Capítulo 169: Todos eles eram passarinhos de Kuro
Tenho meu encontro com Kuro amanhã e, seguindo o que Alice me disse antes, fui à loja dela, mas... O que será que está prestes a acontecer?
Alice me disse que é muito importante... Além do mais, a expressão em seu rosto quando disse aquilo era séria.
O fato de Alice, que sempre se intrometia quando a situação parecia séria, ter saído com aquela expressão tensa... Só mostra o quão importante esse assunto é.
Sentindo uma ansiedade indescritível, abri a porta devagar, sentindo o suor frio escorrer pelas minhas costas.
Alice estava sentada em silêncio no balcão de sua loja de artigos diversos, como se a atmosfera barulhenta que costuma estar ao seu redor fosse uma mentira.
“Alice.”
Com a voz ligeiramente trêmula, chamei pelo seu nome... Porém não obtive resposta.
“Alice?”
“Munya...”
“...”
Essa vadia desgraçada. Você me chamou aqui, por que diabos está viajando para a Terra dos Sonhos?
Comecei a me perguntar por que fiquei tão nervoso antes... Contudo senti que perderia se continuasse me preocupando com isso.
Contudo, o que está acontecendo... Ela parece confortável dormindo, e não me sinto confortável interrompendo o seu sono...
“Umyuu... Kaito-san... Seu pervertido... Fugyaaahhhh!”
“Levanta logo!”
Senti que minha honra estava sendo manchada no sonho dessa mulher, então a acertei o mais rápido que pude.
Depois de receber meu golpe de soqueira de falcão na cabeça, Alice soltou um grito e virou o olhar para mim enquanto segurava a cabeça.
“Isso dói, Kaito-san! Não poderia, por favor, me acordar mais gentilmente? Existem muitas outras maneiras, certo? Que tal um beijo matinal?”
“Quer ganhar outro?”
“Ah, não, estou brincando! Desculpe, já acordei!”
Sinto que todo o nervosismo que sentia com essa situação desapareceu ao mesmo tempo, e suspiro quando Alice se levanta.
Sério, não sei se é para o bem ou para o mal, no entanto ela está sempre traindo minhas expectativas...
Vendo a expressão de espanto no meu rosto, Alice sorri e, levantando-se da cadeira perto do balcão, caminha lentamente até mim.
A atmosfera que tinha agora era diferente da atmosfera relaxada de antes, alternando para uma fria que me arrepia, embora também posso sentir um pouco de calor em sua expressão.
“Kaito-san. Deixe-me confirmar uma coisa.”
“S-Sim.”
“Amanhã... Você está planejando ‘confessar seus sentimentos à Kuro-san’?”
“?”
Apesar de ter me perguntado com uma voz calma e gentil, meu coração disparou.
Suas palavras pareciam ver através de todos os meus pensamentos... E a resposta ficou inadvertidamente presa na minha garganta.
Depois que voltei do castelo de Isis-san, pensei com o máximo cuidado sobre o meu futuro.
E depois que o Festival do Herói terminar, quanto a como vou agir, preciso dar minha própria resposta... E é por essa razão que me decidi.
Com ela, com quem mais falei desde que vim a este mundo, e aquela que, antes que eu percebesse, se tornou a parte mais importante da minha vida... Minha benfeitora que me tirou da minha concha e confirmou meus sentimentos quando me encontrava cheio de contradições.
O ‘tesouro’ mais deslumbrante... Que eu... Encontrei desde que cheguei a este mundo... Estou pronto para contar a Kuro sobre esses sentimentos, então criei coragem e a convidei para um encontro.
Sim, é como Alice disse... No encontro de amanhã, pretendo me confessar a Kuro.
Reafirmando meus sentimentos e determinação em minha mente, me senti revigorado.
Enquanto Alice me esperava em silêncio, olhei direto em seus olhos e assenti.
“Unnn. Não sei qual será o resultado, mas vou contar a ela.”
“É mesmo...”
Quando Alice ouviu minhas palavras, sorriu e assentiu... E depois de um momento, olhou para cima, o sorriso em seus lábios desapareceu.
“Fico feliz que meus preparativos não tenham sido em vão.”
“Preparativos?”
“Sim, por enquanto, vamos mudar de lugar. Todos estão nos esperando.”
“Todos?”
Aproximando-se de mim, que inclinei a cabeça em resposta as suas palavras, Alice toca meu corpo suavemente.
Logo em seguida, a paisagem fica turva e, como se o ambiente ao redor estivesse imerso em estática, uma leve brisa acariciou minha bochecha, talvez devido ao fato de eu ter saído de dentro da loja para fora.
“...?”
O lugar para onde nós mudamos... Era no rosto de Magnawell-san.
E não somos as únicas pessoas aqui. Havia também três sombras no rosto de Magnawell-san que nos encaravam… Isis-san, Lillywood-san e Megiddo-san.
“A todos, obrigado pela paciência. Como eu esperava, estamos indo como planejamos...”
“É mesmo? É muito mais cedo do que esperávamos... Onde está Ein-san?”
“Ela recusou. Se houver alguma chance de que isso possa prejudicar Kuro-san, não pretende seguir com o plano...”
“Entendo... Eu vou... Respeitar... O desejo de Kaito.”
Ouvindo as palavras que Alice disse, Lillywood-san e Isis-san falaram com expressões sérias.
Consigo sentir a tensão em suas vozes... Lillywood-san mencionou que não estava dentro das expectativas, porém isso significa que eles esperavam que essa situação acontecesse?
“Não está tudo bem? Não precisamos perder tempo com isso! Não é esta o tipo de situação em que podemos apostar se vai dar certo ou não?”
“Não, você não vai quebrar nada. Está mesmo tentando ser espirituoso, Megiddo?”
Em resposta à ousadia de Megiddo, Magnawell-san responde, um tanto perplexo.
Quando inclino a cabeça, sem entender a situação, Alice se vira para mim e abre a boca.
“Kaito-san, sei que está confuso com a rapidez da situação... Contudo nós realmente queremos te contar uma história antes de amanhã.”
“Uma história?”
“Sim, eu já te disse antes. Quando Kaito-san estava passando por provações... Sobre quando você se apresentaria e desafiaria as profundezas do coração dela...”
Esta situação parece tão séria agora, então vou me apegar à lembrança de que foi o falso Rei Fantasmal quem contou aquilo, não Alice.
As profundezas do coração de Kuro... Será que tem algo a ver com sua identidade que está envolta em mistérios?
Enquanto pensava, Alice manteve os olhos em mim e continuou a falar.
“Primeiro de tudo... Kaito-san... Vou te contar um segredo que apenas alguns poucos neste mundo conhecem.”
“Segredo?”
“Sim, você já ouviu falar de nós, os Seis Reis, sermos tão próximos?”
“Hã? J-Já...”
O que Alice disse foi algo que ouvi de Lilia-san, e não só isso, eu os vi próximos uns dos outros com meus próprios olhos.
Os Seis Reis são todos muito íntimos, todos se tratam iguais e parecem mais amigos do que reis.
“Sendo próximos, de certa forma, pode-se dizer que é natural. Afinal, mesmo sendo de espécies diferentes, somos ‘família’...”
“Hein?”
As palavras que Alice anunciou me assustaram. Família? Os Seis Reis são uns para os outros? Deixando de lado a aparência, suas raças são claramente diferentes, no entanto não parece que esteja mentindo.
A prova disso é que Isis-san e os outros estão assentindo em silêncio para confirmar as palavras de Alice.
E quanto a mim, essas palavras... ‘Acho que mesmo sendo de espécies diferentes, somos uma família’ soa familiar. Também ouvi essas palavras quando fui àquele churrasco... O que significa...
“Sim, é como Kaito-san imagina. Eu, Isis-san, Lillywood-san, Megiddo-san e Magnawell-san... Ela pode não estar aqui, mas Ein-san também... Todos nós éramos os ‘passarinhos de Kuro-san’.”
“?”
“Todos nós aqui e Ein-san somos os primeiros passarinhos de Kuro-san... Aqueles que, 20.000 anos atrás, lutaram ao seu lado em sua batalha contra o Reino dos Deuses.”
“???”
Meus sentimentos agora... A palavra ‘atônito’ se encaixa perfeitamente.
Os Seis Reis são todos passarinhos criados por Kuro e parece que também participaram da batalha entre o Reino Demoníaco e o Reino dos Deuses da qual Chronois-san falou.
Querida mãe, pai — Alice me levou a um lugar onde quase todos os Seis Reis se reuniram. E o fato dito por Alice me surpreendeu bastante... Os Seis Reis — todos eles eram passarinhos de Kuro.
Notas do Autor:
O Arco de Kuromueina começa.
Se você for perspicaz, talvez já tenha notado a identidade de Kuro.
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