quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Slayers — Volume 12 — Capítulo 53

Capítulo 53: O castelo à noite, consumido pelas chamas

A criatura parecia uma pipa preta. Tinha por volta do tamanho de uma pessoa, mas seu corpo era achatado, triangular e translúcido o suficiente para que pudéssemos ver o contorno vago da lua através dele. Não tinha braços nem pernas, porém sua cabeça(?) continha um único olho assustadoramente realista. Era um desenho cartunesco em muitos aspectos... Embora eu duvidasse que houvesse algo divertido ou excêntrico no que esse sujeito fosse capaz de fazer.

Além disso, tínhamos alguns fatores trabalhando contra nós naquele momento. Um era nossa posição. O outro eram os soldados visíveis no pátio abaixo, o que indicava que o mazoku não havia nos trancado em uma barreira. Sua intenção era clara... Queria nos forçar a usar feitiços chamativos que fizessem as pessoas correrem.

Contudo... Espere um minuto...

“A senhora Sherra me disse... Para não a subestimar...” o olho solitário do mazoku girou em minha direção. “Lina Inverse... A mulher que exterminou o Lorde Mestre do Inferno Fibrizo.”

“Hã?” Luke, Mileena e Jade ficaram compreensivelmente chocados.

Quer dizer, se você for mais detalhista, o Mestre do Inferno se exterminou. No entanto, falando sério, posso ter sido a causa, claro...

Mesmo assim, a pipa demoníaca continuou a dizer.

“Acho difícil de acreditar... Entretanto não vejo razão para a senhora Sherra mentir. Sendo assim, não devo baixar a minha própria guarda.”

Caramba, vocês são idiotas! Vejam, enquanto essa coisa tagarelava, terminei um cântico de amplificação.

“Dam Blas!”

Afirmar que não baixaria a guarda, e sair falando igual uma matraca enquanto eu preparava um feitiço era prova do contrário. Ou talvez essa coisa estivesse apostando que meu feitiço não seria capaz de machucá-la... O que poderia se provar verdade! Todavia não estava mirando no monstro!

Crash! Em vez disso, a precipitação destrutiva se desenrolou aos meus pés. Meu alvo real, veja bem, estava bem abaixo de nós... O telhado em que estávamos!

O monstro arregalou os olhos. Parecia atordoado. Não devia estar esperando que eu explodisse o telhado. Se demonstrou qualquer tipo de surpresa, não consegui ouvir por causa da explosão. Claro, o resto de nós teria se machucado bastante se caíssemos direto. Por sorte...

“Levitação!” Luke e Mileena ativaram seus feitiços ao mesmo tempo, então nossa descida até o último andar do prédio, até minha pilha de escombros recém-criada, foi tranquila. Não tinha certeza se eles haviam previsto minha manobra ou se tinham outros planos em mente quando começaram seus cânticos, mas tudo deu certo de qualquer maneira.

“Vamos lá, pessoal!” eu disse e saí correndo pelo corredor. “Jade! Cubra o rosto com um pano ou algo assim!”

“Por quê?”

“Só faça!”

Enquanto corríamos, gritando de um lado para o outro, uma porta à nossa frente se abriu e um velho gordinho colocou o nariz para fora, surpreso. Ele tinha uma aparência um tanto decadente, porém se estava hospedado nos aposentos de hóspedes do castelo, devia ser algum tipo de figurão de outro reino. Posso lidar com isso!

“Que diabos...” ele começou.

Contudo antes que pudesse terminar, gritei.

“Intrusos! Temos que fugir!” agarrei sua mão e comecei a puxá-lo em direção à escada.

“O quê? Intrusos? Quem são vocês?” gritou o homem.

“Seus compatriotas!” assegurei-lhe. “Sua Majestade nos ordenou que ficássemos de olho em vocês caso algo assim acontecesse! Agora, depressa!”

“C-Certo!” o velhote, perturbado, pareceu acreditar em mim.

Assim, seguimos primeiro pelo corredor e pelas escadas, usando o velho como cobertura. Para surpresa de ninguém, encontramos um grupo de guardas no caminho.

“Intrusos no último andar! Depressa!” gritei antes que pudessem nos interrogar.

Os patrulheiros ficaram confusos. Talvez reconheceram o velho, no entanto vê-lo correndo, escoltado por um grupo de completos estranhos? Naturalmente, queriam saber quem éramos!

“Identifiquem-se!” exigiram, mirando em nós.

O velho respondeu com entusiasmo.

“Não precisam se preocupar! Meu reino os enviou! Agora, depressa!”

“Certo!”

Cedendo à alegação do velho, os soldados partiram para o andar de cima. Talvez tivessem se acostumado a ver mercenários por perto nesses últimos dias, ou talvez só não parecêssemos tão suspeitos.

“Esperem!” gritei para os guardas. “Onde está a senhora Sherra? Precisamos informá-la!”

“Acredito que na torre norte...”

“Entendido! Vamos nos reportar!”

Não me perguntem o que meu ‘relatório’ conteria. Estou agindo sem pensar muito!

Hah. É tão fácil enganar as pessoas em uma situação caótica...

No momento em que aquele mazoku nos avistou no telhado, decidi seguir as grandes leis da infiltração. Ou seja, ao entrar sorrateiramente em um lugar, fazê-lo da forma mais discreta possível. E a melhor maneira de me camuflar naquele momento era se o castelo inteiro estivesse mergulhado no caos. Foi também por essa razão que pedi a Jade, o membro mais conhecido do nosso grupo, para esconder o rosto.

Repetimos a mesma situação com os guardas mais algumas vezes antes de conseguirmos sair do prédio.

“Vamos sair daqui! E rápido!” incitando o velho que nos acompanhava, todos nos dirigimos à torre norte enquanto Jade silenciosamente apontava o caminho. Percorremos apenas uma curta distância antes de...

“Você!” uma figura apareceu bloqueando nosso caminho. Preciso dizer quem era? Tenho certeza que já adivinhou... O mazoku que havíamos encontrado no telhado. “Como ousa enganar...”

Mas sequer precisei recitar um feitiço para dar conta desse idiota. Apenas apontei para o mazoku à nossa frente e gritei a plenos pulmões...

“O invasor!”

“O quê?”

“Onde?”

“Por aqui! Por aqui!”

“Mazoku!”

A guarda do castelo em pouco tempo se reuniu ao meu redor.

“Peguem seus arcos!”

“Não! É um mazoku! Chame os feiticeiros do palácio!”

“O quê... Esperem!” o mazoku não sabia o que fazer enquanto todos os soldados se voltavam contra ele. E em sua hesitação...

“Fell Zaleyd!” Luke e Mileena lançaram um feitiço conjunto.

“Guh!” o mazoku gritou, destruído na hora.

Whew. Nada como um belo jogo sujo...

“Tem mais um em cima da casa de hóspedes! Depressa!” gritei.

“Entendi!”

Tendo acreditado completamente na minha besteira, os soldados saíram correndo.

“Tudo bem, agora vamos por aqui!” a meu pedido, nosso grupo continuou para o norte. Depois de nos certificarmos de que os soldados não estavam mais nos observando...

“Hyah!”

“Ack!”

Dei um golpe na nuca do velho e o derrubei.

“Para a torre norte! Depressa!”

“Ei... Isso foi bem duro!” ralhou Gourry. Eu o ignorei.

Correndo a toda velocidade, nos aproximamos da torre. Apesar de ser chamada de torre, não era uma estrutura independente. Um longo corredor reto se estendia do castelo até uma construção ampla e retangular com uma torre redonda brotando dela. A maior parte da guarda do castelo estava indo para os alojamentos de hóspedes, então não parecia haver nenhum segurança no local. Assim que nos aproximamos o suficiente...

“O quê? O que está acontecendo?”

Um homem barbudo, já idoso, perguntou enquanto colocava a cabeça para fora de uma porta aberta.

“Invasor!” expliquei resumidamente. “Na casa de hóspedes!”

“Um invasor? Quem?” ele questionou mais a fundo.

Antes que pudesse responder, Jade saiu na minha frente, pulou sobre o homem e o derrubou no chão!

“O quê? O que você está...”

“Sou eu!” Jade rugiu com ferocidade, tirando a máscara que cobria metade do seu rosto. “Estive te procurando, General Allus.”

“Jade?” o homem no chão ofegou, surpreso.

Seria este o notório General Allus que colocou Sherra no poder?

“Tenho muitas perguntas para você.” disse Jade, e então ficou em silêncio por um momento.

Eu só conseguia imaginar. Ele precisava de respostas de Allus... Sobre Sherra. Sobre a morte do pai. Sobre o que estava acontecendo no reino.

“Contudo, agora, só uma coisa importa. Onde está aquela mulher... Onde está Sherra?”

Allus soltou um pequeno suspiro.

“Aquela mulher, hein?”

Sua voz denotava certa exaustão. No entanto, na fração de segundo em que Jade baixou a guarda...

“Hah!” Allus empurrou o cavaleiro mais jovem para o lado e se levantou. “Se quiser descobrir...” ele sacou a espada do cinto. “Lute e me derrote!”

“Assim farei!” Jade respondeu, retribuindo o gesto. “Fiquem fora disso, todos vocês!” gritou para o resto de nós enquanto avançava, atacando.

Clang! Suas lâminas colidiram com faíscas vermelhas. Allus bloqueou o golpe de Jade, deu um passo para trás e então desferiu um amplo corte horizontal. Jade o bloqueou e respondeu da mesma forma. Era um duelo de verdade... Força contra força, aço contra aço. Eles trocaram golpes duas, três vezes. Os dois homens brandiram suas espadas em golpes largos e altos. E por fim...

“Ngh!” foi o General Allus quem caiu de joelhos. O último golpe de Jade deixou um corte superficial que descia direto do seu ombro direito.

Não que Allus fosse um espadachim ruim, também não era excepcional, todavia era evidente que tinha uma habilidade superior ao General Allus.

“Você é mesmo filho do General Grancis... Nunca tive chance.” admitiu.

“Como ousa dizer o nome do meu pai? Depois de matá-lo?” Jade acusou.

Allus balançou a cabeça.

“Eu não...” começou, depois balançou a cabeça de novo e engoliu em seco. “Não, talvez tenha razão em me acusar. Afinal, fui o responsável em apresentar aquela mulher ao nosso suserano... E quem colocou nosso reino no caminho da ruína.”

“Está falando como se não tivesse nada a ver com a morte do meu pai.”

“Não vou pedir que acredite em mim. É natural que fique desconfiado, dada a relação difícil que seu pai e eu tínhamos. Entretanto sou verdadeiramente devotado ao Rei Wells. Isso é algo que não permitirei que questione. Não acho errado tentar trazer alegria ao nosso objeto de estima.” disse Allus.

Ele se referia, é claro, ao monarca reinante de Dils, Wells Xeno Gyria.

“Mas também é verdade que tal lealdade pode ser vista como bajulação... Foi assim que o General Grancis viu. Trouxe Sherra para conhecer nosso suserano porque pensei que ficaria satisfeito em adquirir tal servo. Deveria ter sido tudo... Porém não foi. Também não sei como ela se aproximou tanto do rei depois, quando me dei conta, os dois eram inseparáveis. Ainda assim, achei que estava tudo bem, desde que meu suserano estivesse satisfeito. Naquele dia, também, seu pai me chamou ao castelo para falar sobre as ambições de Sherra... E, alguns dias depois, recebi a notícia de seu falecimento...”

Jade permaneceu em silêncio enquanto ouvia, com a espada ainda em punho.

“Foi então que comecei a pensar, pela primeira vez, que poderia ter me enganado...”

Nesse momento...

“General!”

“General Allus!”

Um grupo de soldados invadiu o prédio, interrompendo a história de Allus. Claro! Estava apenas ganhando tempo até que suas forças chegassem!

“Vocês...” os soldados apontaram suas lâminas para todos nós ao mesmo tempo.

“Esperem!” o General Allus os deteve. “Os invasores... Estão lá fora. Eles saíram por outra porta. Não se preocupem comigo. Vão...”

Ficamos todos chocados... Inclusive os soldados. Sua declaração inesperada deixou todos perplexos por um segundo.

“M-Mas, General...!” os soldados hesitaram.

“Vão!” Allus gritou.

Ainda assim, não podiam apenas aceitar cegamente o que estava pedindo. Alguns deviam ter reconhecido Jade. Jade, um exilado, que estava de pé ao lado do general ferido segurando uma espada ensanguentada... Teria sido mais louco se não questionassem a situação.

“É uma ordem!”

Ao ouvir essa palavra, os soldados se entreolharam com relutância.

“M-Muito bem. Porém você está ferido, General...”

“Já disse para não se preocuparem comigo. Tenho mais a dizer a essas pessoas. Agora vão.”

Os soldados ficaram em silêncio, então...

“Entendido. Por favor... Tome cuidado.” eles não deviam saber mais o que dizer. E assim, com aquelas palavras finais um tanto tolas, os soldados se viraram e seguiram na direção que Allus havia indicado.

“Por que você...” Jade insistiu assim que os soldados se foram.

“Como disse... Tenho mais a dizer.” respondeu o General Allus com um sorriso de autocensura. “Foi mais ou menos nessa época que comecei a me arrepender do que tinha feito. Pensei que a única coisa que importava era agradar nosso suserano... Todavia me peguei pensando se houve momentos em que eu deveria ter dito não a ele de qualquer maneira.”

Jade embainhou a espada silenciosamente e olhou para nós.

“Será que um de vocês... Alguém que conhece magia de cura... Poderia, por favor, curar esta ferida para ele?”

“Sheesh, que gentileza. É, claro, apenas acredite em tudo o que ele diz...” Luke murmurou, enojado. Mileena, por sua vez, se adiantou e lançou um feitiço de Recuperação em Allus. Vendo aquilo, Luke acrescentou, sem jeito. “Hã... Porém acho que não é ruim confiar nas pessoas às vezes.”

O corte no braço de Allus começou a fechar lenta, embora seguramente.

“Obrigado!” disse o homem a ninguém em particular, e então continuou. “Vários dias depois... O rei me convocou e me disse... Que havia emitido a ordem, em meu nome, para te exilar e seu irmão. E, como esperado, ao seu lado estava aquela mulher... Sherra. Foi quando percebi que era ela quem governava o reino agora. Um reino de tolos... Inclusive eu. Se tivesse percebido antes...” Allus soltou um pequeno suspiro. “Sir Jade, não precisa acreditar em mim. Pode até me matar, se quiser. Contudo... Gostaria de lhe pedir um favor. Aquela mulher ainda está com nosso suserano. Não vou perguntar o que pretende fazer com ela, no entanto, por favor... Não machuque Sua Majestade.”

“Sou devotado...” disse Jade com um aceno firme. “Como sempre fui, ao Rei Wells. Fora isso, neste momento, não tenho como julgar a veracidade da sua história. E sendo assim... Não tenho motivos para puni-lo aqui e agora.”

“Entendo...” o general voltou a suspirar.

Mileena observava em silêncio, agachada ao seu lado. O ferimento de Allus não era grave para começar, e agora estava quase curado. A natureza cuidaria do resto.

“Já o mantive aqui por muito tempo... Aquela mulher, Sherra, deve estar com o rei em seu escritório no palácio do norte.”

“Tudo bem.”

“Não sei quem ou o que ela é... Mas, por favor, tome cuidado.”

“Voltarei em breve.” Jade fez uma saudação de cavaleiro para Allus, depois se virou e correu pelo corredor.

Nós quatro o seguimos. Olhei para trás e vi o General Allus, ainda caído onde estava, nos observando fugir...

———

Devido à comoção lá fora, quase não havia soldados no complexo do castelo. Passamos por alguns patrulheiros aqui e ali, porém ou Gourry os derrubou no chão, ou Mileena lançou um feitiço de sono para apagá-los e arrastá-los para o mundo dos sonhos. No geral, não encontramos nenhum obstáculo importante enquanto corríamos pela passarela coberta pelo gramado até o palácio central. Se Sherra estava com o rei, então a guarda real devia estar por perto, apesar da confusão lá fora. Previ que encontraríamos vários guardas no caminho, contudo...

No minuto em que entramos no palácio, todos paramos ao mesmo tempo.

Nos encontramos em um pequeno salão de reuniões. Não era o salão principal, obviamente. Talvez um destinado a pequenos grupos de soldados e servos se reunirem. O lugar era uma cidade fantasma no momento, entretanto estava repleto de uma presença particular... Miasma.

“Mais uma daquelas barreiras?” Jade perguntou.

“Correto!” respondeu uma voz familiar.

“Rebifor?” chamei o mazoku de olhos esbugalhados que nos atacara com o Xamã uma vez. Olhei ao redor, todavia não o vi em lugar nenhum.

“Pensei que poderia deixá-los com os soldados humanos do castelo e apenas observar de longe... No entanto me vejo forçado a agir.”

“Acho que sou melhor em ler e manipular as pessoas do que vocês.”

“Sim, parece que sim...” Rebifor pareceu imperturbável com minha provocação. “O que significa que todos os humanos que andam por aí estão no caminho de nós dois, não acha? Então os tirei do tabuleiro.”

Com isso, a porta do outro lado do saguão se abriu de repente com um estrondo, como se dissesse: venham por aqui.

“Hah! Não me faça rir!” eu me enchi de orgulho ao responder ao Rebifor, ainda aparentemente ausente. “Só estamos atrás da Sherra! De jeito nenhum vamos cair em uma óbvia armadilha planejada para perdermos tempo com bucha de canhão!” proclamei.

“Er, Senhora Lina...” Jade sussurrou em resposta. “Temos que ir por ali para chegar ao escritório do rei.”

Hum...

“Suponho que teremos de limpar o chão com a sua cara antes de lutarmos com a Sherra, então aceitamos o seu desafio!”

“Você só está dizendo isso porque não temos escolha?”

“Cale a boca, Gourry. Enfim, ninguém baixe a guarda!”

E assim caminhamos em direção à porta do outro lado do corredor... Para o campo de batalha onde os mazokus nos aguardavam.

———

Estávamos prontos para a luta. Tínhamos infundido a Espada Mágica Sugadora do Gourry (nome dado por mim) com um feitiço Garra Negra para que tivesse um bom poder contra mazokus. Toda vez que chegávamos a uma bifurcação no corredor, a voz de Rebifor nos indicava o caminho a seguir.

“Parece que estamos indo para a sala de audiências.” Jade sussurrou enquanto seguíamos as instruções.

“Onde fica esse escritório onde Sherra deveria estar?” perguntei.

“Eu nunca estive lá... Mas meu pai mencionou que é preciso passar pela sala de audiências para chegar lá.”

“Entendi!” resmunguei antes de me calar.

Rebifor e seus aliados devem estar esperando na sala de audiências. Depois de caminhar um pouco, chegamos a uma entrada.

“É aqui...” disse Jade, estendendo a mão para a porta.

Agarrei seu ombro para detê-lo e lancei um olhar para Gourry. O grandalhão assentiu e então sacou a espada.

“Eu vou abrir!” ele declarou, e em seguida...

Houve uma explosão de hostilidade do outro lado. A espada de Gourry brilhou. A porta, cortada em vários pedaços, caiu ruidosamente no chão. Atrás dela, havia incontáveis ​​sombras furtivas... E incontáveis ​​raios de luz vindo direto para nós!

“Vuum Aeon!” Luke e Mileena entoaram um encantamento. Sua barreira antimagia nos cercou instantaneamente!

Vssshahshahshahshah! Os inúmeros raios explodiram contra a barreira, dispersando-se em partículas. No momento em que a onda passou, saí da barreira e lancei o feitiço que estava entoando!

“Bram Blazer!” o golpe amplificado rasgou várias das sombras.

“Hraaaaah!” por sua vez, Gourry e Jade entraram correndo de ambos os lados, cortando e gritando. Luke e Mileena removeram a barreira e então correram pela porta também enquanto entoavam seus próximos feitiços.

A câmara de audiências era um grande salão com teto alto. Uma fileira de tapete vermelho ladeada por pilares de mármore levava a um trono desocupado. Calculei cerca de vinte ou trinta das figuras sombrias na sala, todas reminiscentes de Xamã e Hidra. Pretos da cabeça aos pés, corpos decorados com padrões estranhos e místicos... Eles tinham uma variedade de formatos de cabeça e membros. Alguns até carregavam armas.

O lugar estava fervilhando... Porém só deles. Não havia sinal de Rebifor até onde pude ver. O Xamã podia estar misturado à multidão, contudo não tenho tempo para procurá-lo agora. Se baixasse a guarda por um segundo, seria atingida por lanças de fogo e gelo de todas as direções.

Desviei desesperadamente dos ataques, entoei um feitiço e lancei.

“Explosão de Cinzas!”

Whm! O feitiço que lancei envolveu várias das figuras sombrias, transformando-as em pó. Não tive tempo de olhar ao redor, no entanto me parecia que todos os outros também estavam no meio da luta agora. Dito isso, para mazokus puros, essas coisas não eram particularmente fortes... Na verdade, pareciam bem fracos. Mais no nível de demônios inferiores ou de bronze.

Espera aí... Essa situação é estranha!

No entanto, assim que esse pensamento passou pela minha cabeça, detectei uma presença atrás de mim. Assustada, não perdi tempo e me virei. Mergulhei no outro instante para o lado... Bem a tempo de um raio de luz passar por mim, rasgando minha capa.


“Excelentes instintos...” ao ouvir essa nova voz, todos os mazokus de preto pararam no mesmo lugar.

Virei-me e vi quatro figuras paradas ali. Eram Rebifor, Xamã e mais dois outros que nunca tinha visto antes. Um dos recém-chegados parecia um homem grande e translúcido, sem rosto. O outro era verde-musgo, com dois tentáculos pendurados em cada ombro e um rosto composto por um único globo ocular.

Rebifor examinou nosso grupo e disse.

“Eu não esperava que eles acabassem com vocês, mas vê-los sendo eliminados tão rápido...”

É verdade. Tínhamos eliminado... Não a metade, porém ao menos um terço dos inimigos negros em pouco tempo.

“Suponho que a matéria-prima faça toda a diferença... Então eles são inúteis.” ele murmurou algo incompreensível, e então voltou seu olhar para nós. “Já faz um tempo. Não percebi que você era Lina Inverse na última vez que nos encontramos e acabei sendo descuidado. É hora de retribuir o favor...”

“Ah, não se incomode. Algumas pessoas são educadas demais!” respondi alegremente às palavras de Rebifor e comecei a me mover devagar.

O resto da gangue também se movia aos poucos para posições mais estratégicas, enquanto observavam os mazokus negros e o grupo de Rebifor. O esquadrão de Rebifor não mostrou sinais de movimento, seja porque não notaram ou não se importaram com o nosso.

“Também tenho uma dívida com os homens!” anunciou o mazoku cor de musgo.

“Espere, quem é aquele cara mesmo?” Gourry sussurrou para Luke.

“Você sabe quem! Foi aquele que nos atacou na estalagem antes!” Luke resmungou de volta.

Claro. Esta era a metade sobrevivente da dupla de mazokus que havia atacado Gourry e Luke na cidade.

“Bem, tudo o que fez foi se apresentar como um valentão e depois sair correndo chorando depois que derrotamos o seu amigo, sendo assim não é de se espantar que você não se lembre! Qual é o seu nome, afinal?” Luke provocou.

“Rikakizu!” respondeu o mazoku, aparentando estar imperturbável com a provocação.

“Diga alguma coisa também, Baiz.” provocou Rebifor.

O gigante sem rosto não respondeu. Claro, fiquei observando o tempo todo, esperando uma oportunidade de atacá-lo com um feitiço... Contudo mesmo enquanto Rebifor falava, a atenção do grupo permanecia totalmente voltada para nós.

“Hmm... Sem apresentações, hein? Isso me lembra...” como se de repente se lembrasse, Rebifor se virou para Xamã com um tom sugestivo. “Já se apresentou a eles?”

“Me... Apresentei... A eles?” Xamã perguntou, inclinando a cabeça.

“Sim. Já os contou quem você é?”

“Não havia... Necessidade... De...”

Os olhos de Rebifor se estreitaram, um sinal de estar entretido.

“Deixa pra lá. Diga seu nome a eles.”

“Meu... Nome...” disse Xamã, e então continuou hesitante. “Meu nome é... Grancis... Caudwell...”

Um arrepio tomou conta da sala. Grancis... Caudwell? Quer dizer...

“Isso é absurdo!” o grito de Jade quebrou o silêncio. “Esse é... O nome do meu pai!”

“Sim, eu sei!” disse Rebifor, zombeteiro. “E de fato... Este é Grancis Caudwell, o próprio!”

“Mentiroso! Essa coisa não se parece em nada com meu pai! Além do mais, ele está...”

“Morto? E por acaso viu o seu cadáver? Dizer que alguém morreu de doença é um disfarce comum para assassinatos... No entanto também funciona para desaparecimentos.”

“Isto não prova nada!”

“Você conhece demônios inferiores?” Rebifor continuou, interrompendo Jade. “São o produto de um mazoku de nível inferior no plano astral que habita um pequeno animal ou criatura similar com baixas defesas mentais, transformando seu corpo no processo.”

“Do que está falando?”

“A senhora Sherra tem uma lâmina muito interessante, sabe...”

Ah!

“A espada demoníaca Dulgoffa... É tanto espada quanto um mazoku. Ela possui uma pessoa e corrói sua alma, transfigurando-a no que chamamos de demônio superior. Mas e se Dulgoffa possuísse uma pessoa apenas o tempo suficiente para aniquilar sua vontade, deixando-nos como uma casca humana sem nenhuma defesa mental? E então, o que aconteceria se invocássemos um demônio de nível inferior do plano astral para possuir essa casca? Esta é a resposta... Uma forma bastante incomum de demônio de nível inferior.”

“Do que... Você está falando?” Jade gritou, com a voz trêmula.

Se não tivesse testemunhado o poder de Dulgoffa antes, a história de Rebifor teria soado como uma história exagerada... Todavia, para mim, não podia negar que cheirava a verdade.

Se Xamã não fosse um mazoku puro e tivesse que andar a pé para onde quer que fosse, isso explicaria o longo tempo de inatividade entre os ataques, já que teria que retornar ao palácio toda vez que precisasse de novas ordens. Isso também explicava a discrepância entre a maneira como lutava e a maneira como falava, e por que as outras figuras ali não eram muito mais fortes do que demônios inferiores ou de bronze.

Essa nova revelação significava que o General Allus era apenas um trampolim, justo como ele alegara. Sherra não precisou mais da sua ajuda depois de se estabelecer.

“Porém há alguns problemas com esse método. O poder mágico deles é quase uniforme, embora a força física varia muito dependendo do potencial do hospedeiro humano. Você não acha os outros na câmara de audiências um grande desafio, acha?”

“Quer dizer...” lancei meus olhos ao redor da horda de figuras escuras que enchiam a sala.

“De fato. São vários nobres e oficiais do reino que tentaram impedir nossos planos. Dizem que alguns também faleceram de doenças... Contudo parece que a maioria deles não era lá muito atlética para começar.”

“É mentira!” Jade gritou.

“Não estou mentindo.” respondeu Rebifor friamente. “No entanto fique à vontade para ver com seus próprios olhos se duvidar de mim. Você já cruzou espadas com seu pai em treinos, com certeza. Deve se lembrar do seu estilo de luta. Grancis, enfrente-o. Mas vá com calma.”

Com isso, Xamã deu um passo à frente, erguendo a espada na mão...

“Graaah!” Jade rugiu enquanto corria direto para Xamã.

Clink! Xamã defendeu com facilidade o golpe inicial de Jade como se tivesse previsto.

“Seu... Maldito! Maldito!”

Jade atacou repetidamente. Xamã esquivou ou desviou cada golpe até que... Zing! Viu uma abertura e atacou por si mesmo. Jade defendeu o golpe e saltou para trás.

“Não pode ser...” ele sussurrou baixinho. Sua voz tremia. “Não pode ser!”

“Você tem tanta certeza?” Rebifor pressionou.

Jade ficou em silêncio por um momento, sem palavras.

“Tem que se mentira! Então... Então por que...?”

“Por que a técnica de espada é a mesma? Já sabe a resposta, não sabe? Grancis sabe como é o seu estilo de luta. Afinal, vocês praticavam juntos com tanta frequência.”

“Ngh...” Jade ficou em silêncio, com os punhos tremendo. Então, voltou seu olhar para Rebifor. “Transforme meu pai de volta em humano!” ele cuspiu.

“Receio que não consiga fazer isso!” respondeu Rebifor, imperturbável. “Ainda se eu removesse seu hospedeiro demoníaco, não passaria de um vegetal babando agora.”

“Mentiroso!”

“É verdade. Se ainda restasse alguma parte da vontade de Grancis, acha que teria matado seu irmão, seu próprio sangue, com as próprias mãos?”

Desta vez, as palavras de Rebifor paralisaram Jade por completo.

Ele tem razão. Eu vi o Xamã... Não, Grancis... Matar o homem que provavelmente era irmão de Jade...

“Não dá para discordar disso, né? Hehehe...” Rebifor soltou uma risada baixa, como se estivesse se divertindo muito.

Ele está se alimentando do desespero de Jade...

De fato, os mazokus prosperam com as emoções negativas dos vivos.

“E daí?” interrompi o silêncio de Jade. “O que vocês estão planejando? Infiltrar-se em um reino, tomar poder, transformar pessoas em monstros... O Dragão do Caos Gaav fez algo parecido há pouco tempo. Seu plano era lutar contra os mazokus de Katart, e quanto a vocês? Tentando começar uma guerra total com os humanos?”

“Não te devo uma explicação, não é?” Rebifor respondeu com um sorriso na voz. “Estamos aqui apenas para uma coisa: tentar matar uns aos outros. Então, deveríamos começar logo, não é?”

‘Logo’ uma ova! Depois de você ter gasto todo esse tempo mexendo com o Jade...

“Tem razão...” mas foi Jade quem concordou com a declaração de Rebifor. “Essa é a única maneira de salvar meu pai, não é?” com essas palavras, voltou a apontar sua lâmina para Grancis. “Então... Vamos começar.”

E assim, começamos.

———

Jade atacou. Grancis sem perder um segundo sequer, também partiu para a ofensiva. Os três mazokus puros se espalharam, e as figuras negras restantes... Os humanos que foram transformados em semi-demônios, tomaram posições prontas para a batalha.

“Fell Zaleyd!”

“Assher Dist!”

Luke e Mileena, já tendo recitado encantamentos, lançaram feitiços que cortaram a multidão sombria.

“Graaah!”

Clink! Grancis desviou o golpe inicial de Jade e então contra-atacou. Jade aparou e esquivou. Grancis parecia perfeitamente à vontade, enquanto Jade se encontrava em um estado perturbado... Tanto em termos de técnica quanto de emoção. Havia uma hesitação palpável em seus golpes. Não havia como vencer daquele jeito.

Suas espadas se encontraram repetidas vezes. Jade demonstrou um momento de vulnerabilidade, e Grancis não hesitou em explorá-la! Então... Clink! Pouco antes de sua lâmina atingir o corpo de Jade, a espada de Gourry a interceptou. Grancis pulou para trás para se distanciar.

“Eu não preciso da sua ajuda!” Jade gritou.

“Olha, cara...” Gourry manteve a espada entre ele e Grancis, falando com Jade com uma expressão estranha. “Você está lutando como se estivesse tentando se matar. Entendo como se sente, porém não posso só ficar para trás e assistir algo assim, mesmo que me peça para não me intrometer.”

Gourry sabia. Jade também... Ele não conseguia derrotar Grancis. Jade era habilidoso, com certeza, contudo de uma forma cotidiana. As habilidades que Gourry e esta versão de Grancis possuíam desafiavam toda a lógica.

“Neste momento, a única maneira de salvar meu pai... É matá-lo!” sussurrou Jade. Seus punhos trêmulos se cerraram. “Quero... Salvar meu pai. É meu dever como filho... No entanto... Sei que não sou forte o suficiente para vencê-lo.” parecia que dizer aquelas palavras o matava, entretanto ainda acenou para Gourry. “Por favor... Salve meu pai!”

“Sim... Pode deixar comigo. Agora...” Gourry preparou sua espada de novo, encarando Grancis.

“Parece que serei seu oponente. Vamos lá.”

Então veio o choque de lâminas, a de Gourry contra a de Grancis.

———

“Lança de Elemekia!” lancei uma lança de luz, da qual Rebifor se esquivou prontamente. Todavia quando o fez... “Quebre!”

Estalei os dedos e... Crash! A luz explodiu ao passar por Rebifor! Alterei um pouco o feitiço para acomodar uma torrente atrasada.

“Tch!”

Não causaria muito dano, mas devia ser como uma chuva gelada, forçando o mazoku a recuar. Naquele momento, saquei minha espada e investi contra o maldito, entoando um cântico.

“A mesma manobra de novo?” gritou.

Estendi a espada na minha mão direita.

“Não vou te deixar me acertar!” Rebifor saltou para trás, desviando por pouco da ponta da minha lâmina.

Dei mais um passo à frente e levantei minha mão esquerda... Em direção à cabeça de Rebifor! Eu havia terminado meu feitiço!

“Não é bom o suficiente!” ele sibilou enquanto se abaixava.

Tentando evitar meu ataque e contra-ataque, não é? Que pena...

“Chama Elemekia!” a magia nem sempre precisa se manifestar na palma da sua mão! Usei um canto ligeiramente alterado para fazê-lo sair do meu abdômen... Bem na altura onde a cabeça de Rebifor estava agora!

Surpreso, a luz o atingiu em cheio!

———

Fweee! Tentáculos cor de musgo assobiaram pelo ar em direção a Luke, vindos de quatro direções, em uma sucessão com diferenças de velocidade. A barragem o forçou a pular para trás para evitar os chicotes ou afastá-los com sua espada, porém conseguiu impedir todos eles. Quando o fez...

“Explosão de Cinzas!”

Whm! Respondendo à voz de Luke, a escuridão consumiu o corpo do mazoku cor de musgo. Então... Snap! Com um som semelhante ao de um balão molhado estourando, este irrompeu da sombra envolvente! Rikakizu havia dominado a Explosão de Cinzas com pura força mágica!

“O quê?” Luke exclamou surpreso.

Rikakizu se aproximou. Luke recuou enquanto entoava seu próximo feitiço. Esperando por aquele momento de vulnerabilidade, os semi-demônios o cobriram com uma chuva indiscriminada de flechas flamejantes!

“Tch!” Luke conseguiu se esquivar, contudo seu movimento improvisado o deixou desequilibrado.

Os tentáculos cor de musgo de Rikakizu uivavam pelo ar. Um deles estava apontado direto para o pescoço de Luke!

———

Flechas mágicas disparadas pelos semi-demônios voaram em direção a Mileena. Ela se esquivou por um triz, no entanto as criaturas já estavam mirando de novo... Uma fração de segundo depois, um deles caiu com um grito. Jade havia corrido pela lateral e o abateu.

A atenção dos semi-demônios agora se voltou de Mileena para Jade, no entanto não significava que Mileena estivesse livre. Um braço extremamente poderoso e enorme balançou o ar em sua direção.

Whoosh! Com uma rajada de vento, o gigante translúcido Baiz deu uma rasteira em Mileena. Ela se esquivou sem esforço com um salto para trás... Ou pelo menos, esse era o plano. Mileena pousou e se esquivou em pânico. O braço enorme passou literalmente bem na frente do seu nariz!

Será que calculou mal a distância?

Eu disse que Baiz era ‘translúcido’ antes, mas fui um pouco imprecisa. Para esclarecer, seu corpo era meio que o de uma água-viva. Isso devia dificultar um pouco a leitura de seus movimentos...

Mileena pulou para trás para ganhar mais distância, em seguida deu um passo para o lado e lançou um feitiço que havia entoado para Baiz.

“Fell Zaleyd!”

Porém com passadas rápidas que seu tamanho monstruoso desmentia, Baiz o evitou sem dificuldade. O feitiço de Mileena continuou voando e atingiu um dos semi-demônios atrás. Então, mais uma vez, Mileena e Baiz se enfrentaram.

———

Cling! Clank! Clang! O choque de espada contra espada ecoava incessantemente. Grancis aparou um golpe de Gourry, e este desviou um de Grancis. Faíscas voaram por todo lado até que ambos os lutadores pularam para trás ao mesmo tempo para ganhar distância. Então Grancis atacou!

Ele estava curvado, como se estivesse rastejando pelo chão. Atacou com um golpe para cima, que Gourry respondeu com um para baixo. Se os golpes fossem iguais em termos de força, Gourry tinha a vantagem!

Clink! Faíscas voaram pelo ar mais uma vez, e naquele momento... Grancis soltou a mão esquerda da espada para pinçar a lâmina de Gourry entre os dedos.

“O quê?” gritou o grandalhão.

Depois de segurar a espada de Gourry com uma mão, Grancis usou a outra para desferir um golpe lateral! O espadachim loiro conseguiu se esquivar com um salto vertical. Se conseguisse pousar em cima de Grancis agora, talvez conseguisse vencê-lo.

Contudo, assim que pulou, Grancis torceu a mão esquerda... Incluindo a espada de Gourry e Gourry junto com ela. Um movimento como aquele devia exigir força sobre-humana, no entanto, pensando bem, Grancis já não era mais humano.

Normalmente, Gourry teria sido jogado no chão, entretanto...

“Hng!” conseguiu se endireitar no ar e manter o equilíbrio o suficiente para aterrissar de pé. Essa manobra também foi francamente desumana.

Antes que Gourry pudesse se endireitar, Grancis já estava de pé novamente. Sua mão esquerda ainda segurava a espada de Gourry. E então... A espada, agora livre, na mão direita de Grancis balançou direto para Gourry!

———

A cabeça de Rebifor foi decepada. Um a menos! Pelo menos, foi o que pensei, todavia uma sensação inquietante de repente percorreu minha espinha. Virei-me bem a tempo de ver...

Whoosh!

Um raio de luz passou por mim. O conjurador era... Rebifor! Ainda está vivo?

“Ficaria feliz se aprendesse a cair quietinho!” resmunguei.

“Na verdade, você nem me atingiu.” declarou o mazoku sem cabeça. A área ao redor de seus ombros então começou a se transformar para regenerar o membro perdido!

Espere, isso não está certo... Rebifor disse que não o acertei, e só podia significar uma coisa. Ele havia se transformado para remover a própria cabeça antes que o feitiço fizesse contato, a fim de se esquivar.

Que nojento...

Quando lutamos antes, eu o peguei desprevenido e o forcei a recuar... Mas saber que tinha uma habilidade como essa o tornava um osso duro de roer. Para derrotá-lo, tenho que pegá-lo de surpresa de novo. Será que consigo? De um jeito ou de outro...

“Videira Astral!” infundi magia em minha espada desembainhada.

“É inútil!”

Os olhos de Rebifor sorriam.

———

Cortada pelos tentáculos de Rikakizu, uma cabeça voou... Seguida por várias outras, todas pertencentes a semi-demônios.

“Saiam do meu caminho, seus insetos!” Rikakizu repreendeu, deixando-os tremendo.

Por sua vez, Luke conseguiu recuperar o equilíbrio. Ele interrompeu seu cântico para dizer.

“Huh, não sei qual é o seu jogo, porém acho que devo agradecer.”

“Não é nada... Depois de fugir uma vez, não quero que ninguém pense que venci graças à ajuda de um lixo como eles. Quero matar vocês com minhas próprias mãos. Gostaria de matar todos, na verdade... Contudo você é a única pessoa que preciso matar.”

“Legal. Vá em frente e tente!” Luke convidou, retomando seu cântico.

“Eu vou!” Rikakizu rugiu enquanto saltava para frente.

Luke saltou para trás, ainda entoando o cântico, no entanto Rikakizu foi mais rápido! O mazoku se aproximou, lançando os quatro tentáculos em sua direção ao mesmo tempo. No ar, estes se separaram e se tornaram um enxame de uma dúzia de tentáculos muito mais estreitos... Todos voando para enredar Luke!

———

A batalha entre Mileena e Baiz parecia ter chegado a um impasse enquanto os dois trocavam golpes, todos facilmente esquivados. Mileena não estava mais calculando mal a distância dos socos de Baiz. Uma vez que aprendesse o truque, era fácil lidar com esse tipo de ataque. Os braços translúcidos de Baiz cresciam um pouco mais a cada golpe. Se conseguisse escapar do primeiro soco, pensando erroneamente que sua translucidez apenas tornava seus ataques difíceis de avaliar, teria uma surpresa desagradável com o segundo.

Mileena se esquivou, entoando outro feitiço. O soco de Baiz veio com um projétil mágico, que Mileena também evitou. Então...

“Lança Elemekia!”

Baiz se esquivou do feitiço de Mileena, entretanto este atravessou outro semi-demônio.

———

Para a maioria dos guerreiros, um oponente assumir o controle de sua arma seria a morte. Mas, assim como Grancis, Gourry não era a maioria dos guerreiros.

Bam! Um golpe do punho de Gourry na parte plana da lâmina de Grancis a desviou. Ele simultaneamente deu um chute no estômago de Grancis, que soltou a espada de Gourry e recuou. Gourry o perseguiu.

Grancis gritou enquanto voava para trás, conjurando uma tempestade de flechas mágicas para arremessar em Gourry. O grandalhão não teve tempo de desviar de todas!

“Espada!” gritou Gourry enquanto lançava sua lâmina em direção aos raios de luz que se aproximavam. Aquilo acionou o feitiço Garra Negra lançado contra ela, anulando a luz de Grancis quando as duas magias colidiram! E então...

Thrrrk! Dando continuidade ao seu ataque, Gourry atravessou Grancis.

———

“Lança Elemekia!” Rebifor não pareceu se incomodar com a minha enésima conjuração do feitiço. Ele apenas abriu um buraco no estômago para deixá-lo passar. Pena que este foi um pouco diferente!

“Quebre!” quando a lança de luz estava passando pelo seu corpo, usei o comando para estilhaçá-la! Rebifor não conseguiu se esquivar desta! Exceto...

“Heh...” um pequeno sorriso surgiu no seu rosto. “Já esperava que você fizesse isso... Porém a menos que baixe minha guarda, um feitiço enfraquecido como esse não vai me machucar nem um pouco!” enquanto Rebifor falava, o buraco em seu estômago se preencheu.

Grr! O maldito previu! Estive pensado em outras maneiras de surpreendê-lo, contudo o momento seria complicado. Se tentasse algo agora, havia uma boa chance de falhar. O que significava que precisava ganhar tempo.

Recitei um feitiço baixinho...

“Não adianta!” Rebifor se aproximou, seu tom transbordando confiança. “Nada do que fizer irá...”

“Fell Zaleyd!” Mileena entoou por trás de Rebifor. Ela havia disparado uma rajada de balas mágicas naquela direção enquanto se enroscava com Baiz. Elas estavam indo direto para Rebifor.

Surpreso, o mazoku conseguiu se transformar a tempo, abrindo um buraco no peito para deixar os projéteis passarem.

Agora! Me movi, estendendo minha mão esquerda na direção do rosto de Rebifor! Ele se virou para mim novamente.

“Realmente achou que isso iria...”

“Lança...”

“Me pegar desprevenido?”

O buraco no peito do mazoku se fechou. Quando isso aconteceu...

“Gaaaah!” Rebifor gritou.

No momento em que a magia de Mileena o distraiu, joguei a espada na minha mão direita no momento certo. Rebifor olhou para o buraco que havia aberto em seu próprio peito e então voltou sua atenção para mim... Ou melhor, para o feitiço que estava prestes a lançar. Então começou a preencher o buraco em seu peito quase inconscientemente... Bem ao redor da espada que eu acabara de jogar em sua direção. Uma espada encantada com um feitiço de Videira Astral.

E assim que Rebifor gritou, terminei de invocar minhas palavras de poder.

“Elemekia!"

Bwoosh! Desta vez, distraído pela dor no peito, Rebifor teve a cabeça arrancada pra valer.

———

Luke parou de repente no meio de sua retirada para trás. Ele jogou sua lâmina para o lado... E avançou contra Rikakizu! O mazoku, confuso com a mudança repentina, ficou atordoado por um instante.

“Lâmina Olhos de Rubi!” a voz de Luke soou.

No instante seguinte... Luke cortou Rikakizu na vertical, uma lâmina vermelho-rubi brilhando em suas mãos.


———

O braço de Baiz varreu o ar.

Será que ele percebeu?

Mileena se esquivou prontamente da explosão mágica que seu oponente lançou em silêncio com o golpe.

Acho que não...

Mileena não estava tentando derrotá-lo, mas sim prender sua atenção enquanto ajudava seus aliados. Ela só disparava feitiços quando havia outro oponente atrás de Baiz. Às vezes era um semi-demônio, às vezes era Rebifor.

Baiz não percebeu que era o único mazoku restante na sala... Até eu lançar um feitiço certeiro em suas costas.

***

Link para o índice de capítulos: Slayers

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