Capítulo 152: O vento de repente ficou mais frio
O vento de repente ficou mais frio. Por um momento, parecia que o vento gelado estava pressionando Belgrieve vindo de cima e, de repente, sua dor fantasma começou a aumentar. Belgrieve estava caminhando pelo caminho da floresta quando caiu de joelhos, assustado. Era como se sua perna direita amputada estivesse pegando fogo e, por mais desesperadamente que agarrasse a prótese que veio para substituí-la, não aliviou nem um pouco a dor. Sua testa escorria de suor; já fazia muito tempo que não doía assim. Seu pulso batia forte em seus ouvidos e cerrava os dentes com tanta força que sua mandíbula não demorou a começar a doer.
O vento frio continuou a serpentear entre as árvores e lançou uma pressão sinistra do alto. Parecia haver alguns flocos de neve na brisa, pois podia sentir os cristais gelados dançando friamente em sua pele.
“Graah...” ele gemeu, fazendo uma careta de angústia. Cada segundo parecia uma hora e, apesar do frio que o assolava, seu corpo parecia estar em chamas.
Depois de algum tempo, a dor diminuiu. Durou apenas dez segundos, mas pareceu uma eternidade para Belgrieve. Por fim conseguiu respirar de novo quando foi liberado do episódio, embora apenas com hiperventilação superficial. Sem a dor, podia sentir o quão frio o vento estava, ainda mais agora que estava encharcado de suor.
“O que é que foi isso...?” Belgrieve olhou para o céu acima repleto de densas nuvens que pareciam cruzar as montanhas do norte e trouxeram consigo o ar frio daqueles climas. O que tinha sido um punhado de flocos de neve agora era uma enxurrada. Sua pretensão inicial era se aventurar um pouco mais alto na montanha, porém não parecia que seria possível agora. Sua intuição lhe dizia que algo estava errado e que precisava descer o quanto antes. Belgrieve endireitou a cesta nas costas, que havia sido derrubada quando caiu.
“Isso é estranho... O tempo não deveria mudar tão de repente.”
Não havia valores absolutos quando se tratava da Mãe Natureza, contudo ainda assim, seus muitos anos de experiência lhe diziam que uma mudança tão repentina nesta temporada era totalmente anormal.
Ele olhou para o céu outra vez e ficou surpreso ao ver algo flutuando no meio da escuridão — cabelos brancos e puros, ondulando na brisa.
“Dama do Inverno...?”
Não era outro senão o grande espírito do inverno. Saber que ela estava aqui explicava um pouco o frio, no entanto já a havia conhecido nos primeiros dias do verão, e seguia sendo estranho que tivesse retornado tão cedo. Afinal, deve ser uma situação anormal...
A Dama do Inverno estava olhando para o sopé da montanha. A nobre senhora apenas viajava pelo mundo nos ventos de inverno, mas claramente veio hoje com algum propósito em mente. Alguma coisa estava acontecendo — na vila ou em algum lugar próximo.
Belgrieve ignorou a impaciência que ameaçava explodir em seu peito enquanto começava sua descida apressada.
○
“Essa é a réplica do...” Angeline começou, porém ficou surpresa com a expressão da mãe. Satie ficou pálida como um fantasma.
“Por que... Por que você tem isso?”
Quando Satie se aproximou, Ishmael enfiou a ponta do galho na ponta do nariz dela. Satie tropeçou e recuou alguns passos antes de enrijecer.
“Mãe?”
“Ange, volte!” Satie gritou, ainda presa no lugar.
Angeline sabia que algo estava errado. Ela correu para o lado da mãe, contudo sentiu um estranho aperto no peito quando olhou para o galho de maçã na mão de Ishmael e, de repente, seu corpo não respondeu mais à sua vontade. É isso que está acontecendo com a mãe também?
Anessa e Miriam correram freneticamente para segurá-la antes que colapsasse.
“Ange?”
“Hey, sua aparência está péssima. Você está bem?”
“Não entendo.” disse Ishmael, com voz gentil. “Pensando agora, não tenho a menor ideia de quando passei a possuir este galho. Hey, Srta. Angeline. Todos os humanos têm memórias para refletir, certo? Entretanto parece que não tenho passado.”
“Do que está falando...? O que deu em você, Sr. Ishmael?”
“Segue dizendo a mesma coisa... Vejo que de fato é uma idiota, Srta. Angeline. Quer dizer, o Sr. Percival já comentou, e eu também acho. E tenho certeza de que você também acredita nisso, Sra. Satie. Quero dizer, seria estranho se não o fizesse. É óbvio.”
“Hey, espere... Não entendi nada...”
“Talvez seja muito mais fácil não ter passado. Não tendo fardos para carregar. Jogar tudo fora, imagino. Tendo forjado um novo passado para si mesma, imagino. É por esse motivo que pode ficar aí sentada agindo como se nada tivesse acontecido. E, ainda assim, é a única que pode agir como inocente.”
Angeline estava tão confusa que não conseguiu dizer uma palavra. A ponta do galho estava apontada para Satie e, como um sapo hipnotizado pelo olhar de uma serpente, Satie não conseguia se mover. Seus olhos estavam fixos em Ishmael e suas mãos tremiam, prontas para desembainhar suas espadas invisíveis a qualquer momento. Anessa e Miriam não sabiam o que fazer. Elas tinham acabado de estar no pátio — nenhuma das duas estava armada para o combate. Mesmo que quisessem voltar para casa para pegar as armas, parecia uma tolice dar as costas a Ishmael agora. Seja como for, Anessa posicionou os pés para poder atacá-lo assim que tivesse oportunidade.
“Nem tentaria se estivesse no seu lugar.”
Anessa se encolheu.
“Posso garanti-la que posso lançar antes um ataque de que me alcance.” embora Ishmael estivesse sorrindo, havia um tom de aborrecimento em sua voz. Quando voltou seu olhar para Angeline, foi como se estivesse olhando para algo totalmente diferente. “Você não começou a ter pesadelos depois de tocar nesse galho?”
“Não me lembro.”
“Tenho certeza de que pessoas que conhecia surgiram em seus sonhos. Sr. Kasim, Sr. Percival, Sra. Satie. Eles deviam estar com dor. Afinal, você roubou o futuro que eles deveriam ter tido.”
Angeline estremeceu. Suas palavras foram como um balde de água gelada jogado sobre sua cabeça. Por que ele sabe disso?
“Veja, os sonhos são sobre organizar memórias. Suas próprias memórias, expostas, sem nada para escondê-las. Agora, não acha que os eventos que viu realmente aconteceram? Não pode fingir que esqueceu.”
Angeline apertou a cabeça. Sua cabeça estava cheia de um som semelhante ao de grãos de areia sendo peneirados enquanto imagens fragmentadas passavam por sua mente. Seu coração estava palpitante e sentiu como se estivesse prestes a vomitar.
“Não dê ouvidos a ele, Ange...” Satie disse, lutando para exprimir essas poucas palavras.
“Claro, também esqueci. Não tenho ideia de quando consegui este galho. Todavia quando o seguro na mão... Aos poucos, começo a esquecer mais quem sou. Todos aqueles pequenos sentimentos de que algo está errado ficam maiores e mais proeminentes. Parece que minhas memórias e emoções são uma imitação barata de outra pessoa.”
“Você não disse que era uma reprodução de um...”
“Pensei que fosse assim — de verdade. Mas não é. Esta é a chave. Isto é real. E eu não sou. Que tal — quer testar?”
Com um movimento sutil de sua mão, o galho balançou e de repente a área se encheu de mana crescente.
De repente, Percival saiu correndo da casa em uma velocidade tremenda e, com um punho tão duro quanto aço, derrubou Ishmael com um soco. Percival nem sabia em quem estava atacando até depois de atingir Ishmael. Ele olhou fixamente para sua mão enquanto a abria e fechava.
“Ishmael...? Hey, o que está acontecendo aqui? O que foi aquela mana estranha...?”
Satie caiu de joelhos, enfim livre, e lutou para recuperar o fôlego.
“Não sei o que está acontecendo. Mas aquele galho... Eu o quebrei em pedaços e usei até o último pedaço de mana contido nele... Não deveria existir mais... Sim, precisamos nos livrar daquilo.”
Ishmael, que havia sido atirado até o lado oposto da cerca, levantou-se cambaleando.
“Ah, droga... Até a dor é falsa. Nunca existi desde o início, então é estúpido que aja como sempre agi.”
“Senhor Ishmael?” Angeline gritou enquanto se aproximava. Contudo este ergueu a mão para segurá-la.
“Está tudo bem. Bem... Veja, já estou cansado. Já estou farto de ser atormentado por sentimentos que não existem. Tudo isso, é tudo culpa disso. Então eu...” Ishmael agarrou o galho com força, quase como se estivesse tentando quebrá-lo. Satie disparou, com a mão estendida para arrancá-lo. No entanto antes que pudesse alcançá-lo, Ishmael virou a ponta do galho em direção à própria cabeça.
Aconteceu em um instante. Um raio mágico disparou da ponta e perfurou o crânio de Ishmael, espalhando sangue pelo ar. Todos ficaram surpresos, exceto Satie, que não parou por um segundo. Ela continuou a pegar o galho de maçã na mão de Ishmael mesmo quando seu corpo caía.
“Preciso...”
Entretanto, embora parecesse estar morto, a mão esquerda de Ishmael agarrou o pulso de Satie. Seu cadáver parou pouco antes de atingir o chão, como se estivesse sendo sustentado por cordas. Como uma marionete, sua cabeça se ergueu, seguida pelo corpo. Os contornos de seu corpo pareciam borrados como névoa, e onde estivera momentos antes estava um homem com uma túnica branca e um capuz que lançava uma sombra sobre seu rosto.
“Aquele é...”
“Schwartz!” Satie balançou sua lâmina invisível, todavia antes que pudesse derrubá-lo, Schwartz canalizou mana para o galho e liberou uma onda de choque de energia. Satie recebeu toda a força dessa explosão poderosa à queima-roupa e foi jogada para trás. Angeline correu para pegá-la enquanto Percival se interpunha para protegê-las.
