Capítulo 136.6: Bônus Histórias Curtas
A igreja do norte
Quando a igreja de Turnera foi construída, ela foi construída ao lado da praça da cidade. As paredes eram de pedra branca, o que era raro por aqui, e os pequenos vitrais deixavam entrar uma luz multicolorida no interior.
Padre Maurice era o padre da igreja de Viena em Turnera. Ele inicialmente veio para Bordeaux, mas veio para Turnera assim que seu antecessor faleceu. Nessa altura, não havia muitos clérigos que quisessem ser designados para uma região tão remota no norte, longe de quaisquer grandes cidades, por esse motivo, quando a igreja pediu voluntários, quase todos relutaram em levantar a mão. No final, Maurice foi o único homem a divulgar seu nome.
Em suma, ele era um pouco excêntrico. Porém, apesar de suas peculiaridades, sua fé simples e comportamento calmo conquistaram o povo de Turnera em pouco tempo. Todos os anos, durante o festival da primavera, quando a estátua da igreja precisava ser carregada até a praça da vila, as instruções gritadas e exigentes de Maurice praticamente se tornavam uma característica da temporada.
A estátua fora feita por um pedreiro que viera para a vila quando ela não passava de um povoado. A forma da Poderosa Viena esculpida em pedra branca leitosa perdera aos poucos os seus contornos bem definidos ao longo dos anos, contudo continuava tão brilhante como sempre, pelo menos, uma vez que Maurice a polia todos os dias com muita diligência.
Maurice estava polindo a estátua como era sua rotina antes de fazer uma pequena pausa para preparar um chá, quando ouviu a porta se abrir e alguém gritar.
“Olá!”
Ele ergueu os olhos de seus preparativos para ver que era Belgrieve quem havia chegado.
“Bem, se não é o Sr. Belgrieve. Bem-vindo aos salões de Viena.”
Belgrieve olhou para a estátua polida e sorriu.
“Trabalhando duro como sempre, pelo que vejo.”
“É apenas uma expressão natural da minha fé.”
Belgrieve estendeu a cesta que trouxera consigo.
“Peguei um grande hoje, então vim compartilhar um pouco com vocês.”
“Oh, fico muito grato.”
A cesta continha um pedaço de carne de veado embrulhado em uma grande folha. Belgrieve explicou que pegou o cervo com uma de suas armadilhas na floresta.
Embora Maurice fosse um homem do clero, ainda era humano. Seu credo ditava que vivesse com simplicidade, no entanto seguia se deliciando com as ocasionais refeições indulgentes. Maurice agradeceu e também ofereceu um pouco do chá que acabara de preparar.
“Oh, não se importe comigo.” respondeu Belgrieve.
“Não posso receber caridade o tempo todo. A Poderosa Viena ensina a retribuir aos outros por tudo o que nos foi dado. Por favor, sinta-se em casa.”
Belgrieve riu enquanto puxava uma cadeira próxima. Há muito tempo, ele partiu para a cidade grande, apenas para voltar para casa decepcionado e desanimado. Por um tempo, se tornou motivo de chacota na vila e objeto de ridículo. Entretanto Maurice, que era um estranho e um homem simples e sério, foi um dos poucos que não demonstrou desdém por Belgrieve, e eles começaram a conversar bastante durante esse tempo.
Quando o chá de folhas oferecido terminou de ser preparado, seu aroma refrescante encheu o ar. Era o mesmo sabor que os dois homens sempre conheceram, mas foi a familiaridade que o tornou muito reconfortante.
Maurice era um pouco mais novo que Belgrieve, porém estava perto dos quarenta e começava a ter rugas no rosto. Quando chegou à vila pela primeira vez, sua pele pálida o diferenciava dos outros aldeões, contudo agora estava bem bronzeado por ajudar nos campos. Mesmo assim, o padre ainda era o homem mais culto e estudado da vila. Ele havia se integrado bem na comunidade, dessa forma também era muito respeitado pelas aulas que ministrava na escola anexa à igreja.
“Eu parei você em um horário movimentado?” Maurice perguntou de repente.
“Não, de forma alguma.” disse Belgrieve, acenando com a mão com desdém. “Posso muito bem relaxar um pouco se você estiver me oferecendo chá.”
“Nunca pensei que teríamos uma masmorra aqui, afinal. Isso deve fazê-lo correr por todo lado.”
“Haha! Bem, sou parcialmente responsável por isso... E com meus camaradas me ajudando, não posso reclamar da carga de trabalho.” Belgrieve sorriu com ironia enquanto coçava a cabeça.
A questão da mana de Mit resultou na construção de uma masmorra e de uma guilda, e estava se tornando um grande empreendimento para a vila. Belgrieve, que estava no centro de tudo, manteve seu trabalho agrícola rotineiro enquanto cuidava do planejamento dos novos empreendimentos. Maurice percebeu que isso era mais difícil do que Belgrieve deixava transparecer.
“Também houve de acontecer no início de nossa temporada mais movimentada...” comentou.
“Sim, tenho algum trabalho a fazer no campo depois, e mais tarde haverá uma reunião esta noite... Para ser sincero, vim entregar a carne só para respirar um pouco. Este chá é justo o que estava precisando.” Belgrieve sorriu maliciosamente. Seu lado lúdico aparecia de vez em quando, mesmo depois de se tornar venerável aos olhos de seus vizinhos.
Maurice sorriu.
“Você é um homem casado agora. Duvido que tenha muito tempo para relaxar e respirar.”
“Hahaha! Bem...” Belgrieve tomou um gole para esconder seu sorriso tímido.
Quando sua risada diminuiu, o padre Maurice de repente se lembrou de algo.
“É mesmo, Sr. Belgrieve, teria algum livro sobrando que as crianças possam ler? Eu gostaria de pegar alguns emprestados para materiais didáticos.”
“Claro, se concordar com o que comprei para Ange. Posso trazê-los amanhã.”
“Ah, não, vou buscá-los. Afinal, sou eu quem está pedindo um favor. Amanhã de manhã servirá?”
“Muito bem. Vou separá-los para você, então, mesmo que eu esteja fora, certamente haverá alguém por perto que possa entregá-los.”
“Muito obrigado.”
Em pouco tempo, chegou a hora de Belgrieve partir. Os pensamentos de Maurice voltaram-se mais uma vez para seus próprios deveres enquanto limpava o serviço de chá.
“Quase esqueci, preciso organizar tudo para amanhã.”
O padre lembrou que estava programado para dar aulas de leitura, escrita e aritmética no dia seguinte, então sua próxima tarefa foi separar todos os materiais espalhados em sua mesa, um por um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário