segunda-feira, 6 de maio de 2024

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 11 — Capítulo 150

Capítulo 150: Após a colheita de trigo

Após a colheita do trigo, as crianças de Turnera vasculharam o campo com cestos nas mãos em busca de espigas de trigo que tivessem caído. Por mais vasta que fosse a terra coletiva da vila e por mais rápida que fosse a colheita, não tinham tempo para ser cuidadosos e arrumados com ela. Em cada etapa do processo de colheita, amarração e transporte do cereal, algum trigo inevitavelmente caía, e mesmo esse derramamento era responsável por uma quantidade bastante grande.

As espigas colhidas seriam trilhadas com varas para separar o joio do trigo, e então o grão seria espalhado para secar. Afugentar os pássaros que tentassem descer para esta festa também era uma tarefa das crianças.

Assim o outono avançou como sempre. Quando o trigo da primavera foi colhido, os campos de trigo recém-semeados já exibiam brotos verdes e frescos, e o festival de outono estava próximo. Foi nessa época que os vendedores ambulantes começaram a chegar um a um, ansiosos pelas oportunidades que o festival iria apresentar.

Turnera tinha uma boa reputação pela qualidade de seus produtos e artesanais. No início do outono, a lã cortada no início do verão seria tecida em tecido, e quaisquer rolos de tecido ou carretéis de fio que não fossem usados para fazer suas próprias roupas de inverno seriam vendidos. Quase todos os rendimentos do seu comércio seriam gastos no local. Além de alimentos e suprimentos, os mascates também vendiam livros, jogos e brinquedos de madeira ou lata para proporcionar entretenimento durante o inverno. Havia um longo inverno pela frente, por isso era necessário estocar mercadorias para durar até a primavera. Poderia ter sido útil guardar algum lucro, mas as moedas seriam um conforto frio se ficassem sem comida ou combustível na neve. O conhecimento de que Turnera iria afrouxar os cordões à bolsa coletiva nesta época do ano era o motivo pelo qual havia tantos vendedores ambulantes.

Com a chegada dos comerciantes, os preparativos sazonais de Turnera tornaram-se ainda mais fervorosos e enérgicos — este ano mais do que o habitual, já que muitos dos aldeões mais jovens ganharam algum dinheiro extra trabalhando nas melhorias das estradas. Desde então, todos regressaram para ajudar a preparar-se para o inverno, resultando em famílias com os bolsos muito mais cheios do que o habitual. Consequentemente, o mercado da praça estava ainda mais movimentado do que o normal, e os moradores passavam pela praça sempre que tinham uma folga do trabalho para ver os produtos que os vendedores ambulantes estavam vendendo.

Depois que Belgrieve terminou de plantar as cebolas, ele levou as crianças para ver todo o espetáculo. As gêmeas agora riam por causa de um brinquedo de lata, uma figura em forma de dragão. Embora fosse de fabricação bastante barata, as gêmeas não pareceram se importar e orgulhosamente o ergueram para mostrar a Mit.

“É um dragão, Mit!”

“É tão pontiagudo e legal!”

Mit assentiu solenemente.

“Dragões são fortes.”

“Forte?”

“Quem é mais forte? Dragões ou o vovô?”

“Vovô.”

“Então, e quanto a Ange?”

“A mana é mais forte.”

“E Percy?”

“Percy é mais forte.”

“Hã? Dragões não são tão fortes, então...”

“Certo?”

“Hum...”

Os três refletiram sobre isso, porém mesmo assim pareciam gostar bastante do boneco e não a largaram. O mascate olhou com interesse antes de se virar para Belgrieve.

“Que tal o boneco?”

“Sim, vamos comprar. Ah, e este livro também.”

“Fico feliz em fazer negócios com você.”

Belgrieve acabou comprando brinquedos para as gêmeas e Mit, e livros para Charlotte e Byaku. Enquanto examinava os outros produtos, Satie veio da barraca vizinha com um pedaço de queijo embrulhado em papel.

“Bell, Bell! Posso comprar esse queijo envelhecido também?”

“Claro, vá em frente."

“Bell, eu gostaria de um pouco dessa bebida.” disse Kasim, segurando uma garrafa.


“Tudo bem.”

“Bell, dê uma olhada nesta carne defumada.” proclamou Percival, balançando um pouco de bacon.

“Tudo bem... Esperem um minuto, por que vocês estão verificando cada coisinha comigo?”

“Quero dizer, cuidar da carteira do grupo é o seu trabalho.”

“Ah, entendo... Espere, é?”

Ainda estamos mantendo isso? Belgrieve se perguntou, inclinando a cabeça. Não importava que ele tivesse certeza de que Kasim e Percival tinham suas próprias economias. Bem, tanto faz...

Enquanto Belgrieve verificava quanto ainda havia em sua carteira, outra carroça parou na praça.

“Hey, Sr. Belgrieve.” gritou a cocheira, acenando em sua direção. Era a mascate de cabelo azul que agora se tornara um rosto bastante familiar para Belgrieve. Ela estacionou a carroça e desceu antes de correr até ele. “Há quanto tempo, você parece bem.”

“Sim, já faz um tempo. Deve ser difícil fazer a longa jornada todos os anos.”

A mascate sorriu e baixou a cabeça.

“Ah, não, gosto muito de Turnera. Não é problema algum comparado à agricultura, pelo menos.”

Quando coloca dessa forma...

“Pensando bem, você tem visto minha filha, Angeline, ultimamente?”

“Srta. Angeline? Não, não recentemente. Nos últimos tempos tenho viajado por Elvgren, para o oeste... Ah, mas ouço histórias de suas façanhas.”

“Entendo... Bem, ela disse que voltaria a tempo para o festival de outono, então pensei que poderia estar te acompanhando.”

“Hmm, acho que o momento não casou... Porém se a Srta. Angeline disse que estava vindo, tenho certeza que estará aqui em breve.” a mascate de cabelo azul já havia permitido que Angeline viajasse em sua companhia várias vezes antes, e parecia que tinha uma noção razoável de sua personalidade.

Percival riu.

“Seria difícil encontrar alguém mais fácil de entender do que aquela garota.”

“Bom, não a vemos há algum tempo. Imagino que Bell esteja se sentindo sozinho.” disse Kasim, sorrindo.

Satie assentiu.

“É verdade. Quero dizer, Bell aqui tem estado bastante inquieto desde o fim do verão. Ele continua dizendo que nenhuma notícia é uma boa notícia, contudo tenho certeza de que gostaria de ouvir alguma coisa.”

Belgrieve coçou a bochecha sem jeito. Com amigos assim...

De qualquer forma, Angeline parecia estar bem. A mascate disse a Belgrieve que não tinha ouvido falar de nenhum problema específico perto de Orphen, então sua filha deveria chegar na hora certa, provavelmente.

Belgrieve deu um sorriso irônico. Nunca consigo parar de me preocupar com ela, consigo? Ele a viu em ação no Umbigo da Terra e na capital, e sabia que sua filha era muito mais forte e confiável do que ele. No entanto, o que é bastante preocupante, ainda acabaria se preocupando com sua segurança.

Satie guardou o queijo e o bacon na cesta antes de fechar os olhos para pensar.

“Hmm... O que devemos fazer para o jantar, Bell? Alguma coisa que queira comer?”

“Não, o que você quiser. Entretanto deveríamos mesmo fazer algo em relação aos vegetais secos. Alguns estão envelhecendo.”

“Entendi. Bem, terminamos o ensopado do almoço. Vou ter que fazer mais...”

“Mas a massa já está amassada.” disse Byaku, lembrando a Satie que já tinha outra coisa preparada.

Satie abriu os olhos.

“Oh, tem razão — eu te pedi para fazê-la?”

“Sim, enquanto estava ocupada fazendo outra coisa.”

“Hmm, tenho tendência a esquecer das coisas quando estou fazendo muitas tarefas. Desculpe, desculpe... Então vamos fazer pão recheado com recheio de vegetais secos, bacon e queijo.”

“Mãe, vou ajudar!” Charlotte declarou, agarrando a mão de Satie.

“Haha! Obrigado. Tudo bem, vamos voltar então. A roupa está secando e... Crianças, vamos.”

Satie pegou as crianças e voltou para casa, deixando Belgrieve com os outros homens para continuar comprando e vendendo. O dia avançava e suas sombras gradualmente se estendiam atrás deles. Porém esta era a hora do dia em que as pessoas que trabalhavam durante a tarde costumavam fazer as compras, por isso a praça continuava tão movimentada como sempre.

Kasim já estava experimentando a bebida e muito animado.

“Já é outono, né? O tempo voa.”

“Com certeza.” Percival refletiu antes de se virar para Belgrieve. “Então, Bell... Estou certo em pensar que já decidiu onde será a masmorra?”

“Sim. Ao que parece, precisamos usar esse orbe para formar aos poucos uma masmorra ao redor da área. Como vocês já ajudaram a gastar sua mana uma vez, não deve causar nenhuma mudança repentina.”

Percival assentiu.

“Entendo. Bem, seja o que for, duvido que teremos muitos visitantes no inverno. Este pode ser o momento certo para o trabalho.”

Ele então pegou a garrafa de Kasim e tomou um gole de destilado.

Mesmo que as estradas tivessem sido reformadas, não significava que de repente teriam um afluxo de pessoas. Belgrieve ainda estava se atrapalhando para que a masmorra e a guilda tomassem forma. Se tudo se tornasse caótico desde o início, seria demais para gerenciar depois. Estava muito grato por ter mais tempo para os preparativos antes que as coisas de fato decolassem. A perspectiva de sua vida mudar repentinamente de agricultura e coleta de alimentos nas sombras da montanha para algo totalmente diferente era algo que Belgrieve nunca poderia ter esperado.

“Posso fazê-lo...?” murmurou.

Belgrieve aprendeu durante suas viagens recentes e em todos os combates ao longo do caminho que era mais forte do que jamais imaginou, contudo uma vida inteira de autoimagem negativa não desaparece assim. Seguia não tendo a confiança e, em qualquer coisa que fizesse, não ficaria satisfeito a menos que elaborasse cada pequeno detalhe para ter certeza de que estava perfeito. Por outro lado, foi por esta exata cautela que lhe valeu a elevada consideração daqueles que o conheciam melhor.

“Percy... O que pretende fazer?”

“O que quer dizer?”

“Ouvi dizer que vai viajar um dia desses... Sabe quando?”

“Não faço ideia. Vou sair assim que as coisas se acalmarem aqui. É muito cedo para dizer.”

“Entendo... Kasim?”

“Ah, o que fazer, o que fazer? Bem, estamos aqui para garantir que a masmorra não fique fora de controle e para manter os aventureiros que vierem para Turnera na linha, certo? Depois que tudo for resolvido, não vejo mais nada para fazer aqui. Não gostaria de tirar o trabalho dos mais jovens.”

“Você tem uma mulher, não é? Não a deixe esperando.”

Kasim pareceu murchar um pouco.

“Bem, isso é... É verdade, mas...”

Percival franziu a testa.

“O que, já está bêbado?”

“Claro que não, imbecil. Estou sendo forçado a escolher entre duas coisas que são importantes para mim e não sei o que fazer. Me de uma dica.” disse Kasim, dando um tapa no ombro de Percival.

“Hmph, você com certeza é um saco. Quando se tornou tão delicado?”

“Cale a boca. Sou um cara frágil... No fundo.”

Belgrieve observou os dois homens adultos olhando e se empurrando, e só conseguiu rir de sua desordem. Muito tempo se passou desde que eram jovens, todavia tudo isso parecia muito familiar. Não era a mesma coisa, entretanto era bom o suficiente para ele — melhor, em alguns aspectos. Tudo o que precisavam agora era que Angeline e suas amigas chegassem e acrescentassem sua agitação à mistura.

O sol beijou as montanhas ocidentais; a praça da cidade estava escurecendo. Eu deveria voltar e começar a me preparar para o trabalho desta noite, pensou Belgrieve.


A expectativa de Angeline crescia a cada dia na estrada. Em todas as cidades ao longo do caminho, ela e seus amigos desfrutaram de refeições deliciosas ou do conforto das saunas, relembrando com carinho os tempos passados.

Quanto mais para o norte viajavam, mais frio o vento parecia ficar, porém os dias seguiam quentes. Houve um curioso período de tempo que passou de não estar frio o suficiente para justificar uma jaqueta a ser insuportável ficar sem ela. A mudança foi tão gradual e sutil que nenhum deles percebeu quando aconteceu.

Agora estavam deixando Bordeaux para trás; faltava apenas um pouco mais para chegar agora. Infelizmente, as diligências só foram até Bordeaux. Ninguém jamais havia providenciado transporte público que fosse até Turnera. Qualquer pessoa que continuasse para o norte teria que providenciar transporte para si mesma. Era certo que haveria vendedores ambulantes ou caravanas de mercadores passando por Bordeaux para o festival de outono, então Angeline planejou trabalhar como guarda de uma dessas diligências durante o resto do caminho. Foi uma reviravolta surpreendente para ela estar agora sentada em uma carruagem em frente à Senhora Helvetica Bordeaux.

“Hehe... Não tenho nada com que me preocupar se tiver guardas tão confiáveis ao meu lado.” disse Helvetica, sorrindo.

Angeline deu uma risadinha.

“Acho que sim...”

Depois de chegar a Bordeaux, o grupo de Angeline passou pela propriedade da condessa. Como eram amigas, achou apropriado prestar seus respeitos ao passar por ali. Isso era tudo o que esperava que fosse a breve estadia, entretanto Helvetica de repente exigiu comparecer ao festival de outono de Turnera, não importa o que acontecesse, argumentando veementemente com Ashcroft, que estava menos entusiasmado com a ideia. Sem hesitar, Helvetica organizou uma caravana, convidou o grupo de Angeline para se juntar e partiu.

Marguerite cruzou as mãos atrás da cabeça e riu.

“O que foi aquilo? ‘Você prefere que eu fuja mais tarde, em vez de quando tenho guardas tão confiáveis por perto? O que você vai fazer se eu for atacada?’ Foi uma obra-prima.”

“Bem, posso imaginar a Sra. Helvetica fugindo em segredo.” disse Miriam. “É provável que Ashcroft permitiu porque tinha medo que realmente fizesse isso.”

“Talvez... Mas ela está com Sasha, então tenho certeza de que ficaria bem de qualquer maneira.” argumentou Anessa.

Sasha, que estava sentada ao lado de Helvetica, balançou a cabeça com fervor.

“O que está dizendo? Seria presunçoso me comparar com todas vocês!”

Parecia que Helvetica de começo pretendia levar sua irmã como guarda. Com Angeline e seus amigos por perto, Sasha de fato não precisava ir junto, porém a garota parecia apenas presumir que iria junto, e ninguém teve coragem de dizer o contrário. No final, estavam todos viajando juntos e Ashcroft ficou segurando a cabeça.

“Ainda assim, significa que todas as irmãs Bordeaux estarão em Turnera. Não é a primeira vez?” Anessa perguntou, tirando uma caixa de doce.

Sasha assentiu.

“Sim, pensando bem.”

Antes, as irmãs só haviam visitado Turnera sozinhas ou em pares, então seria de fato a primeira vez para as três.

O festival deste ano será o mais divertido de todos! Angeline pensou consigo mesma, encantada.

Helvetica alegremente serviu-se de alguns dos doces oferecidos.

“Pensando agora, voltamos de Turnera com quase a mesma escalação da primavera passada. Parece que foi ontem, contudo já faz tanto tempo.”

“Ah, é verdade — embora naquela época fosse Seren, não Sasha.” corrigiu Miriam.

“Foi logo depois do festival da primavera, quando a Helvetica sofreu sua grande queda em grande escala, hein.”

Helvetica estufou as bochechas.

“Oh, Maggie! Por favor, não fale nisso!”

Todos os outros caíram na gargalhada, exceto Sasha, que colocou a mão no queixo e assentiu.

“Ouvi dizer que Dama Satie é uma antiga paixão do Mestre Belgrieve. É linda, gentil e habilidosa, então parece que ele nunca levou minha irmã a sério desde o início!”

“H-Hey, vamos! Pode até ser verdade, no entanto poderia ter um pouco mais de tato, Sasha!”

“Hã? Oh, desculpe, mana!” Sasha pediu desculpas profusamente, mas o estrago estava feito, e o fato de ter dito aquilo sem qualquer má intenção só piorou a situação.

Helvetica colocou a mão na testa e suspirou cansada.

“Sei que Ashe está por perto para ajudar, porém deixar essa garota sozinha em casa seria um problema... Talvez tenha sido um erro enviar Seren para Turnera, mesmo que isso lhe dê a oportunidade de ganhar alguma experiência.”

“Parece difícil.” Anessa a consolou, sentindo uma estranha afinidade pela nobre.

Eles esperavam chegar a Rodina hoje. Ao contrário de uma carroça mais barata, a carruagem do senhor feudal era equipada com rodas e eixos confiáveis, e as obras na estrada de Bordeaux a Rodina tornavam a viagem bastante fácil e confortável.

As duas irmãs e o grupo de Angeline encheram a carruagem, então Yakumo, Lucille e Ishmael seguiram em outra. Podiam ouvir Lucille dedilhando seu violão atrás delas e podiam distinguir de forma vaga a letra de algum tipo de música de viajante.

Angeline recostou-se na cadeira. Era acolchoada, forrada de couro e muito confortável para sentar; sua parte posterior não doía se ficasse sentada por muito tempo e não precisava fazer esforços conscientes para ajustar sua postura de tempos em tempos. Até o ritmo das rodas rolando na estrada era reconfortante o suficiente para ela começar a sentir-se sonolenta.

Helvetica estava olhando pela janela quando começou a falar de novo.

“A primeira vez que fui a Turnera foi durante o festival de outono... Fui recebida de braços abertos para participar das festividades e me diverti muito. É difícil acreditar agora, contudo embora eu tivesse viajado por todo o condado para inspecionar o território, nunca tinha estado em Turnera antes.”

“Este será meu primeiro festival de outono! Estou ansiosa para ver como é!” Sasha exclamou, gesticulando ansiosamente.

Angeline deu uma risadinha.

“Não é nada muito especial. Todos nós cantamos, dançamos e comemos comidas deliciosas...”

“No entanto parece especial!”

“Pensando bem, já estivemos no festival da primavera algumas vezes, entretanto este também será o nosso primeiro festival de outono.” refletiu Miriam.

“É verdade. Sempre que tentávamos voltar nesta época do ano, alguma coisa acontecia...”

“No entanto ficaremos bem este ano, hehe... A primeira coisa que farei quando chegarmos lá é colher mirtilos-vermelhos.” disse Angeline com um sorriso orgulhoso. Os mirtilos mais deliciosos de todos eram aqueles que devorava sorrateiramente enquanto enchia a cesta. Ela não os comia assim há anos, mas só a lembrança era suficiente para fazê-la babar. Nenhuma outra fruta poderia se comparar a essa felicidade agridoce.

Miriam assentiu.

“Uh-huh, você tem falado sobre isso esse tempo todo. Conseguiu aumentar minha expectativa, Ange.”

“Mirtilos-vermelhos, hein... Eu os comi secos ou gelatinosos, porém nunca frescos.”

“São deliciosos! Eu mesma comi alguns!” Sasha comentou.

Angeline fez beicinho e beliscou sua bochecha.

“Isso é injusto... Receba sua punição.”

Os olhos de Sasha estavam girando com a dolorosa medida de justiça.

“Ow...”

Marguerite riu.

“Estamos na reta final. Mantenham-se firmes.” ela brincou.

“Estou me controlando.” protestou Angeline — foi o que disse, contudo suas palavras foram prejudicadas pela baba em sua boca. Ela engoliu e pressionou as costas da mão na boca. “Anne, água de menta, por favor...”

“Claro.” Anessa vasculhou sua bolsa em busca da bebida.

Depois que se acomodaram outra vez, Angeline tomou um gole de água com menta e se perdeu observando a paisagem passar lentamente pela janela. O sol estava baixando, todavia o céu ainda estava azul, e o punhado de nuvens finas parecia que poderia ter sido colocado ali com pinceladas delicadas. O céu estava radiante a esta hora do dia.

Suas reflexões foram interrompidas quando um dos guardas montados se aproximou do batente da janela.

“Perdoe-me. Chegaremos em Rodina em breve.”

“Entendo — muito bem. Poderia se adiantar e reservar uma pousada para todos nós?”

“Sim, senhora!” o guarda saudou Helvetica antes de esporear seu cavalo.

“Só mais um pouco...” assim que saíssem de Rodina, seria apenas meio dia de viagem até Turnera. Angeline iria dormir esta noite e estaria lá amanhã ao meio-dia. Já conseguia imaginar árvores adornadas com folhas vermelhas e douradas sob o céu azul chocante e a fumaça da chaminé desaparecendo nele. Já conseguia se imaginar sentada em frente a uma lareira tremeluzente até altas horas da noite, com uma bebida quente nas mãos e a sensação dos lençóis sobre a palha áspera farfalhando sempre que rolava na cama. Esse som tinha sido uma canção de ninar para Angeline quando era pequena. Não demoraria muito até que pudesse vivenciar tudo por si mesma, mas as lembranças fizeram Angeline sorrir, e quando fechou os olhos, foi Turnera que viu no escuro atrás de suas pálpebras — e o rosto de seu pai no centro de tudo.

“Só mais um pouco...”

***

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