“Pegue nossas armas!” ele gritou sem se afastar da ameaça.
“Oh, certo!” Anessa se virou e correu.
Percival permaneceu como uma parede entre Angeline e Schwartz. Suas costas musculosas deixaram Angeline à vontade, mas Satie estava tremendo em seus braços, toda a cor drenada de seu corpo.
“Por que...? Tenho certeza que...”
“Mãe, você está bem?”
“Ange...” Satie olhou para Angeline, cheia de medo e cansaço, e agarrou sua manga. “Sinto muito... Se ao menos eu... Se tivesse certeza disso...”
Estranhamente, Angeline podia sentir o poder brotando do fundo de seu peito. A compaixão que sentia pela mãe e a raiva que sentia por Schwartz serviram como uma espécie de estimulante, ajudando-a a reunir forças.
“Ange.” Anessa gritou e entregou sua espada.
“Droga, justo quando eu estava prestes a vencer!” Marguerite reclamou, aparecendo com seu florete em punho. A elfa parecia estar de mau humor por ter sua partida de damas com Percival interrompida.
Byaku, que saiu correndo do campo depois de sentir a presença de Schwartz, olhou para o mago com profundo ódio.
“Aquele bastardo...”
“Faz muito tempo que não nos vemos, falha.” disse Schwartz com um sorriso.
“Cale-se!” Byaku implantou suas construções circulares tridimensionais, a raiva estampada em seu rosto.
Essa onda peculiar de mana certamente alertou Kasim e Graham, e a equipe de Angeline logo se reuniria também. Independente de quão habilidoso Schwartz fosse como mago, não havia dúvidas de que foi superado. Amparada por esse pensamento, ela se levantou e preparou sua lâmina. O homem não tinha aberturas em sua postura, e agora que o encarava de verdade, podia sentir a imensa pressão pesando sobre seu corpo. Sua presença era quase tão pesada quanto à de Graham. Percival estava imóvel, esperando que alguém desse o primeiro passo. A intensidade peculiar de Schwartz fez com que até mesmo aventureiros armados de Rank S hesitassem em atacá-lo.
Um vento frio soprou do norte e trouxe consigo flocos de neve e um frio cortante. O céu estava coberto de nuvens escuras, bloqueando até o último raio de sol.
“O que fez com o Sr. Ishmael?” Angeline perguntou.
Schwartz zombou.
“Aquele homem nunca existiu para começar. Se isso te faz se sentir melhor, ele na verdade queria ajudá-los.”
“Está mentindo!” Angeline reforçou o controle do punho. “Lucille disse que seu cheiro era diferente. Não sei o que fez com o verdadeiro Ishmael, mas não vou te perdoar... Desta vez, vou acabar com você de uma vez por todas.”
Schwartz gargalhou.
“É claro que temos um cheiro diferente. O Ishmael que viajou com vocês até a capital era um Ishmael diferente daquele que conheceu em Orphen. O primeiro era uma persona completa — por isso podia entrar no meio de vocês sem levantar suspeita. Porém havia algumas tarefas que eu precisava realizar em Orphen em pouco tempo, e sua personalidade e memórias se tornaram instáveis. Esse foi um assunto trivial no final.”
“Hã...? Não sei do que está falando, contudo não pense que pode escapar dessa.”
“Aquela elfa nunca lhe contou sobre falsas personas?”
“Não tenho ideia do que quer dizer.”
Schwartz riu.
“Talvez sua mãe não confie em você tanto quanto pensava.”
“Isso não é verdade!” Angeline disse com os dentes cerrados. Ele estava tentando semear discórdia, e não estava disposta a deixá-lo escapar impune.
Angeline apontou a ponta da espada para Schwartz.
“Todo mundo está aqui em Turnera. Percy, Kasim e vovô. Até o pai está por perto. Não vai conseguir escapar dessa vez.”
“Não tenho intenção de fugir. Este era o meu objetivo.” Schwartz fez um sutil gesto com o galho.
Sempre que Angeline olhava para o galho sentia uma dor profunda no coração. Talvez já tivesse usado alguma forma de magia nela; apenas ficar à sua frente tornava difícil respirar, e seu equilíbrio emocional estava completamente abalado.
“Foi doloroso ser traída?” Schwartz perguntou.
Angeline franziu a testa.
“Não fui traída. Fui enganada... Por você.”
“Entendo. Pode ser que seja o caso. No entanto você tem o direito de reclamar?”
“O quê...? Quem foi que enganei?” Angeline rugiu.
Anessa tentou acalmá-la.
“Calma, Ange. Não deixe que te confunda.”
“Isso mesmo.” sussurrou Miriam. Ela estendeu seu cajado. “E se continuar emanando aquela energia estranha, não demorará muito.”
Assim como Miriam havia sugerido, eles podiam ouvir o som de passos apressados vindo em sua direção. Kasim e Graham corriam a toda velocidade. Kasim parou, olhando direto para Schwartz, uma expressão de choque no rosto.
“Ah, acho que não estava morto, afinal...”
Schwartz sorriu alegremente e balançou o galho outra vez, teletransportando-se para uma curta distância, apenas o suficiente para não ter que se defender de ataques dos dois lados ao mesmo tempo.
“Os eventos estão começando a se acumular. Mas o Ogro Vermelho ainda não chegou.”
“Você mudou um pouco. Tem uma vibração mais perigosa do que quando lutamos antes.” Kasim ajeitou o chapéu com uma expressão preocupada.
A espada sagrada de Graham rugia com mais ferocidade do que nunca, e o olhar de Graham estava fixo em Schwartz, seu rosto mostrava uma determinação sombria.
Diante de Angeline, Graham, Percival e Kasim, todos aventureiros Rank S, Schwartz não pareceu nem um pouco perturbado. Na verdade estava ciente da ameaça que representavam, e era exatamente o que tornava tudo tão sinistro, sem importar a estranha aura que parecia prender todos no lugar.
A fonte deste poder distorcido era sem dúvida o galho da macieira. Não foi o próprio Schwartz, e sim a posse daquele ramo que impediu todos esses poderosos combatentes de levantarem um dedo em seu contra.
“Mãe, o que é uma falsa persona...?” Angeline perguntou suavemente.
“Aquele homem chamado Ishmael... Era uma falsa personalidade criada pela magia de Schwartz. Memória, personalidade, aparência, é possível falsificá-los por completo. Porém, se quiser fazê-lo com perfeição, terá que selar as memórias e a personalidade do indivíduo original. Acho que, como Schwartz precisava fazer alguma coisa, então teve que deixar um pouco de si mesmo, o que tornou a personalidade de Ishmael instável.”
Isso parecia explicar como Ishmael às vezes parecia ter se tornado uma pessoa diferente, saindo por tangentes peculiares. Esse conhecimento foi um frio conforto diante da compreensão de que Ishmael na verdade nunca existiu. Contudo não era hora de ficar deprimida. Angeline olhou para Schwartz e para o galho que parecia sufocá-la toda vez que o olhava.
“Hey... O que é esse galho? O que quer dizer com a ‘Chave’?”
Satie respirou fundo.
“Essa... É a Chave de Salomão. Uma relíquia que qualquer pessoa que esteja pesquisando demônios estaria desesperada para colocar as mãos.”
“Hã? Mas você não disse que a roubou e quebrou?”
“Foi o que pensei... Quebrei-a e gastei toda a sua mana... Deveria estar completamente inutilizável.”
Schwartz gargalhou, brandindo seu prêmio.
“Achou que alguém do seu nível poderia destruí-la?”
“Não havia sinais de que recuperaria seu poder depois de tudo que fiz. Além do mais, depois que saí da capital, esse espaço deveria ter deixado de existir. Deveria ter desaparecido sem deixar vestígios.”
“O poder de Salomão é maior do que pode compreender. Esse espaço foi mantido puramente pelos restos de mana da Chave.”
“Não...” Satie murmurou, desanimada.
“Quão ingênua.” disse Schwartz com desdém. “Se você é tão tola quando deixada por conta própria, deveria apenas ter me deixado usá-lo... No entanto não poderia, não é? Você temia ficar imersa.”
Satie mordeu o lábio e olhou feio para Schwartz.
“Então essa é a Chave de Salomão? Aquela sobre a qual nos contou?” Kasim perguntou, com os olhos estreitados.
“Sim...”
“A real? Tem certeza disso?” Angeline engoliu em seco. Nunca poderia ter imaginado. Em Orphen, ela mesma o pegou e inspecionou de perto. Nunca teve ideia de sua verdadeira natureza.
“Sinto muito, Ange. Se eu tivesse falado sobre isso, se tivesse te contado tudo...” Satie murmurou.
“Não é sua culpa, mãe.”
“Hmm. E esse seu galho é o motivo pelo qual pode se posicionar tão ousadamente contra nós?” Percival disse, apontando sua espada. “Ir ponto a ponto é angustiante. Vamos direto ao assunto — o que está tentando fazer aqui?”
“Você vai ver.”
“Humph. Não quer conversar, hein? Então nós te vencemos e ponto final. Vai se arrepender de ter se revelado para nós.”
Schwartz sorriu e acenou com o galho, gerando uma onda de choque grande o suficiente para deformar o espaço. Os olhos de Percival se arregalaram quando saiu e atacou de frente com sua espada. A mana de sua lâmina colidiu com a energia mágica, irrompendo em uma grande rajada de vento que varreu tudo ao seu redor.
“Testando as águas, hein? Não me subestime!”
Ignorando a violenta tempestade, Percival avançou.
Schwartz acenou com a chave outra vez.
“Flauros.”
Uma coisa humanoide negra emergiu de sua sombra e interceptou a lâmina de Percival. Dois olhos esbugalhados eram a única evidência de um rosto. Seu torso era vagamente humano, exceto por ter dois pares de braços, todavia era uma fera de quatro patas da cintura para baixo.
A sombra pegou a espada de Percival com as duas mãos e baixou os outros dois braços sobre o espadachim. Percival puxou a espada e recuou.
“Um demônio?”
Enquanto Percival se recuperava de sua retirada apressada, os círculos cor de areia de Byaku voaram sobre sua cabeça e caíram sobre Schwartz como meteoros. Entretanto, um movimento dos braços do demônio foi suficiente para derrubá-los. Byaku caiu de joelhos, sua respiração dolorida e irregular, mas seus olhos estavam em chamas. O garoto havia implantado uma vasta gama de círculos, porém eles eram tremeluzentes e instáveis. Seu cabelo agora estava salpicado de preto.
Angeline agarrou seu ombro.
“Não se esforce, Bucky...”
“Merda... Me sinto estranho... Não saia!”
“Botis.”
Schwartz acenou com o galho mais uma vez. Outra figura emergiu de sua sombra, esta longa e serpentina.
“Fora do caminho!” Percival entrou na briga de novo e travou um violento confronto com a serpente. A força do demônio parecia ter sido consideravelmente amplificada pela Chave de Salomão, a ponto de poder resistir até mesmo contra Percival.
Schwartz apontou o galho para Byaku.
“Caim.”
“Gah!” Byaku se dobrou de dor quando seu cabelo começou a ficar todo preto. Os círculos mágicos cor de areia flutuando por todo o campo de batalha derreteram e as mangas de sua camisa rasgaram quando suas mãos foram substituídas por garras bestiais, quase como garras de pássaros. Seus braços e cabeça estavam cobertos de fios pretos em algum lugar entre cabelos e penas.
“Bucky?”
“Gaaaaaaaah!” Byaku gritou enquanto atacava Angeline, que se apressou em se defender com sua lâmina.
“Pare com isso, estúpido!” gritou Marguerite enquanto deslizava por trás de Angeline e chutava Byaku para longe. Enquanto voava, ele se recuperou no ar e caiu de quatro como um animal.
“Guh, urgh... Pare... Com isso. Não venha — gaaaaaah!”
A Chave de Salomão aparentemente trouxe à tona a alma do demônio. Embora Byaku estivesse fazendo um esforço desesperado em resistir, seu corpo não era mais seu. Mais uma vez, ele ergueu as garras para atacar.
“Eu vou segurá-lo! Faça algo sobre Schwartz!” Marguerite uivou, desviando das garras de Byaku com sua lâmina.
Os flocos de neve espalhados eram agora uma nevasca girando em espiral ao redor deles. Satie avançou, Angeline não perdeu tempo em acompanhá-la.
“Ange! Por favor, fique para trás! Eu cuido disso!” Satie implorou.
“O que está dizendo, mãe? Percy e Maggie não podem ajudar... Aquele cara não é alguém contra quem possamos nos conter!”
“Tudo bem! Porém não chegue muito perto de Schwartz e tome cuidado com a Chave!”
“Entendi!”
Angeline ergueu a espada. A Chave de Salomão era misteriosa, contudo não era tão ruim a ponto de ela desistir e ficar de fora. Satie se aproximou pela esquerda enquanto Angeline se aproximou pela direita. Elas o cercaram e, sinalizando uma para a outra com os olhos, atacaram-no em conjunto.
“Eligor.”
Schwartz balançou o galho de novo. Desta vez, a sombra parecia um cavaleiro com armadura. O de quatro braços pegou a lâmina invisível de Satie, enquanto o de armadura bloqueou a espada de Angeline.
Satie estalou a língua.
“Tsk, quando conseguiu tantos...?”
Depois de trocar alguns golpes com a sombra, Angeline gritou.
“Mãe! Recue!” enquanto ela mesma recuava. Satie se apressou em fazer o mesmo.
O feitiço Imperador Relâmpago de Miriam ressoou acima da cabeça de Schwartz, um poderoso relâmpago caindo sobre ele. No entanto Schwartz limitou-se a agitar o galho para cima, apagando o raio.
Não lhe dando um momento de descanso, o feitiço de Kasim veio em seguida. A magia girou no ar, tornando-se pontiaguda como uma lança justa enquanto disparava direto para Schwartz em velocidades vertiginosas. Esta era a Lança de Hart Langer, seu feitiço característico.
“Muito bem.” disse Schwartz, segurando o galho diante de si. O grande feitiço que poderia perfurar monstros de Rank S não só não conseguiu romper o que parecia ser um mero pedaço de madeira, como também foi absorvido por ele. Schwartz balançou o galho novamente; a saraivada de flechas que estava escondida atrás do feitiço se partiu em suas pontas como flores desabrochando, colidindo suave e inutilmente com seu corpo antes de cair no chão sem deixar um arranhão.
Anessa cerrou os dentes.
“Ele é uma verdadeira dor de cabeça...”
“Um bastardo ultrajante encontrou um brinquedo ultrajante para brincar.” disse Kasim com desdém, encolhendo os ombros.
Mas enquanto todos se preparavam para atacar novamente, Graham ordenou que todos se retirassem. Sua voz era pesada e solene, e suas palavras simples reverberavam em todos os corpos, mesmo sem a necessidade de levantar a voz. Angeline, Satie e Percival (que ainda lutava com a serpente) recuaram no mesmo instante.
