quinta-feira, 4 de setembro de 2025

The Haar — Capítulo 03

Capítulo 03


— Ordem! Ordem!

Terry Munro bateu com o punho magro na mesa, e as seis pessoas presentes se calaram. Muriel lançou um olhar irônico para Arthur Eastman, que revirou os olhos em resposta. Terry, outrora um advogado respeitado, havia se aposentado em Witchaven há dezoito anos para viver o resto de seus dias em paz e solidão. Ele foi rapidamente nomeado presidente do Conselho de Witchaven e, desde então, estava embriagado de poder. Contudo, a prefeitura oficial havia sucumbido à ira dos escavadores algumas semanas antes, e, de alguma forma, Terry não parecia tão autoritário em pé em sua cozinha, batendo o punho e berrando como se os moradores não coubessem confortavelmente em sua mesa de jantar.

— Não precisa gritar. — disse Muriel. Suas mãos estavam entrelaçadas à frente do corpo, e ela brincava nervosamente com sua aliança de casamento. Olhou para os rostos preocupados reunidos ao redor da mesa. Seis deles, mais Terry, eram tudo o que restava. Como era possível? O que antes foi uma comunidade unida de cinquenta e cinco pessoas, agora eram apenas sete. Para onde todos tinham ido?

Muriel sabia a resposta. O resto tinha pegado o dinheiro e fugido. Em alguns casos, era compreensível. Eram jovens, capazes de construir uma nova vida em algum lugar. Não estavam presos à terra. Não tinham vivido suas vidas aqui, não tinham nenhum apego sentimental a Witchaven. Para a maioria, a oferta de Grant era mais dinheiro do que jamais veriam. Não podia culpar uma família jovem por agarrar a oportunidade. É claro que, poucos dias depois de aceitarem e se mudarem para novos pastos, suas casas foram arrasadas.

O progresso não esperava por ninguém.

— Eles estiveram por aqui de novo ontem! — disse Arthur em sua voz estrondosa de sempre. Arthur era o vizinho mais próximo de Muriel. Ele tinha sido o melhor amigo e seu principal rival, comparando toda vez suas capturas ao final de um longo dia de pesca. Desde a morte de Billy, Arthur assumiu a responsabilidade de garantir que Muriel estivesse se virando, às vezes levando-a para fazer compras em seu trator.

— É! — ela assentiu. — Estiveram mesmo. Quase tive que expulsar aquela mulher horrível da minha propriedade. Continuo dizendo que estou aqui desde o século XIX e não vou a lugar nenhum, mas ela não me ouve. Nenhum deles me ouve.

— Eu também. — disse Jock Baird, gesticulando para sua esposa Jeanie. — Duzentos e cinquenta mil, foi o que nos ofereceu. Perguntei a ela, querida, em que vou gastar tanto dinheiro? Em um caixão folheado a ouro?

Arthur riu, e Terry voltou a bater o punho.

— Ordem, ordem.

— Och, Terry, pare com isso. — disse Arthur. — Não tem nenhuma confusão acontecendo. — ele olhou desconfiado para Davey e Lorraine Farquhar. A dupla, geralmente sociável, não dissera uma palavra desde que chegara, além de alguns “olás” murmurados. — E vocês? — perguntou Arthur. — Estão muito quietos. Não é típico de vocês, Davey.

Davey Farquhar olhou para a esposa e depois para as mãos manchadas de vermelho. Ele puxou o boné sobre a testa.

— Ah, bem, sabe...

— Sabe o quê?

Davey engoliu em seco. Todos sabiam o que ia dizer antes mesmo que dissesse.

— Nós, hmm, aceitamos a oferta.

Arthur se levantou, a cadeira fazendo barulho ao arrastar para trás.

— Vocês, porra, o quê?

Davey olhou direto para Arthur, com as bochechas corando.

— Um dia desses, eles vão ganhar. É melhor cair fora enquanto ainda estão nos pagando para isso. Fala-se de um... — ele se virou para a esposa. — O que era, querida?

Lorraine Farquhar concentrou-se na mesa. Aos 57 anos, era a pessoa mais jovem à mesa, com uma diferença de alguns anos.

— Uma ordem de compra compulsória¹. — disse ela.

Davey se virou para Arthur.

— É, uma dessas. Então não temos escolha, temos? Vamos nos dar mal!

— Sempre há uma escolha! — disse Muriel. Os dois homens olharam-na. Ela suspirou. — Esta é a nossa casa. Eles não podem tirá-la de nós. Só... Só não podem.

— Podem, e vão! — disse Davey. — Eles não dão a mínima para nós. Não têm moral, nem compaixão. Somos só moscas zumbindo por aí, incomodando-os. Vão se livrar da gente de qualquer jeito, e toda essa tagarelice que a gente faz aqui não vai detê-los.

— Podemos lutar contra. — disse Arthur, embora sua linguagem corporal tivesse mudado, seus ombros caídos. — Nos tribunais. Tenho meus títulos de propriedade comprovando que a terra é minha.

— É? — zombou Davey. — Você contra os advogados do Grant. Seria engraçado. Não é como a maldita juíza Judy, seu molenga.

— Não sei o que quer dizer. — disse Arthur, porém era mentira. Ele, como os outros, estava com a TV ligada o tempo todo ultimamente. Qualquer coisa para abafar o barulho incessante das máquinas que rangiam e batiam sem parar, aterrorizando a vida selvagem. — Mas tudo bem, vá embora, deixe-nos lutar. Não precisamos de você de jeito nenhum.

— Sim, vamos ir então. Partiremos na quinta-feira.

Arthur pegou sua cadeira e sentou-se com um baque pesado. A madeira rangeu sob seu peso.

— Bem, já vai tarde para o lixo ruim.

Muriel bateu de leve na manga esfarrapada do suéter grosso de lã de Arthur. Ele olhou para ela e então colocou a cabeça entre as mãos.

— Desculpe! — disse Davey. — Só não tenho forças. Não temos mais vinte anos, Arthur. Estou ficando velho. Minha visão está piorando. Meu corpo inteiro dói todas as manhãs. — ele pegou a mão da esposa. — Precisamos dormir, porra. Isso não é jeito de viver.

— Sim! — disse Arthur, olhando para sua caneca de café lascada. — Bom, boa sorte para vocês dois.

Davey assentiu em resposta silenciosa. Ele ajudou a esposa a se levantar enquanto os outros permaneciam sentados em silêncio, depois pegaram seus casacos no cabideiro.

— Sinto muito! — disse Davey. — Espero que tudo de certo para vocês.

— Cuidem-se! — disse Muriel. — Mantenham contato.

Davey deu de ombros.

— Sim, claro.

Com isso, os Farquhars foram embora. Houve uma breve lufada de ar frio quando a porta da frente se abriu e depois se fechou com força.

Arthur olhou para Terry, depois para Jock e para Jeanie. Colocou a mão na de Muriel e a apertou de leve.

— E então restaram cinco. — disse ele.



Notas:
1. Uma ordem de compra compulsória pode se referir a adjudicação compulsória, uma ação judicial para transferir a propriedade de um imóvel quando o vendedor se recusa a fazê-lo.

***

Para aqueles que puderem e quiserem apoiar a tradução do blog, temos agora uma conta do PIX.

Chave PIXmylittleworldofsecrets@outlook.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário