Capítulo 36: Ela era uma mulher muito caseira
No oitavo dia do mês do Fogo, acordei muito cedo, talvez porque não dormi bem, e quando levantei ainda estava escuro lá fora da janela, e quando olhei para o meu relógio de bolso, eram 4 da manhã.
Embora ainda seja cedo, não sinto que estou com falta de sono porque fui para a cama mais cedo do que quando estava na Terra, onde costumava ficar acordado até tarde no computador ou assistindo TV.
Sei que é bom ter um estilo de vida saudável, mas já é hora de ter algo para me entreter um pouco. Da próxima vez que eu for à cidade, pode ser uma boa ideia comprar um livro ou algo parecido.
Pensando nisso, caminhei pelo corredor em direção à sala de jantar para pegar algo para beber.
O amplo corredor me dá uma sensação de tranquilidade pois o número de criadas que vejo atualmente na mansão é bem pouco, em parte porque seguia sendo bem cedo.
Existem dois tipos de empregadas trabalhando na mansão de Lilia-san, aquelas que se locomovem de casa e aquelas que trabalham como residentes, e as únicas que vejo a esta hora do dia são as residentes.
Apesar de já estar neste mundo há mais de uma semana, não me lembro dos nomes baseados no rosto das servas além de Lunamaria-san, especialmente aquelas que só patrulham à noite ou de manhã cedo... Elas são as chamadas guerreiras, e não conheço quase nenhuma.
Aliás, embora tenha sido bastante surpreendente, a serva pessoal de Lilia-san, Lunamaria-san, parece estar vindo de sua casa em vez de morar na mansão, e como ela mora com a mãe em sua casa, não muito longe da mansão, não posso vê-la tarde da noite ou de manhã cedo.
Porém, apesar de quase não ter interagido com muita gente, ainda há algumas que reconheço, e quando cheguei à sala de jantar para tomar uma bebida, havia apenas uma das poucas pessoas com quem tinha interagido aqui.
“Bom dia, Sieglinde-san.”
“...”
Uma mulher ruiva servia-se de uma xícara de chá sozinha no canto da sala de jantar. Avistando Sieglinde-san, que me acompanhou e me guiou pela cidade anteontem, eu a cumprimentei.
Ao me ouvir falar, Sieglinde-san, que não consegue falar, coloca o copo na mão e retribui minha saudação com um aceno de cabeça.
“Por acaso você é a responsável pela segurança noturna?”
“...”
“Como pensei, bom trabalho.”
“...”
Sieglinde-san é uma trabalhadora residente, e vendo a espada que estava apoiada ao lado de seu assento, questionei-a, pensando que estava encarregada da segurança da meia-noite até o amanhecer, e Sieglinde-san assentiu em afirmação.
O fato de estar tomando chá nesse momento provavelmente significa que o tempo em que estava no comando acabou e agora está fazendo uma pausa antes de ir para a cama.
Depois que inclinou a cabeça ao ouvir minhas palavras de agradecimento, Sieglinde-san me encarou e fez um gesto de inclinar a cabeça.
“Ah, acordei meio cedo e pensei em beber alguma coisa.”
“...”
“Eh? Obrigado. Pois bem, presumirei da sua gentileza e me juntarei a você.”
“...”
Sieglinde-san estava próxima quando a contei por que estava visitando a sala de jantar tão cedo pela manhã... Pegando uma xícara nova e um bule de chá de um carrinho, embora eu realmente não saiba como é chamado neste mundo, contudo é semelhante àqueles vagões de serviço usados para servir em hotéis da Terra, ela puxou uma cadeira próxima e sugeriu que nos sentássemos.
Percebendo as intenções de Sieglinde-san, agradeci e sentei na minha cadeira. Sieglinde-san então coloca uma xícara na minha frente e prepara uma xícara de chá com muita habilidade.
“Muito obrigado... Está muito bom.”
“...”
Agradeci a Sieglinde-san e tomei o chá que me ofereceu, e o sabor do chá, que não é muito quente e foi preparado em uma temperatura fácil de beber, aquece meu corpo enquanto acordava da sonolência.
Tem um gosto diferente do chá que Lunamaria-san costuma preparar para mim, já que pude sentir um leve sabor adocicado... Embora não é como a doçura do açúcar, talvez seja uma fruta? Tem uma doçura suave que não prejudica o sabor do chá.
