!” seu pai insistiu.
“Saia do meu caminho!” exigiu enquanto saltava para frente.
“Alfred!”
Crash! Christopher e Alfred colidiram...
Então Alfred caiu no chão.
Os lábios do garoto se moveram ligeiramente. A única testemunha de suas últimas palavras foi Christopher... Que esfaqueou seu próprio filho com sua adaga de autodefesa.
“É assim... Que deve terminar?” Christopher sussurrou, um sorriso triste no rosto. “Sou um fracasso... Como pai...” com essas palavras, ele virou sua adaga para seu próprio peito e...
Clap! Sir Phil agarrou sua mão.
“Irmão! Mas por quê?” Christopher exclamou.
Sir Phil respondeu suavemente.
“Porque... Você é meu irmão.”
———
Amanheceu no dia seguinte. Senhorita Amelia enfiou a cabeça no meu quarto na hora em que estávamos nos preparando para sair.
“Já está indo embora?” perguntou.
“Sim, ainda tem uma coisa que preciso fazer.” respondi com alegria fingida.
Me referia a resolver as coisas com Kanzel. Não estava ansiosa por isso, dado que o maldito podia teleportar pelo espaço e tudo mais, porém não havia necessidade de preocupar a senhorita Amelia com pessimismo e desgraça.
“Hmm...” ela ruminou, olhando nos meus olhos com conhecimento de causa. “O que você está escondendo, senhora Lina?”
“Na-Nada!” acenei minha mão com desdém. “Não estou escondendo nada. Pode ter certeza de que não roubei amenidades do quarto em que vocês tão generosamente me hospedaram...”
“Não isso! Quero dizer, há algo que sabe e não está nos contando!”
“Como o quê?”
“Como... Quem está tentando te matar. Talvez seja Kanzel, suponho, já que desapareceu e tudo mais. Contudo por quê? Quem é Kanzel na verdade?”
“Bem, é complicado...” respondi de forma vaga.
Não sabia bem por que estava atrás de mim, no entanto era óbvio que o assunto não tinha relação com a disputa de sucessão em Saillune. Contar a ela sobre a situação só poderia levar a mais problemas.
“Complicado como?” senhorita Amelia insistiu, forçando a questão.
“Bom, apenas é complicado... Por que está tão interessada?”
“Isso faz meu sangue de justiça correr.” ela proferiu sem fazer nenhum sentido, cerrando a mão direita em um punho. “Tem acontecido muita coisa ultimamente, tanto na superfície quanto por baixo dos panos. Não consigo deixar de sentir que há algo se aproximando no horizonte... Talvez seja apenas uma mudança na maré ou o destino seguindo seu curso, mas meu senso de justiça me diz que é maligno.”
Eu sabia que as sacerdotisas tinham tendência a serem abençoadas com boa intuição, entretanto algo sobre se referir a isso como seu ‘senso de justiça’ fazia parecer super suspeito.
“E, senhora Lina... Embora esteja claro para mim que você não é uma pessoa má, meus instintos me dizem que está envolvida de alguma forma.”
Tenho de dizer... De fato não estava errada sobre toda essa coisa de ‘mal no horizonte’. Porém se dissesse a ela, é provável que usaria minha declaração como desculpa para vir junto.
“Você está pensando demais nas coisas.” desconversei com uma risada forçada.
———
Uma batida na porta me tirou do meu estupor de olhos vidrados.
“Já vou!”
Eu me levantei da cama e fui atender.
“Ei!” disse Gourry.
No momento, estávamos hospedados em uma pousada nos arredores de Saillune. Poderíamos ter saído da cidade antes do anoitecer, contudo acabamos fazendo um pequeno passeio turístico e nos escondendo aqui. Fiquei sentada no meu quarto depois do jantar, sem fazer nada, quando meu companheiro loiro bateu à porta.
“O que foi, Gourry?” perguntei.
“É só que...” ele respondeu vagamente enquanto se sentava na cadeira perto da minha mesa de cabeceira.
Também me sentei de volta na cama, e o silêncio pairou entre nós por um tempo.
“O que há de errado, Lina?” Gourry enfim perguntou, num gentil tom.
“O que quer dizer?”
“Ah, vamos lá. Você não está agindo como sempre. Mais cedo, agiu toda hiperativa quando estávamos andando pela cidade hoje, no entanto pude te ver mergulhada em pensamentos de vez em quando. Além de ter ficado em silêncio durante todo o jantar. Apenas me fale. O que está ocupando sua mente?”
“Hmm...”
“Sei que provavelmente não é algo que possa resolver, mas... Mesmo que não possa, pode ser bom desabafar.”
“...”
Fiquei sem dizer nada por um tempo. O andar de baixo da pousada era um bar, então ficamos sentados ouvindo os bêbados se divertindo lá.
Depois de um tempo, suspirei antes de começar.
“Certo, acho que esconder não vai nos fazer bem. Esta tarde, a senhorita Amelia veio até mim e disse: ‘Há um mal no horizonte, e acho que você está envolvida de alguma forma’.”
“Soa alarmante.”
“Sim, acho sim... Só que me fez pensar.”
“Que é o carma te alcançando?”
