Capítulo 46: O fim do sonho de um reino perdido
Brr! Senti um arrepio na espinha. Eu estava em sérios apuros.
Zain estava perto. Não teria tempo para recitar um novo feitiço. Assim que abrisse a boca para recitar, ele pularia para o alcance da espada e me atravessaria. É improvável que consiga enfrentá-lo num local tão apertado, e escapar estava fora de questão. No segundo em que me virasse para correr, levaria uma facada nas costas como compensação.
Minha maior esperança era que Gourry e os outros percebessem minha situação e viessem me ajudar, o que me deixava com apenas um recurso no momento: ganhar tempo!
“Entendo... Você é o único com a habilidade de se teletransportar pelo espaço, hein?” perguntei.
“Fique à vontade para fazer suas próprias conjecturas.” respondeu Zain, inalterado. (O que era justo. Teria sido mais estranho se tivesse respondido de boa vontade.)
“Se houvesse outros com a mesma habilidade, eles teriam aparecido juntos agora. A força está nos números, certo? Mas o fato de não terem aparecido significa que não podem. Vou me arriscar e presumir que todos compartilham propriedades básicas, como resistência mágica e magias simples sem encantamento, e então cada um de tem algo especial, certo? Você pode se teletransportar, aquele Zord pode criar lâminas de choque sem encantamento... E assim por diante.”
Zain permaneceu em silêncio, recusando-se a morder a isca.
“Rapaz, vejo que está mesmo mudado. Será fruto da fusão demoníaca em ação?”
“Não!” Zain sussurrou baixinho, com a voz cheia de raiva e ódio. “É porque descobri o nome da pessoa que destruiu nosso reino.”
A pessoa que destruiu o seu reino? Eu estava prestes a franzir a testa em confusão, porém mantive o rosto firme. O jeito como falava fazia com que parecesse a preparação para uma revelação clássica de ‘Foi você, Lina Inverse!’. Contudo nem mesmo minha magia poderia destruir um reino inteiro. Ainda assim, se insinuasse que estava prestes a responder com um clássico ‘Não sei do que está falando!’, com uma voz doce de coisinha, tenho certeza que seria atacada na hora.
“Foi depois do incidente de Bezeld que descobri... E foi naquele momento que decidi renunciar à minha humanidade.”
A aura de malícia de Zain aumentou.
Será que vocês poderiam se apressar e perceber? Gourry, Luke, Mileena! Alguém!
“Agora...” Zain sussurrou, quase como se estivesse se preparando, e então fez um leve movimento.
Ele está vindo! Pensei. No entanto assim que me preparei para o que viria...
“Lina!” Gourry irrompeu pela porta e voou para o meu lado. Entretanto não parecia que estava correndo para me salvar. “Você também está com as mãos ocupadas?”
“Também?” perguntei.
Antes que Gourry pudesse responder, Luke e Mileena entraram na sala, recuando em nossa direção como se estivessem encurralados. Luke lançou um olhar em nossa direção.
“Mais deste lado, hein?” disparou ele. O que significava...
“Parece que nossos reforços chegaram.” disse Zain.
Como se fosse um sinal, mais homens de preto surgiram atrás dele, além da parede quebrada. Eram cinco ou seis no total.
Zain voltou seus olhos frios para mim.
“Pensou que estava me atrasando para seus camaradas chegarem... Todavia também estive ganhando tempo para os meus reforços chegarem.”
Geh! Estávamos totalmente cercados agora.
“Galzard!” chamou Zain.
“Senhor!” respondeu um dos homens de preto parados do lado de fora da parede quebrada.
“Jogue uma Bola de Fogo na sala. Não tenha medo de me acertar também.”
“Senhor.”
“O quê?” gritamos nós quatro ao mesmo tempo.
“Carmine, uma saraivada de Flechas Congelantes. Jake, um Dug Haute. Soltem todos ao meu sinal.” Zain continuou a ordenar.
Ouvi alguém começar a entoar um cântico do outro lado do muro, e outra pessoa atrás da porta. Nada bom! Eu não tinha um feitiço defensivo forte o bastante para nos proteger de todos aqueles feitiços de uma vez, e a presença de Zain nos impediria de encontrar abrigo sem representar qualquer risco a sua condição. Ele estava se aproveitando muito bem de sua resistência demoníaca à magia.
“Não tão rápido!” Gourry investiu contra os homens na porta. Mas...
“Vento de Diem!”
“Grh!”
Um feitiço de um dos homens de capa preta o manteve afastado. E assim que os outros terminaram seus cânticos...
“Explosão de Cinzas!”
Fwom! Os homens além do buraco na parede foram todos aniquilados com um só golpe.
“O quê?” Zain se virou, horrorizado.
“Desculpem a intromissão. Achei que talvez fosse hora de um confronto, só isso.”
Caminhando lentamente até onde os homens de preto estavam... Chegou o homem mascarado.
“Você!” Zain sibilou.
“Oh, acalme-se. Que tipo de guarda real que se preze tem um pavio curto?”
Oho? ‘Guarda real’? A menção dessas palavras enviou uma nota de pânico pelos homens de capa preta. E logo depois...
“Explosão Arc!”
Crack, crackle, crack! O feitiço que Mileena lançou por cima do ombro atingiu os caras aglomerados ao redor da porta. Era um raio de área de efeito que não mataria com um único golpe, porém paralisaria seus alvos e os deixaria imóveis por alguns instantes.
Em seguida... Whoosh! Luke correu em direção aos homens de preto e os derrubou um após o outro.
“A maioria chamaria isso de ‘virada de mesa’, não acha?” disse o homem mascarado, displicentemente.
No mínimo, só nos restava Zain para enfrentar agora. Apesar de não ser nenhum desleixado, estávamos em cinco contra um. Boas chances para o nosso lado!
“Quem é você?” sussurrou Zain, com os olhos fixos no homem mascarado. Parecia estar mais abalado pelo que ouviu antes do que pela perda de seus companheiros.
“Se dissesse que sou seu compatriota... Será que entenderia?”
Zain riu.
“Aha. Claro...”
“Alguém quer me explicar?” perguntei.
O homem mascarado respondeu num tom leviano.
“Você se lembra de um país chamado Ruvinagald?”
Ah! Ruvinagald... Esse nome me fez lembrar de tudo. A República de Ruvinagald era um país nos limites da Aliança das Nações Costeiras. A maioria das pessoas sabia que havia sido uma monarquia até alguns anos atrás, contudo pouquíssimos sabiam o motivo da dissolução da família real.
Veja bem, o reino havia embarcado em uma pesquisa secreta. Ou seja, usar humanos como hospedeiros para demônios. O objetivo era fortalecer seu exército por meio da produção em massa de semi-demônios que pudessem ser controlados por outras pessoas além de seus feiticeiros invocadores. Para servirem de cobaias, sequestravam pessoas com um senso de identidade subdesenvolvido... Em outras palavras, crianças, e invocavam demônios do lado astral para possuí-las. Essa conspiração horrível foi facilmente frustrada por mim (nos tempos pré-Gourry) e alguns outros. Isto, por sua vez, levou à revelação dos atos malignos da família real.
Não tinha me mantido a par do que aconteceu depois, mas ouvi rumores de que, quando outros países souberam do incidente, a monarquia Ruvinagald foi dissolvida e o país foi restabelecido como uma república. Porém, e se a família real por trás da conspiração não tivesse aprendido a lição? E se tivessem apenas se escondido? Os Solarianos disseram que Lavas tinha aparecido do nada... E se estivesse revivendo suas antigas ambições aqui, ainda maiores do que antes? Também explicaria o comentário de Zain sobre como eu havia destruído o reino deles.
Em outras palavras, Lavas me odiava. Era um ressentimento equivocado, já que, se quer saber, estava apenas colhendo o que plantou... Contudo não esperaria que um cara tentando fundir humanos e demônios fosse do tipo autorreflexivo. No entanto fato é que não havia recorrido ao método mais fácil para se livrar de mim e de Gourry (colocar uma recompensa por nossas cabeças para nos expulsar da cidade). Até chegou a tentar nos contratar. Por quê? Talvez para nos manter por perto para o nosso massacre inevitável. Quanto ao motivo de ter contratado Luke e Mileena... Poderia ter sido mero capricho. Ou um desejo semelhante de vingança por todo o desastre com Bezeld. Não tinha certeza de nenhuma das duas opções.
“Vejo que enfim entendeu.” disse o mascarado, com um sorriso na voz ao notar minha expressão.
“Diria que sim. A única coisa que não consigo entender é como ele caiu nas boas graças do lorde.”
“O homem que se autodenomina Lavas é um parente distante de Lorde Langmeier. Suspeito que lhe ofereceu asilo.”
“Inteligência impressionante.” sussurrou Zain, confirmando as palavras do mascarado.
“Apesar das aparências, sou conhecido pelas moças locais como o inspetor mais perspicaz do país.”
“Entendo... Isso explica por que você estava escondendo o rosto como uma aberração, mesmo depois de vir de tão longe para nos perseguir.” continuou Zain.
“Há muitos dos nossos irmãos aqui. É provável que alguns me reconhecerão. E se soubesse quem de fato sou, é possível que tivessem concentrado seus esforços em mim, e não neles.” disse o informante mascarado, lançando um olhar para nós. “Para ser sincero, estava com dificuldade para encontrar provas concretas, então sou grato que a sua intromissão tenha revelado sua verdadeira face.”
O que eu sou, uma isca?
“Heh.” Zain riu das próprias palavras. “Nesse caso acho que é hora de um confronto final.” com essas palavras, ele voltou a entoar um feitiço.
Não que fosse deixá-lo escapar impune! Lancei meu próprio feitiço, que vinha entoando enquanto os dois conversavam.
“Explosão de Cinzas!”
“Vazio!” mas uma fração de segundo antes de atingir, Zain desapareceu. Meu feitiço atingiu o ar vazio onde antes estivera.
Mais teleporte?
“Para onde ele foi?” perguntei, examinando tudo ao meu redor.
“Deve ter ido para o castelo.” respondeu o informante. “Para relatar a Lavas sobre nós.”
Nesse momento ele ergueu a mão e pegou sua máscara.
“Desculpe pela apresentação tardia.”
Por trás da máscara, havia o rosto de um homem de quarenta e poucos anos, com cabelos castanhos curtos e um semblante severo, porém distinto. Um que reconheci, claro.
Ele remexeu no bolso e por fim tirou um pingente com um brasão.
“Sou Wizer Freion, inspetor da República de Ruvinagald. Estou perseguindo seu antigo rei, Belgis, e sua guarda real por experimentos mágicos ilegais... Assim como supôs, Lina Inverse.”
“Entendo. Então esse é o nome verdadeiro de Lavas. Já faz tempo, velho. Você é mesmo muito forte, né?”
“Você conhece esse cara, Lina?” perguntou Gourry.
“Um pouco, sim!” respondi com uma piscadela. Ele era uma das pessoas com quem trabalhei para desmantelar a operação em Ruvinagald. “Conto a história toda em outra ocasião. Por enquanto, vamos direto para o castelo!”
———
A cidade estava em silêncio absoluto naquela noite enquanto nós cinco caminhávamos silenciosamente pelas ruas vazias em direção ao imponente castelo. Depois que a comoção imediata se dissipou, amarramos os feiticeiros (vivos) que ainda cochilavam em um canto da sala, apesar de toda a confusão. Em seguida, partimos para o centro da cidade. Esperava alguma resistência dos homens de preto no caminho, contudo não tínhamos detectado nenhuma presença inimiga.
Tudo aquilo era... Um péssimo sinal, pra ser sincera. Zain deve ter relatado os eventos da noite para Lavas, o que significava que a falta de ataques até agora indicava que estava concentrando suas forças no castelo. Forças que incluíam fusões demonóides.
“Hmm...” murmurei, seguindo caminhando. “Acho que seria mais fácil explodir o castelo inteiro com um Dragon Slave daqui. O que acham?”
“De jeito nenhum!” gritou Gourry, pelo visto pensando que estou falando sério. “O verdadeiro lorde está lá dentro, lembra? E é provável que muitos soldados estejam apenas seguindo ordens sem saber de nada!”
“É, relaxa, cara. Só estou brincando, tá? No entanto não me importaria se alguém topasse...”
“Quer dizer que faria mesmo se tivéssemos concordado?”
“Bem... Uh... Enfim, a grande questão na minha cabeça é o que aconteceu com o verdadeiro filho do lorde, Veisam.”
“É lógico que esteja morto!” respondeu Mileena, monótona como sempre. “O próprio lorde ainda é útil para Lavas, já que poderia transferir a responsabilidade para o velho se as coisas complicarem. Mas Lavas não teria motivo para manter Veisam vivo. Na verdade, deve ter sido o primeiro a ser morto.”
“Que diferença faz?” disse Luke, parando. Todos nós fizemos o mesmo, pois tínhamos chegado ao portão do castelo. “Isso não muda o que estamos aqui para fazer... Dar uma surra naquele babaca do Lavas.”
———
Fwooom! Um estrondo indiscriminado interrompeu o silêncio mortal da noite. As tábuas de carvalho do portão de madeira se espalharam como papel rasgado diante do meu Dam Blas amplificado. Então flutuamos sobre o fosso não tão largo com Levitação e descemos para os terrenos do castelo.
Sei o que você está pensando. ‘Se podia levitar, por que quebrar o portão?’ Leitor bobo! Esqueceram que viemos aqui para começar uma briga? É melhor começar com um estrondo! A menos que seus oponentes sejam especialmente lúcidos ou estejam fora do seu alcance, assustá-los é um caminho certo para a vitória!
“Q-Quem são vocês?”
“De onde vieram?”
Os guardas começaram a se reunir em pânico, sem saber o que estava acontecendo. Eram uns dez no total, nenhum dos quais eram nossos velhos amigos, os caras de preto. Esses caras eram apenas um aperitivo antes do prato principal.
Certo! Hora de um pequeno aquecimento...
Antes que pudesse lançar meu feitiço, Luke e Mileena entraram correndo e...
“Durma!”
Todos os soldados foram apagados.
Sério, pessoal, isso foi... Decepcionante. O que devo fazer com meu cântico agora?
“Olha! Lá em cima!” a voz de Gourry soou.
Em cima? Olhei para cima como me mandaram e... Consegui me conter para não gritar. Em pé, no topo das muralhas externas e do telhado do castelo, havia dezenas de homens de preto. Suas mãos estavam estendidas, orbes carmesins de luz se formando nelas... Bolas de Fogo!
Claro! Seu plano era encher o pátio com soldados comuns para mascarar suas próprias presenças. Então, depois de esperar que chegássemos ao centro do pátio, todos iriam atirar ao mesmo tempo... Ainda que significasse matar os soldados caídos no processo.
“Bola de Fogo!” veio um coro de encantamentos. Bolas de luz flamejantes choveram sobre nós em massa.
Eles iriam bombardear toda a área! Não havia como escapar. Pelo menos, não deveria haver. Porém a sorte estava do nosso lado! O feitiço que havia preparado era...
“Bom di Vento!”
Whooooosh! Minhas palavras de poder conjuraram uma ventania enorme. Originalmente, minha intenção era mandar os soldados para longe com a rajada explosiva de vento que esse feitiço conjurava, contudo agora o lancei acima da cabeça.
Krakakrakroosh! Os orbes flamejantes se espalharam, fustigados pelo vento. Meu feitiço os desviou de seu curso, enviando-os em várias direções... E explodindo com o impacto. Vários dos homens de preto foram lançados para longe na tempestade de fogo que se seguiu, enquanto tudo o que sentíamos era uma leve pontada de calor na pele.
Antes que os ventos flamejantes pudessem se acalmar de vez, nós cinco corremos para a porta principal do castelo.
“Hah!” com um grito de esforço, embora pouco esforço real foi empregado, Gourry dividiu as tábuas de carvalho com sua espada.
“Não os deixem escapar!”
“Atrás deles!”
Os homens de preto na muralha do castelo pularam para o pátio e correram em direção à entrada atrás de nós. Sei que estavam em pânico por termos destruído a sua armadilha super legal e tudo mais, no entanto, sério, pessoal... Pensem um pouco!
Pwash! Fwoosh! Pah! Mileena, Wizer e eu desferimos um golpe duplo de Explosão de Cinzas nos homens de preto que corriam em nossa direção. Acabamos com eles sem problemas.
Entretanto mal tivemos tempo de recuperar o fôlego. Os caras no telhado logo estariam entrando para nos impedir. Esperava ir direto para o evento de socar Lavas, todavia houve apenas um obstáculo, precisávamos encontrar o cara primeiro!
“Luke! Mileena! Vocês sabem onde fica a sala de audiências? Liderem o caminho para lá!”
“A sala de audiências? Como assim?” perguntou Luke, desconfiado.
Heh. Ele ainda sabia tão pouco sobre pessoas!
“Não é óbvio? É provável que seja onde Lavas está!”
———
Wham! Quando chutamos a porta, nos deparamos com uma sala comprida e estreita ladeada por fileiras de pilares de pedra. Um tapete vermelho se estendia à nossa frente, e no final dele...
Lá estava sentado um homem, sem um fio de cabelo fora do lugar. Tinha cerca de vinte homens de preto ao seu redor. Era difícil acreditar que manteria algum na reserva naquele momento, então presumi que os presentes representassem toda a força de combate local de Lavas.
“Oho!” murmurou o homem no trono, interessado. “Vocês chegaram pelo portão da frente mais rápido do que imaginei. Devem ter vindo direto para cá.”
“Viemos. Já sabia que estariam aqui!” respondi, e dei um passo tranquilo para a frente.
“Oh? Então me conte como. O que me denunciou?”
“O que mais seria?” apontei direto para Lavas. “Vilões mesquinhos adoram esse tipo de drama!”
Meu insulto provocou um clima de hostilidade entre os homens de preto.
Mas o próprio Lavas apenas abriu um sorriso frio.
“Vilões mesquinhos, hein? Me chamem do que quiserem... Não sabem nada sobre mim.”
“O que me serve perfeitamente.”