“De alguma forma, tem uma doçura leve e suave.”
“...”
“Isso é... De frutas secas?”
“...”
Quando expressei minha opinião, Sieglinde-san sorriu e me mostrou uma pequena garrafa com algum tipo de fruta seca.
Talvez este chá contenha aquela fruta e é daí que veio a doçura sutil.
Sieglinde-san sorri novamente enquanto olho para a garrafa com interesse. Ela então tira um pequeno pedaço de papel do bolso da roupa e escreve algumas palavras nele.
[Contém frutas onduladas secas.]
“Heeh... Então é por isso que é doce.”
Se bem me lembro, a fruta ondulada é uma fruta que tem um sabor semelhante ao da maçã da Terra. O que quer dizer que este chá é como um chá de maçã.
No entanto o sabor requintado deste chá e a temperatura ajustada para facilitar a sua ingestão devem-se às excelentes habilidades de Sieglinde-san.
“Eu aprendi algo novo. Sieglinde-san é muito boa em preparar chá, hein.”
“...”
Quando a contei minhas impressões honestas, as bochechas de Sieglinde-san coraram um pouco e ela balançou a cabeça como se estivesse sendo tímida, mas até eu, um novato, posso entender que esse sabor não é algo que pode ser produzido com apenas um pouco de prática.
Olhando para seu rosto esguio, alto e bem definido, imaginei que fosse algo como uma artista marcial baseado na história de que costumava ser uma cavaleira habilidosa, então fiquei surpreso — embora possa ser rude da minha parte dizer isso, Sieglinde-san pode ser uma mulher voltada para a família.
“Ah, falando nisso... Consegui algumas folhas de chá há um tempo e elas eram muito boas, porém você sabe que tipo de folhas são?”
“...?”
De repente, lembrei-me do chá que Shiro-san havia me dado antes e como senti que Sieglinde-san parecia saber muito sobre chá, aproveitei a oportunidade para perguntá-la a respeito.
Eu perguntei porque esse chá tem um gosto muito bom e se eles estivessem sendo vendidos em algum lugar, adoraria comprar mais, entretanto... Vendo a garrafa que tirei da minha caixa mágica, os olhos de Sieglinde-san se arregalaram, parecendo surpresa por algum motivo.
Logo, ela estendeu a mão para ver mais de perto, então a entreguei a garrafa de folhas de chá, e Sieglinde-san começou a olhar de vários ângulos. Depois de olhar por um tempo, ainda mantinha aquela expressão de surpresa no rosto enquanto pegava a caneta.
[Acho que é chamado de Chá Glorioso. Embora seja a primeira vez que eu mesma veja a coisa real...]
“Este é um chá raro?”
[Este é um chá que só existe no Reino dos Deuses, era um chá fantasma que foi até chamado de Milagre de Deus.]
“Poderia ser algo muito caro?”
[Duvido que seja algo que apareceria no mercado em primeiro lugar, contudo mesmo que pudesse comprar alguns, tenho certeza que não custará menos do que dezenas de milhares de R por uma única xícara.]
“É-É mesmo.”
Shiro-saaaannnnnn? Por que diabos me deu uma coisa tão escandalosa como se estivesse apenas me dando lembranças casualmente? O que ela quis dizer com que ‘custaria dezenas de milhares de R por uma única xícara’? Uma xícara de chá que custa milhões de ienes já está em um nível de chá que eu não deveria conhecer...
Até Sieglinde-san parece ter visto algo inacreditável...
“Na verdade, é o chá que a deusa me deu. Embora não esperasse que fosse tão caro...”
“...?”
Quando expliquei que as folhas de chá me foram dadas pela Deusa, a expressão de Sieglinde-san mostrou surpresa uma vez mais. Como pensei, é de fato muito incomum receber algo de uma Deusa.
Não sei se Sieglinde-san estava interessada no Chá Glorioso ou não, no entanto depois que terminei de explicar, ela olhou para as folhas de chá com grande interesse antes de me devolver a garrafa.
“Errr, Sieglinde-san. Se quiser, quer beber um pouco deste chá?”
“...????”
Pude sentir que ela desfrutava de verdade em tomar chá e estava muito interessada nisso, então sugeri, mas Sieglinde-san entrou em pânico quando ofereci, balançando a cabeça vigorosamente.
É provável que ela ainda esteja se segurando devido a esse chá ser muito, muito caro... Porém eu queria agradecê-la pelo bom chá e pelos deliciosos biscoitos de geleia que me mostrou, então vou mudar um pouco meu modo de sugestão.
“Errr, que tal isso então? Este chá é tão delicioso que tenho vontade de bebê-lo... Contudo, para ser sincero, tenho muito pouca experiência em fazer chá e não tenho certeza se consigo prepará-lo bem. Então, posso pedir que o prepare para mim, Sieglinde-san, e em troca, poderia me acompanhar em bebê-lo?”
“...”
Ao ouvir minha sugestão, Sieglinde-san parece preocupada por um tempo antes de olhar para a garrafa que estendi em sua direção.
Por fim, parece que sua curiosidade levou a melhor. Sieglinde-san abaixou a cabeça uma vez com uma expressão de desculpas no rosto, pegou a garrafa de mim e começou a preparar o chá.
Como esperado, ela é muito boa em preparar chá e parece ser muito hábil em seu método de fazê-lo, e depois de um tempo, um aroma agradável flutuou no ar.
Depois de um tempo, o chá chegou e Sieglinde-san preparou alguns doces para nós, enquanto biscoitos deliciosos eram colocados na nossa frente junto com o chá.
Assim, após receber a garrafa de Sieglinde-san, que teve cerca de um terço do seu conteúdo reduzido, bebemos nosso chá.
Como pensei, este chá é extraordinariamente delicioso. É compreensível que tenha sido chamado com um nome exagerado como ‘Milagre de Deus’.
“Sieglinde-san, o que acha? O que você pensa depois de bebê-lo?”
“...”
Perguntei o que ela achou do chá, todavia mesmo que não dissesse nada, o sorriso em seu rosto foi suficiente para transmitir a felicidade do fundo do seu coração.
Quero dizer, ver a Sieglinde-san que tem uma aparência legal com um sorriso feliz que raramente aparece em seu rosto foi o suficiente para me fazer sentir que valeu a pena sugerir beber o chá.
Enquanto pensava nisso, levei um biscoito à boca... Esse biscoito também é muito delicioso.
Não é algo que grita ser de alta classe e tem um sabor caseiro. Um sabor simples e suave no paladar e que pessoalmente gosto muito.
“Esses biscoitos também são muito saborosos e sinto algum tipo de calidez neles.”
“...”
Quando a contei meus pensamentos sobre os biscoitos, Sieglinde-san pareceu um pouco envergonhada de novo, enquanto escrevia em um pequeno pedaço de papel com sua caneta.
[Eu os fiz como passatempo, mas estou feliz que tenham agradar ao seu paladar.]
“Eh? Sieglinde-san fez esses biscoitos?”
“...”
“Isso é incrível. Você não só é ótima em preparar chá, como também pode cozinhar com tanta habilidade.”
“...”
Para minha surpresa, esses biscoitos pareciam ter sido feitos por Sieglinde-san.
Os biscoitos são tão lindos que mesmo que me dissessem que foram comprados em uma loja, eu teria acreditado, e isso por si só transmite as habilidades culinárias de Sieglinde-san.
Como sempre, a pessoa em questão balançou a cabeça vigorosamente, envergonhada, a ponto de eu poder ouvir o som do ar balançando junto com sua cabeça...
“Sieglinde-san...”
[Você pode me chamar de Sieg. É também assim que meus amigos me chamam.]
“Bem, então, mais uma vez, Sieg-san, cozinhar é seu passatempo?”
“...”
“Heehhh... Na verdade, tentei assar um pouco no passado, porém não consegui acertar. Se puder me dar algumas dicas e truques, poderia me ensinar?”
“...”
“O que tentei fazer antes? Tentei fazer torta de maçã... Errr, uma torta de frutas antes, contudo parecia meio achatada aqui e ali...”
“...”
“O método de cozimento, hã... Fumu, fumu, é difícil para a massa inchar depois de esfriar, hein?”
“...”
Querida mãe, pai — conheci Sieg-san um pouco melhor. Apesar da aparência legal de Sieg-san — ela era uma mulher muito caseira.
Nota do Autor:
Sieglinde é uma elfa caseira... Em termos de posição, ela é bem comum, não acha?
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