Capítulo 45: A batalha começa à noite em Solaria
“Quem está aí? Não se mexam!” Luke sacou a espada e avançou direto para nós.
Quê? Gourry e eu corremos instintivamente na direção oposta!
“Não tentem fugir, seus desgraçados!” ele gritou enquanto nos perseguia.
Um pedido bem absurdo, se quer saber. Quando um cara te ataca com uma espada, você dá o fora dali! Admito que parecíamos bem suspeitos nessas circunstâncias. Rostos cobertos, vestidos de preto... E embora não estivéssemos com armadura, estávamos armados. Tudo isso, além de dois guardas caídos na porta? Não era de se admirar que Luke estivesse atrás de nós.
A questão agora era como lidar com a situação. Gourry e eu deveríamos nos acalmar ou revelar nossas identidades e nos explicar? A resposta me veio em pouco tempo... Vamos nos ater ao papel!
Com os gritos e a agitação de Luke, era provável que houvesse outros guardas a caminho. E em meio a toda a confusão que se aproximava, nunca teríamos a chance de contar a nossa versão da história. Teríamos que nos virar por enquanto e entrar em contato amanhã para esclarecer a situação. Agora, quanto à melhor forma de escapar...
Entoei um feitiço baixinho.
“Dam Blas!”
Então me virei e o lancei!
Crash! Tal qual como planejei, a explosão atravessou o teto entre nós e Luke, fazendo chover detritos para bloquear o caminho.
“O quê?” Luke recuou para evitar os destroços.
Nesse meio tempo, entoei outro feitiço, peguei a mão de Gourry e...
“Lei Asa!”
Usei isso para nos tirar pelo buraco no teto e pousar no telhado. Em teoria, poderia ter continuado, porém a velocidade, a altitude e a capacidade de carga do Lei Asa variavam muito com base no poder mágico à disposição do conjurador. Com Gourry a reboque, precisei de toda a minha concentração para chegar até aqui.
Meus talismãs de Sangue de Demônio me permitiriam carregá-lo com facilidade, contudo não tive tempo de conjurar o cântico de amplificação com Luke nos nossos calcanhares.
Então esperei para conjurá-lo até agora, quando chegamos à beira do telhado.
Saúdem, Lordes das Trevas dos quatro mundos
Eu imploro seu vínculo e rogo por esta bênção
Por seus poderes combinados, entrelaçados,
Abençoem-me com uma magia mais poderosa que a minha!
E com aquela pequena recitação, os talismãs de Sangue de Demônio no meu pescoço, nos dois pulsos e na fivela do cinto começaram a brilhar. Podia sentir seu poder preenchendo meu corpo. Em seguida, comecei a entoar um novo feitiço Lei Asa. Quando o fiz...
“Voltem aqui!”
Luke e Mileena apareceram no telhado também, provavelmente cortesia de um feitiço de Levitação.
Cara, que persistência!
Luke disparou em nossa direção, no entanto, antes que pudesse diminuir a distância, terminei meu cântico!
“Lei Asa!”
Com uma velocidade muito maior do que da última vez, Gourry e eu alçamos voo e fugimos para o céu noturno. Agora, depois de nos livrarmos desses caras...
“Lina! Eles estão atrás da gente!” gritou Gourry.
“O quêêêê?” não consegui evitar de gritar. “Só pode ser brincadeira! Primeiro aqueles homens de preto, agora Luke e Mileena?”
“Acho que seu feitiço não é tão rápido assim...”
“Tá, tá! Não tem nenhum feiticeiro por aí com um feitiço que consiga acompanhar essa belezinha!”
“Exceto eles, suponho. Ah, já sei!”
“Percebeu alguma coisa?”
“Ontem à noite, seu feitiço também não funcionou com o homem de preto. Deve ser aquela época do mês!”
“Não é!” gritei.
Gourry estava certo ao dizer que eu não consegui derrotar oponentes que deveria ter derrotado e fugir de oponentes que deveria ter deixado para trás... Entretanto minha magia não foi comprometida de forma alguma. A velocidade do meu feitiço Lei Asa de agora e a força do Dam Blas que usei no teto antes estavam à altura. O que significava que tínhamos um problema diferente em mãos... Nossos oponentes estavam mais poderosos do que o normal.
Um Lei Asa normal jamais conseguiria acompanhar a minha versão amplificada. Mas uma com um canto artisticamente alterado? Um aprimoramento como esse talvez resolvesse o problema. Parecia que Luke e Mileena tinham alguns truques na manga... Teria de perguntar a eles sobre isso mais tarde. Por ora, porém, nossa principal prioridade era resolver essa perseguição.
Voei até uma das muralhas sinuosas da cidade, a alguma distância do castelo, pousei em uma área desabitada e descartei meu feitiço de voo. Pouco tempo depois, Luke e Mileena fizeram o mesmo. Parecia que Luke estava puxando Mileena pela mão no ar, contudo suspeitava que ambos pudessem usar o Lei Asa. Se combinassem dois feitiços da forma correta, talvez pudessem aumentar a eficácia. Todavia, deixando tudo isso de lado...
Esperem aí, vocês dois! Eu queria implorar, contudo antes que pudesse... Uma bola de magia apareceu na mão estendida de Luke! Oh, pelo amor de...
“Preparem-se para a dor, seus idiotas!” Luke gritou e lançou o orbe. Ele se partiu no ar, lançando inúmeras pequenas balas brilhantes sobre mim e Gourry.
“Gwaaaah!”
Pow! Powpapow! Nós dois nos separamos enquanto elas caíam aos nossos pés. Elas não pareciam muito poderosas sozinhas, no entanto não estava ansiosa para experimentar uma.
“Vocês não vão escapar da gente!”
“Calma, droga!” gritei, virando-me para Luke enquanto tirava o pano do rosto. “Sou eu! Somos nós!”