“Então, qualquer outra conversa é inútil.” Lavas se levantou do trono e estalou os dedos. Os homens de preto se espalharam, formando uma parede entre nós e Lavas. “Prestei minhas homenagens, agora não preciso perder mais tempo aqui. Continuarei minha pesquisa no subsolo. Vocês cuidam do resto!” ordenou por fim, e se virou.
“Não pense que irá escapar!” Wizer gritou, perseguindo-o.
Com isso, a batalha começou.
———
“Flecha Congelante!” Mileena, avançando para o combate um segundo depois de Wizer, lançando um feitiço pré-entoado.
Vários dos homens de preto se moveram rapidamente para se esquivar, criando uma pequena ruptura em sua formação... Que Wizer atravessou direto!
Swsh! Com a espada agora em punho, cortou qualquer um dos homens de preto que hesitasse, e disparou em perseguição a Lavas.
Droga, nada mal para um homem de meia-idade!
Mesmo assim... Senti uma pontada de ansiedade. Era sobre o motivo de Lavas ter se escondido na sala de audiências. Qual era o seu jogo, na verdade? A resposta era óbvia se pensasse bem.
Ele não via mais vantagem em se conter contra nós naquele momento, então queria concentrar o máximo de homens de capa preta possível em um só lugar. Dentro do castelo, os únicos lugares adequados para acomodar dezenas de pessoas eram o pátio, o saguão de entrada e aqui na sala de audiências. Nesse caso, em vez de se esconder num armário antes da batalha começar, Lavas decidiu que este seria o lugar mais seguro para estar. Esse era o verdadeiro motivo pelo qual presumi que estaria aqui. Minha piadinha de antes era só para provocá-lo... Porém o maldito não mordeu a isca.
Em outras palavras, Lavas podia ser um sádico esquisito, contudo pelo menos não era burro... E devia ter mais alguns truques na manga. Eu queria me juntar a Wizer... No entanto os homens de preto em nosso caminho não nos deixaram avançar mais.
Gourry estava lutando contra dois homens de capa preta ao mesmo tempo. Eles o golpeavam alternando entre si, todavia Gourry desviava ambos os ataques com uma esgrima mais rápida. Houve um segundo choque, depois um terceiro, e um dos homens perdeu o equilíbrio repentinamente com a defesa de Gourry.
Gourry não perdeu a oportunidade. Com um golpe para cima, ele cortou... Eu estava prestes a dizer o homem de preto, mas, em vez disso, Gourry saltou para trás e brandiu sua espada no ar ao lado.
Fwish! Um pequeno som soou do nada.
“Ohh? Você consegue cortá-los, né?” disse um dos homens de preto de longe, com uma voz quase alegre... Era Zord!
———
Shing! Luke bloqueou um golpe de cima com sua espada. Ao fazê-lo...
Slash! Mileena, cortando de baixo para cima com a sua lâmina, abriu a barriga do homem de capa preta desprevenido. Ela então canalizou seu impulso para atacar outro. Assim que suas espadas colidiram...
“Bram Blazer!” seu feitiço derrubou seu novo oponente. Naquele momento, um clarão prateado veio em sua direção, vindo do lado.
“Dam Blas!”
Clink! Bem na hora, o feitiço de Luke pulverizou a agulha prateada que se aproximava dela.
“Seu filho da...” sibilou Luke, encarando o agressor de Mileena, outro homem de preto.
Garras prateadas brotaram das pontas dos dedos do sujeito, formando um conjunto completo de dez. Tink-krackle! Quando se tocaram, faíscas dançaram entre elas. Seriam garras de metal encantadas com algum tipo de feitiço de relâmpago?
“Outro idiota que jogou fora sua humanidade, hein?” sussurrou Luke, e então sorriu com ousadia.
———
Enquanto isso, com minha espada curta em punho, assumi uma postura defensiva e comecei a entoar um feitiço. Porém, antes que pudesse terminá-lo, uma figura sombria apareceu diante de mim. Zain de novo!
Shing! Bloqueei sua lâmina com a minha por pouco, embora sua mão esquerda vazia continuou a avançar em minha direção, só que desta vez não foi um soco comum. Havia uma luz mágica brilhando em sua palma.
Nada bom! pensei e, naquele instante, me deixei cair para trás.
Isso pareceu pegar Zain desprevenido. Seu corpo se desequilibrou, fazendo-o ter de se segurar. O tropeço deve ter destruído sua concentração, porque a luz mágica se apagou em sua mão enquanto se movia pelo ar vazio.
De costas, chutei a barriga de Zain!
“Guh!” ele soltou um pequeno gemido. Humanidade abandonada ou não, acho que ainda deve ter doído!
Deixei meu impulso me rolar de volta pelo chão. Então, ao me levantar, lancei o feitiço que havia recitado... Não em Zain, e sim em outro homem de preto!
“Flecha Flamejante!”
“Ugh!”
Era óbvio que não esperava ser atacado. Meu feitiço o acertou de frente, e o cara desabou no lugar. Zain voltou a avançar contra mim, diminuindo em poucos instantes a distância entre nós.
Preparei minha lâmina... Contudo pensei melhor. Eu não tinha nada que me meter em uma luta de espadas com um cara que poderia dar trabalho ao Gourry! Em vez disso, girei sobre uma perna bem na frente dos seus olhos e corri para cruzar espadas com outro homem de preto.
Zain, pelo visto pego de surpresa pela minha ação, demorou a reagir. Quando enfim o fez, eu já estava no meio da briga.
———
Vrum! Nruum! O som de um vácuo se rompendo acompanhava cada golpe da espada de Gourry enquanto cortava as lâminas invisíveis que Zord lançava em sua direção. E se a espada atual de Gourry conseguia fazê-lo, era a prova de que os ataques de Zord não eram mágicos, e sim físicos.
“Ohh! Muito impressionante!” Zord regozijou gritando enquanto continuava a lançar suas lâminas invisíveis. “Pensei que o primeiro tivesse sido pura sorte, no entanto é muito mais impressionante do que supus!”
Vrumm! Outro som suave de rasgo. E então... Fwsh! Um pequeno corte apareceu na lateral de Gourry.
“Entretanto nem você consegue pegar todos!”
Ele tinha razão. Gourry continuou a contra-atacar as lâminas invisíveis de Zord, porém mesmo com seus instintos e habilidade, era impossível desviar com perfeição de cada ataque invisível. Algumas das lâminas que Gourry cortava estavam se quebrando em estilhaços que perfuravam seus braços e pernas. Os ferimentos estavam longe de ser fatais e deviam se curar sozinhos com o tempo, contudo o esgotavam de pouco em pouco no calor da batalha. Para começar, doíam e, para completar, distraíam. O que aconteceria se perdesse o foco e não conseguisse interceptar uma das lâminas invisíveis de Zord? Nem quero imaginar.
Vendo Gourry ensanguentado e pensando que era uma boa oportunidade, um homem de preto diferente, logo se aproximou dele...
“Guh!” todavia antes que pudesse alcançar Gourry, o homem de repente se inclinou para o lado. Uma das lâminas invisíveis de Zord havia perfurado seu peito!
“Ahahahaha! O que você é, idiota? Por que correu para a morte?” Zord riu enquanto observava seu próprio companheiro morrer.
Foi por esse motivo que Gourry permanecera no mesmo lugar, brandindo a espada em vez de se esquivar. Zord lançava lâminas invisíveis para todos os lados, não apenas em Gourry. Era impossível prever para onde elas iriam.
“Gwahahaha! Quanto tempo conseguirá aguentar?” a risada maníaca de Zord ecoou pela sala.
———
Whk-krash! O feitiço que Mileena lançou obliterou as garras eletrificadas de seu adversário. Luke investiu contra o sujeito, agora que estava basicamente desarmado. Todavia, de repente, as garras do homem voltaram a ter o tamanho de espadas!
Tink-krackakcrakle!
A eletricidade percorreu a lâmina de Luke onde ela encontrou as garras. Teria sido o suficiente para matá-lo... Se ele estivesse segurando a espada naquele momento, é claro. Felizmente, Luke a soltou um momento antes de fazer contato. E então...
“Dolph Strash!” conjurou, estourando a cabeça do homem com garras!
“Imaginei que tentaria isso. Vocês são muito óbvios!” Luke cuspiu enquanto pegava sua espada.
Por sua vez, Mileena lançou o feitiço que havia terminado de conjurar.
“Visão Frang!”
Fwsssh... A névoa começou a se espalhar ao seu redor, preenchendo o local. No entanto foi só isso. Visão Frang era um feitiço bacana para cegar um inimigo, bastante útil para recuar, mas...
“O que você está fazendo?” um dos homens de preto uivou enquanto a golpeava.
———
Swsh! Um golpe da minha espada curta acertou um cara de preto. Acho que subestimou minha habilidade como espadachim! Os outros logo se distanciaram, espadas em punho.
Zain também estava me perseguindo. Nesse momento, estou quase cercada. Hora de ir embora!
“Lei Asa!” em pouco tempo, lanço meu feitiço de voo em alta velocidade e, envolta em uma barreira de vento, atravesso o bloqueio dos homens de preto! Depois, mudo de curso no ar, virando-me para Zord, que estava distraído brincando com Gourry. Porém muito antes de que pudesse alcançá-lo, Zain reapareceu, parado na minha trajetória de voo, com a lâmina apontada para mim.
Geeehh! Uma velha lembrança de um certo homem-peixe sendo fatiado justo dessa maneira me veio à mente.¹ Desesperada, assumi o controle do meu feitiço e mudei de curso.
Hã. Espere um minuto...
Atingida por uma ideia maluca, enfiei minha espada para fora da barreira de vento. Pensei que, se atravessasse alguns caras assim, poderia acabar com todos... Bam, bam, bam... Contudo...
“Wugh!”
No segundo em que tirei minha espada da barreira, ela foi levada pelo vento! Também perdi o equilíbrio e o controle, e...
Crash! Eu me choquei contra um homem de preto próximo. Meu feitiço se dissipou na hora, me fazendo rolar pelo chão. Por sorte, consegui me levantar sem problemas.
É, provavelmente não deveria ter tentado isso... Mesmo assim, parecia que tinha derrubado três ou quatro caras no processo.
Enquanto me orientava, Zain correu em minha direção outra vez. Foi bem na hora em que Mileena conjurou sua névoa.
———
“Guh!” um fragmento de uma lâmina invisível perfurou o braço esquerdo de Gourry. Não parecia um corte profundo, embora também não fosse superficial o suficiente para ser ignorado.
“Bwahaha! Chegou ao seu limite, hein?” a risada de Zord ecoou pela sala... Logo antes de tudo ficar branco, cortesia da névoa de Mileena. “O quê?” ele sussurrou.
Whoosh! Nesse momento, Gourry saiu correndo.
“Tolo!” gritou Zord, liberando mais lâminas invisíveis.
“Hyah!” Gourry brandiu sua espada, repelindo-as perfeitamente. Vwssh! Pwing!
“O quê?” Zord lançou mais lâminas em pânico, mas Gourry cortou todas sem o menor estilhaço. Era como se pudesse vê-las chegando agora.
“A névoa?”
De fato, cada lâmina invisível deixava um rastro bem visível na névoa, permitindo que Gourry as avistasse. Claro! Mileena armou isso para ajudá-lo!
“Maldito seja!” Zord gritou em pânico, disparando mais lâminas. Por sua vez, Gourry fechou a lacuna sem grandes problemas. “Ngh!”
Zord estendeu a mão para a espada em seu cinto para se defender, contudo... Fwssh! A espada de Gourry, vindo mais rápido do que o esperado, cortou o homem-demônio verticalmente.
———
“O quê?” um dos homens de capa preta que balançava em direção a Mileena gritou surpreso.
Provavelmente pareceu a ele que Mileena havia desaparecido de repente, porém, na realidade, tudo o que ela fez foi se agachar. A névoa estava fazendo seus olhos o enganarem. E em sua confusão... Pssht! O golpe de Mileena por baixo perfurou seu estômago.
Luke derrubou um segundo confuso homem de preto, depois travou espadas com um terceiro. Os homens de capa preta não eram nada desprezíveis em termos de habilidade, no entanto ver um de seus aliados com fusão demoníaca ser derrubado graças aos esforços de Luke e Mileena havia abalado seu moral.
“Dam Blas!”
Crash! E lá se foi outro. Um homem de preto, lançando ataques indiferentes para manter Mileena sob controle, acabou sendo pego pelo seu feitiço.
———
Eu agora estava fugindo de Zain, entoando um cântico baixinho.
“Não pense que poderá escapar!” ele gritou atrás de mim.
Quando olhei por cima do ombro, pude vê-lo em perseguição. Acho que o rancor era profundo! Zain conjurou um feitiço na palma da mão sem um encantamento e o lançou em mim. Para o seu azar, eu estava longe demais para que me atingisse. Desviei do orbe mágico com um movimento ágil. Ele passou por mim, desapareceu na névoa e...
Crash! Ouvi o som de algo se quebrando. Deve ter atingido um dos pilares da câmara.
Continuei correndo e me abaixei atrás de uma fileira de pilares que ladeavam a sala.
Zain ainda estava no meu encalço. Como era mais rápido do que eu, fui alcançada em pouco tempo. A magia começou a se acumular em sua mão esquerda outra vez.
Agora! Coloquei a mão no pescoço e desfiz um pequeno fecho de metal.
Whoosh! Minha capa ondulou nas minhas costas e...
“?” Zain investiu contra ela!
Quando o fez, me virei e perfurei minha espada na capa. Não acertei nada. Momentos depois, senti uma presença aparecer atrás de mim. Teleporte, justo como estive esperando!
“Explosão de Cinzas!” lancei o feitiço atrás de mim. Bwush!
Explosão de Cinzas não exigia linha de visão clara, entende? Você também podia fazer coisas assim, confiando apenas no seu instinto.
Clang! Ouvi uma espada cair no chão. Era a que Zain estava segurando. Virei-me e tudo o que vi foi fuligem negra flutuando na névoa branca... Os restos do demonóide Zain, que nem sequer soltou um grito antes de morrer.
———
Wham! Um punhado de guardas armados estava do outro lado da porta que arrombamos. Alguns estavam encostados na parede, outros estavam sentados. Alguns estavam até reunidos em volta de uma mesa jogando cartas. Todos pararam o que estavam fazendo e olharam em nossa direção quando entramos.
Depois de derrotarmos as três fusões demonóides, o resto foi fácil. Os homens de preto perderam o moral, e nós os derrotamos com espadas e feitiços. Alguns escaparam, embora não estávamos em condições de persegui-los naquele momento. Precisávamos encontrar Lavas e Wizer o quanto antes!
Pelo menos, esse era o plano. O problema era que não tínhamos ideia de para onde os dois tinham ido. Partimos na direção em que eles fugiram a princípio, mas finalmente encontramos uma bifurcação que nos paralisou. Assim, nosso grupo de quatro começou a procurar com dificuldade.
Lavas disse que estava indo para o ‘subterrâneo’ para ‘pesquisa’. Perguntei a Luke sobre isso no caminho, entretanto ele parecia não saber nada sobre uma instalação de pesquisa subterrânea. É claro que um castelo como aquele devia estar cheio de passagens secretas e masmorras escondidas. Não havia dúvida de que era para lá que Lavas havia ido se refugiar. Todavia como Luke e Mileena não sabiam como encontrar quem procurávamos, ficamos presos ao método menos eficiente possível: vasculhar o lugar, cômodo por cômodo.
“Tch. Aqui também não!” Luke cuspiu, e estava se virando quando...
“Ei! Espere um minuto!” gritou um dos guardas. “Que diabos está acontecendo aqui? Quando poderemos sair deste quarto?”
O soldado parecia mais irritado do que qualquer outra coisa e genuinamente alheio à situação. A julgar pelas suas expressões e de seus companheiros, eles ainda viam Luke e Mileena como aliados... O que significava que não estavam conscientemente envolvidos no plano de Lavas e estavam sendo enganados? Não tenho certeza, mas se achavam que estávamos do mesmo lado, não iria deixar essa oportunidade passar.
“Vocês não sabem o que está acontecendo?” perguntou Luke.
Outro guarda respondeu, irritado.
“Claro que não. De repente, nos disseram para ficarmos de prontidão até recebermos novas ordens e que não deveríamos sair, acontecesse o que acontecesse. Porém já faz um bom tempo que estamos ouvindo todo tipo de confusão...”
“Explicaremos depois.” falei, aumentando meu tom de voz.
“Você foi a convidada do Lorde Lavas para jantar de antes, não foi?” perguntou o guarda.
“Sim, contudo podemos falar a respeito em outra ocasião. Se souber de algum tipo de passagem para uma sala escondida no porão, diga-nos agora! Temos que encontrar o Regente Lavas antes que algo terrível aconteça!”
Com isso, os guardas trocaram um olhar. Tecnicamente não estava mentindo. Só tinha esquecido de mencionar que era o Lorde Regente quem estava fazendo as coisas terríveis.
“Tudo bem! Vamos nos juntar a vocês!” um homem de meia-idade que servia como comandante deles pegou sua espada e se levantou. Os outros o imitaram.
Claro, não queríamos que nos acompanhassem, no entanto não era como se fossem desistir por minha causa. Então, nós quatro, mais uns dez soldados, com o comandante deles à frente, corremos por um corredor e depois por outro.
Logo, o comandante parou em um beco sem saída. Troquei olhares com Gourry, Luke e Mileena, e nos afastamos das fileiras de soldados. O comandante girou um castiçal na parede, empurrou um certo tijolo e...
Clunk. A parede que parecia sem saída se abriu de repente, revelando uma entrada grande o suficiente para uma pessoa passar.
“Aqui está!” disse o comandante, virando-se para mim.
Ótimo. Bom garoto!
“Durmam!” entoei, fazendo os guardas dormirem na hora.
“Iluminação!” com o feitiço de Mileena guiando o caminho, nós quatro atravessamos a abertura na parede.
———
Em pouco tempo, encontramos uma escada que descia.
“Bingo!” Luke gritou enquanto descia a escada com Mileena, Gourry e eu seguindo-o. Batemos em uma porta lá embaixo. Luke estendeu a mão para a maçaneta.
“Tch! Está trancada! Espera aí, vou...”
Antes que pudesse começar a cantarolar, Gourry o deteve e caminhou até a porta.
Então...
“Hyah!”
Cha-king! Num piscar de olhos, a porta caiu no chão em pedaços. Hah! Quem precisa de chave quando se tem o Gourry por perto?
Nós quatro passamos por ela e...
“Whoa!”
Parei e fiquei olhando. Iluminada por uma luz mágica pendurada sobre a porta, havia uma sala reluzente em ouro e prata. Era bem grande e repleta de armaduras, espadas e acessórios ornamentados. Não apenas para decoração. Qualquer um com olho para feitiçaria saberia à primeira vista o que eram.
“Caramba! São todos itens mágicos! Oho! Este colar ficaria lindo na Mileena!”
“Wahoo! Dá para acreditar? Oho! Este colar valeria um ótimo preço!”
“Agora é mesmo a hora?” perguntou Mileena calmamente.
Ah! Luke e eu recobramos a razão. Certo. Toda aquela coisa do Lavas... Dito isto, não havia sinal seu ou do Wizer por perto. E, quero dizer, tínhamos vindo ao castelo para roubar uma espada mágica. Havia o suficiente delas aqui para fazer uma verdadeira fortuna no mercado. Pena que não podíamos deixar o inspetor e o regente sozinhos enquanto registrávamos nosso achado.
“Tudo bem!” declarei com uma voz firme enquanto enchia os bolsos. “Vamos deixar isso para depois!”
“Vocês vão mesmo fazer isso mais tarde?” Mileena sussurrou com uma careta.
Ora, se este não era o covil subterrâneo que procurávamos, então Lavas devia ter algum outro esconderijo. O que significava voltar ao jogo de ‘procurar passagens secretas’? Só de pensar nisso me fez gemer de tédio.
Mas enquanto pensava... Crash! Parte da parede explodiu para dentro!
O quêêêêê?
Quando a nuvem de poeira se dissipou, vimos...
“Ah... Vocês estão todos aqui...”
“Velho?”
De fato, cambaleando da poeira, surgiu Wizer, o velho inspetor que nos abandonou para perseguir Lavas. Também não foi exatamente um retorno triunfante. Nosso cara estava bem roxo e com alguns cortes que, embora não fatais, eram bastante sérios.
“Ele está vindo...”
Suas palavras nos levaram a olhar para a parede arrombada... Onde uma figura se movendo se aproximava a passos lentos.
Um semi-demônio? Com certeza parecia um à primeira vista, porém não era do tipo inferior ou de bronze com o qual estou familiarizada... Tinha uma estranha pele pálida de uma vítima de afogamento e três chifres retorcidos crescendo assimetricamente de sua cabeça. Seu corpo era torto e deformado, e emitia um miasma sufocante.
Dito isto, em termos gerais, quanto mais alto o rank dos demônios, mais humanos eles pareciam. O que significava que, por mais bizarra que fosse essa coisa, era bastante provável que não fosse muito poderosa. Difícil imaginar como ela havia dado tanto trabalho ao velho...
“Oh, aí estão vocês. Parece que entraram na sala subterrânea errada!” disse a voz de Lavas por trás do demônio. Então, com passos lentos, sua figura surgiu.
“Seu... Ainda não morreu, hein?” Luke zombou, sacando a espada. “Acha que aquele demôniozinho pode fazer alguma coisa contra nós?”
“Hmm...” Lavas encarou o demônio pensativamente por um tempo. “Ele esteve dormindo na água da vida esse tempo todo. Foi um experimento fracassado, entende? Como aqueles que dormiam embaixo da instalação para onde Zain atraiu vocês dois.”
Um experimento fracassado?
“Espere um minuto! Está dizendo que aquelas quimeras eram na verdade pessoas que sequestrou também?” gritei.
“Sim!” respondeu Lavas, indiferente, ainda olhando para o rosto do demônio.
Que desgraçado!
“Contudo este demônio é um caso bastante especial. Eu, descuidadamente, adicionei as habilidades... E isso colocou um esforço tremendo no corpo. É por essa razão que tem essa aparência. É instável e desequilibrado, embora tenha muito poder para compensar.” Lavas parou por um momento e então se virou para nos encarar de novo. “Permitam-me apresentar... Experimento Meio-Demônio Mk. 1, Veisam Fritz Langmeier. O verdadeiro herdeiro do lorde.”
Nós quatro ofegamos. Agora fazia sentido... Acho que Wizer não poderia atacar o demônio depois de descobrir sua verdadeira identidade.
“Este é o castelo e território de Lorde Langmeier. Havia muita gente para atrapalhar minhas ambições aqui. ‘Eliminar todos os obstáculos’ é sempre uma boa política... No entanto, embora fosse fácil eliminar esses obstáculos em particular, esconder as consequências de um massacre pode ser difícil. Então, pensei, por que não os usar como cobaias? Ficarão fora do caminho, impulsionará minha pesquisa e, uma vez que não sejam mais humanos, não poderão mais me denunciar. Lógico, não é?”
“Não, lógico não. Desumano!” sussurrei com raiva.
Entretanto Lavas respondeu com perfeita calma.
“Pragmáticos de vanguarda nunca são apreciados em sua própria época.”
“Não entendo bem o que está acontecendo, mas...” Gourry desembainhou a espada e deu um passo à frente. “Acho que não posso te deixar escapar impune.”
“Não podemos e não deixaremos!” concordei, desembainhando minha espada também.
Um sorriso surgiu no rosto de Lavas.
“Entendo. Se insiste... Não é como se eu pretendesse deixá-los viver de qualquer maneira. Vá, Veisam.”
“Hraaagh!” o meio-demônio Veisam rugiu em resposta ao comando de Lavas. Lavas parecia tê-lo completamente sob seu domínio.
“Lança de Gelo!” foi Mileena quem lançou um abrupto feitiço em Lavas. Seu projétil passou por Veisam em direção ao impostor, porém...
Crash! Um segundo antes de atingi-lo, Veisam ergueu a mão direita e dispersou a magia de Mileena. Sem hesitar, ele então avançou direto para nós!
O resto de nós se apressou em se esquivar, apenas Gourry permaneceu no lugar.
Ele apontou a espada para Veisam e...
De jeito nenhum! Não pode só matar o cara, amigão!
“Hahhh!” Gourry se abaixou sob o braço de Veisam e atacou com a espada! Swsh!
“Eu cortei o seu tendão do calcanhar!” Gourry nos informou enquanto lançava um olhar cauteloso para Veisam e Lavas. “Isso deve mantê-lo...”
Antes que pudesse terminar...
“Hraaagh!” com um uivo, Veisam avançou sobre ele.
“O quê?”
Crash! Gourry saltou o mais rápido que pode para o lado, mergulhando na montanha de tesouros.
“Sério, tente não destruir o lugar.” Lavas riu. “Eu disse, não disse? Concedi-o uma variedade de habilidades. Ele pode se regenerar em poucos instantes de quase tudo. A menos que seja decapitação ou amputação de um membro, continuará se movendo conforme minha vontade.”
Lavas estava certo. Quando Veisam parou e olhou ao redor como se estivesse avaliando sua presa, pudemos ver a parte de trás de seu calcanhar esquerdo manchada de vermelho. Era onde Gourry havia rompido um tendão, e havia se curado quase em segundos.
“Agora, Veisam, se recomponha e acabe com eles!” ordenou Lavas.
“Hraaagh!” Veisam uivou de novo em resposta. Uma dúzia de flechas flamejantes apareceu à sua frente. Elas estavam apontadas para Luke e Mileena... E para Wizer!
Porcaria! Os dois ficariam bem, contudo Wizer não estava em condições de se esquivar de um feitiço.
Ka-bwoobwoobwoosh! As flechas flamejantes choveram e...
“Golpe de Vento!” Luke balançou sua espada no ar, produzindo uma onda de choque que dispersou a saraivada de fogo.
“Uma espada mágica?” Lavas gritou da lateral, admirado.
De fato, a espada mágica sem nome que Luke empunhava podia produzir um efeito semelhante ao Vento de Diem, com um golpe e um pouco de força de vontade.
Depois de rebater as flechas, Luke foi direto para Veisam!
“Nada pessoal!” ele gritou.
Slash! Um golpe de sua espada fez o braço direito de Veisam voar, e Luke manteve o impulso para atacar Lavas atrás. Sua ideia foi correta... Se conseguíssemos derrotar Lavas, não sobraria ninguém para controlar Veisam. No entanto era provável que não acalmaria o pobre coitado...
Luke deu um golpe em Lavas e... Shiiing! Com um guincho metálico estridente, sua espada se estilhaçou!
O quê? Lavas não parecia estar segurando uma arma. Apenas desviou a lâmina de Luke com um movimento de mão. De jeito nenhum...
“Ngh!” Luke saltou para trás rapidamente. Crack! A armadura em seu ombro direito também se partiu em pedaços.
“Entendo. Você decidiu vir atrás de mim primeiro, não é? Um plano sensato. No entanto...”
“Raaaaaaaagh!” um grito de Veisam interrompeu Lavas. A pele ao redor do braço que Luke havia decepado começou a escurecer e derreter, e o efeito se espalhou em poucos segundos para o resto do corpo.
“Hmm... O desequilíbrio é ainda pior do que pensei.” murmurou Lavas, inabalado, enquanto os gritos de Veisam continuavam a ressoar. “Dano suficiente e sua autorregeneração fica descontrolada.”
Logo, os uivos se transformaram em gemidos. Então veio o silêncio quando o corpo derretido de Veisam desabou em uma poça negra no meio do chão.
“Menos útil do que eu esperava, suponho. Embora isso me poupa o trabalho de me livrar dele.”
“Como você ousa...” sussurrou Gourry.
Ele preparou a espada, mas foi tudo. Gourry deve ter percebido a mesma coisa que eu. Considerando que ela não havia tentado nada, Mileena também percebeu. Enquanto estávamos ali, congelados no lugar, Lavas voltou seu olhar para nós.
“Para um líder de exército ir pessoalmente a campo... É a pior de todas as estratégias possíveis. Todavia, vocês me deixaram com poucas alternativas.” um brilho surgiu em seus olhos. Seria um lampejo de loucura ou... “Preciso que todos vocês morram?”
“Dam Blas!” naquele instante, liberei o feitiço que estava recitando.
Porém... Fwish! Lavas ergueu a mão e o dispersou. Nenhum humano comum conseguiria realizar tal feito. Isto tornou sua verdadeira natureza bastante óbvia.
“Lavas!” falei com o homem que ainda sorria confiante, apesar da perda de todos os seus peões. “Você também é uma fusão demonóide.”
“Demonóide, hein? Que descrição divertida.” pouco a pouco, Lavas se aproximou de nós.
Luke deu um passo apressado para trás, impressionado com a aura hostil que emanava do seu corpo.
“Para sua informação, é bem difícil encaixar tamanho poder em uma forma humana. Só recentemente dominei a técnica. Veja bem, precisava fortalecer meus subordinados, mas não podia deixá-los usar os poderes que obtiveram contra mim. E qual a melhor maneira de evitar esse cenário? Simples. Me tornar mais forte do que eles.”
Droga. Pensei que Lavas era um vilão de terceira categoria que sempre delegava poderes aos seus capangas. Porém a forma como a simples menção dele intimidara até Sir Zord, o Imprudente... Não era o comportamento de um homem com medo de desagradar seu chefe. Era medo da ira de um ser muito mais poderoso.
“Sou novato tanto nas artes marciais quanto nas mágicas, então este será meu primeiro teste de campo... De quão forte sou!”
Enquanto falava, a mão esquerda de Lavas brilhou. Duas lâminas mágicas voaram em minha direção e em Gourry!
“Rgh!” nós dois gememos em uníssono, recuando o mais rápido que conseguimos.
Fraaaaaaaash! As lâminas rasgaram o tesouro de itens mágicos do outro lado da sala.
Brr... Estremeci ao ver um capacete mágico rolar na minha frente, cortado ao meio como manteiga.
“Nada mal, se me permite dizer! Ou será que me tornei forte demais? Bwahahaha!”
Com essa deixa, ele lançou seu próximo ataque em Luke.
O cara conseguiu se esquivar e se armar com uma espada que pegou do chão.
“Ora, ora! Essa não é sua!” Lavas estalou o dedo, produzindo outra lâmina invisível de uma onda de choque. Shing! Atingiu a nova espada de Luke e a quebrou.
“Mileena! Leve o velho para cima!” gritei. Era perigoso demais para um homem ferido ficar por perto durante aquela luta.
Mileena assentiu em resposta e começou a conduzir o homem escada acima.
“Ei, vamos! Nada de fugir!” Lavas fez um selo com as mãos. “Vazio!”
O quê? Num piscar de olhos, Lavas desapareceu. Em seguida...
“Wagh!” Mileena gritou e, momentos depois, ela e Wizer caíram escada abaixo.
“Mileena?” Luke gritou enquanto corria até eles.
“Eu... Estou bem.” ela conseguiu se levantar e então recuou com Luke e Wizer.
“Hmm... Esse aí foi muito fraco?” descendo a escada lentamente enquanto murmurava para si mesmo era... Preciso mesmo dizer? Era Lavas, que havia se transformado no ar.
“Lança Elemekia!”
“Inútil!” Lavas quebrou meu feitiço com uma bala mágica que havia lançado. Ao mesmo tempo, Gourry o atacou, espada em punho. “Já disse que é inútil!”
Contudo com uma velocidade maior do que Lavas havia previsto, Gourry se aproximou e deu um golpe!
“Ugh!”
Clatter! Droga, Gourry quase o pegou! Lavas infelizmente conseguiu se mover bem a tempo de quebrar a espada. No entanto... Fwsht! Lavas tremeu.
Gourry tinha outra lâmina na mão esquerda... Uma que deve ter tomado do tesouro no chão. No instante em que sua primeira espada quebrou, sacou a segunda e a enfiou no estômago de Lavas.
Será que conseguiu? Enquanto me perguntava, Gourry soltou a espada e saltou para trás. Tink! Uma lâmina invisível cortou sua ombreira com precisão.
“Impressionante de fato!” apesar de ter sido atravessado, o tom confiante de Lavas não vacilou. “Se ao menos tivesse sido gentil o suficiente para presumir que me derrotou e tivesse baixado a guarda...” sua mão puxou a espada do abdômen. Nem uma única gota de sangue escorreu do ferimento.
Não funcionou?
“Agora, vou começar com...” Lavas virou-se lentamente para Mileena e Wizer.
“Lâmina Olhos de Rubi!” uivando, Luke avançou contra ele. Ele havia pegado outra espada que agora brilhava com uma luz vermelha. Lavas olhou por cima do ombro e... Vrum!
“Gwuh!” foi Luke quem caiu no chão com um grunhido.
Múltiplas coisas... Lanças ou tentáculos, era difícil descrevê-los... Irromperam das costas de Lavas, perfurando o ombro e a coxa esquerda de Luke.
Puta merda! Esse cara realmente havia desistido da sua humanidade!
“Explosão de Cinzas!” Mileena lançou um feitiço, todavia...
“Vazio!” Lavas, voltou a teleportar, aparecendo bem ao lado dela. “Previsível demais!”
Wham!
“Hgn!” Mileena gemeu quando Lavas a chutou com força em seu estômago. Depois, ergueu a mão e...
“Explosão de Cinzas!” então, minha escuridão invocada começou a envolvê-lo pelo lado esquerdo. Bwom!
Não sabia ao certo o porquê, mas, por instinto, pulei para o lado. Quando o fiz...
Vwum! Um par de lâminas mágicas atravessou o local onde eu estava.
Pwsssssh! Com o som do ar saindo de um balão, a escuridão da minha Explosão de Cinzas girou e desapareceu.
“Graaaaaaaagh!” de dentro dela, Lavas apareceu com um grito.
Esse era um feitiço que podia derrotar um demônio de bronze com um único golpe, e foi superado apenas com seu poder mágico? O jeito como uivava de dor enquanto a pele de seu rosto adquiria uma cor cinza escura sugeria que algo havia acontecido... Porém sobreviver o colocava em um nível acima da maioria dos mazokus!
Depois que uma das lâminas que Lavas lançou passou por mim, ela se chocou contra o chão de pedra e destruiu os vários itens mágicos espalhados por ela... Não. Em meio a todos os restos em pedaços, um único brilho prateado permaneceu. A lâmina intacta de uma espada mágica libertada de sua bainha?
“Gourry! Aquela espada!”
“Certo!” Gourry saltou em resposta. Lavas lançou uma lâmina invisível em sua direção.
Não, não vai conseguir se esquivar disso! Pensei, contudo uma fração de segundo depois... Swsh! Gourry cortou a onda de choque com a espada.
“Tch!” um leve sinal de pânico cruzou o rosto de Lavas, que saltou para a parede e agarrou uma espada mágica para si.
Gourry mergulhou direto em sua direção. Lavas segurava a espada na mão direita e lançou uma lâmina invisível da esquerda. No entanto um golpe da espada de Gourry a rasgou em pedaços!
“Rgh!” Lavas preparou a espada na mão direita.
Talvez fosse uma lâmina mágica comparável à que Gourry havia pego. Lavas pretendia bloquear o ataque com sua espada, imobilizando-o, e então atingi-lo à queima-roupa com um ataque de lâmina invisível da outra mão. Entretanto se suas espadas fossem iguais, isso se resumiria a uma disputa de habilidade!
Clink! Gourry cortou a espada mágica de Lavas, mão e tudo... E continuou atravessando sua cintura! Embora...
“Guh!” Gourry, tendo passado por Lavas em alta velocidade em seu ataque, rapidamente se virou para se esquivar de algo. Lavas havia disparado lanças de suas costas que voaram pelo ar bem ao lado dele! “Você...!” Gourry se distanciou e assumiu uma posição de combate mais uma vez.
Pois, mesmo partido em dois através de sua barriga... Lavas não havia caído. Pelo menos, não todo. Não tenho certeza de como o estava fazendo, mas o corpo de Lavas agora havia desaparecido da cintura para baixo e seu resto, a parte superior, flutuava no ar.
“Como... Como ousa arruinar meu corpo?” a parte transversal de sua mão direita decepada agora estava coberta de protuberâncias semelhantes a tentáculos.
