sábado, 21 de setembro de 2024

Slayers — Volume 03 — Capítulo 15

Capítulo 15: A cidade dos mortos varrida pelo vento

“Nossa, que corajoso da sua parte.” disse Vizea com um ar de absoluta condescendência. Estava claro que a ideia de perder para um guerreiro humano patético era impensável para ele.

“Lantz!” gritei. “Você pode vencê-lo! Só espere até que baixe a guarda e então o acerte com seu espírito!”

“Hmm, conselho sensato... Se ao menos não fosse um total absurdo.”

Cale a boca, idiota.

Tipo, é, eu sei. Teria sido uma coisa se tivéssemos emboscado o cara, mas não havia como ele baixar a guarda entrando em um duelo já preparado. A única maneira de Lantz vencer assim era se a força de vontade que canalizasse através da Lâmina Abençoada pudesse superar as defesas espirituais de Vizea. E para ser franca, a vontade de Lantz era bem fraca.

Quero dizer, é óbvio que tinha mais do que uma pessoa comum na rua; porém em uma escalação de gigantes durões, estava classificado como ‘meh’ no medidor de força de vontade. Não sabia ao certo o quão poderosa a Lâmina Abençoada era, contudo se Lantz não conseguir dominar Vizea mesmo com sua ajuda...

“Você não pode me derrotar, não importa o quanto se esforçar.”

“Tem certeza?” Lantz perguntou, um sorriso se espalhando por seu rosto.

“Será bem-vindo para me testar e descobrir por si mesmo. Preciso acabar com você logo para poder lidar com os outros, afinal.”

“Fico feliz em ajudar!” Lantz gritou, saindo correndo. Incontáveis ​​chicotes brancos o açoitavam da metade direita do rosto de Vizea. “Tch!”

A Lâmina Abençoada brilhou no ar, varrendo todos eles... Enquanto Lantz continuava atacando o mazoku!

“Oho...” Vizea saltou alto no ar e se agarrou ao teto como uma aranha gigante. “Parece que te subestimei. Vejo que ainda pode fornecer algum entretenimento.”

“Não acho que vai achar isso muito divertido, amigo.”

“É mesmo?”

Vizea de repente mergulhou de cabeça em Lantz, mais chicotes brancos chicoteando a partir de seu rosto.

“Bwugh!” Lantz foi forçado a saltar para trás. Os tentáculos de carne de Vizea se enterraram profundamente no chão quando este pousou.

“Droga! Isso não vai a lugar nenhum! É só para frente e para trás!”

“Dificilmente.” disse Vizea.

E então... A terra explodiu sob Lantz!

“Hã?”

Eram os tentáculos que Vizea havia atirado no chão. Dezenas destes explodiram aos pés de Lantz, forçando-o a pular no ar para evitá-los. Um, no entanto, ainda conseguiu perfurar sua panturrilha.

“Guh!”

Lantz se apressou em cortá-lo com sua espada. Entretanto, mesmo depois de ser cortado, o tentáculo continuou a se contorcer em sua carne.

“Porcaria! Morra de uma vez!”

Ele balançou a Lâmina Abençoada outra vez, em parte por pânico. E no momento em que fez contato dessa vez, o tentáculo se contorcendo em sua perna soltou um grito perturbador e evaporou. Parecia que a vontade de Lantz estava crescendo. Nesse ritmo... Talvez possa...

“O que há de errado? Parece estar tendo um momento difícil.” disse Vizea pouco antes de uma parede ao lado de Lantz explodir com mais tentáculos.

Ok, é irrelevante no grande esquema das coisas, porém tenho que dizer... Havia algo meio nojento em todo esse negócio do Vizea. Vão vou comer macarrão por um tempo.

Lantz cortou cada um dos macarrões que chegavam. Pelo menos, quase todos.

“Guh!”

O braço da espada de Lantz parou de repente e então lentamente rangeu em direção ao mazoku. Em algum momento, Vizea havia amarrado a Lâmina Abençoada com um único tentáculo de seu rosto.

“Vejo que foi um erro brincar com você. Preciso me livrar dessa coisa irritante agora.” enquanto falava, um leve rangido ecoou pela caverna. Estava vindo da árvore. Vizea olhou ao redor desconfiado por um momento, todavia seu olhar retornou em seguida a Lantz. “Parece ser... Uma lâmina muito resistente, de fato. Meus tentáculos podem quebrar a maioria das espadas mágicas com facilidade.”

Mas não esta, amigo! Como Sylphiel havia explicado, a Lâmina Abençoada era um reflexo da Flagoon. Para quebrá-la, precisaria ser capaz de quebrar a própria árvore... E nem mesmo um mazoku como Vizea tinha esse tipo de poder.

“Bom... Se não vai quebrar, irei apenas tomá-la.”

Um novo tentáculo branco atacou Lantz. Ele grunhiu e, embora tenha tropeçado alguns passos, conseguiu evitar cair. Ainda assim, Vizea estava puxando a espada para mais perto e mais perto... E Lantz junto com ela.

“Ma-Maldição!”

Lá, a espada de repente escorregou das mãos de Lantz. O recuo fez o mazoku cair para trás.

“Agora!”

Naquele instante, Lantz avançou e arrancou a espada do tentáculo frouxo de Vizea. Então continuou avançando até estar bem na cara do mazoku.

Wham! A Lâmina Abençoada perfurou o estômago de Vizea.

“Morra!”

O grito de Lantz ecoou pela caverna, seguido por um grito agudo de Vizea.

“Gh... Nnngh...” o mazoku gemeu, levantando aos poucos uma mão. Ele havia sobrevivido ao ataque!

“Droga! Vamos! Sai daí!”

Lantz gritou desesperado, lutando para remover a espada do intestino do inimigo. E assim que a mão direita erguida de Vizea se contraiu com o movimento, Lantz gritou ainda mais alto.

“Droga! Morra!”

“Gah!” Vizea cambaleou para trás.

Lantz saltou para longe o mais rápido que pôde, deixando a espada no meio do corpo do mazoku.

“Guh... Hugh... Huhh...”

Mesmo com dificuldades para respirar, um sorriso cruel apareceu no rosto de Vizea.

“Você me feriu... Realmente conseguiu me machucar agora...”

Ele começou a andar cambaleante em direção a Lantz, que deu um passo intimidado para trás. O mazoku então abriu os braços, como se estivesse oferecendo a espada ainda presa em seu torso.

“Você deixou isso aqui. Por que não pega de volta?” Vizea convidou. Lantz continuou a se arrastar para trás, com medo.

“Bem? O que há de errado?” perguntou Vizea, se aproximando devagar.

Sem a Lâmina Abençoada, Lantz era impotente contra tal oponente... E estava ciente disso. Vizea sabia que a única maneira de Lantz derrotá-lo era fazer contato com a lâmina que seguia perfurando seu estômago e canalizar todo o espírito que tinha para dentro dela. Contudo Lantz teria que atacar para fazê-lo, e Vizea esperava por esse momento. Se conseguisse acertar um golpe antes que Lantz pudesse canalizar seu espírito, seria o fim do jogo para nosso amigo lutador. A mesma história se Vizea conseguisse resistir a qualquer ataque espiritual que Lantz pudesse reunir. As probabilidades estavam contra ele, não importa como o cortasse.

Lantz continuou a rastejar para trás até ficar encostado em uma parede, o interior coberto de musgo luminescente do tronco. No segundo em que o tocou, esporos brilhantes levantaram voo.

“Agora me ataque!” Vizea gritou em triunfo, quando...

“Morra! Seu monstro!” Lantz uivou.

Naquele momento, parte do estômago do mazoku se rompeu.

“O quê...?” Vizea caiu no chão, parecendo inseguro sobre o que estava acontecendo com seu próprio corpo.