“Mas quê...?” Luke parou, compreensivelmente surpreso, enquanto Mileena nos observava com seu olhar estoico de sempre. Será que ela já tinha nos descoberto?
“Foram vocês?” por sua vez, Luke parecia chocado com nossa revelação, deixando claro que com certeza não sabia. “Enfim se voltaram para negócios sujos, hein?”
“Por que está presumindo isso?”
“Cale a boca e coma esse feitiço!” Luke estendeu a mão, outra bola de luz se formando nela...
“Aconselho vocês a ouvi-los!” uma voz familiar ecoou, interrompendo-o.
“O quê?” Luke interrompeu o ataque, olhou ao redor e congelou ao ver algo.
Segui seu olhar e avistei uma silhueta em pé em um telhado perto da parede. Era o homem mascarado de novo!
“Você aí, cabelo de corvo. Está agindo tendo pleno conhecimento da conspiração de Lavas?” o homem mascarado voltou a falar.
“O quê?” Luke gaguejou, parecendo abalado pela acusação. “A conspiração de Lavas? Do que está falando?”
“Lavas está liderando os homens de preto contra quem lutamos em Bezeld!” interrompi desta vez.
“Sério?”
“Ainda não temos certeza! Foi por esse motivo que entramos no castelo!”
“Para sua informação, a conspiração de Lavas não se limita a apenas reunir forças...” o mascarado olhou ao redor. “No entanto acho que não tenho tempo para explicar.”
Ouvi um farfalhar no vento e de repente senti presenças surgirem ao nosso redor.
É claro... Luke e Mileena não eram os únicos que nos seguiram. As figuras que surgiram, vindos do nada como o luar tomando forma, eram os tão familiares homens de preto. Mais de dez deles, aliás.
“Cuidado!” disse o mascarado, seus olhos examinando cautelosamente nossos adversários. “Vários desses homens estão fundidos com demônios.”
O quê? Olhei para o Sr. Mascarado em choque. E não fui a única a ficar surpresa.
“Você... Quem é você? O quanto sabe?” perguntou um dos homens de preto, ansioso, dando credibilidade à declaração feita.
Mas fazia todo o sentido! Isso explicava como Zain havia ficado muito mais forte do que antes e como seus companheiros haviam conseguido acompanhar meu Lei Asa amplificado. Eles tinham poder demoníaco agora!
Ainda assim, se fosse esse o caso, não era uma boa notícia. O que testemunhei até agora (esses caras lançando feitiços rapidamente e bloqueando-os com as mãos vazias) não significava que estivessem usando feitiços escondidos; significava que a maioria das magias não funcionava neles.
“Peguem o homem mascarado vivo. Matem os outros.”
À ordem do homem da frente, os outros homens de capa preta entraram em ação. Um deles pulou no topo do muro, criou uma lança de luz e a lançou. Seu alvo? O homem mascarado no telhado!
Porém o homem mascarado apenas calma e silenciosamente estendeu a mão direita.
“Vas Gluud!”
Como se esperasse o movimento do homem de manto negro, ele criou uma barreira mágica do tamanho de um pequeno escudo. Plink! A barreira dispersou a lança de luz sem esforço.
“O quê?” o homem de preto congelou por um segundo, abalado.
Ah, nunca baixe a guarda, como dizem! Eu já tinha terminado de recitar meu feitiço.
“Explosão de Cinzas!”
Vwsh! Antes que pudesse gritar, o homem de preto na parede virou pó.
“Não os subestime!” cuspiu um dos homens de preto. Parecia ser Zain! “Começarei com você, Lina Inverse!”
Com isso, o Sr. Talvez-Seja-Zain veio direto para cima de mim! Mesmo assim, ele tinha muito terreno para cobrir, e eu conseguia recitar bem rápido! Completei meu próximo feitiço antes mesmo de estar ao alcance de sua espada.
“Explosão de Cinzas!” mirei bem onde antecipei que ele fosse pisar. Praticamente as únicas magias no meu repertório com uma área de efeito razoavelmente ampla que também funcionariam contra alvos com forte resistência mágica eram esta e o Dragon Slave... E não podia sair atirando Dragon Slaves no meio de uma cidade.
Meu feitiço fazia com que uma coisa preta cobrisse qualquer faixa de ar na qual mirasse. O campo escuro se expandia e então desaparecia, reduzindo qualquer oponente preso a cinzas. Observei enquanto este cercava Zain e, quando desapareceu, vi... Nada.
“Lina!”
No segundo em que Gourry gritou, senti um arrepio percorrer minha espinha e pulei para frente no instante seguinte.
Whoosh! Algo roçou minhas costas. Me afastei o mais rápido que pude, me virei e vi um homem de preto parado ali, espada em punho. Não havia como serem reforços. Os homens de preto já nos cercavam. O que significava... Só podia ser...
“Ele... Só apareceu do nada!” Luke gritou, confirmando minha teoria.
“É esse o seu poder, Zain?” perguntei.
“É!” respondeu ele baixinho.
Justo como suspeitei. No momento em que lancei meu feitiço, Zain se teletransportou para trás de mim, tentando me dar uma facada nas costas. A capacidade de se teletransportar pelo espaço... Também explicava seus movimentos impossíveis em nossa batalha na noite passada. Era algo que já tinha visto mazokus puros poderosos fazerem de vez em quando. Contudo ver um humano realizar tal feito, mesmo que estivesse fundido com um mazoku... Isso só seria possível combinando o poder mágico que adquiriu através da fusão com um certo grau de habilidade mágica inata como humano. O que resultava em um oponente complicado de lidar.
Consegui esquivar do seu golpe por tão pouco que atingiu a barra da minha roupa, no entanto talvez eu não tivesse tanta sorte na próxima vez. E tomando as palavras do homem mascarado como verdade, Zain não era o único com um truque mortal na manga. E tudo somado ao fato de que esses caras nos superavam em número, dois para um, o que não era a melhor das probabilidades, ainda se fossem humanos normais. É, essa seria uma luta difícil.
Enquanto estávamos em pânico com a revelação do que Zain era capaz de fazer, os outros homens de preto começaram a se aproximar. Se nós cinco pudéssemos trabalhar juntos, então talvez...
Entretanto, enquanto pensava... Tnk! O homem mascarado saltou de repente do telhado para o topo do muro. Com outro pulo, desapareceu no quarteirão adjacente.
Aquele maldito saiu correndo sem nós! Eu não fui a única perturbada com suas ações. Zain também soltou um grito de surpresa, parando por um momento no lugar.
“Trevo Raza!” naquele instante, Mileena lançou um feitiço.
Zain saltou e se esquivou com facilidade.
“Vocês quatro, sigam-no! O resto, acabem com demais aqui!” a seu comando, vários dos homens de preto desapareceram por cima do muro em busca do homem mascarado.
Aha... A prioridade dos homens de capa preta era prender o homem mascarado e descobrir o que sabia. Sua fuga da cena havia tirado um pouco da nossa atenção. Apesar de que, mesmo agora, estávamos em menor número. Teríamos que abordar a situação com cuidado.
Zain, que havia permanecido do nosso lado do muro, correu direto para mim outra vez!
Clink! Dois clarões prateados se chocaram, um tilintar metálico ressoando no ar. Gourry mergulhou para aparar o golpe de Zain antes que pudesse me atingir. Então, como se quisessem terminar seus negócios da noite anterior, eles se lançaram em um violento vaivém.
Pena que não tive tempo de sentar e assistir. Os homens de preto restantes nos atacaram logo depois. Saquei minha espada, em guarda para o primeiro que me atacasse. Nem preciso dizer que também estive entoando um feitiço!
Shing! Bloqueei o golpe assim que terminei meu feitiço.
“Flecha Congelante!”
Fwsh! Respondendo às minhas palavras de poder, algumas dezenas de projéteis de gelo se manifestaram à minha frente. Um lançamento normal deste feitiço invocaria cerca de uma dúzia, mas essa gracinha havia sido amplificada!
“O quê?” claramente apavorado com a quantidade, o homem de preto saltou para trás.
“Vai!”
Lancei meu feitiço na parte mais densa das fileiras dos homens de manto negro.
Fshhfshhfshh! Incontáveis raios de luz rasgaram o ar audivelmente. Era uma tempestade de gelo tão avassaladora que não havia como desviar de tudo, mesmo se fosse rápido.
“O quê?”
“Gwah!”
Eram gritos de choque ou de dor? De qualquer forma, ouvi alguns e vi dois homens desabarem. É provável que a magia de gelo não funcionasse com os caras fundidos com demônios, porém vários dos homens de capa preta pareciam ser humanos comuns, e meu objetivo era eliminar alguns destes. Por sorte, meu plano funcionou perfeitamente. Comecei meu próximo feitiço...
Clank! Clang! Eu podia ouvir o tilintar de metal contra metal vindo de trás de mim. Em algum momento, Mileena se moveu para ficar de costas comigo, com a espada em punho. Atrás dela, a alguma distância, dois homens de preto jogaram algo em mim, talvez facas, que ela derrubou no ar. As mãos dos homens estavam erguidas como se estivessem prestes a atirar algo de novo...
“Lutem como homens!” Luke gritou enquanto brandia sua espada. Whoosh! Uma rajada de vento de sua lâmina mágica fez os homens de preto voarem.
E como se estivesse esperando por essa oportunidade...
“Fell Zaleyd!” Mileena entoou um encantamento, liberando um raio espiralado de luz branca que abateu um deles!
O trabalho em equipe dos dois foi sem dúvida incrível. Aparentando estarem intimidados pela rapidez com que despachamos tantos de seus companheiros, alguns dos homens de preto hesitaram... Mas outros seguiam ansiosos para tentar sua sorte. Seriam eles apenas arrogantes ou seria essa a confiança que seus poderes demoníacos lhes davam? Era seguro presumir que, apesar de diminuírem seus números, ainda tínhamos alguns inimigos formidáveis para enfrentar.
Então... E se eu fizer isso? Lancei o feitiço que tinha em mãos.
“Bola de Fogo!” normalmente, essa belezinha explodia ao contato, porém ajustei um pouco o cântico.
“Quebre!” estalei os dedos e logo depois... Fwooobababum! Bem acima da minha cabeça, a Bola de Fogo explodiu, criando flores carmesim no céu noturno.
Dois dias antes, o homem mascarado havia forçado os homens de capa preta a recuarem apenas insinuando a comoção que a batalha deles poderia causar. E se intencionalmente fizesse uma cena aqui e agora? Aposto que os afugentaria de novo.
“Droga! Não é hora para brincadeiras!” Luke gritou comigo, sem perceber meu plano. Minha ação fez os homens de capa negra hesitarem, contudo...
Todos, exceto um.
“Graaah!” o homem que se recusou a se intimidar investiu contra Mileena com um uivo bestial. Com a força de um berserker, lançou ataque após ataque.
“Tch...!”
Mal conseguindo desviar dos golpes, Mileena estava sendo aos poucos forçada a recuar.
“Ei! Larga a minha Mileena!” Luke berrou, aproximando-se para apoiá-la (e se esgueirando em uma autopromoção descarada no processo).
“Não sou sua!” objetou Mileena o mais tranquila possível, apesar do perigo que corria.
Aproveitei para entoar um feitiço nesse meio tempo. Gostaria de ter oferecido a Gourry ou Mileena um pouco de reforço mágico, no entanto não pude fazer muita coisa enquanto eles estavam em combate corpo a corpo. Havia um risco grande de que os acertasse por acidente.
Será que devo me esforçar para acabar com o resto dos homens de capa preta, nesse caso? Fui liberar meu feitiço e... Foi nesse momento que ouvi um grito inesperado.
“O quê?” gritou um velho na beira da estrada... Talvez um morador local, atraído por toda aquela confusão.
“Tch...” Zain pareceu bastante perturbado e recuou do choque com Gourry.
Sim! Deu certo! Se conseguíssemos atrair uma grande multidão, os homens de preto seriam forçados a recuar!
Ou assim pensei, exceto que o homem de preto que atacava Mileena não reagiu da mesma forma. Ele se desvencilhou da escaramuça, entretanto...
“Você está no meu caminho!” disse ele casualmente. Sua mão esquerda brilhou.
“Geh!” o observador soltou um último grito ao atingir o chão com um baque.
O quê...?
“O que você está fazendo, Zord?” Zain o repreendeu.
“Me livrando de uma testemunha!” o homem chamado Zord respondeu com uma alegria inquietante. “Qualquer um que interromper nossa batalha deve morrer!”
“Será que está louco? Só vai piorar as coisas! Ele não será o único que virá!”
“Então vou matar todos que vierem!” disse Zord, sua mão esquerda agora brilhando... Na minha direção!
Sentindo um perigo que não conseguia descrever em palavras, pulei para o lado. Uma lâmina invisível cortou uma mecha do meu cabelo.
Minhas lindas tranças! Como ousa?
Mas não era hora de ser mesquinha. É provável que tenha sido esse movimento que usou para matar aquele velho inocente. Pensei que fosse uma faca de arremesso no início, porém não vi nada se movendo no ar. Meu cabelo estava lá em um minuto e... Puff, sumiu no outro.
Uma onda de choque invisível seguiu... Zord deve ter produzido uma do tamanho de uma faca quando sacudiu a mão.
Isso não é nada legal! Decidi observar os movimentos do Zord e me esquivar quando parecesse prestes a atacar, seria a única maneira de lidar com a situação. Contudo com outros inimigos por perto, não podia me dar ao luxo de focar apenas nele. Em outras palavras, teríamos que acabar com o maldito primeiro!
Lancei meu próximo feitiço, outra Explosão de Cinzas, mesmo sabendo o quão fácil era para esses caras conseguirem se esquivar! Não seja pega no caminho, Mileena!
“Explosão de Cinzas!” mirei direto nas costas de Zord.
Ele devia ter percebido o que estava por vir... Isso ou tinha bons instintos, porque correu para frente para desviar. Quando percebeu, no entanto, Luke saltou! Vwoosh! Com um golpe magnificamente sincronizado, ele cortou fundo o flanco de Zord.
Sim! Agora nós apenas...
Entretanto minha comemoração foi prematura. Zord balançou sua própria espada de volta para Luke, com uma velocidade que sugeria que não se incomodava nem um pouco com seu ferimento aberto.
“Hã?” Luke conseguiu bloquear o golpe apesar da surpresa. “Como diabos...?”
“Wahaha! Vai precisar de mais do que isso para me matar!”
E-Espera aí! Esse cara é durão pra caramba! Se não o derrotarmos rápido, estaremos encrencados! Só que antes que eu pudesse fazer meu próximo movimento...
“Recuem!” trovejou Zain.
Os outros homens de preto recuaram no instante seguinte. Todos, exceto Zord.
“Zord!” Zain repreendeu.
“Vão se quiserem! Ainda não terminei aqui!” respondeu em um tom enlouquecido.
Um conselho: Não de superpoderes a malucos. Ou... Sua loucura seria um subproduto da fusão demoníaca?
“O que ele vai pensar da sua insubordinação?” gritou Zain.
Twitch! Zord pareceu registrar aquela ameaça. Seu corpo saltou para trás, se distanciou do grupo e disse em um tom apavorado.
“T-Tá bom! Me desculpe!”
Hein? O desgraçado parecia bem dócil agora.
“Vamos.”
Com a segunda ordem de Zain, os homens de preto por fim desapareceram na escuridão. Zain se retirou junto, deixando nós quatro para uma multidão crescente de curiosos.
“De qualquer forma... É melhor irmos também.” falei.
“Tem razão.” Mileena assentiu em resposta. “Deveríamos ir a algum lugar onde possamos ter uma conversa tranquila.”
———
“Aha... Então é esse o acordo.” sussurrou Luke, mal-humorado, tomando um gole de sua taça de vinho enquanto eu terminava minha história.
Depois que os homens de preto se retiraram, Gourry e eu voltamos para nossos alojamentos, pegamos nossas bagagens e nos afastamos um pouco do quarteirão central murado da cidade. Depois, seguimos para uma pousada/taverna (que parecia estranhamente decadente, apesar de não ser tão antiga) em um distrito periférico em expansão. As casas ali pareciam ter sido construídas de qualquer forma, sem nenhuma tentativa real de planejamento urbano, dando ao lugar uma verdadeira aura de ‘lado errado dos trilhos’. O lugar também estava lotado de pessoas estranhas e suspeitas... O esconderijo perfeito, se quer saber.
“Então, podemos ter certeza de que o regente está conspirando com os caras de preto?” Luke perguntou.
“Parece que sim!” respondi enquanto dava uma mordida no sanduíche de salmão que havia pedido do cardápio da madrugada.
“Tch. Ele realmente nos enganou, hein?” disse Luke, frustrado.
Mileena interrompeu com seu tom calmo.
“Não nós. Só você.”
“Hã?” Luke pareceu atordoado com sua resposta. “E-Espere um minuto... Achei que confiasse no regente, Mileena.”
