domingo, 5 de outubro de 2025

The Dragonbone Chair — Volume 02 — Capítulo 17

Capítulo 17: Binabik


Quando Simon enfim olhou para a fonte da nova voz, seus olhos lacrimejantes se arregalaram de surpresa. Uma criança caminhava em sua direção.

Não, não uma criança, mas um homem tão pequeno que o topo de sua cabeça de cabelos negros provavelmente não alcançaria muito mais alto que o umbigo de Simon. Seu rosto tinha algo de infantil: os olhos estreitos e a boca larga se estendiam em direção às maçãs do rosto em uma expressão de simples bom humor.

— Este não é um bom lugar para chorar. — disse o estranho. Ele se afastou do ajoelhado Simon para examinar por um momento o lenhador caído. — Também sinto que não vai adiantar muito, pelo menos para este sujeito morto.

Simon limpou o nariz na manga da camisa grossa e soluçou. O estranho havia se aproximado para examinar a flecha branca, que se erguia do tronco da árvore perto da cabeça de Simon como um galho rígido e fantasmagórico.

— Você deveria levar isto. — disse o homenzinho, e mais uma vez sua boca se abriu num sorriso de sapo, revelando por um instante uma paliçada de dentes amarelos.

Ele não era um anão, como os bobos e acrobatas que já vira na corte e na Avenida Principal de Erchester... Embora tivesse peito grande, parecia bem proporcionado. Suas roupas lembravam muito as de um rimmerio: casaco e calças de algum tipo de couro grosso de animal costurado com tendões, uma gola de pele levantada abaixo do rosto redondo. Uma grande bolsa de pele pendia saliente de uma alça de ombro, e segurava um bastão que parecia ter sido esculpido em algum osso longo e fino.

— Por favor, desculpe minhas sugestões, contudo deveria levar esta flecha. É uma Flecha Branca sitha, e é muito preciosa. Ela representa uma dívida, e os sitha são pessoas conscienciosas.

— Quem... É você? — Simon perguntou em meio a outro soluço. Estava torcido, achatado como uma camisa molhada posta para secar em uma pedra. Se aquele homenzinho tivesse saído das árvores rosnando e brandindo uma faca, não achava que poderia ter reagido de forma diferente.

— Eu? — perguntou o estranho, pausando como se estivesse pensando bastante na pergunta. — Um viajante como você. Terei prazer em explicar mais coisas mais tarde, no entanto agora precisamos ir. Este sujeito... — indicou o lenhador com um gesto do bastão. — Com certeza não está mais vivo, entretanto pode ter amigos ou familiares que ficarão perturbados ao encontrá-lo morto. Por favor. Pegue a Flecha Branca e venha comigo.

Desconfiado e cauteloso, Simon, todavia, se viu levantando. Era esforço demais não confiar naquele momento; não tinha mais forças para ficar em guarda... Uma parte sua queria apenas deitar e morrer em silêncio. Arrancou a flecha da árvore. O homenzinho já estava em marcha, subindo de volta a encosta acima da casa. A pequena cabana se agachava tão silenciosa e organizadamente como se nada tivesse acontecido.

— Mas... — Simon ofegou enquanto se arrastava atrás do estranho, que se movia com surpreendente rapidez. — E a casa? Eu estou... Estou com muita fome... E pode haver comida...

O homenzinho se virou no topo da colina para encarar o jovem que se debatia.

— Estou muito chocado! — falou. — Primeiro você o mata, depois quer roubar a sua despensa. Receio ter me envolvido com um fora da lei desesperado!

O outro se virou e continuou em direção às espessas árvores.

O outro lado do cume era uma longa e gradual descida. Os passos mancos de Simon por fim o levaram ao encontro do estranho; em poucos instantes, recuperou o fôlego.

— Quem é você? E para onde estamos indo?

O homenzinho estranho não ergueu os olhos, porém continuou movendo-os de árvore em árvore, como se procurasse algum ponto de referência na incessante uniformidade da floresta densa. Depois de vinte passos silenciosos, voltou os olhos para Simon e esboçou seu sorriso largo.

— Meu nome é Binbiniqegabenik. — falou. — Contudo ao redor de uma fogueira me chamam de Binabik. Espero que me honre usando a versão mais curta e amistosa.

— Eu... Farei isso. De onde você é? — o garoto voltou a soluçar.

— Sou do povo gnomo de Yiqanuc. — respondeu Binabik. — Alto Yiqanuc nas montanhas do norte, nevadas e ventosas... E você é?

Ele o encarou desconfiado por um momento antes de responder.

— Simon. Simon de... Erchester.

Tudo aquilo estava acontecendo tão rápido, pensou... Como uma reunião no mercado, no entanto no meio de uma floresta após um assassinato bizarro. Santo Jesuris, como sua cabeça doía! E seu estômago também.

— Para onde... Para onde estamos indo?

— Para o meu acampamento. Só que primeiro preciso encontrar minha montaria... Ou melhor, ela precisa me encontrar. Por favor, não se assuste.

Dito isso, Binabik colocou dois dedos na boca larga e soprou uma nota longa e vibrante. Depois de um momento, repetiu o processo.

— Lembre-se, não se assuste nem se preocupe.

Antes que pudesse refletir sobre as palavras do gnomo, ouviu-se um estalo como fogo no mato. Um momento depois, um lobo enorme irrompeu de dentre os arbustos, passando por Simon, chocado, e saltando como um raio desgrenhado sobre o pequeno Binabik, que tombou de cabeça para baixo sob o rosnado do agressor.

— Qantaqa! — o grito do gnomo foi abafado, mas havia alegria em sua voz. Mestre e montaria continuaram a rolar pelo chão da floresta. Simon, distraído, se perguntou se o mundo fora do castelo sempre fora assim... Se toda Osten Ard não seria nada mais que um campo de jogos para monstros e lunáticos?

Binabik enfim se sentou, com a grande cabeça de Qantaqa aninhada em seu colo.

— Eu a deixei sozinha o dia todo hoje. — explicou. — Lobos têm muito carinho e se sentem solitários facilmente.

Qantaqa abriu um sorriso enorme e ofegou. Grande parte de sua circunferência era de pelos grossos e cinzentos, porém ainda assim ela era imensa.

— Sinta-se à vontade. — riu Binabik. — Pode coçar o focinho.

Apesar da irrealidade da situação, Simon seguia não se sentindo de todo preparado para aquilo; em vez disso, perguntou.

— Desculpe... Porém o senhor disse que tinha comida no acampamento?

O gnomo se levantou, rindo, e pegou seu bastão.

— Não sou senhor. — disse Binabik! — E quanto à comida: sim. Comeremos juntos, você, eu e até Qantaqa. Venha. Respeitando seu momento de fraqueza e fome, caminharei e não montarei.



***



Simon e o gnomo marcharam por algum tempo. Qantaqa os acompanhou por alguns trechos, contudo na maioria das vezes trotava à frente, desaparecendo em poucos saltos na densa vegetação rasteira. Certa vez, voltou lambendo o focinho com sua longa língua rosada.

— Bem... — disse Binabik alegremente. — Um de nós já comeu!

Por fim, quando Simon, dolorido e arrastado, pareceu não conseguir mais andar, quando perdeu o fio de cada frase de Binabik em poucas palavras, chegaram a um pequeno vale, sem árvores, embora coberto por uma treliça de galhos entrelaçados. Ao lado de um tronco caído, havia um anel de pedras enegrecidas. Qantaqa, que caminhava ao lado deles, saltou à frente para farejar o desfiladeiro.

— ‘Bhojujik mo qunquc’, como meu povo diz. — Binabik fez um gesto expansivo ao redor da clareira. — ‘Se os ursos não te comerem, é o seu lar’.

Ele conduziu Simon até um tronco; o jovem desabou, respirando pesadamente. O gnomo o olho de cima a baixo, preocupado.

— Oh! — disse Binabik. — Você não vai chorar de novo, vai?

— Não. — o garoto esboçou um sorriso fraco. Seus ossos pareciam pesados ​​como pedra morta. — Eu... Acho que não. Só estou com muita fome e cansado. Prometo não chorar.

— Certo. Vou fazer uma fogueira. Depois, vou preparar o jantar. — Binabik se apressou para juntar uma pilha de gravetos e galhos, amontoando-os no meio do círculo de pedras. — Esta é madeira de primavera e está molhada. — disse. — Mas felizmente é fácil de resolver.

Tirando a bolsa de pele do ombro, o gnomo colocou-a no chão e começou a vasculhá-la com determinação. Para Simon, em seu capricho de origem fatigada, a pequena figura agachada parecia mais do que nunca a de uma criança: Binabik olhava para dentro da bolsa com os lábios franzidos e os olhos semicerrados em concentração, como uma criança de seis anos estudando um besouro manco com grande seriedade.

— Hah! —exclamou por fim o gnomo. — Encontrei.

Ele tirou da bolsa um pequeno saco, mais ou menos do tamanho do polegar de Simon. Binabik pegou uma pitada de uma substância em pó e espalhou sobre a madeira verde, depois tirou dois pedaços de pedra do cinto e os bateu um no outro. A faísca que saltou crepitou por um instante, depois uma fina espiral de fumaça amarela subiu. Um instante depois, a madeira se inflamou e, em poucos segundos, se tornou um fogo alegre e crepitante. O calor pulsante acalmou Simon, apesar das dores do estômago vazio. Sua cabeça balançava, pendendo...

Espere... Uma onda de medo o invadiu... Como podia só adormecer, totalmente desprotegido no acampamento de um estranho? Devia... Devia...

— Sente-se e se aqueça, amigo Simon. — Binabik limpou as mãos enquanto se levantava. — Voltarei muito em breve.

Embora uma profunda inquietação lutasse para se manifestar no fundo de seus pensamentos, para onde o gnomo estava indo? Para conseguir confederados? Companheiros bandidos? Ainda assim, Simon não conseguia se esforçar para assistir Binabik partir. Seus olhos estavam outra vez fixos nas chamas trêmulas, as línguas como as pétalas de uma flor cintilante... Uma papoula-de-fogo tremendo ao vento quente de verão...



***



Simon acordou de um grande vazio nublado e encontrou a enorme cabeça do lobo cinzento sobre suas coxas. Binabik agachou-se sobre o fogo, ocupado com algum trabalho. Simon sentiu que havia algo ligeiramente errado em ter um lobo no colo, porém não conseguia encontrar os fios de marionete adequados em sua mente para fazer algo a respeito... De qualquer forma, não parecia realmente importante.

Na próxima vez que acordou, Binabik estava expulsando Qantaqa de seu colo para lhe oferecer uma grande xícara de algo quente.

— Está frio o suficiente agora para beber. — disse o gnomo, e ajudou o garoto a levar o recipiente aos lábios.

O caldo era almiscarado e delicioso, ácido como o cheiro das folhas de outono. Bebeu tudo; parecia senti-lo fluindo direto em suas veias, o sangue derretido da floresta, aquecendo-o e preenchendo-o com a força secreta das árvores. Binabik lhe deu uma segunda xícara, que bebeu também. Um denso e pesado aperto de preocupação na junção de seu pescoço e ombros se dissipou, varrido pela onda de bons sentimentos. Uma nova leveza o percorreu, trazendo consigo um peso paradoxal, uma sonolência cálida e difusa. Enquanto se entregava a essa sensação, ouviu seu próprio batimento cardíaco embalado, abafado embora estivesse nas mãos da exaustão.



***



Simon tinha quase certeza de que, quando chegou ao acampamento de Binabik, faltava pelo menos uma hora para o pôr do sol, mas quando voltou a abrir os olhos, a clareira da floresta brilhava com uma nova manhã. Ao piscar, sentiu os últimos fios do sono se libertarem... Um pássaro...?

“Um pássaro de olhos brilhantes com uma coleira dourada que refletia o sol... Um pássaro velho e poderoso, cujos olhos estavam cheios da sabedoria dos lugares altos e da visão ampla... De sua garra quitinosa pendia um belo peixe com o brilho do arco-íris...”

Simon estremeceu, puxando seu pesado manto para mais perto de si. Enquanto olhava para as árvores abobadadas, com suas folhas primaveris em botão, realçadas pelo sol em filigrana esmeralda, ouviu um gemido e rolou de lado para olhar.

Binabik, sentado de pernas cruzadas ao lado da fogueira, balançava suavemente de um lado para o outro. À sua frente, uma variedade de formas estranhas e pálidas se espalhava sobre uma rocha plana... Ossos. O gnomo fazia aquele som incomum... Estaria cantando? Simon o encarou por um instante, porém não conseguiu decifrar o que o homenzinho estaria fazendo. Que mundo estranho!

— Bom dia. — disse por fim. Binabik deu um pulo, sentindo-se culpado.

— Ah! Amigo Simon! — o gnomo sorriu por cima do ombro e guardou em rápidos movimentos os objetos em sua bolsa de pele aberta, depois se levantou e correu para perto de Simon. — Como está se sentindo agora? — perguntou, curvando-se para colocar a mão pequena e áspera na testa do garoto. — Você devia estar precisando de uma boa noite de sono.

— Precisava. — Simon se aproximou da pequena fogueira. — O que... É esse cheiro?

— Um casal de pombos-torcazes que parou para jantar conosco esta manhã. — sorriu Binabik, apontando para dois fardos embrulhados em folhas nas brasas à beira da fogueira. — Fazendo companhia a eles, estão algumas frutas vermelhas e nozes colhidas mais cedo. Eu teria te acordado logo para ajudar. Acho que estão com um gosto muito bom. Ah, um momento, por favor.

Binabik voltou para sua bolsa de pele, tirando dois pacotes finos.

— Aqui. — ele entregou. — Sua flecha e algo mais... — eram os papéis de Morgenes. — Você os colocou no seu cinto, e tive medo que estragassem enquanto dormia.

A suspeita crescente cruzou o rosto do garoto. A ideia de alguém manuseando os escritos do doutor enquanto dormia o deixou desconfiado. Tomou os escritos oferecido da mão do gnomo e o recolocou os papéis no cinto. O olhar alegre do homenzinho mudou para um de consternação. Simon sentiu-se envergonhado, embora todo cuidado fosse pouco, e pegou a flecha, que havia sido enrolada em um pano fino, com mais delicadeza.

— Obrigado. — disse, em um rígido tom.

A expressão de Binabik seguia a de um homem cuja bondade fora desprezada. Culpado e confuso, Simon desembrulhou a flecha. Apesar de não ter tido a chance de estudá-la de perto, naquele momento sua maior preocupação era encontrar algo para ocupar as mãos e os olhos.

A flecha não era pintada, como Simon presumira. Em vez disso, era esculpida em madeira branca como casca de bétula, e adornada com penas brancas como a neve. Apenas a ponta, esculpida em pedra azul-leitosa, tinha alguma cor. Simon a ergueu, comparando sua surpreendente leveza com sua incrível flexibilidade e solidez, e a lembrança do dia anterior retornou com força. Sabia que jamais esqueceria os olhos felinos e os movimentos perturbadoramente rápidos dos sitha. Todas as histórias que Morgenes contara eram verdadeiras.

Ao longo de toda a haste da flecha, finas espirais, arabescos e pontos estavam gravados na madeira com infinito cuidado.

— Está tudo coberto de entalhes. — Simon refletiu em voz alta.

— São coisas muito importantes. — respondeu o homenzinho, estendendo a mão timidamente. — Por favor, se me permite?

Simon sentiu outra onda de culpa e lhe entregou a flecha. Binabik a inclinou para frente e para trás, refletindo a luz do sol e do fogo.

— Este é um objeto antigo. — ele semicerrou os olhos estreitos até que as pupilas escuras desaparecessem por completo. — Ela existe há bastante tempo. Você agora é o portador de algo bastante honroso, Simon: a Flecha Branca não é dada em leviandade. Parece que esta foi criada em Tumet’ai, uma fortaleza sitha há muito desaparecida sob o gelo azul a leste da minha terra natal.

— Como sabe de tudo isso? — perguntou o jovem. — Consegue ler essas letras?

— Algumas. E há coisas que um olho treinado consegue ver.

Simon a pegou de volta, manuseando-a com muito mais cuidado do que antes.

— Mas o que devo fazer com ela? Você disse que era o pagamento de uma dívida?

— Não, amigo. É um sinal de uma dívida. E o que você deveria fazer é mantê-la segura. Se não tiver mais nada para ser, será algo lindo de se ver.

Uma névoa fina ainda pairava sobre a clareira e o chão da floresta além. Simon apoiou a flecha com a ponta para baixo contra o tronco e deslizou para mais perto do fogo. Binabik puxou os pombos das brasas, pinçando-os com um par de gravetos; colocou um maço na pedra quente diante dos joelhos de Simon.

— Remova as folhas dobradas. — instruiu o gnomo. — E espere um pouco para que o pássaro esfrie um pouco.

Foi muito difícil obedecer à última instrução, porém de alguma forma Simon conseguiu.

— Como as conseguiu? — perguntou em certo momento, com a boca cheia e os dedos pegajosos de gordura.

— Depois te mostro. — respondeu o gnomo.



***



Binabik estava palitando os dentes com uma costela arqueada dos pombos. Simon recostou-se no tronco e arrotou satisfeito.

— Mãe Elysia, isso foi maravilhoso. — suspirou, sentindo pela primeira vez em muito tempo que o mundo não era um lugar totalmente hostil. — Um pouco de comida no estômago muda tudo.

— Fico feliz que sua cura tenha sido tão simples de realizar. — o gnomo sorriu ao redor do osso fino.

Simon deu um tapinha na cintura.

— Não me importo com nada neste momento.

Seu cotovelo roçou na flecha, que começou a cair. Ao pegá-la e endireitá-la, uma lembrança lhe veio à mente.

— Nem me sinto mais mal por... Por aquele homem de ontem.

Binabik voltou seus olhos castanhos para Simon. Embora continuasse a sondar os dentes, sua testa se enrugou acima da ponta do nariz.

— Não se sente mal por ele estar morto, ou por fazê-lo morrer?

— Não entendo. — disse Simon. — O que quer dizer? Qual é a diferença?

— Há tanta diferença quanto entre uma pedra grande e um pequeno, pequenininho inseto... Contudo deixarei a reflexão por sua conta.

— Mas... — Simon ficou confuso novamente. — Bem... Era um homem mau.

— Hmmmm... — Binabik assentiu, no entanto o gesto não demonstrava concordância. — Este mundo certamente está se enchendo de homens maus, disso não há dúvidas.

— E teria matado o homem sitha!

— Isso também é verdade.

Simon olhou carrancudo para a pilha de ossos de pássaros empilhados à sua frente na pedra.

— Não entendi. O que está querendo dizer?

— Para onde está indo? — o gnomo jogou seu osso no fogo e se levantou. Era tão pequeno!

— O quê? — Simon olhou desconfiado quando a importância das palavras do homenzinho enfim o alcançou.

— Gostaria de saber para onde está indo, para que talvez possamos viajar juntos por um tempo. — Binabik falou lenta e pacientemente, como se estivesse falando com um cachorro velho, querido, embora estúpido. — Acho que talvez o sol esteja muito alto no céu para que as outras perguntas sejam motivo de preocupação. Nós, gnomos, dizemos: ‘Faça da Filosofia sua convidada durante a tarde, porém não a deixe passar a noite’. Agora, se minha pergunta não for de natureza muito inquisitiva, para onde vai?

Simon se levantou, os joelhos rígidos como dobradiças sem óleo. Outra vez sentiu dúvidas. Será que a curiosidade do homenzinho poderia ser tão inocente quanto parecia? Já havia cometido o erro de confiar, pelo menos uma vez, naquele maldito monge. No entanto que escolha tinha? Não precisava contar tudo ao gnomo, e com certeza era preferível ter um companheiro versado nas artes do bosque. O homenzinho parecia saber o que fazer, e de repente Simon ansiava por ter alguém em quem confiar.

— Estou indo para o norte... — disse, e então assumiu um risco calculado. — Para Naglimund. — observou o gnomo atentamente. — E você?

Binabik estava guardando seus poucos instrumentos na mochila.

— No fim das contas, espero viajar para o norte. — respondeu sem olhar para cima. — Parece que temos uma coincidência de caminhos. — agora ele ergueu os olhos escuros. — Que estranho que esteja viajando em direção a Naglimund, cujo nome de fortaleza tenho ouvido muito nas últimas semanas.

Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso secreto.

— Tem? — Simon pegou a Flecha Branca e tentou parecer despreocupado enquanto pensava em como carregá-la. — Onde?

— Haverá tempo para conversar enquanto pegamos a estrada. — o gnomo sorriu, um sorriso amarelo, amplo e amigável. — Preciso chamar Qantaqa, que sem dúvida está espalhando horror e desespero entre os roedores desta região. Sinta-se à vontade para esvaziar sua bexiga agora, para que possamos caminhar rapidamente.

Simon teve que segurar a Flecha Branca entre os dentes cerrados enquanto seguia o conselho de Binabik.

***

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