quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 10 — Capítulo 128

Capítulo 128: Os botões florais que cobriam as colinas

Os botões florais que cobriam as colinas e vales floresceram de uma só vez, despertando em todos o desejo de se dedicarem ao trabalho de campo. Afinal, não demoraria muito para comemorarem o início da primavera.

A neve permanecia em padrões manchados no chão, mas as folhas do trigo no campo ficavam cada vez mais altas à medida que as colheitas eram banhadas pela luz abundante do sol. O derretimento da neve formou vários riachos que fluíam pela planície, contribuindo com seus redemoinhos de água turva quando por fim desaguavam no rio.

Belgrieve e Duncan caminharam pelos campos de grama jovem fora da vila. Apesar das nuvens pesadas que surgiam no oeste, o resto do céu estava claro e azul.

“Não gostaríamos que ficasse muito perto da vila.”

“Certo... Porém será difícil de administrar se estiver muito longe. Se quisermos uma distância segura, teremos que montar um posto de vigilância nas proximidades.”

“Hmm... Quem teria pensado que uma masmorra era algo que poderia ser feito? Isso nunca me ocorreu.”

“O mesmo aqui. Bem, na verdade não vou dizer que estamos criando. Estamos apenas usando esse orbe para emitir mana, e isso deve mudar o ambiente ao redor. É mais como se estivéssemos criando uma coalescência artificial de mana, ou como se estivéssemos lançando uma isca e esperando que algo caísse nela. Duvido que consigamos ajustá-la — tudo o que obtivermos é o que obteremos.”

As masmorras se formavam de forma natural onde quer que a mana fosse densa. Se uma aglomeração de mana se formasse por qualquer motivo, o ambiente começaria a mudar ao seu redor, distorcendo o espaço e fazendo com que monstros fossem gerados ou atraídos — e assim, uma masmorra se formaria.

Às vezes, o centro era uma piscina natural de mana. Outras vezes, era um monstro que possuía uma poderosa mana. Quando a masmorra tinha um chefe, geralmente era o último e, nesses casos, derrotar o chefe dispersaria a mana e a esta deixaria de existir.

A maioria das masmorras que existiam há muito tempo — aquelas que os aventureiros ainda exploravam — não tinham chefes. Os núcleos de tais locais eram inspecionados periodicamente, enquanto ervas e minérios influenciados pela mana eram colhidos e os monstros abatidos para garantir que não saíssem dos limites da masmorra. Desses monstros, era possível coletar peles, ossos, carne, garras e presas, entre outros recursos.

Houve um tempo em que as masmorras eram um inferno além da compreensão humana e temidas como nada além de uma ameaça. Contudo esse tempo já se foi há muito tempo. Através da pesquisa, a humanidade aprendeu como lidar com elas e, com o trabalho de muitos aventureiros qualificados, as masmorras e suas criaturas passaram de uma ameaça a um recurso natural a ser explorado, desde que houvesse mana suficiente.

Ainda assim, até agora, os aventureiros sempre tiveram que esperar pela formação de masmorras naturais. É claro, muitos magos — todos excelentes em suas áreas — estudaram para criar um meio de produzi-las artificialmente. O grande problema a ser superado era que as masmorras eram abastecidas e mantidas por mana, e não havia meios de fornecer uma fonte dessa mana. Certa vez, um pesquisador tentou cristalizar dragões e outros monstros de alto escalão para servir como núcleo, no entanto o resultado estava longe de ser estável.

Agora Turnera tinha um gerador de mana conhecido como Mit. Não que Mit precisasse residir nas profundezas da masmorra — o orbe que Graham havia criado serviria como núcleo, e o pingente que Mit usava transmitiria sua mana a ele. De certa forma, era como se o chefe da masmorra estivesse fora da masmorra, gerenciando-a — uma noção um tanto absurda.

Belgrieve torceu os pelos da barba enquanto refletia sobre toda a situação. Não é nada além de uma surpresa após a outra, minha nossa... Mesmo há apenas alguns anos, não poderia ter imaginado nada disso em seus sonhos mais loucos.

