Mãe, Eu Costumava Odiar Você
Certa vez me perguntei se já tinha experimentado algo... Tão inesquecível que estava profundamente gravado em meus ossos.
Então pensei cuidadosamente a respeito.
Na verdade, minha vida foi bem comum e bastante pacífica.
Talvez porque ainda era jovem.
Mas pensando ainda mais a fundo, parece que já odiei uma pessoa.
Minha mãe.
Eu tinha quatro anos naquela época.
A culpa é da minha idade e da minha memória confusa; nem consegui lembrar a aparência do meu pai, mesmo depois que ele faleceu.
Apenas conseguia me lembrar de alguns pedaços.
O pai nas minhas memórias era um homem muito, muito feroz.
Ele usava algo como um pedaço de bambu e me batia até eu rolar no chão em agonia.
Quando estava sendo desobediente, ele me amarrava em um banco e não deixava ninguém me soltar.
Meu pai sempre comprava aqueles livros baratos que custavam 20 centavos para mim e me mandava escrever neles de capa a capa.
Tudo o que fazia era me fazer chorar e agir; de fato não sabia o que pensar dele.
Só pensava que outros pais também batiam nos filhos.
Porém, suas mães com certeza ajudariam a desviar um pouco disso.
Enquanto minha mãe estava sempre observando de longe.
Então, comecei a odiá-la.
No ano em que fiz sete anos.
Três anos depois que meu pai faleceu, ela ainda era viúva.
Sozinha, criou a mim e meu irmão, que era dois anos mais novo.
Sempre me dizendo que eu não correspondia às expectativas.
Eu ficava doente com frequência e demorava muito para me recuperar, então ela tinha que correr por todo lugar procurando um médico.
Ela provavelmente ficou sem dinheiro por isso.
Então, quase se ajoelhou na frente do meu avô, o pai do meu pai.
Meu avô a entregou cem dólares e disse para pagar depois.
Amigos e parentes se escondiam de nós, não se importando se vivêssemos ou não.
Eu era jovem e ignorante naquela época.
Sempre achei que as mães dos outros tinham muito dinheiro.
Contudo minha mãe era tão pobre que tinha que pedir dinheiro emprestado de todos os lugares.
Então, eu a odiava.
Talvez tenha sido quando estava com dez anos.
A nova professora da escola estava anotando alguma coisa.
A professora só tinha que perguntar sobre os nomes dos nossos pais.
Naquela época, não sabia que podia preencher o nome da minha mãe, então não sabia o que fazer.
Então a professora perguntou: “Como você nem sabe o nome do seu pai?”
Fiquei vermelha; então ouvi uma garota da mesma vila gritar: “Ela não tem pai!”
Em um instante, todas as crianças da classe estavam rindo muito.
Eu vi a expressão de culpa da professora.
No entanto, fui eu quem abaixou a cabeça e chorou por um ano inteiro.
Foi tudo culpa da minha mãe por nunca mencionar o nome do meu pai.
Mãe, eu realmente te odeio.
Houve um ano em que eu parecia estar esperando por algo na escola.
É provável que tenha sido depois das aulas; a chuva estava caindo forte e muitos dos meus colegas tinham se esquecido de trazer guarda-chuvas.
Eu tinha cerca de doze anos na época e ficava observando as outras crianças serem pegas por alguém que trazia um guarda-chuva.
Fiquei esperando e esperando, mas ninguém veio.
Outras crianças tinham mães jovens, bonitas e ricas, e elas pareciam tão limpas.
A inveja me encheu enquanto observava de lado.
Porém, foi só quando quase todo mundo foi embora que minha mãe por fim veio ansiosamente com um guarda-chuva. Ela era tão velha, tão feia e estava tão suja.
Todos achavam que minha avó tinha vindo me buscar.
A jovem eu estava preocupada em passar vergonha, então abaixei a cabeça e me afastei o máximo que pude dela.
Contudo ela se apressou, segurando o guarda-chuva sobre mim e se desculpou.
“O que foi? Você está brava? Eu não queria chegar tão tarde. Estava com pressa e acidentalmente caí...”
Vi que seu braço estava sangrando.
Que mãe desajeitada.
Eu te odeio tanto, morra logo.
Quando meu avô materno morreu, eu tinha cerca de quatorze anos.
Me escondi debaixo da mesa e chorei muito.
Meu irmão mais novo chorou por dias, enquanto meu primo mais velho se ajoelhou na frente do corpo e minhas tias corriam de um lado para o outro.
Assim, me escondi debaixo da mesa por um dia inteiro.
Quando fui encontrada, minha tia disse: “Menina, por que está se escondendo aqui? Vá confortar sua mãe, ela está chorando há muito tempo e ninguém conseguiu consolá-la.”
Rastejei para fora, trêmula, e desci as escadas.
Só para ver que, embora houvesse rostos felizes e tristes ao redor, minha mãe chorou até cair no chão. Rolando para frente e para trás, como uma criança fazendo birra.
Quando meu avô foi levado para o carro funerário, suas emoções agitadas se transformaram em histeria total.
Todos estavam chorando, entretanto ainda estávamos de pé.
Como pôde ficar deitada no chão daquele jeito?
Que perda de prestígio; ela parecia tão infantil.
Minha mãe idiota era tão irritante.
Num piscar de olhos, alguns anos se passaram e fiz dezesseis anos.
Eu era jovem, rebelde e cheia de ignorância.
Minha mãe estava ficando mais velha, todavia eu estava no auge da minha juventude.
Então brigávamos todos os dias, dia e noite.
Eu detestava sua preocupação cega e chatice, então comecei a voltar tarde para casa e me misturar com todos os tipos de canalhas.
Ela tentou me manter na coleira curta.
Ligações vinham dia e noite, me persuadindo a ir para casa.
Saí em um acesso de raiva.
3 da manhã.
Quando abri a porta.
Encontrei-a sentada na entrada segurando um banquinho de madeira.
“Você chegou?”
Minha mãe.
Ela me controlava tão rigorosamente, me amarrando a ela todos os dias.
Eu realmente te odeio.
Eu era propensa a causar problemas quando era jovem; o próximo incidente que me lembro foi quando tinha dezoito anos.
Tinha comprado dois livros de ficção romântica e estava muito satisfeita os lendo.
Quando minha mãe viu, pegou imediatamente os livros e os rasgou em pedaços.
Então chorei e fiz um escarcéu como se nunca tivesse crescido.
Ela então disse que tinha me criado na esperança de que estudasse direito, que não deveria ler esse tipo de história romântica, que ficaria boba com elas.
Eu a repreendi por ser injusta, que ela não me deixava fazer nada.
Por que meu irmão mais novo tinha permissão para fazer o que quisesse?
Perguntei se estava sendo tendenciosa.
Sempre fui teimosa como uma mula desde que era pequena; Depois dessa briga, fiz greve de fome por alguns dias.
Ela tinha uma personalidade suave e era chorona.
Ao ver que não comia nem bebia, ficou ansiosa.
Vou me lembrar do que aconteceu pelo resto da minha vida.
Nas famílias de outras pessoas, as filhas se ajoelhavam diante das mães.
Minha mãe se ajoelhou diante de mim; veja que filha pouco filial sou.
Mãe, você sempre age assim.
Eu realmente te odeio.
Quando tinha cerca de 21 anos, percebi que metade do cabelo dela era branco.
Saí para a sociedade e comecei a trabalhar, heh.
Foi só então que percebi o quão difícil era ganhar dinheiro. Pensando nos anos em que a desprezava por ser pobre, fui ao mercado e comprei pijamas, enviando-o direto para ela.
Sua felicidade por receber o primeiro presente meu durou alguns anos.
Ela sempre se gabava para os outros de como sua filha era tão filial.
Falava sobre como sua filha a amava tanto.
Ela era ótima em enganar a si mesma.
Eu realmente a odiava.
Quando eu tinha vinte e cinco anos, comecei a namorar alguém.
Minha mãe o olhou de cima a baixo e perguntou sobre sua família e histórico antes que pudesse ficar tranquila.
Antes que ousasse me entregar a ele.
Quando visitei sua casa, foi quando finalmente percebi o que era um lar de verdade.
Dessa forma, mergulhei em minhas memórias mais uma vez e me lembrei de como a achava feia naquela época.
Comprei alguns produtos de maquiagem.
Coloquei em suas mãos.
Só para ver que seu cabelo tinha ficado todo branco.
Na verdade, realmente não a odeio tanto assim.
Aos trinta anos, não tentei mais revisitar as minhas memórias. Não ousei olhar, nem ousei pensar nelas.
Agora tenho uma filha e, enquanto a observava dormir profundamente, foi então que enfim entendi o que minha mãe sentia por mim.
Então é assim que se sente.
Amor maternal, o que exatamente você é?
Ela já tem sessenta anos este ano. Seu cabelo é branco e seus dentes se foram.
No entanto, quando ela olha para mim, ainda sorri.
As pessoas começaram a ignorá-la quando andava nas ruas, e nossa família começou a ficar irritada com ela quando estava em casa.
Mas eu descobri que...
Na verdade, minha mãe não é tão irritante assim.
Aos trinta e cinco, comecei a acompanhá-la com mais frequência.
Só para ver sua audição piorar cada vez mais; tenho que me repetir algumas vezes para cada frase que falo.
Os maus hábitos que costumava ter não mudaram nem um pouco. Quando pareço um pouco abatida, ela começa a chorar sem aviso.
Eu ficava dizendo para ela se cuidar mais, para tratar melhor seu corpo.
Contudo ela disse: “Hã? Eu já comi. Você já comeu?”
Eu disse: “Cuide-se, não se canse.”
Ela disse: “O quê? Você quer que eu cozinhe macarrão? Tudo bem, tudo bem...”
Eu a observei mover seu corpo lentamente.
Ela começou a se ocupar na cozinha.
De repente, uma lágrima escorreu dos meus olhos.
Na verdade, não a odeio mais.
Só espero que consiga chegar ao seu centésimo aniversário.
Minha previsão foi bem precisa; minha mãe chegou aos cento e um.
Já estava com meus cabelos brancos naquela época.
Minha filha era desobediente, e meu filho fazia muita confusão.
Foi só então que percebi o quão difícil foram os problemas que passou naquela época.
No entanto meu marido ainda está por perto e minha família está feliz.
Minha mãe naquela época...
Estava criando dois filhos sozinha!
Enquanto observava aquele caixão descendo lentamente para a terra, lágrimas escorriam pelo meu rosto no meio da minha histeria.
Aquele ataque de choro.
Era como se meu coração estivesse sendo dilacerado; estava tão agitada que comecei a rolar no chão.
Eu não estava disposta, me recusei a aceitar a realidade; Não conseguia suportar de jeito nenhum.
Agi do mesmo jeito que agi quando meu pai me batia quando era criança.
Do mesmo jeito que ela agiu quando meu avô foi enterrado.
Chorei, me desfiz em lágrimas.
Naquele instante, percebi.
Mãe, eu gosto tanto de você.
Realmente, realmente gosto de você.
Eu realmente, realmente te amo.
Minha mãe.
Ela passou pela vida por minha causa e provou todos os tipos de sofrimento neste mundo por mim.
Quando comia fora, sempre levava uma sacola para que pudesse trazer guloseimas saborosas em segredo.
Eu sempre ficava olhando para o biscoito nas mãos da criança ao lado.
Ela saía para comprar um em segredo e me observava comê-lo com um largo sorriso.
Eu era muito frívola quando era jovem.
Nunca percebi o quão difícil foi para ela sem o marido.
Só sabia o quão difícil era para mim sem meu pai.
Mas esqueci que minha mãe estava criando dois filhos sem o marido ao seu lado!
Mãe, eu costumava odiar você.
Mas agora, você desapareceu num piscar de olhos.
Realmente quero te ver.
Quero te contar tudo que guardei no meu coração.
Na verdade.
Eu gosto...
Sabia que gosto muito de você?
Não sou nada boa com palavras.
Você foi magoada por mim?
Agora, quando minha filha escreve composições, ela preenche o livro de capa a capa.
Agora, os biscoitos de 30 centavos que eu costumava comer custam um dólar.
Porém ainda tem o mesmo gosto.
Como os que me comprava naquela época.
Por que eu...
De repente quero tanto te ver?
Minha vida foi normal.
Nunca experimentei nenhuma grande dor ou sofrimento, e nunca passei por nada que abalasse a terra.
Só odiei uma pessoa na minha vida.
Só gostei dessa pessoa na minha vida.
Minha mãe.
Há tanto sofrimento neste mundo.
Está tudo bem.
Espere mais alguns anos, e irei atrás de você.
Quando chegar a hora.
Quero chamá-la novamente, mãe.
Finalmente me tornei avó; minha filha deu à luz uma criança.
Eu a vi ficar mais pensativa, e ela começou a lavar roupa e cozinhar para mim.
Num piscar de olhos, três anos se passaram e carreguei feliz meu neto comigo.
Minha audição estava começando a piorar, e a voz da minha filha estava começando a ficar confusa.
Eu fechava meus olhos às vezes.
E via minha mãe.
Ela está me esperando em meus sonhos.
No final.
Depois de pensar sobre isso cuidadosamente.
Mãe.
Parece que eu lhe devia algo.
Na verdade, eu te amo muito.
E, me desculpe.
***
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