Capítulo 32: Ela é realmente uma fanática
A visão de Lilia-san e dos outros perfeitamente alinhados do portão até a porta da frente da mansão é um espetáculo para a vista. É quase como se isso mostrasse o quão importante é o ser que estará visitando aqui e o ar ao seu redor está cheio de uma tensão pesada e de arrepiar a pele.
Hoje é o sétimo dia do mês do fogo e o meio-dia está prestes a chegar — e Kuro estará aqui em breve.
Não sei se é por causa das coisas que ela precisa fazer que mencionou outra noite ou pelo fato de que estará me visitando hoje de qualquer maneira, mas Kuro não apareceu no meu quarto ontem à noite, e é em parte por esse motivo estou me sentindo nervoso.
No silêncio silencioso do ar, olho para o relógio de bolso que tenho na mão. No momento em que o ponteiro dos segundos circula e a hora indica que chegou o meio-dia, o ar mudou.
“!?”
Se eu comparasse isso com alguma coisa, seria como se o ar ao nosso redor tivesse de repente ficado pesado ou algo parecido... Uma forte pressão começou a pesar em meu corpo.
O cenário à nossa frente tremia como se estivéssemos olhando para uma miragem, e em frente ao portão aberto, Kuro apareceu.
Ela ainda estava com o casaco preto enrolado no corpo, porém Kuro não tinha o sorriso habitual no rosto, e a atmosfera a sua volta era diferente da habitual.
As pessoas ao seu redor, incluindo Lilia-san e eu, espontaneamente nos encontramos baixando a cabeça. É como se tudo ao redor estivesse se prostrando a sua presença, e apenas o som dos passos de Kuro ecoassem no silêncio.
Seu lindo cabelo branco prateado brilhava a luz do sol, e seus olhos dourados olhavam silenciosamente apenas para frente.
Sem dúvida — a marcha de um rei.
Era para ser uma marcha individual, sem outros membros ao seu redor, contudo havia uma presença tremenda e um sentimento de intimidação ao seu redor, como se dezenas de milhares de soldados estivessem marchando.
Foram apenas alguns segundos de caminhada do portão até a porta da frente. Não podemos desviar o olhar, não podemos falar e nem sequer podemos respirar enquanto observamos o Absoluto caminhar cheio de confiança.
Então, Kuro fica na frente da profunda reverência de Lilia-san e fala com calma.
“Minhas desculpas por ter vindo em tão pouco tempo. Duquesa Albert.”
“Nã-Não há necessidade de desculpas... Bem-vinda, obrigado por ter vindo. Rei do Submundo Kuromueina-sama.”
“Unnn. Eu sei que é muito repentino, gostaria de conversar com você com calma, então tudo bem se entrarmos?”
“Claro. Por favor, entre...”
Trocando cumprimentos com Lilia-san com sua voz calma, no entanto majestosa, Kuro entrou direto na mansão, guiada por Lilia-san.
Em vez da pequena sala de recepção, nos mudamos para um salão de recepção bem decorado, e lá dentro, apenas Lilia-san, Lunamaria-san, eu, Kusunoki-san, Yuzuki-san e alguns servos entraram, e então, a grande porta se fechou.
Sentindo a presença avassaladora de Kuro, que é tão diferente da atmosfera que ela normalmente tinha, que mesmo um grande salão como esse parece pequeno, encarei-a, confuso ao ver Kuro agindo de uma maneira que nunca tinha visto antes.
Então, quando encontrei os olhos de Kuro, ela olhou para mim com o habitual sorriso brilhante no rosto, e a pressão que estava pesando sobre mim desapareceu em seguida.
“O que achou, Kaito-kun? Meu modo sério! Não pareço legal?”
“...”
Ela acabou de arruinar a imagem majestosa que eu tinha agora. Vou repetir porque é muito importante, ela acabou de arruinar a imagem majestosa que tinha agora.
Gostaria que me devolvesse toda a reverência que tive por você e os pensamentos que tive sobre como de fato é o Rei do Submundo depois que vi sua ‘majestade’. Além do mais, ainda que essa sua cara presunçosa pareça fofa, ainda é meio irritante.
De qualquer forma, parece que o modo sério de Kuro desapareceu e seu modo normal voltou, já que agora está falando comigo com o sorriso brilhante que costumo ver.
E assim, mesmo tendo ficado surpreso com a mudança em seu comportamento, aceitei a sugestão de Lilia-san de me sentar, então quando me sentei em frente à grande mesa, a pessoa na minha frente olhou para mim e bateu no assento do seu lado.
“Kaito-kun, aqui, aqui.”
“Errr... Unnn. Tudo bem.”
Parece que Kuro quer que me sente ao seu lado e como não sei o que fazer, olhei para Lilia-san, que acenou com a cabeça em silêncio.
O que quer dizer que é para eu concordar com o desejo de Kuro. Reconhecendo isso, assenti com o que Kuro queria e sentei ao seu lado.
Agora, o que devo fazer a seguir... O fato de ter voltado a agir normalmente significa que é provável que fique de mau humor se eu falar de maneira respeitosa com ela, então acho que seria melhor se falasse como costumo fazer, hein?
“Kuro é o Rei do Submundo, hein...”
“Ahh! Esse parece ser o caso, no entanto as pessoas ao meu redor apenas me chamam assim para sua própria conveniência e nunca me apresentei desse jeito.”
“Certamente, de alguma forma, sinto que você não se encaixaria na imagem de alguém com um título como esse.”
“Ahaha, é verdade!”
Ao me ver conversando com Kuro com meu tom normal habitual, Lilia-san parecia pálida, mas Kuro não parece se incomodar com esses detalhes e respondeu com um sorriso brilhante no rosto.
E na frente de Kuro, Lunamaria-san trouxe uma xícara de chá, parecendo extremamente nervosa.
“R-Rei do Submundo-sama... P-Por favor, tome um pouco de chá...”
“Obrigado... Arehh?”
“!?”
Vendo o chá que Lunamaria-san colocou à sua frente, Kuro olhou para o rosto de Lunamaria-san e inclinou a cabeça depois de dizer algumas palavras de agradecimento.
Ao vê-la reagir a alguma coisa, Lunamaria-san pensou que tivesse feito algo descuidado, então se apressou em se ajoelhar e tentou se curvar, porém logo depois, ela enrijeceu com as palavras que Kuro havia dito.
“Você, nos conhecemos há cerca de dez anos, não é?”
“!?!?”
“Se não me engano... Seu nome é Lunamaria-chan, certo?”
“E-Então você... Se lembra de mim...”
Depois de entender as palavras que Kuro disse, os olhos de Lunamaria-san se arregalaram como se dissesse que não conseguia acreditar, é como se estivesse atordoada ao murmurar.
“Claro que me lembro. Como está sua mãe?”
“S-Sim! Graças ao Rei do Submundo-sama, ela poderia até ser descrita como a personificação da própria saúde!”
“Entendo, isso é bom.”
“Sim... Tudo foi graças ao Rei do Submundo-sama. Eu não consegui nem expressar minha gratidão por aquele tempo...”
Pensando bem, Lilia-san disse que Lunamaria-san já havia conhecido Kuro antes e, naquela época, começou a adorar o Rei do Submundo no nível de um fanático?
Lunamaria-san não achava que Kuro se lembraria dela depois de se encontrar apenas uma vez, e parecia estar dominada pelas emoções, juntou a mão e inclinou profundamente a cabeça.
“Não se preocupe com essas coisas. Você cresceu, hein? Estou feliz que nos encontramos de novo.”
“Su-Suas palavras... São boas demais para essa humilde eu.”
Com um sorriso brilhante no rosto, Kuro dá um tapinha na cabeça de Lunamaria-san, enquanto Lunamaria-san é tomada pelas emoções outra vez e começa a chorar.
Só posso presumir pela conversa delas que algo deve ter acontecido com a mãe de Lunamaria-san e Kuro a ajudou.
Em outras palavras, tem uma grande dívida de gratidão e é por essa razão que a admira tanto. Foi uma história muito boa, não é...
E então, depois que Lunamaria-san agradeceu repetidamente a Kuro, ela se levantou e voltou para trás de Lilia-san, contudo no caminho até lá, pude ouvi-la murmurando algo baixinho.
“O Rei do Submundo-sama... Me chamou pelo meu nome... Ela me afagou... Para sentir tanta felicidade... Acho que agora posso morrer em paz...”
“...”
Não. Lunamaria-san... Você não acha que a agulha do seu medidor já ultrapassou demais o sentimento de gratidão? Ela tem uma expressão no rosto que parece de êxtase, seu rosto está todo vermelho como o de uma donzela apaixonada, e seu olhar só estava focado em Kuro já faz algum tempo...
Querida mãe, pai — parece que Lunamaria-san foi ajudada por Kuro há muito tempo. No entanto, mesmo se eu levasse isso em conta, Lunamaria-san é realmente uma fanática.
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