A vila de repente estava cheia de energia. Os lenhadores, esperando que novas construções surgissem em breve, partiram com entusiasmo para a floresta, e os sons de seus cortes ecoaram do amanhecer ao anoitecer. Os carpinteiros ponderaram sonhadoramente os planos para estes novos edifícios, e alguns começaram a cogitar a ideia de outros novos tipos de edifícios para a vila, como um bar ou uma estalagem.

Parecia que a perspectiva de uma masmorra estava sendo encarada de maneira favorável. Os jovens da vila estavam todos animados e a maioria dos líderes da vila queria ver o desenvolvimento de Turnera. A geração que veio antes deles — os anciãos — tinha reconhecidamente uma expressão amarga no rosto, já que só conheciam Turnera durante toda a vida e, por mais que pudessem ter desejado o mundo exterior, também tinham medo do mundo exterior. O equilíbrio entre aspiração e reticência tendeu a mudar com a idade.

Era compreensível que muitos estivessem ansiosos com a possibilidade de que o estilo de vida que mantiveram durante décadas mudasse de repente. O incidente do ano anterior com a floresta antiga fez com que alguns tivessem muito mais medo dos monstros do que teriam ficado de outra forma. E, claro, houve aqueles que desaprovaram o estilo de vida aventureiro por sua incerteza e perigo inerentes. Mesmo assim, ninguém impôs uma forte oposição ao projeto. Talvez porque mesmo os membros mais ansiosos ainda estivessem curiosos sobre o que o mundo exterior traria.

“Ainda que as coisas tenham que mudar... Seria melhor fazê-lo a um ritmo lento.” murmurou Belgrieve.

Era inevitável que Turnera fosse mudar, entretanto se essa mudança acontecesse muito rápido, muitas pessoas ficariam para trás. Os mais adaptáveis ficariam bem, mas outros seriam deixados de lado, e isso era algo que Belgrieve não podia aceitar. Ele chutou uma pedra, que fez um tilintar surdo ao ricochetear em sua perna de pau.

Em seu coração, Belgrieve ainda estava hesitante. Havia dado sua aprovação naquele momento, todavia agora que estavam no estágio em que de fato tinha que considerar a logística de montar a masmorra, não pôde deixar de se sentir ansioso. As palavras ‘um pilar da economia’ soavam bem sem dúvida, porém as masmorras eram lugares onde vidas estavam em jogo. Mesmo que todas as medidas fossem tomadas para garantir a segurança, não havia certezas absolutas. Lesões leves poderiam curar, contudo o que poderia fazer em relação à morte? Até desconsiderando essa possibilidade, alguns ferimentos podem ser tão graves que o regresso à vida agrícola pode não ser possível. A autossuficiência era fundamental em Turnera, e lesões debilitantes representavam um grande golpe para o sustento de uma pessoa. Embora Belgrieve tenha superado sua deficiência, ele pessoalmente passou por momentos muito difíceis. Era presunçoso pensar que todos os outros se sairiam bem só porque ele havia conseguido superar os ferimentos.

“Foi porque eu tive Ange...” Belgrieve refletiu, depois soltou um suspiro profundo e balançou a cabeça.

Independente de seus pensamentos sobre o assunto, as engrenagens foram acionadas. Se quisesse pensar em possibilidades sombrias, poderia continuar por dias, no entanto sabia que não era tudo. Coisas novas sempre foram uma mistura de preocupação e esperança.

A conversa alegre dos aldeões sobre a masmorra despertou a sua imaginação e ideais; seria necessário muito trabalho para transformar algumas de suas ideias em realidade. Entretanto sem ideais a realidade não mudaria. A maior parte do tempo que não passavam na agricultura era gasto discutindo o que era e o que não era possível, tanto por considerações sérias de logística quanto apenas pela pura diversão de satisfazer sua imaginação. Com certeza acrescentou um pouco de cor à vida no campo como a conhecia, e os dias pareciam fluir.

Nada mais poderia começar sem escolher a localização, e não era tão simples quanto parecia. Alguns insistiram que deveria ser o mais longe possível, tanto como uma contramedida prática contra o inesperado como para aliviar os receios dos aldeões. Outros argumentaram que a facilidade de acesso seria mais importante se a masmorra tivesse algum valor para a sua economia. Ambos os argumentos tinham os seus méritos, e por essa razão Belgrieve estava a pensar seriamente no assunto enquanto examinava a terra, andando em círculos pela vila com Duncan ao seu lado.

“Teremos que discutir isso com a Helvetica antes de avançarmos também.”

“Helvetica... Ela é o atual senhor feudal, não é?”

“Sim. É uma mulher sábia. Se aparecer uma masmorra, então Turnera — que sempre foi uma região remota — poderá tornar-se um centro econômico chave. Se for acontecer, então faz sentido consultar a condessa.”

“De fato, faz sentido. Seria um incômodo se alguma complicação inesperada surgisse após o fato, e ela poderia oferecer alguns conselhos junto.”

“A neve derreteu, então podemos ir para Bordeaux quando tivermos oportunidade.”

A discussão continuou enquanto caminhavam e logo retornaram à entrada da vil. A construção da estrada iniciada no ano anterior seguia incompleta, contudo o caminho que se estendia desde o portão da frente era suave e nivelado em alguns trechos.

Eles trabalharam rápido enquanto estávamos fora, pensou Belgrieve antes de avistar uma carroça vindo por aquele mesmo caminho. Era uma carruagem para dois cavalos com teto de lona. A mulher que segurava as rédeas acenou com a mão.

“Senhor Belgrieve!”

Ele semicerrou os olhos até reconhecer a mascate de cabelo azul que já havia encontrado várias vezes antes. A mascate tinha um sorriso afável no rosto e Belgrieve esperou ali até que a carroça chegasse, imaginando que notícias poderia trazer.

A mascate saltou da cadeira como se não pudesse esperar o tempo suficiente para a carroça parar e agarrou a mão de Belgrieve.

“Você já está de volta, que ótimo. Eu tinha certeza que sua jornada levaria anos... Conseguiu se reunir com seus amigos?”

“Consegui. Pude resolver muitas coisas com a sua ajuda. Estou feliz em vê-la bem.” disse Belgrieve com uma risada enquanto olhava para a carroça. A grande carroça de dois cavalos estava carregada de mercadorias. De dentro, um homem e uma mulher espiavam com curiosidade — provavelmente os aventureiros contratados para segurança.

“Você veio vender seus produtos? Chegou cedo esse ano.”

“Sim, é isso. Apesar de tudo, gostei bastante de Turnera. O festival da primavera está chegando, certo? Acho que vou abrir uma loja e ir com calma até lá.”

É bom saber disso, pensou Belgrieve, coçando a barba.

A mascate também sorriu para Duncan.

“Já faz um tempo que não o vejo também, Sr. Duncan.”

“Hahaha! Você foi uma grande ajuda.”

“Estou feliz que pareça saudável. A senhorita Angeline também está aqui, por acaso?”

“Sim, e todos os membros do seu grupo também. Até Maggie está aqui.”

“Wow, que animado! Hehehe... Eu trouxe uma grande carga comigo desta vez. Vou precisar deixar todos darem uma boa olhada... Ah, é verdade. Tenho uma mensagem da Condessa Bordeaux... Está endereçada ao chefe da vila, no entanto não há problema em te contar, certo?”

“Sim, posso passar adiante... Da Helvetica?”

“Certo, sim. A Condessa disse que iria passar por aqui em breve.”

“Falando no diabo...” Belgrieve estreitou os olhos, desconfiado. Que momento peculiarmente perfeito... Mas funcionou a seu favor — esta seria uma boa oportunidade para incluir Helvetica nas discussões da masmorra.

A mascate riu antes de ajustar o chapéu e voltar para o banco do motorista da carroça.

“Estarei na praça da cidade. Não hesite em passar por aqui. Vou oferecer alguns brindes.”

“Isto é o que eu gosto de ouvir. Passarei por aqui mais tarde.”

A carroça recomeçou seu caminho, entrando na vila. Crianças de olhos aguçados logo começaram a fazer barulho, gritando.

“Um mascate! Um mascate!”

Da carroça, Belgrieve ouviu uma voz.

“Quem era aquele homem?”

“Esse é o Sr. Belgrieve. Talvez entenda se eu o chamar de Ogro Vermelho?”

“Hã... Quer dizer o pai da Valquíria de Cabelos Negros...”

“É esse. Parece que a Sra. Angeline também está de volta, então acho que poderá vê-la.”

“O-O que fazemos? Quer dizer, pensei que ela estava viajando... Estou tão nervoso...”

O mais provável é que fossem aventureiros de Bordeaux ou Orphen, e estavam claramente perturbados por estarem na presença de um grande nome que, segundo disseram, havia desaparecido. De fato, ninguém poderia ter previsto que Belgrieve e companhia teriam se teletransportado direto para Turnera por meio de magia de teletransporte. Quando Ange retornar para Orphen, precisarei que ela conte à guilda que voltamos, pensou Belgrieve, coçando a cabeça.

“Ora, Bell, vejo que se tornou uma celebridade.” brincou Duncan, parecendo bastante entretido.

“Hahaha...” Belgrieve sorriu ironicamente ao perceber que estava se acostumando com o apelido de Ogro Vermelho. “Devíamos ir também.” respondeu enquanto ajustava a espada no cinto.

“Certo. Preciso passar pelos lenhadores.”

“A demanda por madeira aumentou... Está movimentado aí?”

“Hahaha! Melhor do que perder tempo sem fazer nada. É uma vida plena.”

Belgrieve se separou de Duncan e voltou para casa para encontrar Angeline secando roupas no jardim da frente. Anessa e Marguerite trabalhavam perto do poço, enxaguando cestos e vinhas e afiando facas. Todos os outros pareciam estar fora.

“Ah, bem-vindo de volta, pai.”

“Sim, estou de volta.”

Segurando um cesto de roupa suja, Satie ergueu os olhos.

“Bem vindo de volta. Como foi? Encontrou um bom lugar?”

“Não poderia dizer ao certo. Bem, mesmo que escolhamos um lugar, ainda há muito trabalho a ser feito depois.”

“Achei que teria uma vida fácil no campo, porém pensar que o trabalho de aventureiro está nos perseguindo até aqui...” Satie refletiu calmamente.

Angeline inclinou a cabeça com curiosidade.

“Você não quer , mãe...?”

“Bom, não estou mais naquela idade em que anseio por aventura. Ah, contudo se acabarmos administrando uma guilda, você precisará de alguém para cuidar do escritório. Talvez eu acabe fazendo o trabalho?”

“Tenho a sensação de que as meninas da vila vão querer tentar esse trabalho também, entretanto... Talvez seja melhor se você o fizer inicialmente, já que já entende o processo.”

Anessa riu perto do poço.

“Uma recepcionista elfa... Só isso fará com que os rumores se espalhem como fogo.”

“A mãe definitivamente seria popular...”

“Que problemático. Bell vai ficar com ciúmes.”

Mãe e filha riram juntas.

Belgrieve coçou a cabeça.

“Oh, a propósito — a mascate de sempre está aqui.”

“Aquela de cabelo azul? Ah, que bom — preciso ir vê-la.” os vendedores ambulantes não paravam em Turnera no inverno, por isso todos os aldeões aguardavam com expectativa os que chegavam na primavera. Angeline não era diferente, e mesmo agora lhe dava uma sensação de emoção diferente de quando fazia compras na cidade grande.

“Posso ir...?”

“Sim, quase terminamos aqui. Vá vê-la.”

“Ah! Espere! Estou indo também!” Marguerite gritou enquanto se levantava, tendo terminado de afiar a faca. Anessa também foi arrastada e as meninas saíram apressadas, deixando Belgrieve e Satie para trás. Os dois trocaram olhares.

“Essas garotas com certeza são enérgicas.”

“Tenho de concordar.”

“Bell, pode ajudar um pouco?”

“Sim, claro... Certo, preciso colocar suportes para as vigas. Está livre depois disso?”

“Claro. Vamos pedir ajuda ao Byaku também.”

“Soa bem pra mim. As crianças estão dentro de casa?”

“Eles começaram a limpar a lareira por conta própria. São bastante trabalhadores, nossos filhos.” disse Satie, rindo.

Belgrieve riu também. Não fazia nem meio ano desde que esse novo capítulo de sua vida havia começado e, ainda assim, por algum motivo, parecia que sempre tinha sido assim.


Yakumo fumou seu cachimbo, parecendo absolutamente feliz. A fumaça que tanto sentia falta se espalhou pelo céu antes de vacilar e se dissipar ao longo do caminho. Ela soltou uma nuvem de fumaça semelhante a um suspiro de saudade.

“Ah... Que delicadeza.”

“Hehehe... Você ficou esperando por um tempo, hein?”

“Sem dúvida. Mas graças a isso agora o sabor está ainda mais vívido do que eu me lembrava. É muito mais delicioso do que quando fumei por hábito.”

“Bom saber.”

“Quer uma tragada, Kasim?”

“Estou bem. E você, Percy?”

Percival, que estava provando as carnes secas, virou-se.

“O quê?”

“Tabaco.”

“Hey, vamos lá... Está mesmo me perguntando isso? Você sabe dos meus problemas respiratórios, certo?”

“Agora que falou... Não tenho te visto tossido ultimamente, então quase esqueci.”

“Essa é uma memória bastante seletiva que tem aí, meu Deus... Bom, com certeza, tenho estado muito melhor nos últimos tempos. Deve ser todo esse ar fresco.” brincou Percival.

Até nos intervalos entre o exaustivo trabalho de campo, os rapazes e moças queriam treinar com espadas e magia. Como Belgrieve estava ocupado fazendo todo tipo de trabalho antes do início da primavera, Percival e Kasim assumiram a tarefa de instruí-los. Os dois estavam no meio de uma dessas aulas na praça da vila quando a mascate apareceu e colocou tudo em espera. Yakumo, Lucille e Miriam estiveram com eles para assistir ao treinamento.

Os jovens que nunca haviam saído de Turnera passaram por seu treinamento sem pensar duas vezes, porém se isso tivesse acontecido em qualquer outro lugar que não fosse Turnera, haveria pessoas que teriam pagado taxas exorbitantes até mesmo pela chance de se tornarem aprendizes de qualquer um desses mestres. Francamente, a maioria teria se sentido tímida e insignificante demais para ousar perguntar. Para quem está no ramo, os aventureiros Rank S eram bastante difíceis de abordar. Contudo os jovens daqui não demonstraram tal timidez. Em vez de vê-los como aventureiros incríveis, o povo de Turnera estava mais propenso a ver esses dois apenas como velhos amigos de Belgrieve.

Percival acrescentou algumas frutas secas à compra de carnes e sentou-se com Kasim a alguma distância.

“Parece que tudo muda por completo quando a neve derrete.”

“Parece o caso. Eu vim aqui nesta época no ano passado. Em breve, as montanhas e os campos ficarão verdes de uma só vez.”

“Isso é bom. Meus olhos estão ficando cansados de toda aquela brancura ofuscante.”

“Então... Quanto tempo planeja ficar em Turnera, Percy?”

“Ainda não decidi. No entanto há outra jornada pela frente. Preciso caçar aquele demônio sombrio.”

“Achei que diria isso.”

“Bem, vou ajudar com a masmorra por um tempo antes de ir... Quer se juntar a mim?”

“O que fazer, o que fazer...? De qualquer forma, não pretendo ficar em Turnera para sempre.”

“Haha... Você tem namorada em Mansa, certo?”

“Sim. Depois de assistir Bell e Satie, senti vontade de ver Sierra.”

“É a sua vida. Faça o que quiser... Entretanto, Bell e Satie não são divertidos. Os dois só levam tudo com calma. Hey, Yakumo, você também pensa assim, não é?”

Yakumo, que estava ao lado deles antes que percebessem, soltou um pouco de fumaça e disse.

“Talvez. Seria bastante estranho se o Sr. Bell e a Sra. Satie começassem a flertar... Mas não é porque há tantos de nós hospedados em sua casa?”

“Isso e aquilo são coisas diferentes.”

Kasim bateu palmas.

“O festival da primavera está chegando, porém que tal fazermos um casamento enquanto estamos lá? Vamos manter em segredo daqueles dois. Se fizermos deles o centro das atenções, tenho certeza de que enfim conseguiremos uma reação.”

“Será um motim. Vamos colocar Ange no esquema também.”

Angeline apareceu de repente como se seu nome a tivesse convocado, com Marguerite e Anessa logo atrás.

“Oh, está animado aqui.”

“Hey, guarde alguns para mim!” Marguerite gritou enquanto corria direto para a barraca e mergulhava na multidão.

“Hey, sem furar a fila!” eles ouviram Miriam dizer.

Angeline, que talvez achasse que seria um incômodo entrar atrás das duas, optou por não ir até a barraca da mascate e, em seu lugar, juntou-se a Percival e Kasim.

Anessa olhou entretida para toda a agitação antes de se juntar a ela.

“O que? Afinal, você veio.” disse Percival, jogando uma fruta seca na boca.

“Já comprou alguma coisa, Sr. Percy...?”

“Quer um pouco?”

“Claro.” Angeline sentou-se entre Percival e Kasim e mordiscou as frutas secas.

“Onde está Bell?” Kasim perguntou, vestindo seu chapéu.

“Em casa. O casal, sozinhos juntos...”

“Isso é bom. No entanto, sabe Ange, aqueles dois não estão tendo nenhum progresso. Então, Percy e eu estávamos discutindo sobre a possibilidade de fazer um casamento para eles no festival da primavera.”

“Conte-me mais.” respondeu Angeline, aderindo ansiosamente à sugestão como um gato com sua guloseima favorita diante de si.

“Oh, vejo que agarrou rápido a ideia.” Kasim gargalhou. “Legal, vamos mantê-lo em segredo daqueles dois enquanto reunimos todos os outros, e quando chegar o festival, faremos com que proclamem seu amor na frente do padre. Parece interessante, certo?”


“Muito. Tenho certeza que o pai e a mãe ficarão encantados.”

“Certo? Então poderia ajudar a passar a notícia em segredo? Seria mais rápido se você falasse.”

“Pode deixar... Um plano secreto, hehe... Será uma surpresa.”

“Bem, falando da minha parte, só quero vê-los com os rostos corados e tímidos. Do jeito que estão agora, não vale a pena provocá-los.” declarou Percival.

“Percy... Seus motivos não são um pouco impuros?” Kasim brincou.

“Hey, não aja como se você fosse o mocinho aqui. Sei que está pensando a mesma coisa.”

Kasim respondeu encolhendo os ombros e sorriu. Angeline podia sentir os cantos dos lábios se curvando em um sorriso.

“Você é um encrenqueiro, Sr. Percy.”

“Eu sou. Sempre costumava provocar Bell, junto com esse cara aqui.”

“Satie também estava a bordo. Porém Bell geralmente nos perdoava com um sorriso.”

“Ainda assim, foi divertido vê-lo reagir. Deveria ter visto o quão alto ele pulou quando colocamos aquele grilo na sua cama na pousada. Estava suando frio e tudo mais!”

“Estávamos todos segurando a barriga de tanto rir com Satie. Rimos tanto que o pessoal do quarto ao lado nos deu uma bronca.”

“Espere...” Angeline piscou. “Vocês quatro estavam no mesmo quarto?”

“Apenas uma vez. Quando estávamos começando, ficávamos naquelas salas comunitárias quando nossos pedidos nos levavam para longe de casa. Contudo Satie é uma elfa, como sabe, então muitas pessoas a abordavam. Assim que tivemos o suficiente, decidimos que, mesmo que custasse um pouco de dinheiro, alugaríamos um quarto privado. Decidimos quem ficaria com a cama por sorteio, e todo mundo teria que usar nosso equipamento de acampamento... Ou pelo menos esse era o plano.”

Os olhos de Yakumo se estreitaram.

“Vocês podem ter estado todos no mesmo grupo, no entanto garotos e garotas adolescentes hospedados no mesmo quarto... Não houve nenhum acidente, houve?”

“Bem, ouça-me até o fim. De qualquer forma, acalmamos o vizinho, entretanto já estávamos todos bem acordados, então decidimos tomar algumas bebidas e Satie adormeceu primeiro. Graças ao álcool, sua pele ficou rosada, suas roupas estavam um pouco desgrenhadas e ela era estranhamente atraente... Havia um clima estranho no ar...”

“Ah…?” Angeline estava ouvindo com a respiração suspensa, suas bochechas corando.

Percival sorriu.

“O que está esperando, idiota?”

“Na-Nada...” Angeline gaguejou, inquieta.

Percival gargalhou, apenas para fazer uma careta quando algo ficou preso no fundo de sua garganta. Ele puxou seu sachê e respirou antes de continuar sua história.

“Desculpe desapontá-la, contudo nada aconteceu. Nossas cabeças estavam um pouco tontas por causa do álcool, no entanto parecia, bem... Muito estranho. Então nós três deixamos Satie e fomos dormir na sala comunal. Certo?”

Kasim continuou de onde Percival havia parado.

“Sim, pra resumir. Então, chegou à manhã seguinte e o estalajadeiro nos pressionou a pagar pelo uso da sala comunal. Negociamos desesperados, dizendo que já havíamos pago mais pelo quarto privado, todavia não mudava o fato de termos usado a sala comunitária, então tivemos que desembolsar no final.”

“O que, é isso? Que idiota. Fracos, todos vocês!” Yakumo provocou.

“Sério, não passou de coisas idiotas com a gente.” Kasim suspirou. “Talvez seja por esse motivo que sempre estivemos sem um tostão.”

“Não sei; foi interessante por si só. Era uma vida restritiva, mas também era divertido quebrar a cabeça tentando descobrir o que poderíamos fazer com o pouco que tínhamos. Eu realmente não consigo fazer isso hoje em dia.”

Percival guardou o sachê enquanto seu olhar se tornava distante. Se ele quisesse ganhar dinheiro agora, poderia ganhar tanto quanto quisesse. Como aventureiro, era conhecido em todo o país, então dificilmente havia qualquer oportunidade para confiar na engenhosidade ou no planejamento para sobreviver. Às vezes, se lembrava de quando começou com poucas economias e ia até as lojas mais baratas possíveis e regateava com todo o coração, sabendo que uma moeda extra desperdiçada poderia ser o seu fim.

Angeline deu um aceno de compreensão.

“Bem rico, vindo de um Rank S...” Yakumo disse, expirando uma nuvem de fumaça.

“Gosto mais quando é fácil.”

“Claro, fácil é bom, contudo... Não posso dizer o que é melhor.”

“É um luxo poder dizê-lo, hehehe.”

“Bom, deixando esse detalhe de lado, onde estávamos...? Certo, é chato se eles continuarem os mesmos idiotas que eram naquela época. Como líder, é algo que não perdoarei.”

Foi então que Marguerite se juntou a eles animada, com uma garrafa de bebida alcoólica na mão.

“Ange! Ela disse que me daria uma carona até Orphen de novo! Anne e Merry também! E você, Ange?”

“Oh, certo... Vai ser mais rápido assim.”

Todos conheceram a mascate de cabelo azul e ficariam à vontade pegando carona em sua carroça. No entanto ela será capaz de levar tantas pessoas? Angeline se perguntou por um momento. Teria que falar com a mascate para ter certeza.

“Hey, o que você comprou lá?” Kasim perguntou.

“Um dos fortes. Já faz um tempo desde a última vez que bebi até me fartar.”

Percival acenou para ela.

“Hey, venha beber aqui. Você se tornará um cúmplice também.”

“Hã? O que foi? O que estão tramando?”

Marguerite correu para o lado de Percival e logo ficou entusiasmada com os planos para o festival. Evidentemente, a garota elfa adorava esse tipo de coisa.

Depois de dar uma boa olhada em todos os produtos em exibição, Anessa, Miriam e Lucille juntaram-se ao restante do grupo e logo investiram de forma semelhante na conspiração. Longe do olhar vigilante de Belgrieve, os planos vis de seus velhos amigos foram aos poucos tomando forma.

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