sábado, 16 de dezembro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 10 — Capítulo 133

Capítulo 133: Assim que voltou à barulhenta guilda

Assim que voltou à barulhenta guilda, Angeline enfim sentiu como se tivesse retornado à sua vida normal. O piso de pedra tosca e as paredes outrora brancas, agora desbotadas em cinza, estavam do jeito como se lembrava. No entanto, parecia um pouco mais animado do que costumava ser, e não conseguia afastar a sensação de que havia mais pessoas indo e vindo.

“Hã? Então haverá uma em Turnera?” Sola exclamou, seu rabo de cavalo loiro balançando para frente e para trás como se quisesse pontuar sua surpresa.

Angeline assentiu com orgulho.

“Sim. E assim, meu pai se tornará um mestre de guilda.”

“Sério...? O Sr. Belgrieve é incrível.” Jake soltou um suspiro de admiração e recostou-se na cadeira.

Os olhos de Kain estavam olhando surpresos.

“Será incrível se realmente conseguir implementá-lo... O Paladino, o Lâmina Exaltada e o Destruidor de Éter, e com o Ogro Vermelho como mestre da guilda... A qualidade dos aventureiros de lá não excederá Orphen e Bordeaux?”

“Sim. Tenho certeza que será incrível, hehe...”

“Fiz tal qual o Sr. Belgrieve me disse e usei o golpe de um lanceiro como referência. Minha esgrima ficou muito mais afiada! Até subi na classificação por causa disso!” Sola comentou.

“Parece que minhas manobras também melhoraram... Afinal, os fundamentos são importantes.” disse Jake.

“Eu fiz minha parte de estudos... Aquela batalha na floresta foi uma boa experiência.” Kain entrou na conversa.

Esses três já estiveram em Turnera enquanto guardavam a carroça de um comerciante e acabaram participando da luta contra a antiga floresta. Parecia que todos haviam refletido sobre as lições de suas experiências em Turnera e feito bom uso destas.

Angeline assentiu presunçosamente, como se fosse ela quem os ensinasse.

“Vocês deveriam voltar para Turnera algum dia.” sugeriu.

“Wow, não achei que a própria Valquíria de Cabelos Negros nos convidaria pessoalmente. É uma verdadeira honra.”

“E você, Sra. Angeline? Não vai se estabelecer em Turnera um dia desses?” Jake perguntou, uma pitada de desejo em sua voz.

Angeline riu.

“É provável que demorará muito tempo... Vou visitar, é claro, porém ainda quero conhecer o mundo e partir em mais aventuras.”

“Aventuras, hein... Como esperado de um Rank S.”

Do outro lado da multidão, alguém gritou pelo grupo de Jake.

“Ah, parece que eles terminaram de avaliar nossa coleta.” disse Sola, levantando-se. “Vou verificar!”

“Hã? Sério? Achei que nos deixariam esperando mais tempo.”

“Foi bem rápido... Bom, então, Sra. Angeline, até outra hora.”

“Sim, até mais.”

Depois que os três saíram, Angeline se recostou na cadeira e soltou um suspiro profundo.

O negócio de comprar partes de monstros e outros materiais aumentou recentemente na guilda Orphen. A demanda parecia infinita e quanto mais materiais trouxesse, mais dinheiro conseguiria. De acordo com Sola, a guilda conseguiu fechar um acordo com uma grande empresa e expandiu bastante a escala de suas rotas de vendas.

Uma parte dos lucros de cada venda foi para a guilda. Era apenas uma pequena quantia por venda, contudo Orphen era uma cidade comercial com uma população considerável de aventureiros, e tudo gerava uma receita significativa. Como os ganhos eram bons, ainda mais aventureiros vinham de longe, razão pela qual a guilda ficou tão ocupada.

Acho que o mestre da guilda está se exibindo, pensou Angeline. Ela começou a sonhar acordada quando Anessa se junto a sua companhia.

“Desculpe pelo atraso.” disse Anessa.

“Este lugar está tão animado como sempre.” observou Miriam.

Marguerite cutucou o ombro de Angeline.

“Por que está sonhando acordada?” ela brincou.

Angeline sentou-se, bocejando.

“Eu só cansei de esperar. Vamos.”

As quatro foram até o balcão onde Yuri, a recepcionista, as cumprimentou com um sorriso brilhante.

“Bem vindas de volta. Espero que tenham se divertido.”

“É bom estar de volta, Sra. Yuri... Aconteceu alguma coisa enquanto estivemos fora?”

“Certo, bem... Não houve nenhum incidente grave. No entanto Leo está meio morto por causa de toda a papelada.”

Então nada mudou, afinal... Angeline deu uma risadinha.

“Tenho algo para conversar com o mestre da guilda...”

“Com Leo? Hmm, nesse momento... Deve estar tudo bem. Vá em frente.”

Elas passaram pela porta atrás da área de recepção e caminharam pelo corredor em direção ao escritório do mestre da guilda. Quando estavam prestes a entrar na sala, uma garota que parecia ser secretária saiu carregando uma pilha de papéis. Ao ver Angeline, os olhos da garota se arregalaram e sorriu alegremente.

“Sra. Angeline! Não sabia que você estava de volta!”

“Sim, chegamos ontem... O mestre da guilda está?”

“Está. Mestre da guilda, é a Sra. Angeline.”

As quatro passaram pela garota e entraram na sala e encontraram Lionel parado atrás de uma mesa de escritório repleta de uma montanha de papéis. O punhado de outros funcionários administrativos a cumprimentou com alegria.

Dortos ergueu os olhos do que parecia ser uma carta e olhou para Angeline como uma coruja.

“Oh, Ange, já está de volta.”

“Sim. Você parece ocupado, velho Prateado.”

“Já estou acostumado.”

“Vamos fazer uma pequena pausa.” sugeriu Lionel, sorrindo cansado. “Aqui, vou pegar um chá... Agora, vamos, Sra. Angeline, sente-se.”

Lionel limpou apressadamente a mesa de convidados que havia se tornado um depósito de lixo para todos os tipos de artigos e curiosidades diversas, afastando as cartas, documentos e pacotes.

“Nossa, já faz muito tempo. Parece que vocês estão se saindo bem.”

“E você parece tão esfarrapado como sempre.” Marguerite provocou.

“Bastante. Oh, mas estamos colocando as coisas em funcionamento, um dia de cada vez. Agora que temos um acordo com a Companhia Lennon, a arrecadação de fundos ficou muito mais fácil... Não que a carga de trabalho tenha diminuído. Na verdade, aumentou.”

“Eu ouvi sobre... Vejo que tem trabalhado muito. Muito bem, mestre da guilda.”

“Haha! Isso significa muito vindo de você, Sra. Ange... O Sr. Belgrieve não está junto?”

Angeline conversou brevemente sobre sua jornada ao Umbigo da Terra e as batalhas que travaram lá, e sobre Percival e Satie, e tudo o que aconteceu depois. Lionel e os outros ficaram atordoados e piscando de surpresa ao longo da história, fascinados do começo ao fim.

“O que posso dizer, exceto... Você se saiu bem lá fora.”

“Então ele se reuniu com segurança com seus velhos amigos? Que notícia alegre!”

“Mesmo assim, uma masmorra em Turnera, hein... E o Sr. Belgrieve se tornando um mestre de guilda? Parece muito bom. Ele tem uma boa natureza, é ridiculamente popular e é bom em coordenar pessoas... Talvez eu devesse me aposentar e me mudar para lá.”

“Não fale bobagem.”

“Ah, qual é o problema? A guilda está de pé e tudo. Assim que estiver um pouco mais estável, podemos deixar para os mais novos... Quero dizer, você também queria fazer uma visita a Turnera, certo, Dortos? O Paladino deve estar lá.”

“Bem... Estaria mentindo se dissesse que estou desinteressado.”

“Pode vir. Meu tio-avô irá recebê-lo!” Marguerite disse, pegando uma xícara de chá recém-servido.

“Hmm...” Dortos murmurou, torcendo os fios brancos de sua barba enquanto refletia sobre a oferta. Lionel, por sua vez, apenas riu alegremente. Talvez porque enfim teve um momento para relaxar, sua natureza descontraída original começou a retornar.

“Então, de qualquer maneira.” Angeline se inclinou. “Maggie estava lutando contra monstros da Classe Calamidade no Umbigo da Terra. Existe alguma maneira de promovê-la...?”

“Hã? Está bem em promover agora? Seria uma grande ajuda. Sei o quão habilidosa a Sra. Marguerite é, então não tenho objeções. Na verdade, pensei que estava se limitando um pouco demais. Agora posso mandá-la para alguns trabalhos com tranquilidade.” disse Lionel com indiferença. Sua permissão foi tão fácil que Angeline até se sentiu um pouco desapontada.

Miriam riu.

“Isso não é legal, Maggie? Mas se fizer algo imprudente, o Sr. Bell e o Sr. Graham ficarão bravos.”

Marguerite fez beicinho.

“Oh, cale a boca. Sei muito bem. Posso dizer o mesmo para todas vocês.”

Lionel pegou uma xícara de chá e deu um sorriso agradável.

“Então, quais são seus planos, Sra. Ange, vai fazer de Orphen sua base de operações outra vez?”

Angeline assentiu.

“Sim. Gostaria de voltar para Turnera de novo no início do outono... Porém voltarei assim que o festival de outono terminar.”

Passar o inverno lá foi divertido, contudo sentia que estava ausente há muito tempo e não queria menosprezar a alegria que sentia sempre que voltava para casa. Ela faria seu trabalho por enquanto, iria para Turnera antes do festival e partiria com os mascates depois. Voltar para casa era mais satisfatório quando sua saudade tinha tempo de ser nutrida primeiro.

No entanto havia mais do que isso. Havia outra coisa que Angeline queria fazer. Angeline mexeu na xícara nas mãos antes de continuar.

“Além do mais... Enquanto trabalho aqui, gostaria de participar de mais algumas aventuras.” murmurou.

“Aventuras?”

“O que? É a primeira vez que ouço falar disso.” disse Anessa, com os olhos arregalados.

Angeline assentiu de novo.

“Me ocorreu ontem à noite... A constatação de que nossa jornada foi muito divertida.”

Na verdade, Angeline passou a ansiar por aventura. Por muito tempo, esteve contida em Orphen e nas áreas ao redor, entretanto essa longa jornada despertou seu desejo por novas terras. A tranquilidade da vida em Turnera era encantadora, todavia seu jovem coração ardia por algo mais.

Quando voltou para seu apartamento em Orphen e ficou sozinha em sua cama pela primeira vez em muito tempo, sua cabeça girou com vários pensamentos, em grande parte lembranças da estrada e de sua cidade natal. Apenas a lembrança deles fez seu coração bater mais rápido e um calor tomar conta.

Ela teve muitas chances de relembrar até aquele momento, mas foi apenas quando ficou sozinha com seus pensamentos que de repente começou a questionar de onde vieram todos aqueles sentimentos divertidos.

Claro, também adorava a tranquilidade da vida em Turnera com seus pais e amigos. Porém suas lembranças mais vívidas eram dos tempos em que lutou ao lado de Belgrieve no Umbigo da Terra e na capital imperial, e de seus primeiros passos em terras onde nunca tinha estado antes. Agora que havia viajado por terras distantes, tinha sede de conhecer novos lugares e conhecer novas pessoas.

Ela havia se revirado na cama, sua mente ocupada com o caminho que seguiria se partisse novamente e como interagiria com as guildas nas cidades pelas quais passaria. Foi então que soube com perfeita clareza: nasceu para ser uma aventureira.

“‘Aventura’ não me diz muito na verdade. Aonde quer ir?” perguntou Lionel.

“Acho que o leste pode ser bom. Estou curiosa sobre a madeira de aço.”

“Aço... Ah, é disso que a espada do tio-avô é feita.”

“Sim.” Angeline também estava interessada em Lucrecia e Dadan, ambas situadas mais ao sul do que a capital imperial, contudo por enquanto, seu anseio pelo leste era mais forte — uma terra ainda mais a leste do que Tyldes. Havia Keatai, onde Touya e Maureen já haviam trabalhado, e Buryou, a terra onde Yakumo nasceu. Acima de tudo, a lâmina que Belgrieve empunhou durante a jornada, a espada viva de Graham, foi forjada a partir dos frutos das árvores de madeira de aço que só cresciam no leste. Sua arma atual era feita de ferro oriental importado, no entanto não podia negar seu desejo por uma lâmina melhor. A sensação de empunhar aquela grande espada na floresta de Turnera ainda fazia o seu espírito de espadachim arder.

“Se pudesse brandir uma espada assim — e uma feita só para mim...”

Marguerite assentiu.

“Entendo. Ela é arrogante e eu não a suporto, entretanto adoraria ter uma espada só para mim também, algo afiado e fino... Que tipo de personalidade acha que teria? Não acho que seja parecido com o usuário.”

Com certeza, a espada de Graham não se parecia nem um pouco com o próprio homem. Ela se perguntou se sua própria espada teria vontade própria e se seria uma personalidade masculina ou feminina. A espada de Graham dava a impressão de uma mulher bonita, afetada e adequada, embora um pouco reservada. Como será a minha? Espero poder me dar bem com isso. O que farei se brigarmos? Quanto mais imaginava, mais ansiava pela possibilidade.

“Frutas de madeira de aço hein? Você acha que eles também podem fazer disso um cajado? Parece bastante interessante.”

“Não acho que seria flexível o suficiente para um arco... E seria um desperdício usá-lo para flechas...”

“Não vi ninguém com uma além do vovô. Acho que deve ser difícil conseguir uma.”

“Aposto que sim. Ter vontade própria significa que tem que escolher seu portador, e Graham disse que você tem que criá-lo corretamente mesmo assim...”

“Vamos pedir mais detalhes na próxima vez que estivermos em Turnera.”

Durante as longas noites de inverno, Graham contava-lhes histórias de suas viagens e, claro, eles ouviram a história de como obteve sua espada. Todavia foi contado apenas como uma história para dormirem, e não como um relato detalhado.

Angeline ainda se lembrava dos detalhes gerais. Buryou ficava no extremo leste do continente, mas mais a leste, além do mar, havia um punhado de ilhas, grandes e pequenas. As árvores de aço, ao que parece, cresciam em uma dessas ilhas em particular — uma ilha que se formou quando um vulcão submarino entrou em erupção há muito tempo. Essas árvores não cresceriam em lugar nenhum, exceto no solo daquela ilha. Muitas tentativas foram feitas para cultivá-los em terras estrangeiras, porém não houve um único caso de sucesso.

Em outras palavras, teriam que ir até lá para ver uma com seus próprios olhos. O Império Rodesiano abrangia o lado ocidental do continente, enquanto Buryou abrangia o leste — por isso não foi surpresa que ninguém destas partes alguma vez tivesse ido para lá antes. Quando Graham fez a viagem, não demorou muito para perceber que era o único viajante estrangeiro naquelas praias, até onde a vista alcançava. Por outro lado, dada à idade de Graham, poderia ter sido há quase cem anos. Desde então, Yakumo veio de Buryou, e Touya e Maureen também vieram do leste para a capital imperial. Certamente havia rotas utilizáveis nos dias atuais. Talvez não fossem as rotas mais movimentadas ou confortáveis, contudo a viagem era mais divertida quando havia um indício de perigo, no que lhe dizia respeito.

Ainda assim, mesmo que superasse as estradas e chegasse ao seu destino, havia pouco que Angeline pudesse fazer se a própria espada a rejeitasse. Talvez ir para o leste tivesse se tornado mais fácil ao longo dos anos, no entanto nunca tinha ouvido falar de alguém no oeste que possuísse uma espada viva além do próprio Graham. Pode ser uma prova de quão difícil era manusear uma arma forjada a partir de tais frutos. Na época em que a lâmina de Graham ainda era uma “espada jovem”, como disse Graham, a lâmina havia se cravado com firmeza no chão e se recusava a ser retirada dali. Numa disputa de vontades, Graham passou sete dias e sete noites com as mãos no cabo para ver qual dos dois cederia primeiro.

Graham também havia dito que, mesmo quando a espada aceitava um mestre, havia casos em que um espadachim não conseguia ‘levantar’ sua lâmina de madeira de aço de maneira adequada, e a espada murchava. Dependendo do uso que foi feito, também pode se tornar uma arma amaldiçoada que tentaria controlar seu usuário. Em quase todos os sentidos possíveis, uma lâmina de aço parecia diferente de uma espada normal. Entretanto, apesar de todas essas dificuldades, Angeline não tinha dúvidas de que todo o esforço valia a pena — sabia disso por sua experiência pessoal com a lâmina de Graham.

Quando Graham venceu o teste de resistência e por fim obteve a espada, ela passou a desprezar o toque de qualquer outro, e por várias vezes fez outros voarem, ainda que não quisessem causar nenhum dano. A lâmina feriu até mesmo o artesão encarregado de afiá-la. Poderia ter sido dócil nas mãos de Graham, todavia a espada poderia ser praticamente selvagem com qualquer outra pessoa.

Dado o fato de que a espada sagrada permitiu que Angeline e Belgrieve a empunhassem, parecia que havia amadurecido um pouco desde então — talvez como resultado de sobreviver a tantas batalhas infernais com Graham. A espada parecia muito com uma pessoa, e era por essa razão que Angeline achava tão atraente possuir uma. Se eu tivesse uma espada assim, nunca me sentiria sozinha...

A jornada de Angeline para o leste implicaria ter que andar de barco durante parte da viagem. Embora tivesse visto vários barcos em Elvgren, a cidade costeira a oeste de Orphen, nunca havia embarcado em nenhum. A ideia de deslizar sobre a superfície do oceano era divertida e excitante. Mas ainda faltava muito tempo — e a principal prioridade de Angeline seguia sendo as amoras de Turnera. Contanto que pudesse satisfazer esse desejo primeiro, seria capaz de iniciar sua longa jornada sem arrependimentos. Portanto, precisaria trabalhar duro em Orphen para compensar a próxima licença.

“Você vai ficar fora por um tempo de novo, se for tão longe.” disse Lionel, coçando a cabeça e sorrindo ironicamente.

“Sim... Isso é um problema?”

“Não, está bem. É bom tê-la por perto, Sra. Ange, porém não podemos contar com você para tudo. Certo, Dortos?”

“De fato. Se não conseguirmos nos virar sem sua ajuda, então a guilda Orphen estará acabada. Devemos aproveitar essa como uma boa oportunidade para criar a próxima geração de aventureiros.”

“Contudo não vai imediatamente... Vai?” Lionel perguntou com uma atitude humilde.

“Claro que não. Vou aceitar trabalhos aqui por um tempo.”

“Fico feliz em saber. É tudo que precisava dizer para deixar esse velho à vontade.”

Angeline riu antes de voltar seu olhar.

“Há algum trabalho urgente que queira nos atribuir agora?”

“Hmm, bem... Não houve um surto em massa de monstros da Classe Calamidade desde então... Ah, contudo acho que houve uma masmorra onde uma variante mutante foi avistada. Deveria perguntar a Yuri a respeito.”

“Entendi... Contarei com sua ajuda para cuidar da promoção de Maggie.”

“Sim, pode deixar. Dê-me algum tempo, ainda tenho algum trabalho que preciso fazer hoje...”

“Tudo bem, não é urgente... O que devemos fazer hoje, então?” Angeline perguntou, virando-se para suas amigas.

Os olhos de Anessa vagaram enquanto refletia sobre.

“Certo... Por enquanto, vamos conversar com a Sra. Yuri, e então poderemos colocar nosso equipamento em ordem. Estamos ausentes há muito tempo, então muitos dos meus equipamentos precisam ser substituídos.”

“Sim, acho que sim... Bem, então, mestre da guilda, velho Prateado. Boa sorte com sua papelada.” Angeline levantou-se para sair antes que percebesse algo. “Pensando bem, o General Musculoso está fora?”

“A parte de baixo das costas dele está o matando e agora está preso na cama.”

“Oh...”


As flores nos campos logo estariam em plena floração e as abelhas estariam ocupadas coletando seu néctar e pólen enquanto borboletas de todas as cores voavam. Nas suaves encostas das montanhas acima, inúmeros pequenos riachos formados pelo degelo serpenteavam pelas planícies gramadas, formando trilhas para ratos e outros pequenos animais correrem. Acima, no céu aberto, um falcão traçava círculos preguiçosos no céu enquanto observava sua presa abaixo. Hal e Mal estavam sentadas entre os botões, tecendo diademas de flores. Elas nunca sentiram falta de materiais, mesmo sem se levantarem para se mover — havia flores mais do que suficientes ao alcance do braço.

As duas podiam ver ao longe ovelhas que haviam sido soltas para pastar, não mais do que pontos brancos de onde estavam sentadas. Passando pelos animais estavam Kasim, Charlotte e Byaku, com Mit logo atrás. Todos saíram pela manhã para montar a barreira que Graham disse ser necessária. Satie ficou para trás para limpar a casa e cuidar de algumas outras tarefas antes de poder se juntar, enquanto Graham e Percival também estavam ocupados com outras coisas para fazer. Assim, Kasim assumiu o comando do assunto, com Charlotte e Byaku auxiliando-o.

De sua parte, Belgrieve estava cuidando das crianças mais novas naquele momento. Ele observou as gêmeas trabalhando por um tempo antes de perguntar.

“O que vocês estão fazendo?”

“Uma coroa.”

“Estamos fazendo uma para Percy e Kasim também.”

“Está feito.”

As gêmeas ergueram orgulhosamente uma adorável tiara tecida com flores de trevo vermelho e branco para Belgrieve ver.

“Haha... Vocês são muito boas.”

“Nós somos.”

“Pode ficar com uma também, pai.”

“Eu adoraria.”

O anel finalizado foi deixado de lado enquanto as duas começaram a trabalhar de novo na colheita de flores. Belgrieve lembrou-se de quando Angeline tinha a mesma idade e como se divertiria fazendo guirlandas de flores como esta.

Ange voltou para Orphen em segurança? ele se perguntou, olhando para longe enquanto sua mente estava cheia de lembranças de sua filha.

Sem se importar com seu devaneio, Hal estava ocupado colhendo flores e entregando-as a Mal.

“Um para o pai... E um para o vovô também.”

“Certo?”

“Soa bem. Tenho certeza que o vovô ficará encantado.”

As gêmeas sorriram uma para a outra e continuaram a colheita.

“Tantas flores. Há o suficiente para todos.”

“Quero fazer uma para a mãe também.”

Belgrieve, ouvindo suas palavras, não conseguiu dizer nada. Sabia a quem se referiam quando diziam “mãe” — não a Satie, mas à mulher que havia perdido a vida ao dar à luz a elas, apesar dos melhores esforços de Satie para salvá-la. As gêmeas ainda não compreenderam totalmente a ideia da morte, e Belgrieve e os outros adultos não conseguiram conversar com as duas a respeito. Nenhum deles suportou ser a causa de sua tristeza quando inevitavelmente aprendessem a verdade. Belgrieve foi informado de que o túmulo de sua mãe foi mantido no espaço artificial que Satie havia criado. Com o colapso de seu feitiço, não foi mais possível prestarem homenagem.

Por falta de algo melhor para dizer, Belgrieve se abaixou e colocou a mão com gentileza em cada um dos ombros.

“Desculpe...”

As garotas olharam para o pai de barba ruiva, perplexas.

“O que está errado? Dói em algum lugar?”

“Você está chorando? Tudo bem.”

Nenhuma delas parecia realmente entender.

“Dor, dor, vá embora.” cantaram em coro as crianças, bagunçando seu cabelo.

Após um momento, Belgrieve se levantou e deu um tapinha na cabeça das garotas, sorrindo.

“Obrigado...”

“Você está melhor agora?”

“Hehe... Isso é bom.”

E com isso retomaram a tecelagem.

O que elas pensarão quando perceberem a verdade? Belgrieve se perguntou, os olhos fechados de dor. Sabia que não adiantava continuar adiando essa lição de vida, todavia continuava adiando o assunto sempre que o abraçavam cheias de alegria. Estou muito mais fraco do que jamais imaginei...

Kasim logo se aproximou dos três do lado distante da campina, com Charlotte, Byaku e Mit a reboque. Kasim estava puxando uma estaca fina esculpida com uma espécie de padrão — uma ferramenta mágica para erguer uma barreira.

“Estamos com bom tempo, não é? Me dá vontade de tirar uma soneca... O que há de errado?”

“Não é nada. Então, como está indo? Está tudo dando certo?”

“Está indo bem. Char fez o seu melhor.” disse Kasim, acariciando a cabeça da garota. “Ela ficou muito boa em controlar sua mana. Com certeza tem talento.”

“Vo-Você acha mesmo...?” Charlotte perguntou timidamente.

Mesmo em meio à sua prática constante de magia, Charlotte nunca se esquivou de suas tarefas domésticas e da vila. Embora Kasim e Graham tivessem lidado com a gravação dos feitiços nas estacas, foi Charlotte quem despejou a mana necessária. Seu corpo possuía uma imensa quantidade de mana e poderia fornecer o suficiente para alimentar até mesmo uma magia tão poderosa.

Kasim jogou a estaca restante no chão com um barulho alto.

“Estamos quase terminando de colocar essas estacas. Mas primeiro teremos que afastar as ovelhas.”

O que significa que estão no caminho da barreira, pensou Belgrieve enquanto olhava para todas as ovelhas mastigando grama. Ele podia ver as outras estacas desenhando uma curva suave ao redor desta área do campo onde as ovelhas pastavam. Com a brilhante luz do sol caindo sobre as planícies, era difícil imaginar que isso logo se tornaria um campo de batalha.

“Está planejando invocar o monstro assim que as ovelhas forem retiradas?”

“Não. Precisaremos primeiro ajustar a força da barreira. Nunca se pode ter certeza, já que não sabemos o que vai aparecer aqui... Hehe... Estou de fato começando a parecer com você agora, hein?”

“Kasim, venha aqui.”

“Sente-se.”

“Hã?”

Ao aceno das gêmeas, Kasim se agachou onde estava. Era baixo o suficiente para que as duas pendurassem a coroa de flores sobre o chapéu habitual.

“Pode ficar com esta.”

“Ah, obrigado. Fica bem em mim?”

“Sim, você está muito fofo agora!” as gêmeas aplaudiram, brincando ao redor dele.

Kasim ajustou seu chapéu adornado com flores com um sorriso.

“Então sou ainda mais encantador agora, hehehe...”

Charlotte deu uma risadinha.

“Curiosamente, fica bem em você, tio Kasim...” era um pouco curioso o quão bem combinava com Kasim, dado seu cabelo e barba despenteados, bem como as roupas simples que estava acostumado a usar.

“Mit, nos ajude. Estamos fazendo muito mais.”

“Ok. Char e Bucky também ganharão um?”

“Sim.”

“Eu não quero um.”

“Hã?”

“Byaku, não pode dizer esse tipo de coisa. Elas estão trabalhando duro para fazer um para todo mundo.” Charlotte repreendeu.

“É verdade, garoto. Char, agarre-o. Certifique-se de que não fuja.” ordenou Kasim.

“Pode deixar!”

“O que está fazendo?! Pare! Hey, me solte!”

“Faça o mais fofo que puder.”

“Ok!”

“Eu farei o meu melhor!”

“Pare!”

“Desista, hehehe...”

Byaku se contorceu entre Charlotte e Kasim, cada um segurando-o por um braço. Suas lutas estavam causando um grande barulho quando Percival e Graham de repente se juntaram a eles.

“O que vocês estão fazendo?”

“Hey, eu deveria estar te perguntando isso. Onde vocês estiveram, hein?” Kasim perguntou incisivamente.

“Estávamos tendo uma luta leve. Se vamos lutar lado a lado, seria um problema se já não estivéssemos familiarizados com a esgrima um do outro. Não é uma má ideia memorizar os movimentos um do outro.” explicou Percival, ajustando a espada no quadril.

Graham assentiu. Já fazia algum tempo que Belgrieve não o via com a grande espada pendurada nas costas.

“A barreira já está pronta?” Percival perguntou, olhando ao redor do campo.

“Está. Ve onde estão essas estacas por aí? Teremos que afugentar as ovelhas primeiro... E verificar a força também. Porém sim, estamos bem.”

“Entendo... Contudo, Kasim... Você ficou muito mais fofo desde a última vez que te vi.”

Kasim riu.

“Hehehe! É um presente das meninas.”

As gêmeas ergueram os olhos do trabalho com orgulho.

“Faremos um para Percy também!”

“Espere um pouco.”

“Sim, sim, por favor...”

“Então e as ovelhas?” Byaku perguntou.

Belgrieve coçou a barba.

“Certo, por enquanto, só precisamos tirá-las desse círculo, então vamos trabalhar juntos e...”

“Não há necessidade de fazer algo tão problemático.”

Percival caminhou descaradamente até o centro do círculo de estacas. Então, fortalecendo seu espírito de luta, batendo seu pé com toda a força. As ovelhas, que comiam grama inconscientemente, ficaram alarmadas com a demonstração de força e não perderam tempo fugindo com uma velocidade surpreendente.

“Isso deve resolver.”

As bochechas de Charlotte incharam em evidente insatisfação.

“Essa atitude não foi muito legal, Percy. Não se sente mal pelas ovelhas?”

“Percy... Se você espalhá-las assim, será mais trabalho reuni-las de novo mais tarde.” Belgrieve repreendeu.

Percival coçou a cabeça sem jeito.

“Bem, desculpe.”

Kasim caiu na gargalhada.

“Ah, parece que o deixou bravo! O Lâmina Exaltada não é páreo para o velho Bell!”

“Cale-se.” Percival fez uma careta.

Mit gentilmente puxou sua capa.

“Está tudo bem, Percy... Todo mundo comete erros.”

“S-Sim... Você está certo.”

Isso era mais do que Belgrieve poderia suportar. Logo estava rindo também.

“Está feito! Abaixe-se, Percy.” as gêmeas exigiram e o coroaram.

Até Byaku, que costumava ser estoico, tentou desesperadamente esconder o rosto, no entanto seus ombros trêmulos revelaram sua alegria.

Kasim parecia que iria morrer de rir.

“Ahahahahahahaha! Ah, estou acabado! Eu não vou conseguir! Te serve como uma luva, Percy!”

“Quer morrer?”

As gêmeas olharam ansiosas para Percival.

“Percy... Você não quer?”

“É por isso que está bravo?”

“N-Não, não é assim. Estou feliz pelas flores e outras coisas. Sério, estou feliz.” disse Percival, recuando desesperado. Os outros só conseguiram rir ainda mais com a visão, mesmo quando as gêmeas se viraram uma para a outra, aliviadas.

“Que bom. Estamos todos combinando agora!”

“Sim!”

Isso chamou a atenção de Belgrieve para Graham, que agora usava sua própria tiara de flores. Até mesmo Percival não se conteve diante daquela visão — e agora todos estavam rindo.

A espada de Graham começou a rosnar e gemer com suas travessuras, como se dissesse.

“Levem as coisas a sério!”

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