“Por que confiaria? Nunca gostei de ruivos.”
“B-Bem... É meio preconceituoso, se quer saber...”
“Não foi você quem aceitou o emprego de guarda-costas?” eu tive que perguntar. Tinha quase certeza de que foi o que Luke tinha me dito.
“Fui. Porém tinha meus motivos.” a feiticeira de cabelos prateados então começou a explicar com sua voz sempre calma...
Muitas noites atrás, em uma cidade não muito distante dali, Mileena... Farta das incorrigíveis investidas amorosas de Luke (palavras suas)... Decidiu deixar a estalagem e dar uma volta. Enquanto estava fora, encontrou um homem que alegava ser servo de Lorde Langmeier de Solaria. O homem disse que o lorde havia sido usurpado e que toda a sua família poderia ser morta se nada fosse feito. Ele supostamente estava a caminho para relatar a situação ao próprio rei e buscava proteção para a viagem.
Mileena o recusara. Não porque odiasse tarefas mundanas (ao contrário do nosso camarada chorão Luke), mas porque duvidava da história do homem. Era perfeitamente compreensível, claro. Quem vem chorar para um mercenário qualquer na beira da estrada, que ainda nem contratou, sobre como seu senhor foi usurpado? Mileena imaginou que devia ser algum tipo de golpe.
Porém no dia seguinte, quando encontrou o mesmo homem morto na rua, ela se perguntou... Será que estava dizendo a verdade? Teria ele desabafado com ela por desespero, sabendo que seus perseguidores o alcançariam em breve? Seria um último esforço para garantir que o conhecimento não morresse com ele? Mileena viera a Solaria para descobrir por si mesma.
“Contudo se o regente tem os homens de preto, por que contratar vocês?” perguntou Gourry, cético, enquanto Mileena concluía sua história.
“Deve ser do tipo oportunista.” respondeu ela, tomando um gole de chá com conhaque. “Eu queria ficar no castelo um pouco mais para investigar, no entanto é claro que as coisas mudaram desde então.”
“Ah, quer dizer que também estavam investigando quando nos encontraram, hein?” comentei quando me dei conta.
Mileena assentiu silenciosamente.
“Havia um homem internado naquele quarto que invadimos.” compartilhei. “Estava drogado.”
Twitch. A sobrancelha de Mileena se arqueou de leve.
“Presumo... Que seja o Lorde Langmeier.”
“Então de fato foi usurpado.” comentou Gourry, franzindo a testa. “Espera aí, então quem é esse Lavas?”
“Nosso inimigo... É o que posso te dizer!” disse Luke com a simplicidade de sempre. “Entretanto quem estou considerando agora é aquele cara mascarado. Quem é ele?”
“Bom... É provável que não seja nosso inimigo, pelo menos.” sugeri.
“Tem certeza? E se for um agente do rei, que só está nos usando para manter Lavas ocupado? Ou se o outro filho do lorde, Veisam, tiver escapado vivo e esse cara estiver trabalhando sob as suas ordens, hein? Explicaria como sabe tanto. Se for esse o seu plano, pode bancar o bonzinho, contanto que estejamos por perto... E depois nos jogar aos lobos quando Lavas se for.”
“Justo. Não vamos colocá-lo na coluna dos aliados ainda, então.”
“A coisa mais inteligente a fazer, se quer saber...” disse Luke, olhando para Mileena enquanto coçava a cabeça. “É dar tchau para Solaria, avisar o rei sobre o que está acontecendo aqui e deixar o resto com ele.”
“Você pode fazer isso se quiser. Mas não vou ir junto.” disse Mileena em um tom áspero.
“Mileenaaa...” Luke choramingou, com os olhos marejados.
“Posso fazer uma pergunta? O que devemos fazer agora?” perguntou Gourry, estremecendo de ansiedade pela resposta que já tinha na ponta da língua.
Longe de mim decepcioná-lo, respondi com um sorriso radiante.
“A mesma coisa que fazemos com qualquer um que brigue conosco, seja gato, pássaro ou lorde regente!”
“Então está decidido!” disse Mileena, com a expressão inalterada.
Luke sorriu com uma careta.
“Nesse caso, esperamos as coisas se acalmarem e contra-atacamos?”
“Ah, não seja tão covarde!” intervi, levantando-me depois de terminar o último pedaço do meu sanduíche. “Atacamos agora mesmo... Enquanto o ferro está quente!”
———
Solaria naquela noite estava tão movimentada quanto eu já tinha visto uma cidade grande estar. Era de se esperar, considerando que houve problemas por duas noites seguidas. O local da nossa última batalha estava lotado de curiosos, além de guardas marchando de um lado para o outro para investigar a cena e manter o trânsito fluindo.
Contemplamos tudo enquanto sobrevoávamos o céu escuro. Estávamos voltando para o prédio parecido com um templo que Gourry e eu havíamos nos infiltrado em nossa primeira pequena missão, entretanto agora havia algumas diferenças importantes. Para começar, tínhamos um grupo maior... E mais importante, não se tratava de uma operação furtiva. Íamos começar uma briga desta vez.
Imaginei que devia haver uma instalação bem importante lá embaixo, entende? Possivelmente uma instalação que criasse humanos demonóides como Zain e Zord. Precisávamos encontrá-la e destruí-la.
Claro, a maneira mais rápida de encerrar tudo seria ir até o castelo, amarrar Lavas e arrancar uma confissão sua à força. Na verdade, esse era meu plano original, porém Mileena o havia descartado. Estava claro que Lavas era nosso principal suspeito, no entanto não tínhamos provas sólidas para incriminá-lo. Ela estava preocupada que, se viéssemos atrás de Lavas e não fosse o mentor, acabaríamos em sérios apuros.
(Pensei que um pequeno ‘Teehee, oops! Cara errado!’ seria suficiente para nos proteger em tal situação, contudo Mileena também tinha descartado essa ideia.)
Portanto, mudamos nosso foco para as instalações no coração da cidade. Independente de Lavas estar ou não por trás delas, era óbvio que eram importantes para os homens de preto. Atacar uma delas poderia nos permitir prejudicar suas forças e, se as coisas corressem muito bem, poderíamos até identificar seu líder e obter algumas evidências da insurreição crescente.
Também era possível que Zain e seus capangas estivessem ocupados se reportando ao chefe naquele momento, então talvez nem estivessem por perto. Era bastante improvável que esperassem uma represália nossa tão cedo, o que significava que a segurança na instalação deveria ser bastante leve. Que oportunidade de ouro!
“Ali está!” sussurrei baixinho... ‘Aquilo’ era o prédio em forma de templo com o teto abobadado.
Conduzi nosso grupo para mais perto. Por causa da escuridão da noite e da distorção da nossa barreira de vento, era difícil ter certeza, todavia parecia que havia menos guardas do que da última vez. Nós quatro pousamos no telhado.
“Mileena, coloque uma barreira de vento.” pedi.
“Por quê?”
“Amortecedor de som.”
Ela entendeu em seguida, entoou o feitiço e conjurou uma barreira de vento ao nosso redor. Quanto a mim...
“Dam Blas!”
Crash!
O ataque que desferi atravessou o chão aos nossos pés com um grande estrondo, entretanto a barreira de vento de Mileena silenciou a maior parte. Então levitamos para dentro do prédio pelo buraco que criei. Estava tão escuro lá dentro quanto na nossa última visita, embora desta vez não precisávamos ficar em silêncio. Bem quando estava prestes a entoar um feitiço de luz...
Wham!
“O que foi?”
“Quem são vocês? Parem aí mesmo!”
A porta externa se abriu e as forças de segurança entraram, nos atacando.
“Mas como...?” gritei. “Abafamos o som!”
“Eles ainda conseguiram ouvir os escombros caindo, idiota!” sussurrou Luke em resposta.
Ah... É verdade. Nossa barreira contra o vento impedia que o som vazasse pelo telhado, porém não fazia muito efeito sobre os destroços que atingiam o chão. Isso tinha, hum... Provavelmente feito bastante barulho, na verdade...
Tanto faz! Não adianta chorar sobre o leite derramado, certo?
Rapidamente entoei um feitiço, me aproximei dos bancos e me virei para os soldados que se aproximavam.
“Durmam!”
A multidão desabou com um thumpa-thump-thud quase cômico. O fato de todos terem ido para a terra dos sonhos tão fácil sugeria que não havia nenhum demonóide como Zain e Zord entre eles.
Mais soldados continuaram chegando, contudo Mileena e eu colocamos a maioria para dormir com mais magia. Qualquer um que conseguisse passar era nocauteado logo depois por Gourry e Luke. Em pouco tempo, tínhamos uma catedral lotada de soldados cochilando, e não havia mais reforços disponíveis.
Havia dois homens de preto presentes aqui da última vez, embora talvez tivessem sido enviados para nos encontrar e ainda não tivessem voltado. Talvez estivessem escondidos por algum outro motivo. Ou talvez estivessem escondidos na instalação subterrânea principal, apenas esperando por nós...
De qualquer forma, lancei outro feitiço.
“Iluminação!”
Pop! A luz que lancei em direção ao teto pairou no ar e iluminou a sala ao nosso redor. Fileiras de bancos, uma passarela central... E no topo de tudo, um altar bastante imponente com uma estátua divina atrás. O prédio certamente poderia ser usado como um verdadeiro local de culto. Se não fosse por toda a segurança, eu nunca teria imaginado que fosse uma fachada.
Devia haver uma porta escondida em algum lugar por perto, no entanto não tínhamos tempo de procurá-la à moda antiga. Comecei a entoar baixinho...
“Dam Blas!”
Crash! Minha explosão amplificada rasgou o chão abaixo! E abaixo dela havia... Terra.
“Tch. Não aqui, hein?” esperava ganhar na loteria na primeira explosão. Comecei a entoar outra vez.
“Ei... Você não vai continuar arrebentando o chão até encontrar um jeito de descer, vai?” perguntou Gourry, incrédulo.
Contudo é claro que não ia. Coloquei a mão na terra exposta...
“Bepheth Bring!”
Este era um feitiço de escavação que era usado para criar um túnel longo e estreito no chão. Minha ideia era que, se lançasse vários deles em várias direções, em algum momento nos conectaríamos à instalação subterrânea. Porém nem precisei recitar um segundo feitiço. Já havia luz no fim do meu túnel.
“Encontrei.”
A instalação parecia estar escondida bem lá embaixo. Lancei outro feitiço para alargar o buraco e então...
“Na verdade, esqueça isso.” estava pensando em usar Levitação para nos descer, mas mudei de ideia e troquei para um encantamento diferente. Bem no fundo do túnel, lancei uma... “Bola de Fogo!”
Fwoosh! Assim que as chamas nas profundezas se extinguiram, Luke e Mileena levitaram pelo túnel. Gourry e eu seguimos o exemplo um segundo depois.
Nos encontramos em um corredor reto e vazio, com paredes brancas, parcialmente carbonizadas pela minha Bola de Fogo. Disparei minha bola flamejante caso houvesse uma emboscada nos esperando lá dentro, entretanto não havia inimigos à vista. O som poderia tê-los feito vir correndo, e inimigos atirando facas em um lugar estreito como aquele acabaria conosco em pouco tempo. Em outras palavras, precisávamos nos apressar!
Entoei outro feitiço e...
“Dam Blas!” atirei em uma das paredes com base apenas em um pressentimento.
Crash! E... Lá está! Abri um buraco enorme que revelou uma sala enorme do outro lado. Entrei sem olhar e...
“O-O quê?” havia um total de cinco feiticeiros lá dentro. Eles lançaram olhares nervosos e temerosos em minha direção.
Eu os imaginava feiticeiros, todavia, pela aparência e porte, esses caras pareciam mais pesquisadores do que conjuradores. E não eram as únicas pessoas por perto.
Bem... ‘Pessoas’ talvez seja um termo genérico. Havia várias dezenas de tubos de cristal que cultivavam quimeras na sala. E suspensos na suposta água da vida dentro deles... Deviam ser os frutos de seus experimentos de fusão humano-demônio. Homens que pareciam meio humanos, meio demônios inferiores. Mulheres com corpos retorcidos abaixo do pescoço. E... Crianças, também deformadas pelas experiências.
Estava claro que nenhuma dessas criaturas outrora humanas se voluntariara para participar daquilo.
“Seus filhos da...” Luke rugiu, agarrando a gola do feiticeiro mais próximo.
“Ah! Ahh!” um dos feiticeiros do outro lado da sala estendeu a mão para a maçaneta de uma porta quando...
Thump! A espada de Luke perfurou suas costas de repente. O feiticeiro caiu inerte e desabou no chão.
“Eu mato o próximo que se mexer!” disse Luke em voz baixa, deixando claro o quanto estava sério. Todos os feiticeiros congelaram. Seu olhar se voltou para o cara cuja gola segurava e disse. “Conte-me tudo ou começo a quebrar dedos. Se continuar sem falar, te mato e passo para o próximo.”
Seus olhos estavam extremamente sérios. Parecia que faria o que prometeu se não interferíssemos... E depois de ver o que havia dentro daqueles tubos, nenhum de nós se dispôs a impedi-lo.
“T-Tá bom! Vou falar!” percebendo que o silêncio não o salvaria (ou talvez apenas por ser covarde), o feiticeiro logo capitulou. “Eles... Estão nos obrigando a fazer experimentos aqui! Experimentos forçando humanos a se tornarem hospedeiros de demônios invocados do plano astral!”
Hmm? As palavras do feiticeiro me fizeram pensar em algo.
“Nós estudamos o que acontece se você usa humanos que ainda não desenvolveram um forte senso de identidade, crianças, como hospedeiros, suas diferenças de resistência, compatibilidade... Aparência externa ao usar homens versus mulheres, adultos versus crianças...”
“Não dou a mínima para o que está estudando.” sibilou Luke, interrompendo as divagações aterrorizadas do homem. “Quem te mandou fazer tudo isso?”
O feiticeiro hesitou por um momento e então disse.
“L-Lorde Lavas.”
Aha!
“Entendo. Então é o regente que está ordenando que façam esses experimentos nojentos com as pessoas.”
“E-Eu só estava seguindo ordens! N-Não foi minha culpa!” gritou o feiticeiro, recusando-se a assumir qualquer responsabilidade pessoal.
“Oh?” uma expressão perigosa passou pelo rosto de Luke. “Aposto que as mulheres e crianças lá dentro não pediram por nada disso. Está dizendo que não tem nada a ver porque foi uma ordem? Então, tudo bem se eu te matar por ordem de outra pessoa, né? Não seria minha culpa, certo?”
“O qu...”
Um arrepio percorreu o corpo do feiticeiro. Gourry e eu ofegamos. Não sabia onde a estava escondendo, mas Luke havia sacado uma adaga na mão livre e a cravado no peito do homem.
Whud... Com o pescoço solto do aperto de Luke, o feiticeiro caiu no chão.
“Você foi longe demais, Luke!” disse Mileena calmamente.
“Não está vendo o que estão fazendo aqui, Mileena?” Luke respondeu com raiva, sem se intimidar pela primeira vez. “Ele disse que estava ‘só seguindo ordens’! Esses idiotas nem acham que o que estão fazendo é errado!”
“Temos preocupações mais urgentes neste momento em particular.”
Luke cerrou os dentes ao ouvir as palavras de Mileena.
“Ver essa porcaria... É o suficiente para fazer um cara odiar toda a humanidade...”
“Eu sou humana. Assim como você.”
As palavras dela pareceram aliviar um pouco a tensão nos ombros de Luke.
“É... Acho que sim. Então, o que fazemos com o resto desses caras?” seu olhar se voltou para os feiticeiros restantes, que de repente se amontoaram de medo. E então...
“Durmam!” o feitiço que conjurei fez todos dormirem. “Por que não os deixamos aqui por enquanto?”
“Tudo bem!” disse Luke, amargurado. Ainda parecia furioso, porém não chegaria ao ponto de matar homens dormindo.
“Parem de se preocupar com esses vermes. Agora que sabemos que Lavas está no comando, é hora de dar uma surra nele! Podemos garantir que esses caras recebam o que merecem mais tarde.”
“Contudo... Acho que não vamos conseguir sair agora.” disse Gourry, espiando pelo buraco na parede que levava de volta ao corredor.
“Inimigos?”
“Sim. Estão vindo.”
Gourry desembainhou a espada, mantendo os olhos no corredor.
“Ainda não consigo vê-los e estão mascarando suas presenças, no entanto... Acho que estão nos cercando.”
“Você consegue perceber tudo isso?” Luke olhou para Gourry com ceticismo.
O resto de nós não conseguia sentir nada, entretanto Gourry tinha uma espécie de instinto bestial que, até onde sei, nunca esteve errado. Agora, se o inimigo tivesse nos cercado, qual seria a melhor maneira de responder?
Já sei! Comecei a recitar um rápido feitiço baixinho.
“Ok, vamos lá! Estava procurando alguém para desabafar!” Luke, recebendo a notícia da emboscada muito bem, marchou em direção à porta e arrancou sua espada do feiticeiro morto. Nesse momento...
Crash! A porta voou das dobradiças... Obra de um Dam Blas do lado de fora, suponho. Gourry tinha razão!
Naquele mesmo instante, ergui uma barreira de vento na porta arrombada com o feitiço que recitei. Whoosh! Ela oscilou e inchou, riscada com as cores do fogo. Alguém lá fora havia atirado uma Bola de Fogo em nós!
Em outras palavras, o plano do inimigo era explodir a porta e, em seguida, lançar uma Bola de Fogo para acabar com todos nós... Incluindo seus próprios feiticeiros que estavam presos na sala conosco. Eles devem ter armado esse plano para que, se pulássemos pelo buraco na parede oposta para escapar da morte pelo fogo, seríamos alfinetados por facas atiradas por homens alinhados em ambos os lados do corredor. O motivo da demora no ataque era dar-lhes tempo para fechar a armadilha. Uma pena para eles que os instintos de Gourry fossem tão aguçados!
No segundo em que o fogo se apagou e liberei minha barreira de vento, me virei e vi Gourry saltando porta afora. Luke e Mileena se entreolharam, assentiram e o seguiram. Eu estava prestes a fazer o mesmo... Mas um lampejo de inspiração me atingiu. Cantei um feitiço para armar uma pequena armadilha antes de sair.
Quando alcancei os outros, encontrei-os em uma sala ainda maior do que aquela de onde tínhamos saído. Devia ser um laboratório, repleto de dispositivos estranhos que não reconheci e mais tubos de cristal. E, como esperado, havia cerca de dez homens de preto lá dentro. Talvez tivessem baixado a guarda, presumindo que tivessem acabado conosco, ou talvez fossem apenas meio ruins em uma luta, porque quando consegui passar pela porta, dois deles já estavam no chão.
Intimidado pela habilidade de Gourry com a espada, um dos homens de preto recuou e...
Swish! De repente, outro homem... Saltando de trás de um tubo de cristal vazio, voou em direção a Gourry pela lateral, brandindo sua espada! Porém teria que fazer melhor do que isso!
Gourry deu meio passo para trás, abrindo um pequeno espaço entre ele e o homem mais próximo, e então girou sobre o pé esquerdo. Seu corpo canalizou seu impulso para um corte na barriga do homem, e quando este caiu para frente, Gourry o chutou para o emboscador que se aproximava!
O emboscador, por reflexo, agarrou o corpo de seu camarada, e quando o fez... Gourry aproveitou a oportunidade para cortar os dois juntos.
Enquanto tudo isso se desenrolava, Luke e Mileena trabalharam juntos para derrubar outro manto negro, e terminei meu feitiço... Kra-kash!
“Wah!” veio um grito de socorro atrás de nós com um estrondo.
Hah! Peguei eles!
“Bola de Fogo!” me virando rapidamente, lancei o feitiço que havia entoado nos homens presos na minha armadilha!
Fwoosh! Nem preciso dizer que não tiveram como se esquivar. Receberam a explosão de frente e foram fritos da cabeça aos pés.
Tudo deu certo graças ao pequeno truque que preparei antes. Presumindo que os caras no corredor entrariam em massa, usei um Bepheth Bring no chão em frente ao buraco na parede da sala anterior para cavar um buraco. Depois, deixei um pouco de piso em cima, apenas o suficiente para ceder se alguém pisasse nele. Os homens de preto no corredor, percebendo que a Bola de Fogo anterior não havia funcionado e sentindo uma luta mais profunda lá dentro, devem ter entrado em pânico.
Por azar, é provável que tenha eliminado só uma fração dos nossos inimigos dessa forma.
Mais provavelmente viriam da mesma direção em breve. O que significava que deveria deixar a luta no laboratório para meus companheiros enquanto eliminava os inimigos que entravam pela retaguarda! Por sorte, não parecia haver nenhum dos demônios fundidos no grupo de até agora, porém ainda poderiam aparecer a qualquer momento. Precisava diminuir a multidão enquanto tinha chance!
“Explosão de Cinzas!”
Vwmm! O feitiço que lancei eliminou os próximos dois homens de capa preta que apareceram no corredor. Claro, se me limitasse a esse padrão, o próximo iria lançaria uma Bola de Fogo ou algum outro projétil na sala. O que significava...
Entoei outro feitiço. Então, quase como se tivesse esperado que eu terminasse, outro homem de preto apareceu além da parede quebrada. Uma bola de luz laranja já estava em sua mão.
Sabia! Já que tinha previsto seu movimento...
“Bola de Fogo!” ele gritou.
“Vento de Diem!” entoei ao mesmo tempo.
Nossos feitiços foram ativados simultaneamente. Uma Bola de Fogo normal, sem nenhum alarde, era uma esfera de luz que explodia ao contato com uma rajada de chamas. O orbe em voo, no entanto, não era poderoso o suficiente para atravessar meu Vento de Diem.
O homem de preto estremeceu. Talvez porque não esperasse que sua Bola de Fogo voasse de volta para sua cara. Ainda que processasse o que estava acontecendo e tentasse fugir, não chegaria longe em meio à rajada que meu feitiço produziu. Como resultado...
Ba-bwoom! A Bola de Fogo fritou seu próprio conjurador.
Certo! Isso deve manter os caras no corredor afastados!
Contudo enquanto entoava meu próximo feitiço, senti uma onda de hostilidade crescendo por perto. E então, de repente... Uma figura escura apareceu no canto da sala.
A habilidade de se teletransportar pelo espaço...
“Zain?”
“Desculpe o atraso.”
A figura em questão, possuindo o poder tanto de um humano quanto de um mazoku, concentrou sua atenção em mim.
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