Graham brandiu sua grande espada e deu um passo à frente. Ele passou toda a luta até agora se concentrando e moldando sua mana. Uma imensa pressão encheu o ar e causou arrepios na espinha de todos.
A expressão no rosto de Schwartz mudou.
“Então você decidiu agir, Paladino.”
As três sombras ficaram na frente de Schwartz de forma protetora.
A espada sagrada rosnou bestialmente quando Graham balançou a lâmina para baixo. Uma torrente de luz surgiu da espada em uma onda de mana, consumindo e pulverizando os seres sombrios de uma só vez. Byaku, que estava em combate com Marguerite, parou de se mover antes de cair de cara no chão. Suas garras e plumagem desapareceram.
“Esplêndido.” disse Schwartz. Seus três asseclas haviam desaparecido, porém ainda estava ali, embora sem o braço esquerdo do ombro para baixo. Não parecia que tivesse evitado por completo o ataque.
Graham estava encostado na espada, respirando pesadamente. Era perceptível que havia colocado tudo de si naquele golpe. Percival estava muito atrás e não parecia que Marguerite pudesse entrar na batalha naquele instante.
Preciso resolver isso agora, pensou Angeline enquanto corria para matar. “Desta vez... Acabou!”
“Ange, espere! Você não pode!”
O grito de Satie veio no momento em que Angeline avançou com sua espada. Schwartz moveu um pouco o corpo para o lado e a ponta da lâmina apenas acertou seu ombro. Angeline estalou a língua. Estava mirando no coração...
“Eu estava esperando por esse momento.” isso foi tudo que Schwartz tinha a dizer sobre seu ataque.
Angeline tentou pular para longe, contudo antes que pudesse, a ponta do galho cutucou de leve seu peito. Seu coração batia com uma batida forte e evidente. Algo se fechou dentro dela... E algo mais se abriu.
“Hã? Ah...”
A força foi drenada de seu corpo. Ela puxou a espada de Schwartz enquanto cambaleava para longe, instável, um passo, depois outro. O olhar frio de Schwartz estava focado nela, mesmo enquanto se teletransportava para fora do alcance do ataque.
“Ange?”
“Hey, o que há de errado?”
Angeline ouviu Percival e Kasim e se virou para eles. A luz desapareceu de seus olhos.
“Ahh...”
“Ange? Controle-se!” Satie correu em sua direção.
Sua visão estava turva. De repente, uma solidão bizarra encheu seu peito. Queria voltar. Queria voltar e ser elogiada. E o que precisava fazer para ser elogiada? Tinha que matar mais.
Angeline balançou a espada de repente. O golpe forte foi bloqueado pela lâmina invisível de Satie.
“Ange!”
“Preciso voltar... Então eu...” Angeline murmurou ininteligivelmente enquanto uma aura palpável de perigo emanava ao seu redor. Enquanto sua espada estava travada contra as lâminas invisíveis, chutou sua mãe para longe. Percival pegou Satie com uma expressão de choque. Satie teve um ataque de tosse por causa da pancada no plexo solar.
“Hey! O que pensa que está fazendo? Ficou maluca?”
“Magia de lavagem cerebral...? Não, é a Chave de Salomão... Angeline é um demônio, então... Droga, sou uma idiota. Por que não percebi antes?”
“O que isso significa exatamente?” Percival franziu a testa.
Satie falou através de sua tosse.
“Cough... Ange é um demônio, então é altamente suscetível à magia focada através da Chave de Salomão... Não estava certa do que aconteceria ao certo, no entanto não a queria perto daquilo...”
Kasim gemeu frustrado.
“Por Viena... Precisaremos tomar algumas medidas drásticas.” rangendo os dentes, ele se apressou teceu uma rede de magia para enredar Angeline, que estava perseguindo os três. Seu avanço foi interrompido por um breve instante, porém não demorou para romper o feitiço com força bruta.
“Ugh, aquela rede deveria ser mais forte que metal.”
“Vocês, magos... Fiquem fora disso!” Marguerite saltou diante deles com seu florete em punho. Assim que Angeline chegou perto o suficiente, atacou Marguerite com olhos vazios. A Valquíria de Cabelos Negros estava manobrando como um espectro vingativo. Marguerite se assustou e, embora tenha conseguido evitar o primeiro golpe, foi seguido por um segundo e depois por um terceiro. Esse estilo letal era completamente diferente de como Angeline costumava lutar quando brigavam, e a pele de Marguerite foi impiedosamente cortada. Não foram ferimentos fatais, no entanto estava coberta de linhas vermelhas ao longo de seus braços e pernas.
Marguerite cerrou os dentes.
“Ange... Você está tentando mesmo me matar aqui!”
“Uh-huh...” Angeline murmurou, desferindo mais golpes sem emoção.
Marguerite não tinha intenção de matar Angeline, então era inevitável que se contivesse. Contra uma implacável Angeline lutando para matar, foi forçada a ficar na defensiva. Vou ser capaz de vencer Ange como está agora, mesmo se não estivesse me segurando? Suas feridas só aumentavam em número e seu inimigo ganhava impulso.
“Ange! Pare agora!”
“Você tem que parar! Maggie vai morrer!”