Puta merda! Como esse cara ainda está vivo e ativo? Será que forçou algum mazoku poderoso a se fundir com ele em sua sede de poder? Lavas se virou e tentou espetar Gourry com os tentáculos da mão direita. Pude ver o brilho da espada de Gourry enquanto esta se movia, e embora parecesse que havia cortado os tentáculos... Eles se contorceram ao redor do alcance de sua lâmina. Então... Crackle-krak! Eles liberaram uma chuva de eletricidade no grandalhão!
“Khhh!” Gourry desabou sem dizer uma palavra.
Ele estava claramente tentando se levantar, porém o golpe parecia tê-lo deixado dormente. Tudo o que conseguia fazer era se contorcer. Queria lançar um feitiço de ataque para ajudá-lo, só que ainda não tinha terminado meu cântico. Lavas pôs os olhos no Gourry caído e...
“Dynast Blas!”
Crackle-krak!
Um raio surgiu do nada para envolver o corpo de Lavas! Quanto a quem havia lançado o feitiço... Foi o até então silencioso Wizer! Lavas se contorceu de dor, a boca aberta em um grito silencioso.
Conseguimos! Dynast Blas era capaz de fritar com facilidade a maioria dos mazokus. Com um golpe daqueles...
“Graaah!” Lavas uivou, e o raio explodiu para longe dele!
Porra, é impossível!
“Idiota irritante!” sibilou, golpeando com a mão esquerda. Fwoosh!
“Gwah!” Gritaram Gourry, Luke, Mileena e Wizer enquanto a onda de choque os jogava de volta para as pilhas de tesouro.
“Tch! Não tão forte quanto eu esperava!” Lavas cuspiu, olhando para a mão esquerda. E então se virou para mim.
Interrompi o cântico no qual vinha trabalhando. Apenas fiquei ali parada. O feitiço que estive me preparando para usar... Era o mesmo que Lavas tinha acabado de se livrar.
Isso era loucura. Mesmo sabendo que era hospedeiro ou fusão de um mazoku... Para obter tamanho poder, a resistência de Lavas é surreal. Seus ataques em si não eram tão diferentes dos de qualquer mazoku de nível inferior... No entanto nenhum mazoku de nível inferior poderia só ignorar um Dynast Blas daquele jeito. E ainda assim...
“Ah...” um som de surpresa escapou da minha garganta quando a compreensão me atingiu. Olhei fixamente para Lavas. “Entendo... Agora entendi. É por isso que você é tão difícil de matar...”
“Ohh?” Lavas estreitou os olhos, curioso com minha dedução.
“As roupas e acessórios que está usando... São todos itens mágicos, certo? Para defesa e recuperação.”
Isso explicaria tudo. Estive me perguntando por que, com todos esses itens mágicos espalhados por aí, ele não havia tentado usar nenhum. Por que uma pessoa (ok, tecnicamente não mais uma pessoa) tão obcecada por si mesma não se equiparia com uma armadura?
“Enfim percebeu, não é? Tem toda razão!” admitiu Lavas. Não foi seu próprio poder mágico que lhe permitiu resistir a um ‘Explosão de Cinzas’ ou varrer um ‘Dynast Blas’, e sim o poder da proteção mágica que usava. “Então, qual é o plano agora que sabe?”
Geh... Eu não sabia bem o que responder agora.
“Não existe nenhum, existe? Seus aliados caíram, deixando você sozinha. O que acha que pode fazer?”
Lavas estava certo de que meu pequeno momento eureca não mudou minha situação. Um Dragon Slave o eliminaria, entretanto essa não era uma opção realista em um lugar como este. O que me deixou com a opção de amplificar um feitiço como Dynast Blas, que poderia derrotar um mazoku puro com força padrão... Todavia tinha a sensação de que ele apenas se esquivaria se tentasse.
De toda forma, ainda tinha que tentar! Comecei a trabalhar no cântico.
“Fútil!” em resposta, Lavas disparou uma lâmina invisível da mão esquerda.
Sua mira era ruim e já tinha antecipado seu movimento, então já estava pronta para saltar para fora do risco. Ele parecia mais fraco agora. Mesmo com sua proteção mágica em vigor, resistir a um feitiço de ataque com apenas metade do corpo com certeza traria algumas rachaduras à tona.
Em seguida, Lavas me atacou com seu braço tentáculo. Sua intenção era tentar outro choque elétrico? Chutei uma espada caída aos meus pés, com bainha e tudo, em direção aos tentáculos. Crackle! A lâmina causou um curto-circuito na eletricidade dos tentáculos. Em seguida, chutei um globo próximo em Lavas. Eram ataques bem mesquinhos... Infantis, até, mas não sabia como ganhar tempo de outra forma. Não é como se pudesse só usar uma espada para uma luta de tentáculos.
“Ngh!” parecendo frustrado com a minha persistência, Lavas usou seus tentáculos para derrubar tudo que chutei em sua direção. “Basta!” ele ergueu a mão esquerda e lançou uma onda de choque com área de efeito. Era fraca, porém cobria uma ampla área, tornando impossível de esquivar.
Nesse caso... Dei um grande salto para trás. Assim que toquei o chão... Crash! A onda de choque me atingiu.
Mesmo pulando para trás para aproveitar o impulso em vez de tentar resistir, senti um grande impacto. Ainda assim, consegui suportar a dor e cair de pé, chutando para longe mais alguns tesouros espalhados no processo. Então terminei meu feitiço!
“Dynast Blas!”
“Vazio!”
Minha voz e a de Lavas soaram em uníssono. Ele desapareceu em seguida.
Sabia! Ele se esquivou! A descarga elétrica que liberei eletrocutou o ar vazio. Ao fazer isso, senti algo atrás de mim. Claro, sabia que o faria... Pulei para o lado quando a lâmina invisível passou zunindo por mim. Então me virei e pulei para trás. Lavas e eu nos enfrentamos à distância outra vez.
Droga. Com isto confirmei meu pior medo. Lavas sempre teleportava para longe no segundo em que entoava palavras de poder. Se estivesse se teletransportando de forma aleatória, poderia conjurar em movimento e atacar onde quer que aparecesse, entretanto... Ou Lavas percebeu ou era apenas um babaca, porque sempre reaparecia atrás de mim. Se ao menos houvesse um jeito de explorar esse aspecto...
Lançar um Dynast Blas por cima do meu ombro estava fora de cogitação, claro. Acabaria sendo pega pela explosão. Talvez se pudesse usar o breve lapso de tempo entre o desaparecimento de Lavas e o reaparecimento para chegar ao seu ponto cego... Não, já deve ter um plano para lidar com essa possibilidade.
Espere um minuto... É, isso funcionaria!
Me afastei de Lavas e comecei a recitar um feitiço. Era a Lâmina Ragna, um número de magia negra que invocava o poder do vazio, capaz de dilacerar até mesmo os mazokus puros que poderiam absorver um Dragon Slave. Nenhuma proteção contra itens mágicos o salvaria de ser atingido por essa belezinha. Suas principais desvantagens eram a curta duração e o alcance, mas era minha única chance de vitória naquele momento!
“Maldita seja!”
Talvez não quisesse que nossos confrontos anteriores se repetissem, porque Lavas agora estava evitando ataques de tentáculos de relâmpago e ondas de choque de longo alcance. Ele continuou a disparar as lâminas invisíveis menores, porém, cada golpe espalhando mais e mais tesouros. A sala cintilava com flashes de prata e ouro. Desviei de todos os ataques que surgiram em minha direção... E então lancei meu feitiço!
“Lâmina Ragna!”
“Vazio!”
Como esperado, Lavas se dissipou ao primeiro sinal das minhas palavras de poder. Contudo agora eu tinha minha lâmina negra em mãos e agi.
Lavas reapareceu logo atrás de onde eu estava e não perdeu tempo, lançando uma onda de choque à sua frente e disparando tentáculos tanto do braço quanto das costas. No entanto, eu já não estava em lugar nenhum.
Lavas parou, alarmado por me perder de vista. E naquele instante, sem aviso...
Minha lâmina de escuridão cortou Lavas.
Splut... Sluph... Sua metade esquerda atingiu o chão, seguida pela direita.
Minha lâmina escura desapareceu, e olhei por cima do ombro para ver a parte superior do corpo de Lavas, ainda mais bifurcada, caída atrás de mim. Estava se desintegrando em areia branca diante dos meus olhos. Assim terminou Lavas, o rei louco que se transformara em um demônio.
Depois de determinar que ele havia desaparecido para sempre, levantei-me.
Lavas morrera sem saber como fora derrotado, no entanto a ideia por trás era bem simples. No momento em que teleportou no espaço, estiquei os braços e caí para trás. Lavas então apareceu bem acima de mim, alheio à onde eu tinha ido. Veja, a perda de sua metade inferior lhe deu um novo ponto cego... Abaixo dele. Só precisei flexionar meus músculos abdominais e me sentar para cortá-lo ao meio.
“Acho que agora acabou!” sussurrei para mim mesma.
“Ainda... Não...” respondeu Gourry. Com todos os outros inconscientes, ele foi um dos meus aliados que se virou para me encarar. “Você se importaria... De nos curar?”
———
“De qualquer forma, acho que devo te agradecer!” admitiu Luke, um tanto timidamente, enquanto nos sentávamos à mesa.
Era o dia seguinte à nossa luta sob o castelo, e todos tiveram a chance de se recuperar. Por sorte, ninguém se mostrou ferido gravemente. Um pequeno feitiço de Recuperação e uma boa dose de repouso na cama fizeram maravilhas. Claro, também significava que já era meio-dia antes que os outros pudessem se juntar a mim à mesa, deixando-nos desfrutar de uma refeição que não era bem café da manhã e nem almoço.
“Agradecer? Por quê?” perguntei em resposta, parando com um pedaço de pão a meio caminho da boca.
“Bem, estaríamos mortos agora se você não tivesse derrotado aquele desgraçado. Então... Achei que devia agradecer.”
“Pode expressar sua gratidão com mil moedas de ouro!”
Bfft! Talvez percebendo que eu estava falando sério, Mileena, que estava sentada quieta ao lado de Luke, cuspiu sua sopa sem expressão.
Luke tentou mudar de assunto.
“Mas brincadeiras à parte...”
“Não estou brincando!” interrompi em meu tom usual.
“Quem acha que vai assumir o controle aqui?” Luke continuou, olhando para o horizonte enquanto tentava forçar o assunto a mudar.
“Vai ser mil, por favor!” insisti, forçando o assunto a voltar.
“Acha que vão nomear outro lorde?”
“Tá, aceito 999!”
O suor começou a escorrer pelo rosto de Luke. Aha! Quase te peguei!
“Aposto que os caras de preto ainda estão por aqui e ali, porém será que vão continuar fazendo o que fazem, com o chefe morto e tudo mais?”
“Tudo bem, você me pegou. Novecentos e noventa.”
“Argh! Cala a boca!”
Foi Luke quem cedeu primeiro. Heh. Simplório.
“De qualquer forma! A julgar pelo que parece, diria que nós te ajudamos também! E você provavelmente roubou um monte de tesouros daquele quarto! Inclusive aquela espada!” Luke resmungou, apontando com o garfo para a nova espada no cinto de Gourry.
Ok, me pegou aí. Era de fato a mesma lâmina que havia sobrevivido ao ataque de Lavas e cortado o cara em dois. Não sei qual era o seu poder mágico, embora parecia um item bem especial. Cara... Primeiro as ombreiras que eu tinha comprado há pouco, e agora esta espada desconhecida. Estávamos acabando com um monte de equipamentos misteriosos nesses últimos tempo. Contudo isso não vinha ao caso.
“Admito que muitas bugigangas daquele tesouro acabaram nos meus bolsos.” concordei com a observação de Luke. “No entanto, meu caro Luke, não tem nada a ver com esse assunto. A ganância humana não tem limites!”
“Ah, qual é! Se quer tanto dinheiro, volte para o castelo e pegue o que quiser do porão!”
“Ei, não é uma má ideia!”
“Não que seja da minha conta... Mas talvez devesse evitar discutir crimes na frente de um inspetor.” interrompeu Wizer, com um sanduíche na mão.
“Vamos deixar esse assunto para depois, então. Então, o que vocês dois vão fazer agora?” perguntei.
Luke e Mileena trocaram um olhar.
“O mesmo de sempre, certo?” respondeu Mileena.
“Certo. Vamos viajar o mundo em busca de tesouros. A jornada romântica de Mileena e eu continuará!”
“Ele está certo... Tirando a parte do ‘romântico’.”
“Com licença, porém não estão esquecendo de nada?”
Quem se opôs foi Wizer.
“Ainda há uma limpeza a ser feita aqui, lembra? Tudo o que a maioria das pessoas sabe se resume a: ‘Algo aconteceu no castelo ontem, e agora o Regente Lavas se foi’. Se ninguém intervir para esclarecer as coisas, vocês serão considerados assassinos!”
“Ah...” suspiramos todos ao mesmo tempo.
O cara tinha razão. Os guardas do castelo nos viram vasculhando a câmara escondida do porão e tudo. É provável que saibam nossos nomes também...
“Agora, posso cuidar da maior parte sozinho, entretanto preciso que cada um de vocês de uma declaração formal. Primeiro, pedirei ao conselho de feiticeiros que entre em contato com os órgãos competentes. Depois, faremos um inquérito e inspecionaremos a cena. Deve levar cerca de um mês. Desculpe, mas são as consequências das suas ações... É hora de se responsabilizar.” informou Wizer, com um sorriso levemente maldoso no rosto.
Ugh...
E assim deixamos a Cidade de Solaria para trás... Não era algo que eu poderia dizer por um tempo.
Posfácio:
Cena: O Autor e L
Au: Essa é outra reimpressão que veio e se foi! Este foi o volume 10, “Conspiração em Solaria”!
L: Solaria não é o nome do hotel em que você esteve hospedado quando teve que dar um nome?
Au: Sim! Acho que já mencionei em algum lugar, mas fiquei hospedado em um hotel para um evento na época, e meu editor precisava que eu escolhesse um título por questões de publicidade. Então, usei o nome do hotel. É... Bem, não só isso. O lugar não se chamava Hotel Conspiração em Solaria nem nada.
L: Acho que é meio óbvio! Mesmo assim, como pôde só copiar o nome? Deveria ter pelo menos mudado um pouco.
Au: Bem, mudo nomes de vez em quando. Porém se exagerar, posso acabar duplicando o nome de um personagem que já usei ou alterando algo até torná-lo obscuro.
L: Acho que me lembro de um conto em que algo sobre uma raposa de nove caudas se tornou algo sobre um casal desagradável.
Au: Às vezes, também coloco paródias de G*ndam nos contos. Houve também uma vez em que incluí um vaso da Dinastia Song do Norte (Hokusou) que modifiquei transformando Hokusou em “coruja-raposa” (fokkusu ouru). Tinha uma crista de raposa e uma coruja. Coisas assim.
L: Imagino que ninguém tenha descoberto.
Au: É. Achei que as pessoas talvez não descobrissem, então dei algumas dicas, mas ninguém reconheceu a origem do vaso.
L: Parece meio que... Talvez você devesse admitir.
Au: Bem, quando estou jogando no meu tempo livre, priorizo a clareza para mim mesmo. Frequentemente dou nomes óbvios aos meus personagens. Por exemplo, não uso mais este, contudo antes de estrear como autor, eu tinha uma maga chamada Lina. Um RPG que joguei alguns anos atrás tinha tantas classes de personagens que não conseguia diferenciá-las, então apenas nomeei meus personagens com base nelas. O guerreiro era Battler, e a guerreira era Figh, de “fighter”. Também daria às minhas personagens femininas nomes fofos com “lin” no final. Por exemplo, tinha uma maga estelar chamada Starlin.
L: Que horror! Não tem nada de feminino ou fofo nisso! Espero que seus aliados te ponham na linha! Nem sei se são ajustes ou desculpas!
Au: Entretanto comparado a isso, dar o nome de Solaria em homenagem a um hotel não é nada!
L: Sério... Sei que deve estar só brincando comigo, porém qualquer coisa soaria melhor depois desses exemplos horríveis. Tenho a impressão de que Sherra também é vítima do seu péssimo senso de nomenclatura, não é?
Au: No começo era só uma brincadeira, embora depois tive uma sessão de perguntas e respostas com os fãs que foi mais ou menos assim...
P: “Os quatro subordinados do Dinastia não se chamam Dai, Nast, Grau e Sherra, né?”
Eu: “Que incrível! Vou roubar!”
Au: Foi assim que aconteceu!
L: Não roube as coisas descaradamente! E agora me sinto mal pelos subordinados do Dinastia!
Au: Hah! Sem problemas. Vou dar umas ajeitadas neles para ficar tipo... Dae, Nosst, Grao e...
L: Não dá umas ajeitadas assim! Ei! Estou pensando agora... Você não me deu um nome irresponsável desse jeito, né?
Au: Seria engraçado, mas infelizmente, não.
L: Infelizmente? Estou começando a duvidar... Será que a minha autoimposta moratória contra o abate para melhorar minha imagem te deu a impressão equivocada de que poderia ser espertinho comigo?
Au: Espera, isso foi uma coisa de relações públicas?
L: Sim. E eu diria que a brincadeira acabou. Felizmente, por acaso tenho um daqueles Lasers Destruidores de Autor que o karaokê estava dando para comemorar a inauguração da nova unidade perto da estação.
Au: O quê? Espera! Como conseguiu um feito sob medida... Zzzzzt! Fwsh.
L: O autor agora foi reduzido às suas partículas componentes. Contudo enquanto a escuridão permanecer nos corações dos homens, esquemas de nomenclatura baratos e excessivamente óbvios continuarão a atormentar o mundo. Eles são os piores para aqueles que precisam carregá-los, então, quando vocês, queridos leitores, tiverem filhos, certifiquem-se de não dar nomes estranhos a eles! E com esse aviso para toda a humanidade... Adeus, pessoal! Até o próximo volume!
Posfácio: Fim.
Notas:
1. Referência a morte de Rahannim no volume 03, capítulo 15.
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