Em vez de sangue, uma substância amarela como queijo em pó fluiu do ferimento em seu torso. Em pouco tempo, ficou perfeitamente imóvel.

Vzzt... Então, com um som como o de pequenos insetos alados se espalhando, seu cadáver virou pó, deixando apenas a Lâmina Abençoada para trás.

Vizea tinha baixado a guarda afinal. Então Lantz canalizou seu espírito para a própria Flagoon, e a espada, ressoando em conjunto, obliterou o mazoku.

Lancei um olhar na direção oposta de toda a ação.

“O que há de errado, Eris? Você parece distraída.”

Sim, às vezes tenho um temperamento bem desagradável.

“Eu, uh, é só que... Nunca soube que mazokus ficavam assim quando morriam...” ela respondeu, tão envergonhada quanto eu esperava.

———

“Hah!”

Com um lampejo da Espada da Luz, Gourry cortou um demônio de cobre ao meio. A batalha estava mais ou menos decidida neste ponto.

Eu tinha deixado Flagoon pelo buraco que ‘Rezo’ tinha aberto, saindo para a Cidade de Sairaag. Nesse momento estávamos na grande praça ao redor da árvore. Perto dali havia lojas de vários tamanhos e uma multidão considerável de pessoas que se reuniram para assistir à luta.

Sortudos eles. Deve ter sido legal ficar parado e assistir enquanto nossos garotos estavam ocupados...

“Vocês todos... Vão pagar...” Rahannim disse languidamente do ar enquanto mirava em Zelgadis.

“Cuidado, Zelgadis!” Gourry gritou enquanto o homem-peixe desaparecia.

Zelgadis engasgou, então se esquivou por puro instinto. Uma forte ventania passou por seu rosto.

“Oho?” ele lambeu os lábios com interesse.

Embora sua bochecha fosse uma rocha sólida, o ataque de Rahannim de fato conseguiu lhe arrancar sangue.

“Ele nos deu muito trabalho também! Tenham cuidado!”

Ao ouvir o aviso de Gourry, Zelgadis torceu o nariz em descrença.

“Problemas? Aquela criatura patética deu problemas para você e Lina?”

“Patética? Vamos lá! Esse cara se move rápido demais para acertá-lo!”

“Mesmo assim... Posso vencê-lo facilmente.” com essas palavras ousadas, Zelgadis empurrou sua espada para cima em direção a Rahannim, que estava pairando no ar acima de sua cabeça de novo. “Venha até mim, seu peixe idiota. Vou fazer filés de você.”

“Tente... Se quiser...”

A cauda do peixe estalou e tornou a desapareceu. No instante em que o fez, Zelgadis se moveu. Segurando sua espada com firmeza acima da cabeça, mudou seu peso para frente e abaixou seus quadris.

Ei, pensando bem...

Houve um baque silencioso, e o corpo de Zelgadis cambaleou para trás. Rahannim caiu no chão atrás de suas costas em dois cortes perfeitos.

Era verdade que o homem-peixe se movia mais rápido do que o olho nu podia perceber, mas seu tempo de reação permaneceu normal. Era por essa razão que era tão fácil de desviar se esperasse até que já estivesse te atacando... E por não conseguir alterar seu curso para escapar da espada parada de Zelgadis.

Em outras palavras... O cara se matou. Foi tudo muito estúpido, de verdade.

“Viu?” Zelgadis sorriu.

Gourry apenas ficou boquiaberto.

“Ei, como está o seu ferimento?” Zelgadis chamou e fez um aceno assim que percebeu nossa chegada.

“Melhor!” gritei, acenando de volta.

“Lina!” Gourry exclamou quando enfim percebeu também. “Toda curada?”

“Sim! Estou em ótima forma!” respondi com um aceno firme.

“Há quanto tempo está nos observando?” Zelgadis perguntou com um sorriso irônico.

“Desde o início da luta com Rahannim.”

Eu me recuperei logo depois que Lantz acabou com Vizea, e então começamos a cuidar de seus ferimentos. Quando terminamos, nós... Eu, Lantz, Sylphiel e Eris... Corremos para alcançar os garotos.

“Vrumugun apareceu também, porém nós o matamos de novo. Nenhum sinal ainda daquele mazoku da meia-face.” Zelgadis explicou.

“Ah, na verdade, Lantz cuidou dele.” corrigi.

“Lantz cuidou?” ambos exclamaram surpresos.

Lantz piscou para os dois e fez um sinal de positivo.

“Então só resta...”

Zelgadis lançou seus olhos sobre os cadáveres de berserkers e trolls espalhados ao nosso redor, eventualmente se virando para a figura imperturbável vestida de vermelho parada não muito longe.

“Ele... Suponho.” sussurrou com um tom não muito diferente de desespero.

Eu, no entanto, saquei minha espada curta sem fazer nenhum som e a pressionei contra as costas do nosso verdadeiro oponente...

“Não, acho que é hora de acabarmos com a farsa. Não concorda, Eris Vrumugun?”

“O quê?”

“Do que está falando, Lina?”

O resto do grupo se virou para nós duas.

“Há quanto tempo sabe?” ela perguntou.

Pensei que ela tentaria se fazer de boba por um tempo, mas não negou minha acusação. Em um movimento suave, Eris pegou a faca em seu cinto...

“Não faria isso no seu lugar.” avisei.

Porém Eris me ignorou, puxando sua faca da bainha e jogando-a de lado. Um pouco anticlimático, para ser sincera.

“Zelgadis, fique de olho no ‘Rezo’ ali. Me avise se tentar alguma coisa. Agora, quanto a você... Suspeitei de algo engraçado quando você e Lantz me atacaram na caverna.”

“Oh? Como assim?” ela enfiou as mãos nos bolsos e lentamente se virou para me encarar, sua atitude casualmente desafiadora.

“Quando a espada escorregou da minha mão, Zelgadis ouviu e veio correndo... Então por que Vrumugun não tentou pará-lo no caminho? Se tivesse lançado Sono em vocês dois e colocado aqueles rubis em suas testas, tinha que estar por perto. Tudo o que tinha que fazer era atrasar Zelgadis e seria o fim para mim. Nem precisaria enfrentá-lo. Um único feitiço de ataque à distância poderia tê-lo segurado tempo suficiente para fazer o trabalho. Então por que não se incomodou?”

“Tudo sugere que Vrumugun estava naquele túnel quando executou o feitiço da Marionete, entretanto não quando Zel veio correndo. Ou ele escapou por algum outro caminho, ou era na verdade um de vocês dois. E já que conheci Lantz antes de toda essa confusão...”

“Aqui...” disse Eris, apontando para o lugar entre as sobrancelhas onde o rubi de controle havia sido implantado. “Este é o lugar errado. Incorporar um rubi aqui não fará nada. Precisa colocá-lo um pouco mais alto, como o que coloquei em Lantz. O plano era colocar um em mim e fingir ser controlada para desviar suspeitas... O rubi mestre está embutido dentro do meu corpo, então nunca o encontrariam, mesmo se removesse minha bandana. E quanto àquele cara... Tudo o que tive que fazer foi lançar um pequeno feitiço de Sono. Ele nem viu isso chegando. Um completo idiota.”

“O quê?”

Ignorando a interjeição indignada de Lantz, Eris manteve sua atenção em mim.

“Então, o que me entregou no final?” perguntou sem qualquer preocupação.

“Foi ‘Rezo’ invadindo Flagoon com sua magia. Se Vrumugun tivesse nos encontrado e escapado de volta para fora, poderia tê-lo levado até nós sem problema. Além do mais, sua mira foi precisa demais. Não havia como ter identificado nossa localização entre as cavernas sinuosas e aquele eco louco... Isto é, a menos que um de nós estivesse sintonizado em seu comprimento de onda.” usei minha mão livre para apontar para o Sacerdote Vermelho, que seguia parado ali em silêncio. “Você tem um rubi na testa dele para controlá-lo também, certo? Aquela cópia de Rezo, o Vermelho.”

Não tinha certeza do porquê, contudo a única resposta de Eris foi um sorriso malicioso. Continuei pressionando.

“Agora que penso a respeito, havia outros sinais. Quando aquele cara aranha quis te comer, ‘Vrumugun’ ficou muito protetor... Acho que não revelou sua verdadeira identidade nem para seus próprios companheiros, hein?”

“O nome Erisiel Vrumugun não faz exatamente os lacaios correrem.” ela disse com um sorriso descarado. “Então eu coloquei um rubi na testa daquela cópia irracional para reunir capangas em nome do Lorde Rezo.”

Com isso, lançou um olhar quase ressentido para o chamado Rezo parado ali perto.

“Você sabe da cegueira do Lorde Rezo, tenho certeza. Aquele homúnculo foi criado como uma cópia de si mesmo para usar como cobaia para testar curas. Sua capacidade é tremenda, no entanto é inútil e irracional fora do meu controle.”

“Todavia, não importa quantos capangas enviei para pegá-los, vocês continuaram escapando por entre os dedos deles... Então fingi ser uma mera caçadora de recompensas, encontrei Zelgadis primeiro e o segui. Ainda que me nocautear na floresta e encontrar vocês certamente não fazia parte do plano... Mas se aquele homem, Gourry, não tivesse me pegado, eu teria explodido todos com o ataque do meu fantoche.”

“Quer tanto assim ser um figurão? O feiticeiro que superou Rezo, o Vermelho?” Zelgadis perguntou, seus olhos firmes em ‘Rezo’.

“Em parte. Porém mais do que tudo, eu...” ela disse, sumindo com um olhar distante. “O amava... O verdadeiro Lorde Rezo.”

O que... As suas palavras me deixaram perplexa.

E no meu momento de pausa, sua mão se moveu para dentro do bolso. Então puxou algo e jogou em mim com o polegar... Um rubi de controle!

Clink! Acertou em cheio na testa.

“O que...”

Aquelas palavras confusas não eram minhas; eram de Eris. Seu rubi tinha quicado em mim e caído aos meus pés.

“Desculpe.” falei, dando um sorriso malicioso enquanto apontava para minha testa com a mão esquerda. “Bandana especial.”

Era feita com os bigodes de um dragão negro e tinha um pequeno amuleto de joias tecido no forro. Estava posicionado no centro da minha testa para ajudar a concentrar meu espírito quando entoava, contudo eu tinha certeza de que era forte o suficiente para parar um golpe de espada, um de um guerreiro de terceira categoria, pelo menos. Não que eu fosse estúpida o suficiente para testar.

“Acabou, Eris. Apenas se entregue e retire a recompensa por nossas cabeças."

“Hah!”

Com movimentos mais rápidos do que antecipei, Eris saltou para longe do grupo.

Droga, Gourry! Faça alguma coisa!

“Isso não acabou! Venha até mim, meu fantoche!”

A escuridão vermelha se moveu, respondendo ao seu chamado, o chamado da feiticeira Erisiel Vrumugun.

Por que os bandidos sempre têm que ser tão teimosos? Se insisti tanto em uma luta, vou te dar uma. Isso poderia complicar as coisas quando se tratasse de retirar as recompensas por nossas cabeças, no entanto era a maneira mais rápida de acabar com essa confusão.

A cópia de Rezo silenciosamente assumiu uma posição atrás de Eris e um pouco ao lado. O cajado em sua mão tilintou. Eram dois contra cinco.

“Não será tão fácil quanto pensa. Estamos no meio de Sairaag. Se usar as pessoas aqui como reféns, você não terá poder para me vencer!” Eris declarou com um rosnado, propondo casualmente crimes de guerra como a vilã de terceira categoria que era. “E mesmo que esse boneco seja apenas uma cópia ruim, segue tendo uma capacidade incrível. Se controlá-lo direito, seu grupinho não será páreo para nós!”

“Não existe ‘nós’.” disse uma voz inesperada.

“O quê...?” Eris engasgou em um sussurro atordoado.

Zing! Uma explosão de energia disparada por ‘Rezo’ a atravessou.


“Ah...” Eris olhou para o buraco aberto em seu estômago em descrença, então para o rosto de Rezo, então de novo para si mesma.

“É tão incomum para um homúnculo adquirir autoconsciência? Suponho que você acharia surpreendente... Mas deveria saber que isso veio a mim durante um experimento que você mesma participou.”

“Ngh...” Eris gemeu. Seus joelhos tremeram.

“Com minha capacidade e autoconsciência, não tenho razão para ser seu brinquedo. Não achou suspeito que Vizea se uniu tão prontamente? Tais seres só servem aqueles com quem fizeram um pacto, ou aqueles que possuem poder mágico superior. Aquele parecia ter um contrato com Rezo, porém... Nenhum mazoku nos confundiria só porque temos a mesma aparência e sangue correndo em nossas veias. Não, ele estava me servindo. E, claro, posso remover essa coisa patética a qualquer momento que quisesse...”

Nesse momento, ‘Rezo’ pegou o rubi de controle em sua própria testa, agarrou-o sem cerimônia entre seu polegar e indicador brancos de porcelana e o esmagou sem esforço.

“A informação que forneceu foi bastante útil, então decidi te dar uma chance por um tempo, contudo... Oh, querida.”

Eris caiu mole em direção ao chão como se estivesse exaurida de suas forças, no entanto Rezo agarrou sua cabeça com firmeza em sua mão. Podíamos ouvir um leve rangido, mesmo de onde estávamos. Um pequeno e fraco grito saiu da boca de Eris.

“Tenha cuidado... Está quase desmaiando, entretanto temo que minha triste história não acabou. Já percebeu o que tenho tentado fazer? De fato, é tudo sobre vingança. Fui criado como uma cobaia para as tentativas de Rezo de conceder a si mesmo a visão. Todavia os métodos que restauraram minha visão facilmente falharam em fazer o mesmo por ele.”

Foi por causa da força do selo que foi colocado em seus olhos, mas Rezo não sabia disso na época. Não parecia que o ‘Rezo’ diante de nós agora sabia dessa informação também. Porém eu sabia, e me ocorreu... Era estranho que esse ‘Rezo’ mantivesse os olhos fechados também. Deveria conseguir enxergar se o que estava dizendo era verdade.

“Rezo nunca deixou transparecer, todavia seu fracasso o enfureceu, e este redirecionou todo seu ódio virulento para mim. Por que, afinal, poderia dar visão com tamanha facilidade a um clone feito de sua própria carne e sangue, enquanto o próprio permanecia cego? Quem não ficaria furioso com uma coisa dessas? E ele me puniu por isso. Em vez de declarar meu propósito cumprido, continuou a me usar para outros ‘experimentos mágicos’.”

“E durante um desses ‘experimentos’ que você mesma participou, minha autoconsciência despertou. Claro, não posso dizer com certeza que sou movido por uma vontade de toda minha... Porém se estou consciente, acredito que é natural que seja movido por uma aversão a Rezo pelo que fez comigo.”

Eu não sabia dos detalhes, contudo parecia que o verdadeiro Rezo tinha colocado sua cópia no espremedor. No entanto Rezo estava morto agora, e se só queria vingança de Eris... De Vrumugun, não havia necessidade de criar uma trama tão complicada...

“Cheguei a sonhar em matar Rezo com minhas próprias mãos. Tinha certeza de que conseguiria. Só que antes de ter minha aguardada chance, Rezo desapareceu. Então...” o homúnculo disse com um suspiro triste. “Descobri que Rezo foi morto. Consegue entender, Erisiel? O desespero que senti, sabendo que nunca seria capaz de matar Rezo com minhas próprias mãos?”

“Todavia, enquanto me revirava com minha dor, você entrou no meu quarto e me disse... Que queria me usar para vingá-lo. Então, enquanto chamava o nome dele e chorava em meus braços, um plano começou a se formar na minha cabeça. Claro, pretendia matá-la cedo ou tarde também por seu papel naqueles experimentos miseráveis... Erisiel? Está ouvindo?”

Após um breve silêncio, ‘Rezo’ soltou a cabeça de Eris como se a jogasse para o lado. Seu corpo caiu sem vida no chão com um baque.

“Ela se foi.” ele declarou num tom claro, enquanto fazia um movimento de encolher de ombros.

“Então... Isso acabou agora, certo?” Gourry perguntou, sua expressão dolorida. “Apenas rescinda a recompensa e pronto.”

“Vamos, por que o faria?” Rezo perguntou com um olhar interrogativo. “Minha vingança contra Rezo ainda não está completa.”

Imaginei que fosse o caso...

“E nunca estará. O verdadeiro Rezo está morto.” Gourry rebateu.

Mas ‘Rezo’ apenas sorriu.

“Sim, estou ciente. Não espero lutar contra um homem morto... Só que ainda há uma maneira de provar que sou superior.”

“Lutando e derrotando as pessoas que o mataram. Nós.”

“Exatamente.”

Que bela má notícia. ‘Rezo’ teve a chance de nos destruir e a Eris quando o enfrentamos na Floresta Miasma. Se já tinha livre arbítrio todo esse tempo, podia ter nos atingido antes que eu desfizesse meu feitiço de Levitação e nos explodido todos juntos.

A razão pela qual não o fez foi provavelmente porque queria lutar contra nós da melhor forma possível. Eu havia errado no momento dos meus feitiços e, além do mais, estava preocupada em proteger Lantz e Eris. Nos derrotar em um estado comprometido como aquele não teria provado que era superior. Talvez fosse esse o seu empecilho na época, contudo agora era temporada de caça.

“Bobagem...” Zelgadis murmurou. “Espera mesmo que a gente entre nessa?”

“Achei que poderiam se opor, e entendo completamente. É por esse motivo que não posso retirar suas recompensas. No entanto, se me derrotarem não haverá ninguém para pagar, e assim estarão livres.” ele disse de uma forma provocadora, batendo seu cajado tilintante contra o chão com firmeza. “Agora... Vamos começar?”

Zelgadis se moveu primeiro, erguendo sua espada larga e atacando. Quando a balançou, ‘Rezo’ só deslizou para a direita, girando enquanto sua capa vermelha flutuava no ar.

Clack. Houve um som abafado, e os dois homens se distanciaram de novo. Rezo usou um chute giratório para desviar da lâmina que se aproximava, então continuou com seu impulso em um segundo chute mirado na têmpora de Zelgadis. Ele conseguiu se esquivar, mas...

“Só pode estar brincando...” Zel respirou, sua expressão tensa.

Ele se aproximou de ‘Rezo’, então atacou em um piscar de olhos no momento em que baixou a guarda. Um som alto e claro soou dessa vez. Rezo bloqueou o golpe de Zelgadis com seu cajado, então o girou em sua mão para acertar Zelgadis no estômago.

“Gwuh!”

O golpe pareceu sem grande poder, porém fez Zel voar. ‘Rezo’ se deixar exposto tinha sido uma armadilha, ao que parecia.

Espera aí... Esse cara pode realmente ser um problemão!

“Gostaria que viesse até mim com tudo o que tem.” implorou quase envergonhado.

“Posso pedir um duelo, então?” Gourry perguntou, embainhando a Espada da Luz e arrancando uma espada larga do chão, talvez de um dos berserkers caídos.

“Preferiria que não.” disse a cópia do Sacerdote Vermelho educadamente, balançando a cabeça.

“Ele quer que você use a Espada da Luz, cara!” expliquei para o surpreso Gourry piscando.

“Ela está, claro, certa.”

“Tch...” Gourry resmungou em aborrecimento, então jogou de lado a espada que tinha acabado de pegar.

“E-Espere um minuto...” Zelgadis disse enquanto se levantava. “Ainda não terminei. Não conseguiria viver comigo mesmo se recuasse agora.”

“Vá em frente, então. Um de vocês ou os dois. Todos os três, se quiserem.”

“Cale a boca!” Zelgadis gritou enquanto tornava a atacar.

Contudo ‘Rezo’ bloqueou todos os golpes de espada e feitiços que Zel conseguiu lançar em seu contra com um único golpe de seu cajado. Esse cara era apenas... Incrível. Nem tinha tomado a ofensiva ainda. Mesmo se todos nós fôssemos atacá-lo de uma vez, mesmo se nos desse uma desvantagem... Não havia como levarmos a melhor nessa luta.

No entanto, ao mesmo tempo, se jogasse fora meus limitadores e o acertasse com meus grandes feitiços, Sairaag seria mais uma vez conhecida como a Cidade dos Mortos.

E então...

“Senhorita Lina.” Sylphiel disse num tom calmo e baixo, parecendo ter se aproximado de mim em algum momento. “O Mestre Zelgadis mencionou... Que você tem uma magia chamada Giga Slave, certo?”

Meu Giga Slave? Vamos lá, Zelgadis! Não saia por aí fofocando sobre isso!

Dragon Slave era considerado o feitiço de ataque definitivo, pois invocava o Lorde das Trevas Olhos de Rubi Shabranigdu que reina sobre todo o caos em nosso mundo. É claro, como uma feiticeira gênio primorosa, sou um dos poucos selecionados que podiam usá-lo. Giga Slave era semelhante, embora invocava o poder do Senhor dos Pesadelos, o lorde das trevas sobre todos os lordes das trevas, soberano do tempo e do vazio das estrelas. Era um feitiço extremamente poderoso, mas também de altíssimo risco. Se eu falhasse em controlá-lo da maneira correta, sugaria toda a minha energia vital e... Poof! Nada mais de Lina.

“Não deve usá-lo!” alertou Sylphiel.

“E-Ei, vamos... Não aja como se eu fosse algum tipo de viciada em feitiços de ataque que não consegue se conter! Nunca usaria um feitiço como esse no meio de uma cidade! Até eu sei melhor...”

“Não, não é o que estou querendo dizer.” interrompeu Sylphiel com força. “Estou implorando. Nunca mais use esse feitiço.”

Meus olhos se arregalaram com essas palavras.

“O-O que você está...”

“Esse feitiço... Sabe o que vai acontecer se perder o controle?”

Se sei, ela pergunta! Bem, até onde sabia, sou a única pessoa que já tinha lançado essa maldita coisa... O que significava que ninguém nunca tinha realmente perdido o controle dela antes. Então, pensando dessa forma, não posso dizer que sabia com certeza o que aconteceria.

“Acho que vou morrer.”

“Muito pior do que isso. Se minha profecia for verdadeira, então... Acredito que possa destruir o mundo.”

Destruir... O mundo? Fiquei pasma.

“Certamente você conhece a habilidade de oráculo de uma sacerdotisa, não é?”

Assenti em resposta a sua pergunta. Era a habilidade de se comunicar com deuses, ou seres mais ou menos nesse nível, e aprender coisas além do conhecimento humano normal. O que, sim, soa como uma habilidade muito útil, porém na verdade, não havia controle sobre como funcionava. Nem mesmo a própria sacerdotisa tinha ideia de quando, onde ou como poderia receber suas inspirações divinas.

Veja, as profecias recebidas nem necessariamente se relacionavam com qualquer problema com o qual você estivesse lidando no momento. Para um exemplo extremo, digamos que você é uma sacerdotisa estressada sobre uma conspiração que pode destruir seu reino. Pode rezar o quanto quiser e não obter nada, apenas para encontrar seu ser divino escolhido de repente te sussurrando enquanto está sentada conferindo o preço dos rabanetes. (Como disse, isso é extremo, contudo deu pra entender o que quis dizer.)

Mesmo profecias que parecem inúteis, no entanto sempre se tornariam realidade. Então, se Sylphiel disse que o mundo seria destruído, então seria.

“Essa magia cria um portal que permite que o vazio entre em nosso mundo e lhe dá o poder de aniquilar a maioria das coisas. E se liberado, o vazio pode encarnar aqui usando o conjurador, você, como um nexo. Sei que parece estranho falar sobre o vazio encarnado... Mas isso atrairia tudo para si.”

Atrair tudo para si? Sylphiel disse como se não fosse nada... Porém foi... Sim, é algo muito sério. A gravidade de toda a situação me manteve em silêncio.

Ainda assim, não havia sentido em me estressar com essas informações no momento. Não iria conjurar o Giga Slave aqui e agora de qualquer maneira.

“Não se preocupe. Não vou usá-lo.”

Depois de dar a ela aquela promessa superficial (uma especialidade de Lina!), voltei minha atenção para a luta em andamento entre Zel e ‘Rezo’. Os ombros de Zelgadis estavam arfando enquanto avaliava seu oponente, que estava à sua frente sem um fio de cabelo fora do lugar. Zelgadis não era fraco, veja bem. Nem perto disso, era só que... ‘Rezo’ era apenas muito forte.

“Maldição!” Zelgadis gritou, jogando sua espada de lado para começar um cântico.

Espere! Aquele feitiço...

“Sim, bom... Não seria certo se não tentasse esse feitiço.” Rezo sussurrou alegre.

Vocês estão loucos?

Uivo Vrave era um feitiço que transformava um pedaço de terra em um fluxo de lava fervente. Estávamos atrás de Zelgadis e era um ataque direcionado, então não era como se fosse nos atingir com ele, porém causaria sérios danos ao trecho de Sairaag atrás de ‘Rezo’. Mesmo que não arrasasse uma parte da cidade por completo, ainda teríamos um incêndio enorme em nossas mãos.

“Você perdeu a cabeça, Zel?” gritei. “Não sabe o que isso fará com a cidade?”

Meu apelo fez Zel voltar a si, que rapidamente recuou. Contudo ‘Rezo’ parecia desapontado com esse desenvolvimento.

“Hmm, que problemático... De fato preciso que me ataque com tudo o que tem, ou não fará sentido derrotá-los.”

Foi uma declaração ousada, no entanto não era apenas conversa fiada. Sua capacidade parecia ser maior do que a minha, e suas habilidades de combate estavam pelo menos no mesmo nível das de Gourry.

“Já sei... Vamos tentar isso.”

Com uma expressão como a de uma criança que acabou de ter uma grande ideia, ‘Rezo’ bateu seu cajado contra o chão.

...”

Um feitiço estranho que nenhuma pessoa normal poderia pronunciar e que mal reconheci como palavras escapou de seus lábios. No instante seguinte...

Com um som duro e seco, finas paredes de magia brilhante se ergueram para envolver nós cinco e ‘Rezo’.

“O-O que ele está fazendo?” Lantz entrou em pânico.

“Simplesmente me desfazendo das suas amarras. Você e a senhorita Sylphiel serão as testemunhas da nossa verdadeira batalha.”

D-De jeito nenhum! Ele não pode estar...

...”

Mais palavras estranhas passaram pelo vento.

“Por favor! Pare!” gritei.

Entretanto quando o chamei, ‘Rezo’ completou seu feitiço.

!”

Seu cajado foi erguido no alto, e então... Tudo fora de sua barreira foi engolfado por uma luz brilhante. Um estalo suave soou da Lâmina Abençoada nas mãos de Lantz.

“O que...”

“O quê? O que houve?”

“O que está acontecendo?”

Todos os outros estavam gritando, todavia em meio a toda a confusão, ‘Rezo’ e eu apenas nos encaramos em silêncio. Nós éramos os únicos dois que sabíamos o que tinha acabado de fazer. Em um instante, ele tornou Sairaag digna de seu antigo homônimo... A Cidade dos Mortos.

Foi Sylphiel quem gritou primeiro quando a luz desapareceu e pudemos ver ao redor outra vez. A onda de energia deixada pelo ataque seguia causando estragos na cidade. A barreira cortou todo o som do lado de fora, mas podíamos ver a destruição se agitando.

Rochas do tamanho do tronco de uma pessoa voaram como pedaços de papel, batendo em outras rochas e explodindo. Não conseguia ver muito longe através de toda a poeira e detritos, porém até mesmo a energia persistente no final do feitiço falava de um poder destrutivo que excedia um Dragon Slave. O que significava que Sairaag... Aquela primeira onda de luz deve tê-la apagado do mapa.

“Impossível...” Zelgadis sussurrou roucamente.

Sylphiel desmaiou, e Lantz correu para segurá-la.

Quando a poeira do lado de fora da barreira começou a baixar, a visão exata que eu temia apareceu: um deserto árido.

Poucos minutos atrás, Sairaag era uma cidade vibrante cheia de pessoas sorridentes e felizes vivendo suas vidas. Agora tudo se foi como se nunca tivesse estado ali. Só restava uma coisa: Flagoon. Despojada de sua espessa cobertura de folhas e galhos, agora parecia mais um poste enorme cravado na paisagem desolada do que uma árvore. Contudo, de alguma forma, ela havia sobrevivido à explosão.

“Isso talvez tenha sido excessivo... E me cansou um pouco... No entanto agora vocês podem lutar comigo sem reservas.” disse a cópia do Sacerdote Vermelho com calma.

“Você ao menos percebe... O que acabou de fazer?” sibilei.

Em resposta, ‘Rezo’ abriu um sorriso caloroso.

“É claro... Apenas não me importo. Minha única preocupação é banir o espectro de Rezo, o Sacerdote Vermelho, da minha mente. E vou conseguir quando derrotar vocês enquanto lutam comigo com tudo o que tem.”

“Nesse caso...” falei, apontando diretamente para ele. “Vou te derrotar do jeito que quer... Com tudo o que tenho!”

Lá, juntei meus dedos na frente do meu peito e comecei um encantamento sombrio.

“Um Dragon Slave!” exclamou Rezo com alegria antes que mais palavras estranhas saíssem de seus lábios.

Ele provavelmente estava tentando nos explodir antes que eu pudesse terminar meu feitiço... Contudo não vou deixar isso acontecer!

Tu que és mais sombrio que o crepúsculo,

Tu que és mais vermelho que o sangue,

Juro em teu nome exaltado

Obscurecido, nas profundezas do fluxo do tempo...

Faço esta promessa à escuridão aqui...

Então todos aqueles em igual medida...

Tolos que ousam bloquear nosso caminho...

Enfrentarão a destruição sem restrições

Conceda-me poder e liberte o seu!

Meu canto, falado em palavras de caos, distorceu as leis de causa e efeito. Ele seria liberado com uma pedra angular fina, uma palavra de poder, usando meus gestos e meu espírito como intermediários.

Aqui vai!

“Dragon Slave!”

!”

Nós completamos nossos feitiços ao mesmo.

Droga! Nós vamos nos matar!

No entanto, justo quando pensava... Uma curiosa névoa vermelha apareceu na área ao redor de Rezo onde a explosão do meu Dragon Slave deveria ter ocorrido. Ela flutuou ao redor de Rezo por um momento, então começou a desaparecer... E foi tudo.

‘Rezo’ então explicou em voz baixa.

“Matar um ao outro tornaria tudo isso inútil... Então escolhi bloquear seu Dragon Slave.”

Não conseguia nem me mover. Isso era absurdo! Esse feitiço poderia derrotar um mazoku de nível razoavelmente alto. Para qualquer mero humano, mesmo o maior dos feiticeiros, não deveria haver maneira de bloqueá-lo.

E ainda assim, com facilidade, ele...

“Não fique tão surpresa.” a cópia do Sacerdote Vermelho disse sem se alterar. “O Dragon Slave invoca o poder de Olhos de Rubi Shabranigdu. Apenas invoquei o mesmo poder para bloqueá-lo. É uma equação simples.” sua fala foi tão casual, como se estivesse compartilhando uma receita fácil de lanche da noite.

Fazia sentido em teoria, todavia... Resumindo, o Dragon Slave exigia toda a sua capacidade mágica. O que significava que mesmo se dois conjuradores invocassem o Lorde das Trevas, o conjurador defensor ainda teria que ter o poder maior.

“Agora...” ele disse, preparando seu cajado sem pressa.

!”

Enquanto entoava, ‘Rezo’ de repente varreu seu cajado para a direita. Zzzing! Houve uma explosão de movimento. Não sei quando fez aquilo, mas Gourry tinha se aproximado de ‘Rezo’ e estava no alcance do ataque. Porém ‘Rezo’ bloqueou a Espada da Luz com seu cajado mágico.

“Você será o próximo, não é?” a cópia do Sacerdote Vermelho perguntou, seu rosto tenso.

Então houve um lampejo de luz prateada e uma espada perfurou sua capa vermelha... Contudo ‘Rezo’ já havia jogado seu manto de lado e pulado para a segurança a alguma distância, mais perto de Flagoon.

“Eu também vou participar, se não se importar.” disse Zelgadis, o atacante, com um sorriso.

Quem ataca alguém por trás? É o que os bandidos fazem! Por outro lado, quando seu oponente pode acenar para um Dragon Slave, lutar de maneira honrada talvez não seja a estratégia mais sábia...

“Zelgadis!” Gourry gritou em tom de repreensão.

“Mestre Gourry... Acho que pode estar tendo uma ideia errada.” disse Zel, seu olhar fixo na cópia do Sacerdote Vermelho. “Não podemos derrotar esse cara em uma luta justa um contra um. Não temos chance.”

“Mas...”

“De qualquer forma, venham até mim juntos.” o homem de vermelho convidou. “Vai deixar as coisas mais interessantes para mim também. E você? Quer participar também?”

Balancei minha cabeça em resposta. Ninguém mais vai dizer isso, então eu vou. Posso ser um usando uma espada... Talvez até pudesse derrotar uma dúzia de espadachins novatos de uma vez, no entanto não sou Gourry ou Zelgadis! Se me juntasse a esses dois em uma luta de espadas, apenas os atrasaria. Certo, mesmo lançando feitiços da linha lateral como um bom feiticeiro, ainda posso acabar acertando um dos dois se não tomasse cuidado.

“Nah. Prefiro me concentrar em lutar de forma inteligente.”

“Como quiser. Nesse caso...” ele se virou para encarar os outros dois outra vez.

Claro, isso não significa que vou só me sentar e assistir à batalha. Já estava trabalhando em vários planos na minha cabeça. Não que algo na verdade estivesse me vindo à mente...

Se esse cara conseguia parar um Dragon Slave, a única coisa que tinha chance de derrotá-lo era meu Giga Slave. É provável que ‘Rezo’ nem saiba que tal feitiço existe. Mesmo que tentasse bloqueá-lo da mesma forma de novo, deveria ser mais do que suficiente para derrotá-lo.

Ainda assim, Sylphiel implorou para que não o usasse antes... E, sim, claro, ela estava desmaiada agora e não saberia desse pequeno deslize. Porém um sermão de uma sacerdotisa não era realmente o que eu temia no momento.

Enquanto pensava sobre as coisas, a luta continuou. Rezo bloqueou o golpe de Gourry, desviou o feitiço de Zelgadis e saltou para trás.

!” ele uivou.

Hraaah! Um grito estranho ecoou pelo ar como se ressoasse com sua voz. ‘Rezo’ enfim partiu para a ofensiva. Ele foi imediatamente envolvido por uma dúzia de orbes de luz, cada uma do tamanho do meu punho.

Um arrepio percorreu minha espinha. Aquilo ali era... Uma Bomba Explosiva?

Até onde sabia, havia apenas um feiticeiro na história que podia usar esse feitiço: o antigo sábio Lei Magnus, que também era o criador do Dragon Slave. Passei algum tempo estudando esse feitiço também, contudo este se provou estar além de mim. Consegui chegar ao ponto de lançar um monte de pequenas bolas de fogo que explodiram com o impacto, só que o poder que conseguia reunir com elas era trivial. De acordo com a lenda, cada orbe deveria ser várias vezes mais destrutivo do que uma Bola de Fogo comum.

“Nada bom! Corram!” gritei assim que ‘Rezo’ liberou seus orbes.

Os rapazes se afastaram, contudo não rápido o suficiente! Houve vários clarões quando as bolas de luz explodiram. As chamas carmesim engolfaram os dois.

Dei um grito sem voz. Foi um golpe direto... Eu podia sentir meus joelhos tremendo.

Gourry... Zelgadis...

Em pouco tempo, a fumaça e as chamas diminuíram, e... Lá estavam os dois, parecendo chocados, no entanto ilesos.

“Hmm...”

Sem graça, ‘Rezo’ virou seu olhar para mim. Não, além de mim!

“Não tenho o poder para te matar... Entretanto posso fazer isso.” alguém sussurrou.

Eu me virei para ver quem era, e...

“Sylphiel!”

Ela se recuperou do desmaio e lançou um feitiço defensivo nos garotos antes que fossem atingidos. Deve ter sido um feitiço poderoso também. Seus ombros estavam arfando pelo esforço.

“Sir Gourry! Mestre Zelgadis! Vinguem Sairaag... E meu pai! Agora, antes que ele quebre a barreira!”

“Entendido!”

“Certo!”

Os rapazes, por fim entendendo a situação, atacaram ‘Rezo’ imediatamente.

Zelgadis chegou perto e lançou um feitiço, que o Sacerdote Vermelho desviou com um golpe de sua mão esquerda infundida com magia. No instante seguinte, a Espada da Luz de Gourry desceu em sua direção e ‘Rezo’ a bloqueou com seu cajado. Zel fez uma jogada com sua espada larga e ‘Rezo’ girou com grande agilidade para evitá-la. Ele então desviou o próximo ataque de Gourry enquanto executava um chute giratório perfeito que acertou a mão de Zelgadis e arrancou sua espada dela.

Gourry aproveitou a oportunidade para atacar, mas ‘Rezo’ mais uma vez pegou a Espada da Luz com seu cajado. Mesmo desarmado, Zelgadis não cedeu! Lançando-se direto para ‘Rezo’, e no momento em que suas silhuetas se cruzaram...

“Ngh!”

Ouvi um pequeno gemido quando vi um lampejo e então Zelgadis saiu voando. Porém...

“Heh...”

Zel estava sorrindo enquanto se levantava. Não sei onde a escondeu, contudo sua mão segurava uma espada curta que agora estava manchada de vermelho.

‘Rezo’, sangrando pelo flanco, encarou-o com raiva quando...

O pé direito de Gourry encontrou seu queixo. O Sacerdote Vermelho deu uma cambalhota e caiu no chão, com Gourry bem em cima. Ele montou em seu oponente caído, um pé em cada braço do sacerdote e a Espada da Luz erguida. ‘Rezo’ agora estava completamente sujeito à sua misericórdia. Não podia usar as mãos, e mesmo se tentasse jogar Gourry para longe, a Espada da Luz ainda desceria e o mataria.

Parecia que a luta tinha acabado... E eu não tinha levantado um dedo.

“Mate-o, Gourry!” Zelgadis gritou.

No entanto o homem não ouviu.

“Você jura rescindir a recompensa por nós e nunca mais vir atrás de nós?” Gourry exigiu, mantendo sua posição.

“Não lhe de uma chance! Mestre Gourry!” Zelgadis gritou criticamente.

“Você é muito forte... Ou era. Mas não gosto de lutar contra homens indefesos, então não quero te matar se puder evitar.”

“Tolo ingênuo...” Zel cuspiu.

“Eu...” Rezo disse, ainda preso. Gourry estava bloqueando minha visão, então não consegui ver a expressão do cara. “Sou bem mais forte do que imagina...”

Espere, havia um eco em sua voz? Bem quando pensava nisso...

Gourry saltou para trás gritando. Ele pulou o mais longe que pôde e pousou... Não, caiu, desajeitadamente. Respingos de vermelho mancharam o chão ao seu redor. Pude ver dois cortes verticais se estendendo de seus ombros até suas coxas.

O que no mundo...

“Sim, veja...” o sacerdote disse enquanto seu corpo começou a emitir uma escuridão trêmula.

“O quê?” Zelgadis quase gritou.

“Vejam o que Rezo, o Sacerdote Vermelho, fez comigo...”

Lantz, que ainda estava apenas observando, soltou um grito, enquanto Sylphiel engasgou.

Olhei. Para o rosto de Rezo... Seu verdadeiro rosto. Seus olhos, fechados todo esse tempo, estavam enfim abertos.

Eu nem deveria dizer ‘olhos’... Pois dentro de suas órbitas abertas havia fileiras de pequenas cristas brancas revestindo uma escuridão carmesim da qual chicotes escarlates cresciam. Devem ter sido aqueles que cortaram Gourry. Levei um minuto para perceber que eram línguas. Então, o que deveriam ser olhos eram na verdade duas cavidades cheias de pequenos dentes, que agora estavam desenhados em forma de sorrisos.

Para dar-lhe visão, eu acho, um grande e solitário olho azul estava verticalmente no centro de sua testa, agora visível com seu capuz removido.


“Sim, o Sacerdote Vermelho Rezo e a feiticeira Vrumugun...”

“Foi isso que eles fizeram comigo... Fundiram meu corpo com um mazoku...”

“E por meio desse experimento, me tornei autoconsciente... Que irônico...” suas três bocas falavam em rotação.

“Minha fusão com um mazoku despertou minha consciência?”

“Ou minha vontade é apenas a do mazoku?”

“Temo que nem eu saiba...”

O Sacerdote Vermelho cego, enfurecido com seu homúnculo que encontrou a luz tão facilmente, fundiu a cópia não consciente com um mazoku. Por raiva. Por despeito. Ou talvez até por uma diversão distorcida. Isso explicava por que essa cópia-Rezo podia lançar feitiços tão incríveis. Tudo o que fez estava dentro da capacidade do mazoku fundido em seu corpo.

Lembrei-me do que Sylphiel disse sobre a chegada de Rezo acelerar o crescimento de Flagoon. Agora que penso sobre, seria preciso algo grande para fazer a árvore crescer tão rápido... E, como criaturas das trevas, os mazokus eram como fontes infinitas de ódio. O miasma que produziam era justo o tipo de coisa que a árvore comia.

Mas nesse caso...

Recuei devagar para ficar ao lado de Sylphiel.

“Sylphiel...” sussurrei para ela. “Vou acabar com esse cara... Para vingar sua cidade e seu pai.”

———

“Agora... Abram caminho para a verdadeira estrela do show.” falei enquanto caminhava para frente. “Lantz, cuide de Gourry. Esses ferimentos não devem ser fatais, então não se preocupe muito.”

Então preparei a Lâmina Abençoada, que peguei emprestada de Lantz. O dano à árvore deve ter cobrado um preço, já que rachaduras finas visíveis agora atravessavam a espada de prata. Lancei um olhar para Flagoon, visível à minha esquerda.

Aguente firme, Gourry. Vou terminar isso em breve.

“Esta será uma batalha de magia, não?” Rezo sorriu calmamente. “Devo avisá-la, não será fácil... Em troca do fardo deste corpo nojento, adquiri a capacidade mágica e as técnicas de um mazoku.”

“Ei, não saberemos até tentarmos, certo? Vamos fazer isso, Zelgadis.”

“Certo.” ele respondeu enquanto jogava sua espada curta ensanguentada de lado. Agora que sabíamos que Rezo estava fundido com um mazoku, armas mundanas não valiam de nada.

“Lina!” Gourry chamou através de uma tosse, segurando a Espada da Luz. “Você não... Precisa disso?”

“Dê para Zelgadis.” falei, segurando a Lâmina Abençoada em uma postura pronta para a batalha. “Estou usando esta.”

“Entendi.” Gourry respondeu com um sorriso brilhante enquanto jogava a espada para Zel.

“Todos os seus preparativos estão completos, então?” Rezo perguntou.

Zel e eu assentimos resolutamente.

!”

As três bocas de Rezo entoavam versos diferentes ao mesmo tempo. O que explicava como estava lançando feitiços em uma língua desumana. Encantamentos compostos, apoiados pela capacidade mágica de um mazoku...

Todos nós pulamos. Naquele instante, plasma azul correu pelo chão. Se não estivéssemos no ar, com certeza teria nos atingiria. No momento em que pousamos, terminei meu canto.

“Goz Vu Row!”

Sombras negras correram pelo chão em direção a Rezo. Se o atingissem, danificariam sua forma astral. Nem mesmo ele poderia ignorar um golpe desses.

“Fútil!”

Seu cajado foi brandido outra vez, pronto para banir as sombras como fez antes. Mas eu não ia deixar tornar as coisas tão fáceis!

Estalei meus dedos e balancei minha mão esquerda amplamente. As sombras mudaram de trajetória de acordo com meu controle. Um Goz Vu Row era um feitiço direto que se movia em uma linha... Porém se entendesse de verdade o encantamento, poderia fazer algumas alterações para efeitos como este.

“O quê?” Rezo pulou para trás em pânico. As sombras continuaram a persegui-lo.

!”

Ele conjurou seu feitiço e traçou um amplo arco no chão com a ponta de seu cajado. No instante em que as sombras o tocaram... Fshhh! Elas desapareceram no ar.

E enquanto tudo acontecia, Zelgadis se jogou em Rezo. A Espada da Luz disparou em sua direção, e ele se esquivou, parecendo ileso. Contudo então...

A lâmina da Espada da Luz disparou de seu cabo direto em direção a Rezo! Zelgadis então começou a atacar enquanto uma nova lâmina se formava em seu lugar. Seu plano era cortar o Sacerdote Vermelho enquanto derrubava a primeira lâmina com seu cajado!

“Tch!”

No entanto Rezo afastou a lâmina mágica que se aproximava com sua mão, então balançou seu cajado em Zel! Whunk! Zelgadis levou o golpe de frente e foi lançado voando.

Quase me esgueirei em volta de Rezo e terminei um encantamento neste ponto, entretanto fui notada e um contrafeitiço foi entoado.

“Dinastia Blas!” ataquei primeiro.

Um raio atingiu os cinco pontos de um pentagrama, simbolizando a purificação do mal, que se formaram ao redor de Rezo. Eletricidade de todos os ângulos o atacou de uma vez.

Seu cajado foi erguido enquanto entoava, e quando o fez... Shing! Ele se quebrou em pedaços de forma audível.

É bem provável que houvesse algum tipo de magia própria, todavia meu feitiço de ataque junto com o feitiço defensivo de Rezo juntos colocaram muita pressão no cajado. E uma vez que foi feito, um raio atingiu Rezo de frente!

“Gwaaaah!” as três bocas uivaram ao mesmo tempo.

Então o círculo de raios explodiu. Rezo havia quebrado meu feitiço com puro poder espiritual.

“Nada mal!”

Esquivando-se de um golpe rápido do recuperado Zel, Rezo saltou para trás, na direção de Flagoon, e começou um novo cântico.

Não tínhamos ideia de qual feitiço era, então nossa única opção segura era fugir. Mas esse correria pelo chão também ou viria do ar? Se escolhêssemos o movimento errado, estaríamos mortos.

Ugh! Decidi ficar no chão, resignando-me ao pior. Sem saber nada sobre a personalidade desse Rezo, não tinha uma boa leitura dos seus movimentos. Só pude seguir meu instinto.

!”

O Sacerdote Vermelho completou seu feitiço e levantou as duas mãos no ar. Seu corpo brilhava com uma luz branca brilhante.

Nem tive tempo de gritar. Zel e eu fomos consumidos pela luz que foi conjurada. E quando ela desapareceu... Eu estava de joelhos. Zelgadis estava em uma posição semelhante. Gourry e Lantz estavam nos olhando preocupados, então levantei a mão para mostrar que estávamos bem. Não consegui ver nenhum sinal de Sylphiel. Deve ter se movido enquanto lutávamos. Agora, a questão era se conseguiríamos terminar isso...

Levantei-me trêmula, levantando a Lâmina Abençoada para Rezo. Flagoon estava visível logo acima de seu ombro.

“Tudo bem aí, Zel?” perguntei.

“Acho que sim... Porém ele realmente está...” Zelgadis respondeu, parecendo exausto pelo feitiço.

Parecia ser uma versão extrema do feitiço Lança Elemekia, que tinha como alvo o espírito do oponente em um ataque direto. E quando digo que era extremo, não quero dizer seu poder, e sim sua amplitude. O feitiço normal consistia em atirar como uma lança, contudo a de Rezo era como uma onda de luz. Seu efeito foi um pouco diluído, então precisaria de mais do que um golpe para nos incapacitar... Entretanto ainda desferiu um golpe sério em nosso poder mágico. Eu não usaria mais nenhum feitiço grande nesta luta.

Zelgadis estava no mesmo barco, como indicado pela Espada da Luz em sua mão.

A arma, cuja lâmina brilhante refletia a vontade de seu usuário, estava muito mais curta agora do que antes.

“De qualquer forma, vamos lá!” falei, correndo para longe. Sem outra escolha, Zelgadis correu comigo.

Sabia que se tentasse qualquer truque mesquinho, Rezo apenas os ignoraria. Poderíamos potencialmente matá-lo com a Espada da Luz e a Lâmina Abençoada, no entanto Rezo também provou que poderia nos derrotar em combate.

Passando rápido pelo Sacerdote Vermelho de ambos os lados, balançamos nossas espadas em sincronia. Rezo desviou das duas lâminas com facilidade e deu um chute giratório em Zelgadis. O garoto golem apenas desviou, e nos encontramos de volta na base da agora vazia Flagoon.

“O que está planejando? Bem, te conhecendo, pode ser não que tenha plano algum...” ele sussurrou baixinho.

“Ao meu sinal, acerte-o com todas as Bolas de Fogo que puder reunir e então mergulhe para o lado.”

“Tudo bem.” Zel concordou sem mais perguntas.

“Ok... Vamos lá!”

Comecei a correr de novo. Se pudéssemos acabar com Rezo aqui e agora...

“É hora de acabar com essa luta!” ele declarou, levantando as duas mãos.

“Zel!”

Bem na hora, ele enviou várias bolas de luz em direção a Rezo.

“Hahh!”

Com um balanço de sua mão esquerda, o Sacerdote Vermelho detonou todas elas no ar. Deve ter emitido um campo de pura magia para fazer as Bolas de Fogo explodirem de maneira prematura. Flashes de luz e fumaça obscureceram a área. Era óbvio se tratar de uma distração.

“Tal estratégia não vai funcionar!” Rezo gritou.

Sua magia armazenada em sua mão direita foi liberada na direção em que eu estava parada momentos atrás, então saltou para trás. Rezo deve ter percebido que não havia atingido nada, ou talvez tenha sentido minha presença, porque...

Ele se virou para olhar para trás. Mas era tarde demais! Eu já estava em posição.

Envolvi a Lâmina Abençoada no vento e a deixei voar. Isso a transformou quase em um dardo, que perfurou o coração de Rezo!

“Guh!”

A espada se cravou no sacerdote até a empunhadura, empurrando-o para trás e lançando-o contra Flagoon.

Enquanto estava ocupado com as Bolas de Fogo explosivas, usei um feitiço Lei Asa para voar sobre a cabeça do Sacerdote Vermelho e dar a volta pelas suas costas. Te peguei!

“Ainda não acabou!” Zelgadis gritou.

“Não vou deixar...” Rezo rugiu, agarrando a espada que o empalava.

Sua natureza demoníaca significava que não sentia nenhuma dor da Lâmina Abençoada se ela não estivesse em mãos humanas. Mas...

“Sylphiel!” gritei.

Sylphiel estava esperando atrás da Flagoon esse tempo todo, e finalmente era sua vez de fazer seu movimento.

Tha-thump! Flagoon pulsou, e Rezo soltou um grito que ecoou pelo deserto que agora era Sairaag. Ao meu sinal, Sylphiel lançou um feitiço em Flagoon. Um feitiço de cura.

Já falei sobre isso antes, contudo a Recuperação estimula a vitalidade natural de seu recipiente para maximizar seus poderes regenerativos. As células de Flagoon foram então ativadas uma por uma, e sua casca, galhos e folhas arrancadas começaram a trabalhar para se restaurar. Esse processo exigiu uma enorme fonte de energia, veja bem. Contudo, felizmente, havia um suprimento quase infinito de miasma por perto.

Em outras palavras... Rezo.

Flagoon agora estava se regenerando em grande velocidade. A casca de seu tronco retornou diante de nossos olhos e brotos verdes começaram a emergir ao longo do corpo. Num piscar de olhos, os brotos se transformaram em folhas e depois em galhos, que cresceram longos e fortes...

A luta de Rezo diminuiu gradualmente. O miasma que alimentava sua vitalidade demoníaca estava sendo drenado, consumido pela árvore. Tudo o que lhe restava era sua vitalidade humana. E com aquela espada atravessada em seu peito...

Blugh. Ele cuspiu um bocado de sangue vermelho.

“C-Como...” sussurrou enquanto se contorcia. “Como... Eu... perdi? Por que não pude... Superar... Rezo?”

“Você não sabe?” perguntei.

O sacerdote ficou em silêncio por um tempo.

“Estive... Fixado somente nele. É por isso que... Nunca pude superá-lo...”

“Isso mesmo.”

As folhas verdes de Flagoon farfalhavam ao vento. Rezo tossiu outro bocado de sangue.

“Que nome quer na sua lápide?” Zelgadis perguntou.

“Não... Preciso de um...” ele respondeu com um leve sorriso. “Deixe esta árvore... Marcar meu túmulo...”

E com essas últimas palavras, Rezo soltou um último suspiro.

As folhas verdes continuaram a farfalhar ao vento.


***

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