“Não! Sério, por que acha que Kanzel está atrás de mim?”
“Hã? Não pensei a respeito...” Gourry parecia um pouco inseguro, como se não conseguisse entender por que toquei no assunto. “Quer dizer, nunca o encontramos antes... Ele disse algo sobre Seigram, então pensei que talvez Seigram tivesse ido chorar para Kanzel depois que o espancamos... Porém não faz nenhum sentido. Eles são mazokus, não uma família criminosa.”
“Certo?” forcei um sorriso no rosto.
“Então, o que está pensando?”
“Para ser franca, não tenho a menor ideia do por que Kanzel está atrás de mim. Mas é possível... Talvez... E se não for Kanzel que está atrás de mim, e sim os mazokus no geral?”
Gourry ficou em silêncio em resposta a isso.
“Isso explicaria, não é?” continuei, incapaz de manter a depressão fora da minha voz.
Um tempo atrás, nós lutamos contra um mazoku de alto escalão e, com muita sorte, conseguimos derrotá-lo. Esse era Olhos de Rubi Shabranigdu (uma parte dele, pelo menos), o mestre de todos os mazokus em nosso mundo, que foi dividido em sete partes pelo Dragão Chamejante Ceifeed na era mitológica. Sim, já sei, parece história de pescador. Porém, quer saber, às vezes essas coisas são verdade, ok?
Para ser honesta, antes de toda essa experiência, eu apenas presumia que as lendas do Lorde das Trevas eram meias-verdades, na melhor das hipóteses. A história que todos conheciam (exceto Gourry, pra variar) afirmava que uma das partes de Shabranigdu conseguiu reviver mil anos atrás, e agora estava presa no gelo nas Montanhas Katart, direcionando os mazokus do mundo... Sim, parece que essa parte também é verdade. Então o ser conhecido como o Lorde das Trevas do Norte realmente me deixaria escapar depois que derrotei um de seus semelhantes?
Gourry também esteve envolvido naquele incidente, então esperava que compartilhasse minha preocupação.
“Por que os mazokus como um todo iriam te perseguir?” ele perguntou, completamente imperturbável.
Ah, pelo amor de Deus homem!
Presumi que seu silêncio era porque considerava a gravidade da situação, contudo acho que só não fazia ideia do que eu estava falando.
“Lembra quando nos conhecemos e usei um feitiço mais poderoso que o Dragon Slave para derrotar o Lorde das Trevas?”
“Sim, e daí?”
“Ugh! Não é óbvio?”
“Não.”
“Droga... Um conselho dos sábios, amigo: pensar é uma questão de usar ou perder. Deixe seu cérebro atrofiar e acabará dependente do seu intelecto de lagarto.”
“Está fazendo parecer que não penso em nada.”
“Você pensar? Alguma vez?”
“Apenas diga logo o que ia dizer.”
Sei que já deveria estar acostumada neste momento, no entanto essas pequenas trocas nossas continuavam me espantando.
“Nós provamos que um mero humano pode derrotar um mazoku de alto escalão. Talvez, na época em que o derrotamos, sua consciência estivesse em sintonia com as outras partes... E agora o Lorde das Trevas do Norte sabe o que aconteceu e não está nada feliz. Talvez pense que, como alguém que pode usar uma magia mais poderosa do que um Dragon Slave, sou uma ameaça. E se enviou Kanzel para se livrar de mim? Explicaria o que a senhorita Amelia disse.”
Gourry tornou a ficar em silêncio.
“Está me entendendo?” perguntei.
“E-Entendi, mas então significa que esta é uma situação muito séria, né?”
“Muito séria, sem dúvida. Significa que mesmo se derrotarmos Kanzel, veremos mais e mais assassinos vindo em nossa direção. E eles não vão parar de tentar me matar até que consigam.”
“Você parece bem tranquila a respeito...”
“O inferno que estou. Porém é tudo apenas uma teoria. Ainda há coisas que não explica.”
“Como o quê?”
“Os ataques que Kanzel usou.” falei, levantando um dedo demonstrativo. “Se realmente me quisesse morta, poderia ter explodido um quarteirão inteiro... Porém tudo o que usou foram aqueles pequenos feitiços de ataque. Por quê? Não há nada que obrigue um mazoku a se conter contra humanos.”
“Talvez estivesse preocupado com danos colaterais.”
“É, tá bom... De toda forma, essa é uma das coisas em que estive pensando.”
“Hmm... Contudo parece que você está determinada a enfrentá-lo de novo de qualquer maneira.”
“Bem, sim. Se não resolvermos as coisas logo, ele vai continuar vindo atrás de mim... E, deixa eu te dizer, isso vai acabar com meu estilo de vida.”
“Então por que você simplesmente não pergunta a ele sobre isso? Tenho certeza de que ficaria feliz em explicar a situação.”
Hmm... Era verdade que havia algum tipo de regra não escrita de que os vilões tinham que rir e revelar todos os seus planos durante a batalha final. (Pelo menos, essa foi a taxa vigente na minha experiência.)
“Bem, isso pode funcionar, entretanto... Sinto que devo trabalhar em algumas hipóteses em preparação.”
“Esse esforço vai te ajudar a vencê-lo?”
“Não, só que...”
“Então talvez seja melhor não pensar tanto nisso.”
“Talvez.”
Eu me vi sorrindo. Pela primeira vez, Gourry tinha razão.
“Tudo bem.”
Sentindo-me revigorada, eu me espreguicei.
“Agora, vamos levantar nossos espíritos com um pequeno lanche da meia-noite no bar lá embaixo. Hoje à noite eu pago.”
“Wow, um raro deleite.” Gourry disse enquanto se levantava.
“Uma refeição de luxo!”
———
Paramos de repente.
Estávamos fora da cidade. Atrás de nós estavam os prédios brancos e a agitação de Saillune, banhados pelo sol do meio-dia. Uma floresta dispersa se estendia à nossa frente. Uma estrada cortava direto por ela, o que nos levaria por várias cidades grandes em nosso caminho para o Reino de Gailia.
E bem à frente estava Kanzel, encostado em uma árvore.
“Nós deixamos você esperando muito tempo?” rosnei.
“De jeito nenhum no esquema da vida que vivi.”
Sabia que não poderíamos lutar aqui. Se fôssemos com tudo, a cidade acabaria sofrendo a maior parte do dano. Queria mudar de local, no entanto...
Kanzel saiu para a estrada e casualmente virou as costas para nós.
“Há um bom lugar para lutar à frente. Sigam-me.” ofereceu.
Gourry e eu trocamos um olhar. Se Kanzel nos atacasse no meio de uma cidade, ficaria impossibilitada de usar meus grandes feitiços... E embora odiasse admitir, não havia quase nenhuma maneira de conseguir vencer dessa forma.
Todavia, ao ar livre, sem ninguém por perto? Posso conjurar o que quiser. Posso vencer nesse cenário! Provavelmente. Entretanto...
“Por que a mudança de local?” perguntei enquanto seguíamos Kanzel.
Sua resposta me surpreendeu.
“Não posso ferir as pessoas da cidade.”
Gourry e eu ficamos de olhos arregalados. Mal conseguia acreditar no que ouvia.
“Isso é... Muito atencioso da sua parte.”
“Não entenda errado. Tenho ordens para manter as baixas humanas no mínimo, além de você. Apenas isso. Embora aquele assassino humano que contratei foi bastante indiscriminado na busca do nosso objetivo...”
Aha. Agora explicava por que só desistiu e desapareceu quando mergulhei na multidão de homens de Alfred na cidade. Porém, se não deveria machucar humanos, por que teve permissão para contratar um assassino em massa como Zuma? Lógica demoníaca, cara. Quem consegue entender?
Contudo... Suas palavras deixavam claro que havia alguém puxando as cordas atrás de Kanzel.
“Ordens de quem?” perguntei, ainda seguindo atrás de Kanzel. A ideia de esfaqueá-lo pelas costas era super tentadora, no entanto ainda que tivéssemos deixado a cidade, seguia tendo muitos civis ao longo da estrada. Não podia começar uma briga aqui.
“Aquele homem ali... Gourry, certo? Pretendo deixá-lo viver, então não posso responder à sua pergunta.”
“Tch. Ok, tudo bem. Deixe-me tentar de novo: por que está atrás de mim?”
“Nós não gostamos de você.” Kanzel respondeu sem se virar.
“Bem, é bastante óbvio. Mas por que vocês não gostam de mim? Se me vencer na luta que está por vir, gostaria de saber o motivo pelo qual fui morta. Ou, se conseguir te matar, sinto que tenho direito a uma resposta.”
“Certamente. Gostaria de lhe contar, todavia por vários motivos, não posso.”
“A vida é dura pra um lacaio, hein?”
“De fato.”
Esperava irritá-lo, contudo ele ignorou meu comentário. Recusando-se a atender minhas provocações mesquinhas... Esse cara era um osso duro de roer.
“Parece que ainda temos algum tempo antes de chegarmos ao nosso campo de batalha, então posso muito bem fazer mais algumas perguntas ao longo do caminho. Primeiro, o que aconteceu com aquele assassino que contratou, Zuma?”
“Desapareceu depois que vocês dois arrancaram as suas duas mãos. É tudo o que sei.”
Ele não pareceu se importar nem um pouco. Não há tempo para fracassos, imagino.
“Acho que você veio até mim três vezes no palácio, mas...”
“Sim. Eu me segurei devido à localização e falhei todas as vezes.” Kanzel respondeu, virando em um caminho lateral. Pelo visto estávamos nos aproximando.
“Agora, aquelas coisas estranhas que invocou na segunda vez e o inseto gigante na terceira vez... De onde as tirou?”
“A segunda vez foram demônios de baixo nível. Eles não podem existir neste mundo por conta própria, então possuem seres deste mundo, transformando-os no processo. Acredito que vocês se referem a eles como ‘demônios inferiores’. O que viram é como se parecem no mundo de onde vieram... Embora não sei ao certo como se parecem aos olhos humanos.”
Oho. Então aquilo são demônios inferiores... Agora explica por que não podia feri-los com ataques físicos. Isso tudo foi muito educativo. Posso reunir tudo em um relatório e vendê-lo por um preço alto para algum conselho de feiticeiros em algum lugar. Supondo que sobrevivesse à batalha que estava por vir, é claro...
“A terceira vez foi uma das bestas mágicas que dormem no magma abaixo do Vulcão Kravale. Acho que você viu seu poder por si mesma.”
“Uma das bestas mágicas? Quer dizer que há mais dessas coisas por aí?”
“Embora eu não saiba exatamente quantas.”
Whoaaa... O mundo é realmente vasto.
“Mais alguma pergunta?” Kanzel perguntou.
Pensei por um minuto antes de responder.
“Só uma. Acredito que não, porém você não estava por trás de toda aquela confusão em Saillune, certo? Não estava manipulando Alfred ou coisa do tipo, certo?”
“Com certeza não. Ele buscou uma mão direita para ajudar a executar seu plano, e usei um pouco de magia para me tornar o candidato principal, nada mais.”
“Entendo. Eu confio em você.”
“Confia?” mantendo o ritmo, ele então disse. “Agora, diga adeus ao seu companheiro. Está quase na hora.”
Chegamos a uma clareira, um grande campo verde do tamanho de um quarteirão. Surgiu do nada como uma memória recém lembrada. O caminho o cortava, então desaparecia de volta na floresta do outro lado.
Naturalmente, não havia uma alma por perto. Mesmo que estivéssemos no meio da floresta, não havia um único pássaro cantando ou inseto zumbindo. Será que todos eles partiram, sentindo o perigo que se aproximava?
Kanzel parou no meio do caminho, enfim se virando para mim pela primeira vez.
“Nada a dizer? Nenhuma despedida?” perguntou.
“Ainda acho que posso vencer.” devolvi uma resposta honesta.
“Como quiser. Então comecemos.”
Fwsh! Na deixa de Kanzel, Gourry e eu saímos correndo pela grama alta. Não havia muito sentido em se distanciar de Kanzel, que podia teleportar à vontade. Tudo que queria era um tempo para entoar um feitiço.
Gourry ficou logo atrás de mim, a Espada da Luz já desembainhada.
Kanzel não havia se movido de sua posição inicial. Estaria esperando para atacar no momento em que liberasse meu feitiço? De qualquer forma, não tinha escolha a não ser tentar... Então por que não começar com um estrondo?
“Explosão Ragna!”
Fwoosh! Um pilar de escuridão se ergueu de um pentagrama invertido que se formou ao redor do ainda imóvel Kanzel, então explodiu com plasma preto em seu centro! Este feitiço era poderoso o suficiente para destruir algo como um demônio de bronze com um golpe, entretanto...
“Você parece bem habilidosa... Para uma humana.”
O plasma o atacou, contudo Kanzel apenas sorriu.
“Terá que fazer muito mais para me ferir.”
No momento em que essas palavras saíram de sua boca, meu pilar escuro se despedaçou!
“O quê?” eu me vi gritando enquanto parava no meio do caminho.
O braço de Kanzel se moveu. Sua mão se virou em minha direção, disparando quatro raios de luz mágica de seus dedos.
“Sem chance!” Gourry gritou, mergulhando na minha frente.
Sua intenção era me proteger com seu próprio corpo e cortar os feixes mágicos com a Espada da Luz!
“Gourry!” gritei, no entanto ele ficou parado. A luz mágica, por sua vez... Logo antes de atingi-lo, mudou de curso!
Ah, se eu tivesse tempo de desviar...
Os quatro raios circularam em torno de Gourry e perfuraram minhas pernas! Com um grito silencioso, caí na grama.
Kanzel havia acertado os músculos da coxa e os tornozelos de ambas as minhas pernas. Os ferimentos em si não eram tão sérios, nem estavam sangrando, mas o menor movimento me causava dores lancinantes. Mal poderia fazer alguma coisa nesse estado.
Parece que subestimei esse cara. Kanzel era mais forte do que imaginei!
“Lina!” Gourry gritou, aterrorizado.
“Estou bem! Não é tão ruim assim!” respondi, forçando um sorriso.
“Claro que não. Me certifiquei de que não fosse fatal.” disse Kanzel, sua voz diferente. Havia algo por trás de seu tom imaculado de sempre. “Não pretendo acabar com você imediatamente. Quero que seu fim seja de uma agonia excruciante ou loucura. De toda forma, saiba que não será uma morte rápida.”
Senti um arrepio percorrer minha espinha. Por fim pude identificar a emoção espreitando na voz de Kanzel... Era exaltação.
Isso é loucura! Quem se excita torturando uma pessoa?
“O que foi? Você não me parece satisfeita.” disse Kanzel com um sorriso frio... Não, um sorriso enlouquecido.
Não, maldito, claro que não! Quem ficaria feliz em saber que está preste a ser atormentado até a morte?
Nesse ritmo, não tinha um segundo a perder. Eu tinha que acabar com esse cara agora, de uma vez por todas.
“Pare! Por que está fazendo isso?” Gourry exigiu, a fúria estampada em seu rosto.
“Por quê?” Kanzel perguntou enquanto caminhava lentamente em nossa direção. “Você não sabe o que os mazokus consomem para sobreviver?”
Ah... Fui atingida por uma terrível pontada de arrependimento.
“A fonte do nosso poder é o miasma, as emoções negativas produzidas por todos os seres vivos. Medo, raiva, tristeza, desespero. É a melhor das iguarias para nossa espécie! E a maneira mais eficaz de obtê-lo é por meio da dor e do sofrimento!”
Claro... Quando lutamos na cidade antes, Kanzel tentou me matar com um único golpe. Tudo porque alguém mais alto na hierarquia ordenou que não machucasse outros humanos, e Kanzel sabia que as pessoas iriam aparecer se nossa luta durasse muito tempo. Foi por essa razão que tentou acabar comigo antes que houvesse intervenções.
Quanto ao motivo pelo qual nos trouxe aqui... Era obviamente, em parte, para evitar que outros fossem arrastados para nossa luta. Mas também parecia que ele queria brincar comigo. Em outras palavras... Kanzel queria se banquetear com meu desespero e medo, e a raiva e tristeza de Gourry.
Porém... Esse excesso de confiança seria sua ruína! Eu já tinha terminado de entoar meu feitiço!
“Dragon Slave!”
“O quê? Maldição...”
Fwooooom! A luz vermelha consumiu o mazoku e fez seu próprio corpo explodir!
Dragon Slave... O feitiço mais poderoso do repertório humano invoca Shabranigdu, o soberano de olhos rubis de toda a escuridão em nosso mundo. Nem mesmo um poderoso mazoku deveria ser capaz de aguentar um golpe direto dessa gracinha.
O meu o atingiu de frente também, e em um momento em que sua guarda estava relaxada.
“Conseguimos, hein?” falei, piscando para Gourry apesar da dor nas minhas pernas.
“Sim... Você conseguiu.” Gourry respondeu, estendendo sua mão para mim, que estava deitada na grama.
“Oh, conseguiu mesmo...” uma voz rouca veio de trás... Da fumaça persistente. Nós congelamos. “Eu realmente senti essa...”
Não pode ser...
Por fim, uma figura humanoide saiu aos poucos da poeira que se dissipava. Sem cabelo, sem orelhas, sem nariz ou boca... As únicas coisas na carne pálida e inchada de seu rosto eram dois olhos arregalados, muitas vezes maiores que os de um humano normal.
Kanzel! Esta deve ser sua verdadeira forma em nosso mundo. Contudo... Como...
Ele havia sofrido muitos danos, com certeza, no entanto como diabos seguia se movendo após um golpe direto de um Dragon Slave?
“Vocês parecem ter uma impressão errônea de nós, mazokus.” disse Kanzel, sua voz parecendo vir de várias direções. “Ainda que invoque o poder de Shabranigdu, seu poder ainda deve ser canalizado através da capacidade de um humano. Isso pode ser o suficiente para se livrar de mazokus de baixo escalão, entretanto contra um mazoku de meio escalão como eu? Não direi que não fez nada, todavia é bem óbvio que não é o suficiente para me matar de um só golpe.”
“M-Meio escalão?” me peguei elevando voz.
“É a primeira vez que ve o poder real de um mazoku? Ou apenas assumiu que era imparável porque matou vários de nível inferior?” ele perguntou, voltando a se aproximar devagar.
“Recue!” Gourry uivou.
Com a Espada da Luz pronta, se colocou no caminho de Kanzel. Ele então balançou sua lâmina corajosamente...
“Saia do meu caminho!” o mazoku rugiu.
Kanzel moveu sua mão esquerda estendida pelo ar, produzindo uma onda de choque mágica. Gourry a bloqueou com sua Espada da Luz, porém a onda de choque prevaleceu!
Fwsh! Perdendo o cabo de guerra metafórico, Gourry saiu voando... Não deixando nada entre mim e Kanzel.
“Heh...”
Com êxtase em seus olhos, Kanzel levantou uma mão em minha direção. Uma luz mágica vermelha saiu dela! Gritei e me contorci pela dor ardente em meu flanco.
“Pare com isso!”
Gourry veio correndo, Espada da Luz em mãos. Outro conjunto de raios perfurou meu corpo, um após o outro. Nenhum de seus ataques atingiu meus pontos vitais. Kanzel estava se esforçando para me torturar, assim como havia prometido.
A dor estava deixando minha consciência nebulosa. Conforme ela desaparecia, os ataques cessaram.
Hã...?
E no momento em que voltava para mim, os ataques recomeçavam. A situação era a pior possível!
A próxima coisa que notei foi Gourry sobre nós, cortando Kanzel... Contudo pouco antes de sua lâmina brilhante fazer contato com o mazoku, algo preto condensou em um escudo e o defendeu de cada um dos golpes de Gourry.
“Pare com isso! Pare agora! Pare! Pare!” Gourry gritou, irritado e desesperado enquanto atacava Kanzel.
O mazoku, por sua vez, gargalhava.
“Gwahahaha! Eu posso sentir! Sua raiva, sua angústia! Que sabor! Que requintado! Gwahaha! Vamos, desespere-se! Sofra!”
Pode ter durado alguns momentos, talvez minutos... Não me lembro bem. No entanto a próxima coisa que percebi foi que estava nos braços de Gourry e Kanzel estava parado um pouco longe. Parecia que Gourry tinha conseguido chegar ao meu lado e me proteger fisicamente dos ataques de Kanzel.
“Lina! Fale comigo, Lina!”
“Gourry...”
O menor movimento fazia com que uma dor lancinante atravessasse meu corpo, entretanto não estava em perigo mortal. Ainda conseguia falar.
“Ouça, Lina. Você vai ter que usá-lo.” Gourry sussurrou em meu ouvido para que Kanzel não pudesse ouvir.
“Usar... O quê?”
“Aquele feitiço. O mais poderoso!”
Giga Slave...
Eu voltei a mim mesma. Gourry se referia ao feitiço mais forte que existe, um que talvez só eu pudesse usar. Ele invocava o poder do Senhor dos Pesadelos, um ser ainda mais poderoso que Shabranigdu. Foi o que usei para derrotar o Lorde das Trevas quando o enfrentamos antes. Era sem dúvida mais forte que um Dragon Slave, e com certeza forte o suficiente para matar Kanzel. Mas...
“Não.” respondi.
“Por que não?”
“Não posso controlá-lo nesse estado. Mataria todos nós...”
Aquelas palavras deixaram Gourry mudo. Se falhasse em controlar o feitiço em questão, o próprio mundo poderia ser destruído... Foi o que alguém me disse uma vez. Não tinha certeza se era verdade ou não, porém não estava com pressa de testar a teoria.
De qualquer forma, o feitiço ainda consumia uma quantidade enorme de energia vital. Se o usasse agora, funcionasse ou não, acabaria sendo o meu fim.
O que me deixava apenas uma escolha...
“Não há nada que possamos fazer?” Gourry perguntou em desespero.
“Há...” respondi.
“Então vamos tentar!”
Você tem certeza... Está tudo bem em concordar assim? Eu tive que me perguntar. Mas se Gourry insistisse, então era o que faríamos.
“O que você precisa de mim, Lina?”
“Apenas me defenda e coloque tudo o que tiver para atacá-lo com a Espada da Luz como fez antes.”
“E depois?”
“Isso é tudo.”
“Entendido!” Gourry concordou com um aceno firme antes de se levantar.
“Terminou suas despedidas?” Kanzel perguntou.
A exaltação brilhou em seus olhos. Com outro golpe de mão, Gourry foi jogado para trás novamente.
Consegui suportar a dor e me sentar.
“Oh?” Kanzel murmurou, impressionado. “Vejo que tem espírito. Porém vou fazê-la gritar de novo muito em breve.”
Ignorei sua ameaça e comecei a entoar mais uma vez.
Tu que és mais sombrio que o crepúsculo...
“O feitiço de Shabranigdu de novo?” Kanzel zombou enquanto Gourry conseguia se levantar e preparar a Espada da Luz.
Tu que és mais vermelho que o sangue...
“Resistindo até o fim... É patético. Estou decepcionado.”
Juro em teu nome exaltado...
“Posso sobreviver facilmente a mais uma ou duas explosões.” ele se gabou enquanto Gourry o atacava.
Obscurecido, nas profundo do fluxo do tempo...
“Contudo elas doem.” ele continuou enquanto Gourry erguia sua lâmina.
Faço esta promessa à escuridão aqui...
“Você é um incômodo. Acho que é hora de me acabarmos com isso.” Kanzel declarou, repelindo a Espada da Luz que se aproximava com outro escudo de sombras conjurado.
Então todos aqueles em igual medida...
Kanzel ergueu sua mão, e uma luz se condensou dentro dela. Gourry ergueu sua espada em resposta.
Gah! Não vou terminar meu encantamento a tempo!
No entanto, naquele momento... Uma coluna de fogo azul engoliu o demônio!
“Gwaaaaagh!” Kanzel emitiu um grito lamentoso em resposta.
Aquilo foi... Um Ra Tilt, o feitiço astral mais forte que existe!
Kanzel se virou diante do ataque inesperado e viu uma pequena figura... Senhorita Amelia!
Aproveitei a oportunidade para terminar meu feitiço. Tudo o que precisava fazer agora era entoar as palavras de poder! Observei enquanto Gourry erguia a Espada da Luz e...
“Dragon Slave!” liberei meu feitiço.
“Eu disse que é inútil!” Kanzel rugiu.
Entretanto, diante de todos os nossos olhos... A espada reluziu, sua lâmina brilhante ficou da cor de sangue.
“O quê?”
Enquanto o mazoku gritava, a lâmina de luz o cortou de cima a baixo. Ele não conseguiu nem mesmo soltar um estertor quando Gourry o partiu em dois e Amelia selou seu destino com outro Ra Tilt. O corpo de Kanzel se transformou em pó branco, que foi levado pelo vento antes mesmo de atingir o chão.
Finalmente... Acabou. Devo ter ficado tão aliviada que perdi a consciência em um instante.
———
“A propósito, Lina, o que você fez lá atrás?” Gourry perguntou.
No dia seguinte, após nossa batalha com Kanzel, eu estava deitada na cama sem nada melhor para fazer. Pelo visto, fui levada para os médicos mágicos de Saillune para tratamento... Outra vez. Parece que nunca consigo me lembrar de chegar aqui.
Aliás, meu médico supervisor dessa vez foi o Mestre Grey. Aparentemente ele também faz turnos aqui. Também me disse que Sylphiel seguia tendo ataques de sono de vez em quando. Acho que ela não havia se recuperado por completo do choque. Mas deixando tudo isso de lado...
Minhas feridas já estavam curadas e estava quase recuperando minha melhor forma. Fiquei em repouso na cama só por precaução.
“Lá atrás?” dissimulei.
“Sim. A Espada da Luz de repente ficou vermelha, e pude cortá-lo sem problemas. O que foi tudo aquilo?”
“Ah, apenas lancei meu Dragon Slave na Espada da Luz. A espada canalizou e amplificou o feitiço, cortando assim as defesas de Kanzel.”
“Ah, entendi.” Gourry bateu o punho na palma aberta... E então parou. “Ei, espere.”
“O quê?”
“Isso não poderia ter explodido a Espada da Luz?”
Hum, então ele percebeu.
“Ah, bem, sabe como é! Hehehehe...”
“Não pense que vai se safar dessa fazendo um rostinho fofo! Era uma possibilidade, não era?”
“Bem, foi você quem disse ‘vamos fazer isso’ antes que eu pudesse explicar! Além do mais, essa espada resistiu a um Giga Slave! As chances eram minúsculas de que um Dragon Slave fizesse tal coisa.”
“Quão minúsculas?”
“Tipo, cinquenta por cento?”
“O quê?”
“Estou brincando! Com certeza menos de 10 por cento.”
Não é uma desculpa ou uma mentira branca; era minha estimativa genuína. Mesmo sendo uma arma lendária, a Espada da Luz parecia superar em muito qualquer capacidade humana... Parecia que ainda tinha muita pesquisa a fazer sobre ela.
“Sendo assim... Qual era o problema de Kanzel com você, afinal?” senhorita Amelia interrompeu. Não faço ideia de quando chegou aqui.
“Ah, bem, uh... Pelo que disse, estava agindo sob as ordens de alguém.” respondi, inclinando a cabeça.
No mínimo, agora era óbvio que esse tal ‘alguém’ não era o Lorde das Trevas do Norte nem Olhos de Rubi Shabranigdu.
Como sei disso, você pergunta? Simples. Kanzel disse ‘Shabranigdu’, não “Senhor Shabranigdu”. E ele claramente não era do tipo rude e insubordinado por natureza... O que significava que algo complicado devia estar acontecendo no mundo dos mazokus.
“A propósito, senhorita Amelia... Agradeço por me salvar, é claro, mas o que está fazendo aqui?”
“Não é óbvio?” ela disse, gesticulando. “Persuadi meu pai a me deixar sair do palácio e perguntei por toda parte sobre vocês antes de conseguir encontrá-los! Quando te encontrei, Kanzel te colocou contra a parede, então lancei um feitiço rápido e...”
“Não, entendo essa parte.” falei, interrompendo-a. “Estou perguntando por que veio atrás de nós e por que ainda está aqui.”
“Eu já te disse!” ela piscou para mim e continuou. “Tem algo no horizonte, lembra? E você parece estar conectado a isso. Quero descobrir o que é, e se for maligno, vou esmagá-lo com o martelo da justiça!”
Amelia estava pegando fogo, fugindo para seu próprio mundinho. Não me incomodava muito, porém imagino que incomodasse os outros pacientes.
Além do mais, é realmente aceitável começar uma jornada por um motivo tão vago? Contudo, estou me repetindo aqui, tenho que admitir que eu mesma me aventurei porque minha irmã mais velha, lá em casa, me disse para sair e ver o mundo...
“De qualquer forma, vou ficar com vocês de agora em diante. É um prazer!” Amelia afirmou como se não fosse grande coisa.
“Não deveria perguntar a Sir Phil...”
“Já o fiz. Eu lhe disse que o convenci a me deixar sair do palácio.”
Geh. Como se convence aquele cara sobre qualquer coisa?
“Está fazendo soar fácil, senhorita Amelia, entretanto temos uma luta difícil pela frente... Talvez até mortal.”
“Estou ciente! No entanto não quero passar todo o meu tempo como uma princesa protegida em um palácio. Quero me dedicar à justiça! Viver uma vida tumultuada! Nossas velas devem queimar ardentes e brilhantes! Ah... E já que somos amigas agora, deveria me chamar de ‘Amelia’ sem toda essa coisa de ‘senhorita’.”
“Não acho que haja como dissuadi-la.” disse Gourry, um tanto assustado.
Argh... Minha cabeça está doendo.
“Ok, agora que isso está decidido, senhora Lina... Quero dizer, Lina, para onde vamos agora?”
Não tenho certeza se alguma coisa tinha sido ‘decidida’ por mim, porém... Tudo bem.
Tinha considerado visitar minha casa antes de sermos sugados para todo esse drama, mas parecia que eu não teria essa oportunidade. Não sabia por que eles estavam atrás de mim, contudo se havia mazokus se metendo na minha vida, teria que aprender muito mais sobre eles.
Portanto, nosso destino seria a terra da lenda sombria...
“Para o Reino de Dils.” anunciei com naturalidade.
Posfácio:
Cena: O Autor e L
Au: O próximo volume da reimpressão já foi lançado!
L: Eles estão chegando rápido e furiosos, não estão? Então, nós conversamos a respeito e, começando com este volume, faremos o posfácio juntos!
Au: Houve muito mais do que apenas conversar... Mas não vou dizer o quê!
L: Fique quieto!
Au: Bem, tenho que dizer... Sinto como se alguém tivesse sido deixado de fora e fica de mau humor quando fazemos isso assim.
L: Oh, quer dizer meu subordinado, S? Ele tem muito pouco para fazer ultimamente, porém pretendo cedê-lo um posfácio completo em breve. É um acordo.
Au: Um posfácio inteiro? Bom, acho que pode ser aceitável, dada a velocidade com que esses lançamentos estão acontecendo.
L: Certo. Essas reimpressões rápidas significam que terei mais tempo de tela nos momentos posteriores, então posso me dar ao luxo de ser generoso. Pensando bem, deveríamos colocá-los para fora ainda mais rápido!
Au: Não seja ridículo! Já tenho quatro livros saindo em junho e julho cada, graças a isso...
L: Quatro, hein? Bastante assustador. Você tem certeza disso, Fujimi Shobo? Se confiar nesse cara, ele irá decepcioná-lo!
Au: Não é verdade! Embora eu também esteja me perguntando se vai ficar tudo bem...
L: Contudo quatro volumes significam três reimpressões por volume, além de suas outras séries e Slayers Special, respectivamente, certo?
Au: Sim... Espera, não!
L: Hein? Não é Special?
Au: Bem, é essencialmente o volume 31 de Special. No entanto mudamos o formato do design e o título porque achamos que os novatos do anime poderiam se sentir intimidados ao comprar o 31º volume. Então, em vez de Slayers Special, agora é Slayers Smash.
L: Mas é mais do mesmo, certo?
Au: Sim. São as palhaçadas de sempre. Espero que os leitores continuem gostando como sempre, apesar da mudança de título.
L: Há alguma alteração ou adição além do título? Nenhum livreto bônus de capa dura de 1.200 páginas e duas partes sobre os segredos de L?
Au: Um livreto de 1.200 páginas? Seria maior que os próprios romances!
L: Bom, como um livreto, o papel teria metade do tamanho.
Au: Não muda nada! Além do mais, se tiver 1.200 páginas com metade do tamanho, não pareceria apenas um grande cubo de papel?
L: Hmm... Porém eu gosto da ideia de um livreto gigante. Acho que deixaria os fãs muito felizes. A primeira edição pode vir com bife e caranguejo de alta qualidade de brinde!
Au: Vai deixar todas as livrarias fedidas! De qualquer forma, é apenas um título diferente, é isso!
L: Hmmm... Sendo assim, contanto que não signifique menos holofotes sobre mim, não me importo. Como o enorme posfácio que você me deixou fazer da última vez e tudo mais.
Au: Não te deixei fazer aquilo. Certo, não há problema em você discutir o cenário e as coisas que quero ou não explicar. Como sobre Amelia, que estreia neste volume. Claro, não podemos fazê-lo toda vez que um novo Smash é lançado.
L: Com Amelia, quer dizer aquela história sobre uma certa família? Ou o fato de que seu nome vem da nação altamente hipócrita da Am***ca? Ou aquela vez que escreveu histórias paralelas mais tarde e começou a integrar a narrativa dela no anime?
Au: Sim, esse tipo de coisa. Acho que talvez devesse estar nessas reimpressões. A maioria das histórias adicionais que explicamos não estão relacionadas a contos, e sim aos romances.
L: O quê? Quer dizer que os esquisitos que aparecem nos contos não têm nenhuma história comovente?
Au: É claro que não! Não posso dar histórias para personagens que violem o senso comum, o cenário e até mesmo as leis da física! Como a ‘boa esposa’ Josephine... Tente inventar uma história que explique por que ela é daquele jeito!
L: Hmm (pensando)... Oh! Já sei! Talvez ela tenha sido uma esposa normal um dia. Então, uma noite, um meteorito cai nas montanhas, então sai para encontrá-lo sozinha... E, ao voltar para casa, está diferente!
Au: Implantaram algo nela?
L: Nah, é mais como um parasita.
Au: Essa é a explicação padrão por trás de todos nos contos?
L: Sim. E?
Au: É um absurdo! Lina teria coisas mais importantes com que se preocupar do que mazokus em um mundo como esse!
L: Ah, essa pode ser a terceira revelação! O slogan será: ‘Tudo é tedioso agora!’
Au: Não vou fazer isso! Realmente tornaria tudo tedioso!
L: Esperamos que você continue gostando das reimpressões, estamos ansiosos pela próxima reviravolta em Slayers Smash!
Au: Não, pare! Não encerre o posfácio de uma forma estranha!
Posfácio: Fim.
***
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