Anessa e Miriam gritaram desesperadas. Todavia as suas vozes não alcançaram Angeline.
Foi nesse ponto que Percival interveio e bloqueou seu ataque, irradiando cheio de fúria uma força monstruosa que não demonstrava há algum tempo.
“Não se deixe controlar tão fácil assim. Você não é tão fraca, é?”
“Matar...” Angeline não perdeu um segundo antes de lançar sua espada em Percival, porém este passou por muito mais batalhas do que qualquer uma delas. Não havia intenção de matá-la, contudo respondeu com golpes que deveriam ter sido fortes o suficiente para quebrar sua lâmina. A ofensiva unilateral de Angeline foi interrompida e agora foi forçada a se defender.
No entanto quanto mais suas lâminas se encontravam, mais rápido Angeline parecia ficar. Pouco a pouco, parecia aprender com Percival. Ela começou a usar fintas em seu ataque desenfreado e começou a encontrar oportunidades para realizar seus próprios ataques.
Percival fez uma careta.
“Eu ficaria encantado em qualquer outra circunstância...”
Enquanto comentava, Angeline se abaixou e correu sob sua guarda, seu golpe perfurando o antebraço de Percival e espalhando gotas de seu sangue pelo ar. Os olhos de Percival se arregalaram — percebendo que Angeline havia paralisado no final daquele movimento. Usando a mão esquerda intacta, atingiu-a no peito com um golpe de palma, dobrando-a e fazendo-a cambalear para trás.
“Solitá... Ria...” Angeline murmurou.
A espada de Graham uivou de raiva, sua lâmina brilhando. No entanto, não era a mesma luz forte de antes e, em vez disso, emitiu um brilho suave sobre Angeline. Angeline parou e soltou um gemido angustiado. Sua espada escorregou por entre seus dedos e caiu no chão.
Parecia que a névoa havia desaparecido de sua mente. A solidão avassaladora foi contida e sua consciência estava voltando, entretanto o que antes estava fechado agora estava aberto. Aqueles pesadelos de sofrimento e tudo o que deveria ter esquecido agora inundavam a cabeça de Angeline — os olhos de Kasim depois de desistir de tudo; Percival encharcado de sangue, escondendo-se de seu ódio e desamparo; As costas de Satie tremiam enquanto chorava em desespero — aqueles pesadelos agora cobriam as pessoas diante de seus olhos.
E havia memórias que estavam escondidas ainda mais além daquelas que vinham à tona em sua mente.
“Não, não, não, não, não!” Angeline puxou e torceu o cabelo em uma bagunça desgrenhada.
De repente, os olhos de Percival se arregalaram enquanto a observavam; Kasim também olhou atento para ela e Satie congelou, abrindo e fechando a boca sem dizer uma palavra.
A sombra aos pés de Angeline ganhou substância e subiu para ficar ao seu lado, assumindo a forma de uma besta de quatro patas — um lobo grande e poderoso, que então envolveu Angeline, sua forma entrando e saindo da existência.
“Eu... Eu...” Angeline podia sentir o gosto de sangue dentro de sua boca. Seus olhos estavam transbordando de lágrimas.
Satie apertou o peito, ofegante.
“Não, não pode ser...”
“Só pode estar brincando...”
“O-O quê? O que deu em vocês três?” Marguerite perguntou insensivelmente, sem ter noção da situação.
Com uma expressão severa, Percival falou.
“Nunca vou esquecer... Aquele demônio, aquela sombra parecida com um lobo... Foi quem pegou a perna de Bell.”
“Hã...?”
“Não... Não pode ser! Você está dizendo que Ange era o demônio o tempo todo?” Miriam e Anessa olharam entre Angeline e Percival.
“Não quero acreditar, mas é verdade.” disse Kasim, inclinando o chapéu sobre os olhos.
Percival coçou a cabeça.
“Isto é um absurdo, um absurdo! Então o que eu... O que devo fazer?”
“A humana chamada Angeline nunca existiu!” Schwartz declarou friamente. Angeline se virou para o mago.
“Não... E-Eu definitivamente...”
“Você roubou a sua perna e forçou um destino cruel sobre ele, depois o roubou de seu amor, e para quê? Você o enganou. Essa é a verdade!”
“Não, eu...”
“Ange!” sua cabeça se ergueu e se virou em direção à voz.
Através da neve que caía, podia ver cabelos ruivos balançando ao vento. Belgrieve estava correndo em sua direção. Porém ele parecia estar com dor. A julgar pelos seus passos que pareciam aliviar o peso da perna direita, com certeza se tratava da sua dor fantasma que estava agindo.
Angeline segurou o peito, o coração batendo forte.
Ela se escondeu no escuro. A presença de uma presa se aproximava, anunciada por vozes barulhentas e quatro pares de passos. Viu o garoto loiro e o garoto ruivo atrás dele.
Roubei aquela perna.
Suas patas traseiras foram enroladas; atacaria para tirar a vida. Comeria carne e beberia sangue. E para isso...
O gosto de sangue fresco quando arranquei sua perna direita foi delicioso.
Ela saltou. O ar morno da caverna batia em seu rosto. Ela mostrou suas presas. Ela abriu a boca.
Não, não estava delicioso... Não pode ter acontecido.
Ela viu um rosto surpreso. Eles foram incapazes de reagir — e isso foi melhor ainda. Apenas teriam de deitar e morrer. Bastava deitar-se e deixar-se devorar.
Estava uma delícia. Eu queria comer mais.
Alguém saltou de trás do garoto loiro e o empurrou para o lado, então deu uma mordida nele. Mordeu a perna direita do garoto com toda a força. Suas presas rasgaram carne e ossos.
Não é verdade. Eu nunca pensaria isso.
O gosto de sangue encheu sua boca.
Que delícia. Quero matar mais. Para matar e comer.
O ruivo torceu o corpo para resistir, afastando a cabeça. Mas não foi suficiente para detê-la. Com um rugido, se libertou com força e arrancou a perna com aquele movimento.
Delicioso.
Sua boca estava cheia com gosto de sangue.
Não, não quero comê-la. Não desejo nada assim.
Tanto sangue. Outra mordida. Depois que terminasse com ele, ainda restaria mais três. Que alegria foi.
Porém o ruivo abriu o que parecia ser um pergaminho. Os quatro aventureiros foram envolvidos e logo desapareceram. Sua boca estava cheia de sangue. O cheiro permeou sua cavidade nasal.
Delicioso. Contudo não o suficiente.
Ah, mas... Mesmo que eu negue, é a verdade.
“Eu sou... A causa de tudo.”
Havia sido a razão pela qual Kasim se voltou para a vilania, por que Percival continuou a se lançar de forma imprudente na batalha e por que Satie passou por tantos ciclos de tristeza e desespero. Tudo porque havia arrancado a perna de Belgrieve.
E meu pai também — quanto sofrimento ele passou por causa da perda da perna? A lembrança do gosto e do cheiro do sangue em sua boca reforçou as memórias em todos os seus detalhes vívidos.
Um passarinho horrível que expulsou todos os outros filhotes do ninho. Que futuro maravilhoso aguardava todos aqueles ovos que caíram no chão?
“Urgh... Uwaaaaaah!” Angeline caiu de joelhos, enterrando o rosto nas mãos.
Como posso enfrentar Belgrieve agora? Como posso chamá-lo de pai? Não tenho o direito...
A sombra que envolvia Angeline aumentou de tamanho. O ar estava cheio do que parecia ser um terremoto, e a agitação agora era uma nevasca. O espaço atrás dela pareceu perder a forma. A sombra girou atrás de Angeline, e o centro da espiral, gradualmente crescendo cada vez mais, revelou um espaço escuro como breu.
Cada vez que se lembrava dos dias felizes que passou como Angeline, cada vez que recordava aquelas lembranças calorosas com amigos e familiares, seu sentimento de culpa só ficava mais forte. Parecia que era a única feliz — que ela havia roubado a felicidade de todos os outros.
Não posso estar aqui. É melhor se eu não estiver. Alguém como eu deveria apenas desaparecer.
Seu cabelo começou a se agitar como um emaranhado de cobras se contorcendo. Sua trança se desfez e a presilha presa à franja caiu.
“Sinto muito...”
O espaço escuro atrás dela engoliu Angeline inteira.
“Ange!” Anessa gritou.
Com a voz trêmula, Miriam perguntou.
“O-O que é aquilo...?”
“Um buraco no espaço produzido pelo fluxo de eventos.” murmurou Schwartz. “Uma corrente de fenômenos que remonta a um passado distante se uniu aqui. Você tem meus agradecimentos.”
“Seu pequeno...” Marguerite avançou contra o mago com sua espada pronta para atacar, todavia antes que pudesse alcançá-lo, Schwartz se teletransportou na frente do espaço escuro como breu e entrou ele mesmo. Marguerite parou perto da escuridão, seu ardor vacilando. “Por que... Por que tem que ser assim?” Marguerite deu um soco no chão.
Arrastando sua perna de pau, Belgrieve finalmente chegou. Ele franziu a testa, um olhar perplexo no rosto.
“O que aconteceu?”
“Bell...” Satie encarou-o com olhos marejados.
Percival estava sentado no chão com a cabeça baixa, totalmente esgotado. Kasim estava com os braços cruzados e o chapéu puxado para baixo sobre os olhos. Byaku desmaiou e ficou deitado no chão, respirando com dificuldade.
Anessa começou a chorar.
“Senhor Bell...”
Miriam soluçou e o abraçou.
“Ange... Ange é...”
“Graham?”
“Desculpe. Não fui forte o suficiente.”
Graham caiu de joelhos, apoiando-se na espada e olhando para a palma trêmula. Ele parecia frustrado porque seu ataque com força total não conseguiu derrubar Schwartz.
Belgrieve olhou para cima — o buraco no espaço ainda estava aberto, o vazio do nada ainda girava. A neve estava diminuindo levemente.
***
Para aqueles que puderem e quiserem apoiar a tradução do blog, temos agora uma conta do PIX.
Chave PIX: mylittleworldofsecrets@outlook.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário