Tomo 03 — Capítulo 15: Um Epílogo na Lua de Sangue Minguante
As celebrações no Oásis da Flor Prateada continuaram muito depois de chegar à notícia da vingança de Elric contra aqueles que teriam prejudicado a Jovem Santa dos Bauradim. A notícia foi trazida por quarzhasaatianos, fugindo da cidade em uma ação sem precedentes em toda a sua longa história.
Oone, a Ladra de Sonhos, que havia permanecido no Oásis da Flor Prateada por mais tempo do que o necessário e que ainda estava relutante em sair e cuidar de seus negócios, se inteirou da vingança de Elric sem alegria. A notícia a entristeceu, pois esperava que algo diferente acontecesse.
— Ele serve ao Caos assim como eu sirvo à Lei. — disse ela para si mesma. — E quem pode dizer qual de nós é o pior escravizado?
Oone suspirou e se lançou às festividades com uma força nada espontânea.
Os Bauradim e os demais clãs nômades não perceberam, pois seu próprio prazer foi intensificado. Eles estavam livres de um tirano, da única coisa que temiam nas terras desérticas.
— O cacto rasga nossa carne para que nos mostrem onde está a água. — disse Raik Na Seem. — Nossos problemas foram grandes, porém graças a você, Oone, e Elric de Melniboné, nossos problemas se transformaram em triunfos. Em breve alguns de nós visitaremos Quarzhasaat e definiremos os termos em que pretendemos negociar no futuro. Creio que haverá boas-vindas a igualdade nas transações. — ele se divertiu muito. — Contudo vamos esperar até que os mortos sejam decentemente devorados.
Varadia pegou a mão de Oone e caminharam juntas ao lado das piscinas do grande oásis. A Lua de Sangue estava minguando e as pétalas prateadas das flores brilhavam ainda mais. Em breve a Lua de Sangue deverá minguar e as flores perderão suas pétalas, e então chegará a hora das pessoas do deserto seguirem caminhos diferentes.
— Você amava aquele homem de rosto branco, não é? — Varadia perguntou à amiga.
— Eu mal o conhecia, criança.
— Eu conheci vocês dois muito bem, não faz muito tempo. — Varadia sorriu. — E estou crescendo rapidamente, não estou? Você mesma disse.
Oone foi forçada a concordar.
— No entanto não havia esperança para isso, Varadia. Temos destinos tão diferentes. E tenho pouca simpatia pelas escolhas que ele faz.
— Ele é impulsionado para elas. Tem pouco o que dizer quanto a sua capacidade para tomar decisões próprias.
Ela afastou uma mecha de cabelo cor de mel de suas feições morenas.
— Talvez... — disse Oone. — Entretanto, alguns de nós podemos recusar o destino que os Senhores da Lei e do Caos traçaram para nós e assim sobreviver, criar algo que os deuses estão proibidos de tocar.
Varadia foi solidária.
— O que criamos permanece um mistério. — disse ela. — Ainda me é difícil entender como fiz aquela Pérola, criando exatamente aquilo que meus inimigos procuravam para escapar deles. E então se tornou real!
— Sei que essas coisas acontecem. — disse Oone. — São essas criações que um ladrão de sonhos procura e com as quais ganha a vida. — ela riu. — Essa Pérola me traria um bom salário por muito tempo se eu a levasse ao mercado.
— Como a realidade é formada a partir de sonhos, Oone?
Oone fez uma pausa e olhou para a água que refletia o tênue disco rosa da lua.
— Uma ostra, ameaçada por uma intrusão externa, procura isolar essa ameaça formando ao seu redor aquilo que eventualmente se torna uma pérola. Às vezes é assim que acontece. Outras vezes, a vontade da humanidade é tão forte, o desejo por algo tão intenso, que trarão à existência aquilo que até então se pensava ser impossível. Não é incomum, Varadia, que um sonho se torne realidade. Este conhecimento é uma das razões pelas quais meu respeito pela humanidade é mantido, apesar de tudo, de todas as crueldades e injustiças que testemunhei em minhas viagens.
— Acho que compreendo. — disse a Jovem Santa.
— Oh, entenderá tudo muito bem com o tempo. — assegurou-lhe Oone. — Pois você é um daqueles capazes de tal criação.
Poucos dias depois, Oone estava pronta para partir do Oásis da Flor Prateada, em direção a Elwher e ao Leste Não Mapeado. Varadia falou com ela pela última vez.
— Sei que tem mais um segredo. — disse a garota para a ladra de sonhos. — Não vai compartilhá-lo comigo?
Oone ficou surpresa. Seu respeito pela inteligência sensível da menina aumentou.
— Quer falar mais sobre a natureza dos sonhos e da realidade?
— Acho que você está grávida, Oone. — disse Varadia diretamente. — Não é verdade?
Oone cruzou os braços e se encostou no cavalo. Balançou a cabeça com franco bom humor.
— É verdade que toda a sabedoria do seu povo está acumulada em você, jovenzinha.
— O filho de alguém que amou e que está perdido para você?
— Sim. — disse Oone. — Uma filha, acredito. Talvez até um irmão e uma irmã, se os presságios forem interpretados corretamente. Mais do que pérolas podem ser concebidas em sonhos, Varadia.
— E algum dia o pai conhecerá sua descendência? — perguntou a Jovem Santa em tom gentil.
Oone tentou falar e descobriu que não conseguia. Desviou o olhar rapidamente para a distante Quarzhasaat. Então, depois de alguns momentos, conseguiu se forçar a responder.
— Nunca. — disse.
FIM
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