domingo, 26 de maio de 2024

Boukensha ni Naritai to Miyako ni Deteitta Musume ga S Rank ni Natteta — Volume 11 — Capítulo 153

Capítulo 153: Belgrieve acordou com o som de choro

Belgrieve acordou com o som de choro. Sua filha de cinco anos dormia ao seu lado e parecia chorar durante o sono.

A luz da lua entrava pela janela, iluminando o quarto com pouca luz. Belgrieve gentilmente colocou a mão em sua barriga e deu um tapinha suave nela. Seus olhos se abriram levemente.

“Pai...?”

“Sim, estou aqui.”

Angeline se mexeu e o abraçou. Belgrieve sorriu com seu gesto enquanto esfregava sua cabeça.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Tive um sonho ruim...” Angeline enterrou o rosto no seu peito. “Papai se foi. Eu estava sozinha... Tudo estava preto.”

“Sim... Entendo. Deve ter sido assustador.”

“Mas foi apenas um sonho. Isso é bom.” Angeline olhou para Belgrieve, sorrindo em meio às lágrimas.

Retribuindo o sorriso, Belgrieve deu um tapinha na cabeça de Angeline.

“Você acha que pode voltar a dormir?”

“Não sei.”

“Que tal algo para beber?” propôs enquanto saía da cama. Acendeu a lamparina e atiçou as brasas da lareira. Ainda sobrava um pouco do leite de cabra de Kerry, então o aqueceu em uma panela pequena com um pouco de açúcar. Assim que começou a fumegar, despejou em um copo de madeira e entregou a Angeline. “Certifique-se de soprar antes de beber. Whew, whew.”

“Ok!” Angeline alegremente pegou a xícara, soprando o leite de cabra quente enquanto bebia. “Tão doce. É gostoso.”

“Que bom. Quando terminar de beber, vamos voltar para a cama.” Belgrieve sorriu enquanto bebia seu próprio copo de leite de cabra.

Um pedaço de lenha queimando estalou na lareira, deixando um rastro de fumaça que desapareceu pela chaminé.

Angeline segurou a xícara com as duas mãos enquanto se sentava no colo de Belgrieve e olhava distraída para as chamas bruxuleantes até beber o resto do leite. Ela levantou.

“Vou enxaguar a boca... Depois dormir.”

“Sim, sim. Boa menina.”

Eles enxaguaram as xícaras e lavaram a boca com água antes de voltarem para a cama. Angeline agarrou-se com firmeza a Belgrieve, as mãos presas como tornos à manga dele.

“Papai...”

“Hmm?”

“Você não vai a lugar nenhum, certo, pai?”

“Sim, o papai não vai a lugar nenhum.” Belgrieve sorriu e afagou com carinho a cabeça de Angeline.


Depois de obter uma explicação de tudo o que havia acontecido, Belgrieve não hesitou um momento antes de dizer que seguiria Angeline. Ele largou o cesto e endireitou a espada no cinto. A dor fantasma ainda pulsava de leve na perna amputada, porém estava muito melhor agora do que antes.

O coração de Belgrieve ficou surpreendentemente calmo mesmo depois de saber que Angeline era a criatura que lhe tirou a perna. Até pensou que deveria ter ficado um pouco mais perturbado com essa revelação e não sabia ao certo por que estava se sentindo tão sensato, contudo não havia nenhum ressentimento específico surgindo de sua parte, então não havia muito que pudesse fazer a respeito.

O que tinha certeza era que Angeline estaria triste agora e que estender a mão para ela era seu dever.

“Ange é uma garota gentil. Tenho certeza de que está se culpando e sofrendo por tudo.” murmurou Belgrieve.

“Eu... Não fui capaz de acreditar em Ange.” disse Satie, fungando. “Sou a sua mãe, mas por um momento tive medo dela... Eu sou a pior.”

“Está tudo bem. Não é sua culpa.” Belgrieve esfregou suavemente suas costas.

“O que eu deveria ter feito?” Kasim murmurou, segurando os joelhos. “Pensei nisso de vez em quando. Se não tivéssemos encontrado aquele demônio naquela época, se sua perna não tivesse sido arrancada, talvez nós quatro ainda estivéssemos em aventuras juntos. Talvez não tivesse ficado tão distorcido e desperdiçado metade da minha vida fazendo algo ruim... É por esse motivo que não pude fazer nada. Quer dizer, sei que ainda é Ange, porém...”

“Kasim...” Satie soluçou.

Talvez Kasim estivesse certo — se eles nunca tivessem conhecido Angeline, talvez não tivessem passado por tanta dor no passado. Mesmo assim... Belgrieve inspecionou sua bolsa de ferramentas. Ele tomou cuidado em se certificar de que sua perna de pau estava bem presa antes de batê-la no chão. Tudo parecia estar em ordem. Belgrieve assentiu de leve antes de se virar para Graham.

“Graham, o que aconteceu com você...?”

“Não posso triunfar sobre a velhice. Um golpe me colocou neste estado. É patético.” Graham fechou os olhos e suspirou. Então, estendeu sua grande espada, que rosnava suavemente. “Pegue. Não consigo me mover, mas esta aqui segue tendo energia de sobra.”

Belgrieve aceitou com um sorriso.

“Obrigado.”

“Tome cuidado.”

“Senhor Bell.” Anessa veio até ele com seu arco e flechas. Ela tinha uma expressão nervosa no rosto, e Miriam também. Ambas seguraram as armas com força enquanto olhavam para Belgrieve.

“Nós também vamos.”

“Não sei sobre o passado de todo mundo e tudo mais, contudo Ange é nossa aliada e líder, e... Você sabe.”

“Se é o que vocês querem, ninguém tem o direito de impedi-las.” disse Belgrieve.

Marguerite entrou correndo carregando uma cesta cheia de muitos novelos de lã.

“Já os peguei!”

“Obrigado. Como estavam as crianças?”

“Ao que parece, eles de repente começaram a se comportar mal. Tiveram dificuldade em se controlar, no entanto agora estão dormindo.”

Belgrieve franziu a testa. Então aquele galho tem o poder de despertar todos os demônios... Aparentemente, isso causou certa confusão na vila, mas com Yakumo, Lucille, Duncan e as irmãs Bordeaux lá para lidar com a situação, ninguém ficou ferido. Ajudou o fato de os aventureiros contratados para proteger os vendedores ambulantes terem contribuído quando era necessário.

E pensar que os efeitos da magia alcançaram até as crianças que nem estavam por perto... Os poderes de Salomão eram de fato assustadores, e foi apenas por pura sorte que nada significativo resultou do incidente.

Marguerite, depois de tratar seus ferimentos, bateu os pés com um beicinho no rosto.

“Isto é tudo, certo? Não vou deixar Ange escapar com uma vitória. Preciso dar a ela o que está merecendo. Não vou deixar a cortina cair comigo em uma maré de derrotas.”

Embora estivesse ferida, a jovem elfa parecia interessada em ir de qualquer maneira, e Graham não estava disposto a impedi-la. Os três membros do grupo de Angeline não tiveram nenhum trauma passado que as pesasse. Pareciam ser muito confiáveis aos olhos de Belgrieve.

Percival coçou a cabeça.

“Você está realmente bem com isso, Bell?”

“Com o quê?”

“Ange pode ser Ange. Mas também é nossa inimiga jurada.”

“Acho que ela é.”

“Eu a persegui há anos e estava planejando seguir a trilha daqui em diante também. Porém pensar que seria assim...”

“Percy...”

“O que devo fazer? Eu a odiava tanto que não sabia o que fazer comigo mesmo. Não importa o que tivesse que abandonar, sabia que nunca ficaria satisfeito até matá-la. Foi ela quem nos separou. E ainda assim... O que é isso? O que diabos devo fazer?”

“Percy.” Belgrieve colocou a mão no ombro de Percival e olhou o homem direto nos olhos. “Ange é minha filha. É família ou amiga de todos aqui, nada mais, nada menos.”

Percival parecia ter algo a dizer, mas no final desistiu. Ele fechou os olhos, cruzou os braços e sentou-se.

“Entendi.” Percival bateu nas bochechas sem se conter, e elas ficaram um pouco vermelhas quando suas mãos se afastaram.

“Chega de arrastar o passado! Não é como se pudesse voltar a esses tempos de qualquer maneira. Nesse caso, faz sentido agarrar-nos ao melhor futuro que podemos ter agora! Que tal, Kasim?”

Já fazia algum tempo desde o último ataque de tosse de Percival, porém a excitação o fez tossir e pegar o sachê.

Kasim se levantou e puxou o chapéu.

“Hehehe... Se o líder diz!” Kasim parecia feliz e decidido. Afinal, não ficou tão ressentido quanto Percival.

A neve havia cessado, contudo o céu seguia no tom de um cinza perolado, e as nuvens cinzentas espalhadas mais abaixo no céu fluíam rapidamente com o vento poderoso. O que aconteceu com a Dama do Inverno? Se a neve parou, significa que foi para outro lugar? Ela se sentiu atraída por esses acontecimentos? Belgrieve se perguntou.

Os passos de Belgrieve pararam diante do espaço distorcido. Estava escuro como breu lá dentro e não tinha ideia do que poderia encontrar. A espada sagrada rosnou em suas mãos.

Miriam engoliu em seco.

“Até quando... Esse espaço permanecerá aberto? Não vai se fechar de repente, vai?”

“Não me pergunte.” disse Anessa. “No entanto temos que ir, certo?”

Marguerite assentiu.

“Somos aventureiras. Vamos a uma aventura, por que não?” Marguerite ainda marchava ao ritmo de seu próprio tambor, embora sua atitude tivesse suavizado um pouco.

Miriam riu.

“Hehe! Bem dito, Maggie.”

Belgrieve pegou a presilha de cabelo de Angeline de onde havia caído no chão. Depois de apertá-la com força na mão, a guardou na bolsa de ferramentas.

Ele se virou para Satie.

“Por favor, fique aqui. Conto com você para tratar Byaku e cuidar das crianças.”

Satie mordeu o lábio.

“Você pode não voltar, sabe? Realmente vai me deixar para trás?”

“Desculpe. Mas acho que esse é meu dever.”

“Eu sei... Você está certo. Entregue a Ange meu amor.” Satie sorriu com lágrimas ainda nos olhos. Belgrieve puxou-a suavemente para perto e prendeu-a em um abraço apertado.

“Não se preocupe. Vou voltar, com toda certeza.”

“Vou te cobrar isso.” Satie pressionou os lábios nos de Belgrieve antes de se separar.

Percival tirou a espada da bainha.

“Vamos.”

“Sim.”

“Velhote!” Belgrieve se virou para ver Byaku olhando em sua direção. “Estou contando com você.”

“Sim, deixe comigo.” Belgrieve sorriu.


Embora o mundo ao redor de Angeline fosse escuro como breu, seguia podendo ver os próprios pés. Passo a passo, continuou avançando sem rumo. Talvez nem estivesse avançando — era possível que estivesse apenas andando sem sair do lugar. Mesmo assim, sentiu que precisava continuar movendo os pés.

O cheiro de sangue persistia. Era insuportavelmente desagradável, porém também sentiu que combinava perfeitamente com ela. Lágrimas escorreram de seus olhos — não seria capaz de ver sua família ou seus amigos nunca mais, e não iria querer, mesmo que pudesse. Afinal, fora a responsável por roubar o futuro daquele que mais amava, depois se infiltrou em sua casa e viveu uma vida despreocupada, como se nada tivesse acontecido. Por isso, nunca poderia se perdoar.

“Sua ‘filha’? Por favor...” ela murmurou, suas próprias palavras como punhais em seu coração. Por que não tiro minha própria vida? Contudo Angeline estava assustada e, apesar do profundo desespero, mantinha a esperança.

Não pode se apegar a algo assim. Não é digna dessa esperança.

Das pontas dos dedos dos pés, podia sentir algo rastejando sobre ela. Olhando para baixo, viu que estava começando a se transformar em uma forma negra e inexpressiva, quase como uma sombra.

Oh, entendo. Estou voltando a ser um demônio.

Angeline aceitou. Achou que era certo e o melhor. Havia um aperto no fundo de sua garganta. Sentiu-se sozinha. Seu nariz estava escorrendo e havia calor atrás das pálpebras. Suas lágrimas não paravam.

Nunca mais verei meu pai. Esse pensamento a deixou mais triste do que qualquer outra coisa. Não importa o quanto se convencesse de que era o que merecia, não conseguia se livrar da tristeza. Apenas se apresse e me transforme em um demônio. Quando eu deixar de ser Angeline, esse sofrimento não acabará? Vou esquecer meus amigos, minhas companheiras, minha família... Vou esquecer tudo.

“Urgh...” seus pés pararam. Suas pernas cederam fazendo-a cair de joelhos e cobrir o rosto com as mãos. Não quero isso. Não quero esquecer. Nada de bom vem do esquecimento.

Todavia suas lembranças calorosas não eram nada além de uma tortura agora. Era como se elas a estivessem comendo por dentro. Ter um coração era doloroso. Não conseguia mais andar, então se enrolou, enterrou o rosto nos joelhos e chorou.

A névoa negra começou a enrolar-se em torno dela.


O outro lado do portal estava tão escuro quanto parecia do lado de fora, contudo Belgrieve ainda conseguia se ver quando olhava para baixo. Não estava nem particularmente quente nem frio, e como seus passos não faziam nenhum som, estavam cercados por uma quietude sinistra. Só restavam ouvir a respiração dos companheiros e as batidas do próprio coração, amplificadas pelo silêncio.

O grupo avançou a um ritmo considerável — ou pelo menos parecia que estavam — entretanto seguiam não tendo sinal de Angeline ou Schwartz. O mesmo vazio negro só parecia continuar por toda a eternidade. Dito isto, de vez em quando, uma aparição fantasmagórica transparente com forma humana flutuava no alto.

Belgrieve olhou para trás. O rastro de lã se estendia mais longe do que conseguia ver. Estava deixando um cauteloso rastro enquanto caminhava. Não sabia se havia algum sentido em tal tarefa, no entanto fazê-lo o tranquilizou, sabendo que havia um caminho de volta. Claro, não tinha como saber se tinha fio suficiente para a viagem.

Por um tempo, o grupo continuou com cautela sem dizer uma palavra, mas após algum tempo o silêncio tornou-se insuportável. Não estava claro quem havia iniciado a conversa que agora estava indo e voltando.

“Ele disse que era uma fusão de eventos, certo?”

“Sim.” Kasim coçou a cabeça. “Achei que fosse bobagem de um louco, porém parece que era verdade...”

Tudo o que Salazar disse sobre o fluxo dos acontecimentos também foi um enigma completo para Belgrieve, embora se nem mesmo Kasim conseguisse entendê-lo, talvez fosse desnecessário comentar. Contudo, uma coisa parecia clara — Schwartz aplicou a teoria com o objetivo final de abrir um buraco no espaço. Por que Angeline foi a chave para fazer isso? Era algo ainda desconhecido.

Anessa falou.

“Ao que parece, Ange é humana porque nasceu com a alma de um demônio em um corpo élfico.”

“Onde ficou sabendo dessa informação?” Kasim perguntou.

Miriam respondeu.

“A própria Ange disse. Ela foi até aquela velha bruxa e perguntou algumas coisas sozinha.”

“Se a fonte for Maria, então é uma informação confiável...”

“No entanto uma criança entre um demônio e uma elfa é humana? Não consigo entender, de verdade.” disse Marguerite.

Anessa cruzou os braços.

“Hmm, a alma de um humano é como o meio da estrada. Nem preto nem branco...”

“Hmm... Então eles podem rolar para os dois lados, hein? Assim como existem pessoas boas e pessoas más.”

“Entretanto o que tudo isso tem a ver com o ‘fluxo de eventos’...? Esse maldito Schwartz, trabalhando nas coisas mais esotéricas...” Kasim suspirou e balançou a cabeça, cansado.

Ao contrário de todos os outros que o seguiam, Percival manteve a paz enquanto os liderava. Belgrieve encarou-o com preocupação.

“Percy... Você está bem?”

“Não se preocupe. Não estou planejando cortar Ange.” respondeu Percival sem rodeios.

Ele está mesmo tentando controlar suas emoções, pelo que parece... Este era o homem que procurava o demônio escondido dentro de Angeline por mais de vinte anos. Compreender seus sentimentos sobre o assunto não seria uma tarefa fácil.

Belgrieve fechou os olhos e torceu os cabelos da barba.

“Desculpe... Mas é algo do qual não abrirei mão.”

Percival soltou um suspiro profundo.

“Está bem. De qualquer forma, originalmente era minha própria presunção. Para mim... Foi a raiva e o ódio daquele demônio que me fez continuar. Claro, odiar algo de forma tão implacável endureceu meu coração, porém o demônio também deixou claro onde eu estava e qual era meu papel... Achei que era algo que poderia perseguir e matar sem nada que me impedisse. Cough, hack...”

Percival pegou o sachê e pressionou-o contra a boca.

“Contudo pensar que seria sua filha. Meu Deus... Não tenho coragem de matar a filhinha do meu amigo. Então agora, o que devo fazer com toda essa raiva?”

Percival tentou encarar o assunto como uma piada, todavia sua leviandade era tão forçada que era doloroso ouvi-lo. Belgrieve lutou para encontrar as palavras certas para responder, no entanto não por muito tempo.

“Nesse caso, pare de ficar com raiva, certo?” Marguerite entrou na conversa por trás. “Não acha que está velho demais para andar por aí com aquela expressão azeda no rosto? É por essa razão que todo mundo te chama de monstro.”

“Como é que é?” Percival gritou.

“O quê, você quer uma briga?” Marguerite gritou de volta.

Percival fez uma careta para ela por um momento, mas não conseguiu impedir que a risada fosse jorrada.

“Hahahaha! Tem razão! Por quanto tempo vou carregar essa raiva?”

Kasim começou a rir.

“Parece que você só precisava de um idiota para te esclarecer, Percy.”

“Quem está chamando de idiota?” Marguerite fez beicinho.

O clima suavizou e o grupo prosseguiu. Todavia o cenário ao seu redor não mostrava sinais de mudança. Então ainda estamos perdidos aqui, pensou Belgrieve, com uma expressão um tanto perturbada no rosto.

Percival deu um tapa nas costas dele.

“Não faça essa cara, Bell.”

“Ow... Desculpe.”

“Não é como se eu tivesse superado isso por completo. Só não vou falar a respeito desse assunto por enquanto.”

Belgrieve sorriu.

“Obrigado.”

Eles continuaram em frente, acelerando um pouco o ritmo. Era um espaço misterioso, e o chão — se é que poderia ser chamado assim — estava perfeitamente nivelado por toda parte. Belgrieve já havia desfeito dois novelos de lã. Sempre que um acabava, amarrava a ponta ao próximo e começava a desembaraçá-lo, mas nesse ritmo, não tinha certeza se teria o suficiente.

Uma presença peculiar encheu o ar. Uma névoa negra estava aos poucos começando a tomar conta da área. Como tudo ao redor era preto no início, ninguém prestou muita atenção, porém era perceptível que estava ficando mais denso. A espada sagrada rugiu alto.

“Algo está vindo!” Belgrieve avisou.

Todos reagiram em seguida, prepararam suas armas e ficaram em guarda. Várias sombras negras se aproximavam, misturando-se à névoa. Pouco antes de o mais próximo poder atacá-los, Kasim explodiu-o com sua magia.

“Demônios...? Não, não parece. Contudo também não parecem ser aliados.”

“Hehe... Justo o que eu precisava. Não aguentava mais esse tédio!”

Marguerite brandiu sua espada com entusiasmo e cortou uma figura que se aproximava. Parecia haver um grande número deles espreitando além da escuridão. As criaturas se moviam instáveis como zumbis enquanto se aproximavam.

Com um golpe de espada, Percival enviou seis das sombras voando ao mesmo tempo.

“Estou de mau humor... Vou descontar em todos vocês.”

As sombras se dissiparam assim que foram cortadas. Quanto mais derrotavam, mais a névoa parecia se dissipar. O que exatamente são essas coisas? E em que tipo de lugar estamos para começar? Belgrieve se perguntou. De repente, sua perna amputada começou a latejar e a espada de Graham rosnou. Além da névoa cada vez mais rarefeita, viu uma figura sentada segurando os joelhos. A névoa parecia estar concentrada em torno do ser.

“Ah! Ange!” Belgrieve gritou.

A figura encolhida estremeceu e olhou para o grupo. Certamente era Angeline. Sua expressão era tão assustadora quanto possível, e ela olhou para eles com olhos marejados, desnorteada.

“Ange! Volte! Não é típico seu fugir assim!” Anessa gritou.

“Isso mesmo! Você vai nos abandonar?” Miriam clamou.

Angeline cobriu os ouvidos e balançou a cabeça.

Não tenho o direito de estar com todos.

Ela não havia falado em voz alta, no entanto era como se o próprio vazio ressoasse para transmitir suas palavras.

“De que ‘direito’ está falando?” Marguerite gritou com raiva. “Você não vai conseguir uma vitória contra mim Ange, sua estúpida!”

Marguerite arrasou todas as sombras invasoras de uma só vez antes de correr direto para Angeline. Angeline se encolheu com medo, estendendo as mãos para Marguerite.

Não chegue mais perto, Maggie!

Pontas dos dedos manchadas de preto estiraram-se como lanças. Marguerite, de olhos arregalados, torceu o corpo para evitá-los. Mesmo assim, novas lacerações se abriram em seu corpo e sangue fresco escorreu por sua pele.

“Sua vaca... Tudo bem, vou te dar uma surra e arrastá-la de volta à força!”

Perdendo a paciência, Marguerite preparou sua espada outra vez, mas detectou uma presença peculiar descendo de cima. Quando olhou para cima, viu uma sombra muito maior caindo direto em sua direção, sua mão estranhamente longa se estendendo como se fosse esmagá-la.

“Outro?” Miriam murmurou, conjurando relâmpagos.

“Droga, há muitos deles...” as flechas encantadas de Anessa explodiram ao redor das criaturas. Ainda assim, as sombras ganhavam força e continuaram a sair do meio da névoa.

“Hmm... Seria bom se eu pudesse disparar alguma grande magia, porém Ange seria pega no impacto...” Kasim resmungou enquanto se contentava em disparar uma rápida sucessão de raios de magia.

“Senhor Bell...” Miriam implorou a Belgrieve. Anessa estava olhando para ele também.

“Eu estou indo.”

Belgrieve apertou o punho da espada sagrada e começou a caminhar em direção à figura trêmula de Angeline.

Se afaste!

Belgrieve ergueu a espada, destemido. Ele respirou fundo antes de soltar um poderoso balanço descendente junto com a respiração exalada. Uma torrente turbulenta de mana saiu da lâmina, afastando em seguida todas as sombras fervilhantes.

A luz emitida pela espada e a explosão de mana que se seguiu iluminaram o vazio, entorpecendo o movimento de seus inimigos. Angeline segurou a cabeça com dor enquanto se levantava e tropeçava na escuridão onde a névoa era mais pesada. Parecia haver um buraco ligeiramente visível para o qual ela havia fugido. Belgrieve correu atrás de Angeline.

“Ange! Espere! Se não se recompor, com certeza vou ficar com raiva, de verdade!” Percival gritou enquanto ia seguir Belgrieve, todavia as sombras surgiram para impedi-lo.

Conforme Belgrieve passou pela névoa escura, a luz da espada sagrada ficou mais fraca. As sombras eram como uma expressão da vontade de Angeline de manter todos distantes, cercando o grupo e separando o resto deles de Belgrieve, que havia corrido na frente. Ao contrário de antes, derrotar estes não diminuiu a névoa. Na verdade, parecia estar ficando mais espesso. Enrolou-se em torno do grupo, pesando em seus corpos.

“Fora do caminho!”

“Bell!”

Belgrieve olhou para trás enquanto corria. A distância até seus companheiros estava repleta de sombras e não parecia que seria capaz de se reunir. Não podia permitir que essa situação continuasse. Belgrieve sussurrou para a espada sagrada.

“Por favor, proteja a todos.”

Então sacou a lâmina para trás, mirou e atirou-a com toda a força. A ponta perfurou o chão com um poderoso tremor. A espada rosnou e, dentro da luz suave e brilhante que emanava, todas as sombras instantaneamente começaram a se mover várias magnitudes mais devagar.

Kasim olhou incrédulo.

“Bell, o que pensa que está fazendo?”

“Ela quer me ver. Um pai não precisa de uma arma para falar com a filha.” disse Belgrieve antes de se virar para seguir Angeline.

O buraco além da névoa estava ficando menor. Para a estranheza de todos, as sombras nunca foram atrás de Belgrieve. Se fosse uma manifestação da vontade de Angeline, então o estava chamando — era assim que enxergava a situação.

“Hey, Bell!” Percival gritou, cortando as sombras.

“Espere por mim. Vou voltar, com certeza.”

“Seu... Seu idiota! É melhor voltar! E é melhor você não voltar sozinho!” Percival gritou, pontuando suas palavras cortando uma grande mão que descia de cima em tiras.

“Eu acredito em você, Bell! Vamos todos jantar juntos mais tarde!” Kasim o encorajou.

“Por favor, Sr. Bell!” disse Anessa.

“Certifique-se de voltar com Ange!” Miriam implorou.

E, por fim, Marguerite gritou.

“Não é o fim até morrer!”

Belgrieve respondeu com um aceno de cabeça agudo e sem palavras.

Quanto mais longe ia, pior ficava sua dor fantasma. Contudo Belgrieve cerrou os dentes.

Isso não é nada. Eventualmente, ele também desapareceu da vista de todos.

***

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