domingo, 28 de setembro de 2025

Slayers — Volume 11 — Capítulo 50

Capítulo 50: Crimson, quando o banquete das marionete termina

“Flecha Congelante!” Aria disparou uma rajada de projéteis gélidos para interromper a risada louca que reverberava ao nosso redor.

Ei, espere aí!

Em vez de desviar das flechas, Kailus apenas as rechaçou! Então... Whoosh! Um vento congelante nos atacou, justo como o que Mycale havia refratado. Só que, na verdade, era mais ‘frio’ do que ‘congelante’...

“Como pensei...” Aria respirou fundo.

Claro! Ela havia diminuído o poder de sua Flecha Congelante em um experimento para ver se Kailus havia absorvido o poder de Mycale.

“Bwahahaha! Isso não vai funcionar! Será que não podem ver? O poder de Mycale é meu agora! Seus feitiços não podem me ferir!” ele gargalhou, pelo visto sem perceber que era apenas um teste.

Sheesh, que imbecil...

Entretanto, embora Kailus fosse de terceira categoria no quesito inteligência, seguia sendo um inimigo complicado. Não tínhamos como saber se Mycale foi a primeira pessoa que absorveu... Na verdade, era mais seguro presumir que já havia participado de uma maratona de absorção antes disso e tinha uma série de poderes estranhos para escolher.

Mas então...

Uma dúvida passou pela minha cabeça por um breve momento, porém não tive tempo para pensar nela. Nossa prioridade agora era descobrir como derrotar Kailus.

“Só para que saibam, tenho mais do que apenas as habilidades de Mycale! Deixe-me demonstrar!” Kailus berrou, e então soltou um uivo bestial. Uma dúzia de raios de gelo apareceram no ar ao seu redor.

O poder de um demônio inferior?

Kailus lançou as flechas... Direto para si mesmo!

Maldição! A onda de frio cortante que se seguiu nos atingiu enquanto pulávamos para longe.

“Guh!” Gourry gemeu levemente, contudo preparou sua espada e avançou contra Kailus. No entanto...

“Hraaagh!” Kailus tornou a uivar, recuando. Outra rajada de frio se seguiu.

Sheesh, esse cara sabe como tirar proveito das suas habilidades! Se tivesse disparado as Flechas Congelantes sozinhas, Gourry teria sido capaz de repelir os projéteis de gelo com sua espada ou se esquivar. Todavia não havia como desviar o frio intenso. É claro que a dissipação da nevasca significava que quase não causava dano real, mas rajadas repetidas eventualmente abaixavam a temperatura corporal de Gourry o suficiente para que ficasse dormente demais para se mover direito. Nem mesmo o grandalhão conseguiria se esquivar de uma Flecha Congelante quando mal conseguia sentir as pernas.

Kailus sem dúvida falava como um vilão decadente, porém se saiu bem em termos de habilidade. Quer dizer que teríamos que contra-atacar com alguns esquemas próprios.

“Gourry! Aria! Por aqui!” gritei, e então disparei por um dos corredores que saíam do salão de entrada. “Me de uma mão, Aria!” chamei. Expliquei o que precisava que fizesse e começamos a entoar feitiços juntas.

“Acha que consegue escapar? Pense de novo!” gritou Kailus, animado, enquanto nos perseguia. Na hora certa...

“Dam Blas!” atirei, não em Kailus, e sim no teto logo acima da sua cabeça!

Crash! O teto desabou com um estrondo, fazendo chover escombros de todos os tamanhos.

“Tch! Um truque barato!” Kailus recuou para evitar os destroços que caíam e, em seguida, escalou-os na poeira ainda em movimento para continuar sua perseguição. E quando o fez...

“Dam Blas!” ao meu sinal, Aria lançou um segundo feitiço no teto. A poeira agora enchia o corredor.

“Mais truques insignificantes!” Kailus saltou para trás, xingando o tempo todo.

Enquanto isso, nossa equipe fugia mais adiante no corredor. Enquanto íamos...

“Dam Blas!” Aria lançou outro feitiço em direção ao teto.

“Dá para parar logo com isso?” Kailus berrou, recuando outra vez para evitar o desabamento e, em seguida, escalou os escombros para prosseguir com sua perseguição.

Esse era o momento que estive aguardando.

“Lâmina Ragna!”

Respondendo às minhas palavras de poder, uma lâmina negra apareceu em minhas mãos. De jeito nenhum ele poderia dispersar esse ataque!

“O quê?” Kailus gritou surpreso ao ouvir minha voz muito mais perto do que esperava. “Hraaaaagh!” ele rapidamente soltou um grito de guerra, enviando uma flecha de luz que conjurara direto para si mesmo.

Shahh! Todo o corpo de Kailus brilhou, e a luz que dispersou disparou para cima e para baixo no corredor. Quando aconteceu, saltei e desci minha lâmina negra sobre o seu corpo... Direto de cima!

“O quê?” Kailus por fim entendeu, porém era tarde demais! A espada das trevas o cortou silenciosamente.

Veja bem, depois de sinalizar para Aria disparar um Dam Blas no teto, lancei o feitiço de Levitação que estava entoando e usei a poeira como cortina de fumaça para subir pelo buraco criado. O segundo andar era igual ao primeiro, então acompanhei a retirada de Aria e Gourry pelo corredor abaixo enquanto entoava minha Lâmina Ragna. O próximo Dam Blas de Aria abriu um buraco no chão abaixo de mim, e pulei por este enquanto atacava Kailus.

“Guh!” o corpo inteiro de Kailus ficou preto em instantes. E então...

Clu-pow! Explodiu. Quando a poeira baixou, as únicas pessoas à vista eram Gourry e Aria.

“Conseguimos?” ela perguntou.

Assenti firmemente.

“Para Kailus, sim.”

“Então...”

“A questão é... O que os inimigos restantes, aqueles que Kailus estava controlando, vão fazer agora?”

Ainda havia Aileus enredado na mansão, o boneco alado e os demônios inferiores voadores... E esses eram apenas os que tínhamos encontrado até o momento. Esperava que a morte de Kailus tivesse libertado seus servos da maldição, do controle mental ou seja lá o que fosse. Se não tivesse, é provável que estariam vindo em busca de vingança, e não preciso explicar o quanto isso seria um saco.

“É melhor verificarmos antes de irmos salvar Bell. Não seria uma boa ideia se a pegássemos e enfrentássemos um ataque total na saída. Por sinal, Bell sabe usar magias de ataque?”

“Não, nenhuma...”

“Nenhuma magia ofensiva?”

“Ela não sabe usar magia nenhuma, até onde sei. Eu me interessava por magia quando era mais jovem, então entrei para o conselho de feiticeiros. Contudo meus pais administravam uma pequena taverna e minha irmã costumava ajudar lá... Acho que preferia cozinhar a feitiçaria.”

“Entendo. Mais um motivo para resolvermos as coisas lá fora primeiro. Vamos ver o que podemos averiguar pelas janelas de lá.” eu disse enquanto abria a porta de um quarto próximo.

Parecia uma suíte de hóspedes, mais ou menos a mesma em que havíamos encontrado Bell antes. Dei uma olhada pela janela que dava para o terraço. Não havia sinais de inimigos... Ou de qualquer presença hostil.

“O que acha, Gourry?”

“Não tenho certeza se pode haver algo lá fora... Vou sair, só para ter certeza. Fiquem aqui.”

“Entendido. Tenha cuidado.”

Gourry abriu a janela para o terraço, espada em punho. Ele examinou os arredores em busca de qualquer sinal de vida e, logo em seguida, pôs os pés no terraço. Então, virou-se para encarar a mansão e...

“Whoa...” suspirou com uma mistura de surpresa e confusão.

“O que foi?”

“Bem, é... Apenas saiam, ok?”

Aria e eu trocamos um olhar e, cautelosamente, saímos para o terraço. Voltamos os olhos para onde Gourry estava olhando.

“Hã?”

“O que...”

Nós duas tivemos um choque igual de perplexidade.

As videiras de Aileus que cobriam a mansão, junto com os pedaços de carne espalhados aqui e ali entre elas... Estavam agora todos murchos. Os pedaços pareciam grandes flores mortas farfalhando secamente ao vento, enquanto as... Videiras, tentáculos, o que quer que fossem... Estavam marrons, ressecados e sem vida.

“Ele está morto?” sussurrou Gourry.

Um silêncio ensurdecedor caiu sobre nós.

“Você não acha...”

Um pensamento me ocorreu. Rapidamente, voltei para dentro e atravessei a sala para retornar ao corredor. Gourry e Aria me seguiram.

“O que foi, Senhora Lina?”

“Só checando uma coisa!”

Entrei no quarto por onde tínhamos voado mais cedo hoje à noite... O antigo quarto de Bell. Corri até a janela quebrada, saí para o terraço... E, depois de um suspiro, fiquei ali parada em silêncio.

No gramado, jazia a boneca alada que outrora comandara os demônios alados, parecendo uma marionete com os fios cortados. Os demônios voadores, antes por toda parte, agora não estavam mais à vista.

“O que está acontecendo aqui?” sussurrou Gourry atrás de mim. Mas, claro, eu não tinha uma resposta.

“Isso é... Porque Kailus está morto?” sussurrou Aria, incerta.

Dado o momento, esse deve ter sido o gatilho. Porém, embora fosse certamente possível criar quimeras cujas vidas expirariam quando uma determinada pessoa morresse, seria preciso passar por muitos obstáculos para chegar lá.

“Por que Kailus faria algo assim?” perguntei.

“Bem...” Aria pensou por um minuto. “Talvez não gostasse da ideia de seus subordinados sobreviverem sem ele... Ah, ou talvez os tenha programado dessa forma como um incentivo para que o protegessem! Tenho certeza de que deve ser esse o caso!”

“Hmm...” murmurei enquanto considerava a teoria de Aria. Com certeza explicaria algumas coisas, contudo... Algo não fazia sentido.

“Ei! Espere um minuto!” não tinha certeza se ele tinha nos ouvido ou não, no entanto a voz de Gourry de repente assumiu uma tensão séria. “Se Kailus queria levar todos com ele, então... Sua irmã não...”

Aria e eu nos entreolhamos, horrorizadas, e então corremos para o corredor.

“Irmã! Irmã!”

“Senhora Bell? Responda se nos ouvir!”

“Ei! Se estiver aí, diga alguma coisa!”

Nós três chamamos por Bell enquanto vasculhávamos todos os cômodos que encontrávamos. Era de se esperar que um lugar daquele tamanho tivesse um ou dois criados por perto, entretanto estava tudo deserto. Nossos gritos ecoaram pela mansão vazia. Depois de uma boa busca, concluímos que, no mínimo, Bell não estava em lugar nenhum no primeiro andar.

“Você não acha que ela...”

“Aria, não desanime! Ainda tem o segundo andar!”

“C-Certo...”

Subi as escadas e abri a porta de um cômodo próximo com uma batida audível.

Por um tempo, ficamos ali paradas. Havia uma janela escancarada do outro lado do cômodo, suas cortinas de renda ondulando ao vento. Uma cadeira de balanço branca estava de frente para a noite. Sentada nela...

“Aria?” Bell se virou para olhar para a irmã. Havia um sorriso em seu rosto que parecia de alguma forma melancólico.

“Irmã!” Aria gritou enquanto corria até ela, e Bell se levantou para embalá-la em um gentil abraço. “Irmã... Irmã.”

“Acabou... Não é?” Bell perguntou baixinho, acariciando com doçura a cabeça de Aria.

“Sim... Nós derrotamos Kailus. Agora a cidade pode ficar em paz outra vez, e podemos ficar juntas de novo...”

Bell apenas olhou para o horizonte em silêncio. Era como se estivesse olhando para algo no passado distante, agora desaparecido para sempre.

“Ainda há alguém na mansão?” perguntei.

“Não. Todos se foram. Desde o dia em que a insurreição começou.” respondeu Bell, com o olhar ainda distante.

Sabia que seria um grande empecilho para o reencontro das irmãs, mas havia uma dúvida que precisava sanar.

“A propósito, você está bem, Senhora Bell? Kailus parece ter transformado todos os outros em quimeras, inclusive ele mesmo...”

Aria ergueu os olhos, percebendo.

“É verdade... Irmã, você está bem? Kailus... Ele não fez nada com você, fez?”

Bell apenas sorriu de novo.

“Estou bem, Aria. Afinal, não foi Kailus quem os transformou. Fui eu.”


Por um momento, nenhum de nós teve certeza do que acabávamos de ouvir.

“Irmã?” Aria sussurrou hesitante.

Bell só continuou a sorrir. Por fim pude ver... A loucura silenciosa habitando seus olhos.

“Do que... Está falando?” perguntei com a voz rouca, porém Bell nem se dignou a me olhar.

“Kailus... Mereceu. Perder sua honra, sua vida... Ser marcado como traidor. Ele causou isso a si mesmo... Roubando meu amor... E minha felicidade...”

“Quer dizer... Que Kailus o matou, afinal?” perguntou Aria, chocada.

‘Ele’? O primeiro noivo de Bell?

“Não me disse com todas as letras... Contudo... No meu coração, sabia que era o culpado. E então eu mudei Kailus... Os outros também... Para fazê-lo começar aquela insurreição... E morrer na desgraça como merecia.”

“E-Eu não sei do que está falando, Irmã. O que quer dizer com você os mudou?”

“Aria, pensei que tinha desistido. Pensei que não havia mais nada para mim, que tinha aceitado meu destino. No entanto estava enganada. Apesar de toda a minha resignação... O ódio seguia se acumulando em meu coração. E então mudei a todos. Mudei a todos e incitei a insurreição em nome de Kailus.”

“É mentira!” Aria balançou a cabeça ferozmente. “Não pode ser verdade! Porque... Se fosse, significaria que você é aquela com quem estamos lutando!”

“Eu te amo, Aria... Minha única irmã. Entretanto...” Bell sorriu com tristeza. “Depois que meu amor morreu, Kailus me pediu em casamento. É óbvio que o rejeitei. Até que um dia ele me disse: ‘E se sua irmãzinha... Se Aria... Acabar como seu noivo?’”

Sem dizer uma palavra, Aria começou a tremer. Não conseguia ver sua expressão de onde estava.

“Foi nesse momento que tive certeza... De que Kailus havia matado o homem que amo. Embora, olhando para trás agora, talvez apenas quisesse me fazer pensar dessa forma para conseguir o que queria. Ainda assim, naquele momento... Pensei: ‘Não posso deixar Aria morrer... Só preciso fazer o que me disser.’”

Então a razão pela qual ela se casou com Kailus... Foi porque o maldito a coagiu ameaçando Aria? Que canalha...

“Isto... Não pode ser verdade...” Aria sussurrou, trêmula.

“É, Aria...” Bell respondeu baixinho. “Então... Eu te amo... Mas ao mesmo tempo... Também te odeio...”

Bell havia mandado a irmã embora porque a amava, para que não se envolvesse na luta. Também mandou Aria embora porque a odiava, para que se culpasse por deixar a cidade sozinha... E espalhasse a notícia de que Kailus estava por trás da insurreição. Talvez Bell também tivesse enviado Zonagein para vigiar Aria.

Não podia negar que essa explicação encaixava muitas peças. Se o seu objetivo era desgraçar Kailus e matá-lo, sendo assim, depois que ele morresse, não precisaria de subordinados. Pelo contrário, fazê-los lutar mais contra o exército imperial seria contrário aos seus objetivos. Foi por essa razão que os programou para morrer.

Porém... Como fez tudo isso?

“Não é verdade!” Aria gritou, com a voz trêmula. “Não pode ser! Porque... Você não é capaz de nada do que está descrevendo! Sequer sabe o básico sobre feitiçaria!”

“Tem razão... Não sei nada sobre magia. Kailus garantiu que eu nunca descobrisse, mesmo depois de nos casarmos. Tenho certeza de que estava com medo... De que pudesse me vingar dele se o fizesse. E assim... Não importava o quão grande o ódio dentro de mim crescesse... Não havia nada que pudesse fazer... Até que aquela pessoa me deu poder.”

“Aquela pessoa?” sussurrei, franzindo a testa.

Não parecia que estivesse se referindo ao seu noivo morto, ou a Kailus.

Mantendo o sorriso para Aria, Bell me respondeu.

“Nunca fiquei sabendo seu nome... Contudo ao perceber minha ânsia por poder, o concederam a mim. E o usei. Teria sido fácil só matar Kailus, no entanto não era o suficiente para mim. Queria que morresse como um traidor. Dessa forma, usei meu poder para transformar a todos e explorá-los.”

“Não! Você não poderia fazer isso!”

“Mas fiz, Aria. E quando estivermos mortas, tudo acabará.”

“Aria!” ao ouvir essas palavras, fui direto para a irmã mais nova e agarrei sua mão, afastando-a de Bell. Pensei que fosse matar Aria... Todavia Bell ficou ali, o mais imóvel possível, sem demonstrar sinal de que pegaria uma arma escondida.

“Você está mentindo, irmã!” gritou Aria, com lágrimas nos olhos.

Bell olhou dela para mim e para Gourry.

“Sinto muito que tenham sido arrastados para essa confusão. Porém vai acabar logo. Não importa que tipo de homem Kailus foi, não foi certo usar pessoas inocentes para minha vingança. É por isso que também vou me matar. Todavia... É necessário que o legado de Kailus permaneça o de um traidor... E sendo assim... Terão de morrer comigo.”

Seu olhar se voltou para Aria e ergueu a mão direita.

“Veja, Aria... Este é o poder que me foi dado. Venha até mim... Dulgoffa.”

O quê?

Sombras surgiram, fundindo-se na mão direita estendida de Bell. Pouco depois, a escuridão entrou em foco, formando uma lâmina negra e pura.

“E-Ei! Lina! Não é...?” gritou Gourry.

“É!” respondi com uma calma que surpreendeu até a mim.

Conhecia esse nome... E já tinha visto essa espada antes. Dulgoffa era um mazoku que assumia a forma de uma lâmina empunhada por um General Mazoku de alta patente chamada Sherra. Gourry e eu já a havíamos encontrado uma vez, e tínhamos visto o tipo de monstro grotesco no qual a espada demoníaca podia transformar as pessoas.

Ao menos explica como ela ‘transformava’ todo mundo... Teria sido fácil com o poder da espada.

“Irmã! Pare com isso!”

“Vamos... Acabar com tudo!” sussurrou Bell enquanto a espada mágica começava a se fundir com sua mão.

“Não!” gritou Gourry, correndo pelo chão. A espada em sua mão brilhou. Talvez esperasse impedir a fusão cortando a espada demoníaca da mão de Bell. Mas...

Zing! A lâmina na mão de Bell desviou casualmente seu golpe.

“Que...” Gourry sussurrou, confuso, enquanto saltava para trás.

A habilidade de Gourry com a espada era magistral. Aparar um golpe forte seu exigiria uma habilidade tão magistral quanto, se não múltiplos braços como Zonagein. Era difícil imaginar que Bell tivesse esse tipo de treinamento em esgrima, e mesmo assim...

“É tarde demais. A espada esteve dentro de mim esse tempo todo. Nossa fusão está quase completa. Não sei lutar... Contudo... Dulgoffa sabe.”

A lâmina de Dulgoffa estava afundando na palma da mão direita de Bell. Sua mão estava manchada de preto, e a escuridão continuava a se espalhar. Ninguém poderia detê-la agora. Todo o corpo de Bell começou a escurecer até que, por fim, se tornou uma com a espada mágica.

“Irmã!” o grito de Aria ecoou impotente ao nosso redor.

Quando Gourry e eu testemunhamos Dulgoffa transformar alguém da última vez, foi contra a vontade da vítima. O que o tornou um verdadeiro horror após a fusão... Uma massa de carne retorcida e horrenda. Contudo Bell aceitou Dulgoffa por livre e espontânea vontade. Nem mesmo eu posso dizer com certeza se o ser que estava diante de mim agora era Bell, Dulgoffa ou algo diferente.

Talvez fosse assim que uma verdadeira fusão com Dulgoffa se parecia. Em forma, se assemelhava bastante com Mycale. no entanto enquanto o corpo de Mycale era de uma cor esmeralda clara e brilhante, todo o corpo deste ser era da sombra da noite, o negro do vazio. Como uma deusa esculpida em ébano puro...


“Irmã...” Aria tentou chamá-la, mas em resposta, o ser silenciosamente levantou a mão direita.

“Saiam!” Gourry saiu correndo. Ele voou direto para Aria pela lateral, pegando-a nos braços sem parar.

Um segundo depois... Crash! A parede atrás de Aria se estilhaçou com uma pressão invisível.

Maldição!

“Gourry! Hora de sumir!”

“Entendi!”

Voei para o corredor. Gourry me seguiu, carregando Aria.

“Irmã! Irmã!” eu a ouvi gritar em agonia.

Porém sabia que não haveria como trazer sua irmã de volta depois disso. Teríamos que... Bem, matá-la... E fazê-lo na frente de Aria seria cruel...

“Gourry! Vamos lá fora por enquanto!”

“Certo!”

Descemos as escadas correndo e chutamos a porta da frente.

“Aria! Quando estivermos na cidade, vá para algum lugar e se esconda!” gritei. O gramado aqui na propriedade estava lamentavelmente escasso de árvores e outras coberturas.

“O que vocês vão fazer?”

Respondi com silêncio.

Aria desviou o olhar, preocupada.

“Eu... Suponho que essa seja a única opção. Entendo. Por favor, façam o que for preciso.” sussurrou ela, com as palavras tensas. “Mestre Gourry... Estou bem. Posso correr sozinha...”

“Certo!” disse Gourry, colocando-a no chão.

“Vamos pelo menos até a cidade juntos.” falei.

“Tudo bem.” concordou Aria.

Tive medo de que ela se virasse de repente, insistindo em tentar convencer a irmã sozinha, contudo parecia que não teria de me preocupar. Exceto...

Hã?

Senti uma presença hostil se aproximando antes mesmo de conseguirmos sair da propriedade.

“Aria!” gritei.

Estávamos correndo lado a lado, e assim que a empurrei, algo invisível passou entre nós, sem som ou vento. E naquele instante...

Crack! Uma árvore no gramado bem à nossa frente estalou. Parei e me virei para ver o ser emergindo pouco a pouco da porta da frente. Acho que levar Aria para um lugar seguro estava fora de questão agora... Aria parecia ser o alvo principal, afinal. Era provável que o amor e o ódio conflitantes de Bell por sua irmã tivessem se transformado em uma fixação delirante quando se fundiu com Dulgoffa. Mesmo que a escondêssemos em algum lugar, Bell provavelmente nos ignoraria e a caçaria primeiro.

“Parece que teremos que terminar as coisas aqui...” murmurei.

“Sim... Temos.” concordou Gourry.

Paramos nossa fuga e nos viramos para encarar o ser que antes era Bell.

“Para trás, Aria! No entanto não se afaste muito!” gritei.

“Eu não vou!” ela gritou de volta.

Com isso decidido, comecei a entoar um rápido feitiço. O ser de ébano voltou a erguer sua mão direita. Seu alvo desta vez era... Eu? Certo. Ela me julgou um obstáculo no seu caminho para matar Aria e, portanto, decidiu me eliminar primeiro.

Mantendo meu cântico, saltei para a direita. Uma presença invisível então passou por mim e, após liberá-la, avançou direto para mim. Foi então que terminei meu encantamento.

“Visão Frang!”

Bwoosh! Respondendo às minhas palavras de poder, uma névoa fina surgiu para cobrir a área. Esse feitiço costuma ser usado para uma fuga rápida, entretanto já o tinha visto sendo usado antes contra projéteis invisíveis. Era possível rastrear a trajetória deles com mais facilidade observando as ondulações na névoa.

O ser levantou a mão mais uma vez. Senti um arrepio na espinha e pulei para o lado de novo. Não vi nenhum movimento na névoa, e ainda assim...

Crack! Ouvi outra árvore se partindo à distância.

Espera aí, quer dizer que consegue disparar essas coisas sem nem perturbar o ar ao redor? Como é possível?

Considerei o fato de que não conseguia disparar em rápida sucessão e que era relativamente fácil sentir quando estavam vindo, continuei desviando delas... Mas não foi nada engraçado. Precisávamos terminar essa luta o mais rápido possível.

Quando o ser se aproximou, Gourry se interpôs entre nós. Entoei um feitiço atrás dele.

“Hyah!” com um grito, Gourry a atacou!

Shing! Clank! Ouvi o estrondo de metal contra metal enquanto cada um dos golpes de Gourry era bloqueado.

Em algum momento, ela sacou uma adaga negra na mão direita. Era mais comprida do que uma normal, porém não o suficiente para ser chamada de espada curta. Talvez a tenha formado a partir do próprio corpo para aparar o ataque de Gourry. Contudo...

Clang! Cling! Clank! O coro metálico continuou enquanto os dois trocavam golpes. Bell parecia estar no mesmo nível de Gourry em termos de habilidade, no entanto como ele era apenas humano, nossa oponente devia ter uma vantagem esmagadora em termos de resistência.

Um inimigo complicado de se lidar...

Por sorte, suas rajadas invisíveis pareciam exigir um certo grau de concentração para se manifestarem, o que significava que estavam fora de questão enquanto estivesse presa em combate corpo a corpo. Com isso em mente, terminei meu feitiço e... Parecendo perceber o que estava prestes a fazer, Gourry saltou para trás para colocar alguma distância entre eles.

Certo! Agora!

Não perdi a oportunidade e lancei!

“Dynast Blas!”

Um raio percorreu as cinco pontas de um pentagrama ao redor dela e convergiu para dentro! Todavia... Vrm! Seu corpo tremeu e uma névoa negra a envolveu, neutralizando meu raio mágico!

Nada mal! Nesse caso... Comecei rapidamente a entoar meu próximo feitiço.

Gourry se moveu para detê-la mais uma vez enquanto Bell se virava para mim de novo. Sua adaga bloqueou o golpe lateral. Em seguida, Gourry puxou sua espada para trás e tentou um estocada desta vez, mas Bell criou outra adaga na mão esquerda, usando-a em conjunto com a direita para bloquear o ataque penetrante. Com suas lâminas num movimento de pinça, ela investiu contra Gourry!

“Guh!” Gourry recuou com pressa.

Enquanto a luta mortal continuava, terminei meu próximo feitiço! Gourry se afastou, talvez antecipando meu movimento.

“Zellas Bullid!”

O raio de luz que disparei foi direto em sua direção, contudo Bell o viu chegando e se esquivou com meio passo. Ao fazê-lo, Gourry tentou outro ataque...

Zing! Seu ataque foi bloqueado com a adaga na mão esquerda. Mesmo assim, conseguiu mantê-la no lugar por um breve momento!

Sim! Exatamente o que eu estava esperando! O feitiço Zellas Bullid podia ser controlado por seu conjurador em pleno voo. Além do mais, canalizava o poder de um dos mazokus de nível mais alto, a Grande Besta Zellas Metallium! Nem mesmo Dulgoffa conseguiria suportar tal golpe ileso!

Meu raio de luz a errou uma vez, no entanto o forcei a mudar de curso no ar, lançando-o de volta pelas suas costas!

Acertei! Assim que comemorei, Bell ergueu a mão num movimento fluído, brandindo sua adaga. Então, ouviu-se um barulho estranho. Quê...

O raio foi partido em dois com sua adaga! O corte dividiu meu feitiço, dispersando a luz de ambos os lados. Os tremores secundários do poder de dispersão atingiram Gourry, que perdeu o equilíbrio com um grito.

Porcaria! Uma abertura de um segundo poderia matá-lo!

E, de fato, ela o atacou sem hesitar com sua adaga após cortar a luz. Talvez por puro desespero, Gourry se abaixou e deu um golpe na perna de Bell com o pé.

Então, como se não fosse nada... Whump! Ela apenas desabou.

“Que...” tinha sido tão fácil que Gourry não conseguiu evitar uma pausa.

Ele não a pegou de surpresa nem nada do tipo. Parecia que tinha tido só um momento de amadora na verdade.

Será que...?

“Gourry! Acho que ela não aguenta chutes!” gritei.

Bell dissera que Dulgoffa sabia lutar. Entretanto, pensando bem, por que se esforçara tanto para pegar adagas com as duas mãos? Se quisesse um alcance maior, poderia ter estendido os braços sozinha... Então, qual era a grande ideia?

Dulgoffa só sabe lutar como uma espada?

Se minha estúpida teoria estivesse certa, derrotá-la talvez não fosse tão difícil, afinal.

“Bem... Vamos descobrir!” disse Gourry, balançando a perna outra vez enquanto começava a se endireitar. Mais uma vez, Bell caiu, indefesa. “Desculpe! Eu realmente preciso te derrotar!”

Depois de derrubá-la no chão pela segunda vez, Gourry lançou outro golpe de espada.

Ding! Houve um som metálico e forte.

“O quê?” todos gritamos ao mesmo tempo.

A lâmina de Gourry não foi bloqueada com suas adagas. Ele havia cravado a espada direto no peito... Sem causar um único arranhão em sua pele de ébano. Gourry saltou rápida e silenciosamente para longe.

Claro... Deveria ter previsto isso.

Se aquelas adagas eram uma parte física sua... Elas apenas assumiram a forma de adagas para capitalizar a habilidade de Dulgoffa, nesse caso era lógico que todo o seu corpo fosse tão duro quanto. A espada de Gourry não tinha nome, embora ainda fosse uma lâmina mágica de poder considerável. Se nem mesmo ela conseguisse perfurar sua pele, então...

“O que fazemos, Lina?”

“Como vou saber?”

“Você não pode usar um feitiço para deixar minha espada mais afiada?”

“De jeito nenhum!” neguei com firmeza.

Claro, havia feitiços para aumentar por algum tempo o poder de armas comuns, imbuindo-as de magia. Mas não havia como prever o que fariam com uma espada que já tivesse propriedades mágicas. Se tivesse sorte e as magias funcionassem bem juntas, poderia muito bem acabar com um fatiador turbinado... Porém o mais provável é que nada acontecesse, ou pior, que quebrasse o encantamento e acabasse com um pedaço de metal inútil. Pior de tudo, poderia ter uma reação ruim que faria a magia enlouquecer e explodir! E não era hora de arriscar tanto.

O ser se levantou depois, se virou e correu para a casa.

“Está tentando escapar?”

“Temos que pegá-la!”

Se tivesse mesmo perdido a vontade de lutar, não teríamos motivo para persegui-la... Contudo, considerando que se fundira a Dulgoffa por causa de uma fixação delirante por Aria, suponho que não desistiria só porque a superamos por um momento. E, para ser sincera, prefiro enfrentar uma dúzia de demônios de bronze do que a perspectiva de algo como ela espreitando por aí pelos arredores.

Além disso, não havia garantia de que limitaria sua raiva a nós e a Aria. Sua fixação era específica naquele momento, no entanto e se acabasse se voltando contra o mundo todo? Afinal, já havia usado o poder de Dulgoffa para transformar os inocentes do conselho dos feiticeiros de Crimson. Não podíamos deixá-la lá fora sem controle.

“Será que aquela lâmina negra conseguiria derrotá-la?” Aria gritou atrás de mim. “Aquela que você usou para matar Kailus. Conseguiria usá-la nela?”

“Seria complicado, e minha habilidade esgrima é inferior...”

Mesmo que sua maestria se limitasse a armas brancas, Bell era habilidosa o suficiente para enfrentar Gourry de igual para igual. Talvez me cortasse ao meio antes que pudesse chegar perto o suficiente para chutá-la. Mais importante, esse feitiço drena minha magia de forma exaustiva... Além de já me sentir meio esgotada por tê-lo usado em Kailus antes. Posso conjurá-la outra vez, claro, no entanto não conseguiria mantê-lo por muito tempo. Devo conseguir alguns golpes, no máximo, e não estou muito confiante de que conseguiria desferir um golpe sólido naquele curto espaço de tempo.

Enquanto a perseguíamos, ela voou pela porta da frente ainda aberta e entrou na mansão. Parou em um canto do grande salão, ao lado do corpo agora sem vida de Zonagein. Sua mão se estendeu para o cadáver e...

Skrrk! Sua mão cravou uma de suas adagas nele!

O que diabos está... Antes que pudesse sequer especular, a adaga foi removida do corpo e se virou para nós. Espere, não me diga...

“Pare!”

Ao meu aviso, Gourry e Aria pararam na porta atrás de mim. Então assistimos pernas de aranha emergirem de suas costas! Kra-pash!

Ahhh! Sabia!

“Recuem!”

“C-Certo!”

“Sem objeções aqui!”

Fizemos uma rápida meia-volta para recuar. Quando o fizemos...

“Flecha Congelante!” entoou uma voz atrás de nós. Estava abafada, entretanto era claramente a de Bell.

“Desviem!” assim que saímos pela porta, nos separamos, deixando as flechas de gelo passarem por nós.

Aaagh! Sério, a coisa está piorando muito!

Nos reunimos e continuamos nossa retirada. Pouco depois senti uma presença atrás de nós. Nos viramos para olhar... E lá estava, bem atrás de nós!

“O que fazemos, Lina?” perguntou Gourry, com a espada em punho.

“Como vou saber?” respondi exausta.

“Como você pode não saber?”

“Acho que ela consegue absorver o poder e o conhecimento de qualquer um que apunhale com suas adagas. Se for o caso, se arranhar um de nós, também dominará nossos estilos de luta!”

“Tem certeza?”

“Certeza absoluta!”

Estava claro pela sua aparência de agora que conseguia absorver propriedades físicas. Que também conseguia absorver conhecimento era um palpite, todavia suspeitei que era uma suposição fundamentada, considerando a forma como estava de repente lançando os maiores golpes de Zonagein. Bell não sabia nada sobre magia, e Dulgoffa não teria Flecha Congelante em seu repertório, então esse conhecimento devia ter vindo do velho feiticeiro.

De uma forma ou de outra, as coisas estavam começando a ficar bem sombrias para nós. Seria impossível derrotar alguém com o domínio de Gourry com uma lâmina e apêndices aracnídeos sem levar um único arranhão. As pernas de aranha também a tornariam difícil de ser ultrapassadas, e uma fuga aérea estava fora de cogitação. Se subíssemos aos céus, Bell apenas absorveria a boneca alada no jardim e voaria atrás de nós. E quando pudesse voar, estaríamos verdadeiramente indefesos contra seus ataques. Tínhamos mesmo que derrubá-la aqui e agora.

“Ela absorve conhecimento... Quer dizer que absorve memórias também?” perguntou Aria.

“Bem... É o mais provável.” respondi, meus olhos ainda fixos em nossa inimiga.

“Muito bem... Vou terminar isso.”

“O quê?” não consegui deixar de olhar para Aria.

Um sorriso genuíno surgiu em seu rosto.

“Por favor, salve minha irmã.”

Eu...

Por um minuto, não consegui entender o que Aria queria dizer. Mas então ela saiu correndo... Direto para Bell.

“Aria?” estendi a mão, porém não a alcancei.

Por fim entendi. Entendi o que Aria queria fazer.

“Tch!” Gourry correu atrás de Aria, entretanto também não foi rápido o bastante. As pernas da aranha já estavam se esticando para alcançá-la.

Aria estendeu as mãos para a frente como se buscasse um abraço.

“Torne-se uma comigo... Irmã!”

E então... Skrrk! A adaga do ser perfurou seu peito. Sem hesitar, comecei a entoar um feitiço. Não podia me dar ao luxo de hesitar. Eu devia isso a Aria.

Saúdem, Lordes das Trevas dos quatro mundos

Eu imploro seu vínculo e rogo por esta bênção

O corpo de Aria caiu molemente no chão com um baque suave. Um espasmo percorreu as pernas de aranha que a prendiam.

Por seus poderes combinados, entrelaçados,

Abençoem-me com uma magia mais poderosa que a minha!

Os talismãs em meu cinto, meu colar e ambos os pulsos emitiram um brilho fraco. O corpo do ser começou a se contorcer, como se estivesse chorando. Comecei a caminhar lentamente em sua direção enquanto prosseguia com meu próximo encantamento.

Lâmina forjada do vazio negro congelante,

Seja libertada sob o selo do céu...

“Ei! Lina!” Gourry chamou atrás de mim. Ele deve ter percebido por si mesmo que a fúria violenta a havia deixado.

Torne-se minha, torne-se parte de mim...

Causemos destruição como um...

Esmague até mesmo as almas dos deuses...

Fiquei diante dela, meu feitiço terminado. Levantei silenciosamente minha mão direita e recitei as palavras de poder.

“Lâmina Ragna.”

A escuridão tomou forma em minha mão direita, e a lâmina de puro vazio a cortou.

———

Olhei em silêncio para a cidade sob o céu noturno iluminado pela lua.

“Ei, você está chorando?” perguntou Gourry.

“É, claro!” respondi, olhando por cima do ombro com um pequeno sorriso.

Estávamos na rua perto do canal, em frente à mansão de Kailus. Não havia mais ninguém por perto.

“Estava pensando, parece tão... Pesado.” sussurrei, olhando para a cidade de novo.

“Ei, você se importa se eu perguntar?”

“Sobre o quê?”

“Por que ela parou de repente?”

“Aria a impediu... Ela usou a habilidade daquele ser de absorver as memórias dos outros para que Bell soubesse o quanto a amava.”

Naquele momento, Bell deve ter ouvido os pensamentos da irmã e passou a entender seus sentimentos. Quando o ódio desapareceu do coração de Bell, ele quebrou a ilusão central que permitira que Dulgoffa alcançasse uma fusão perfeita. Isso teria deixado Dulgoffa absorver Bell contra a vontade se não fosse controlada, e foi por essa razão que tive que intervir... Para respeitar o sacrifício de Aria e salvar a alma de Bell. Mesmo assim...

“Vamos, Lina.” Gourry se aproximou de mim e colocou a mão na minha cabeça. “Anime-se... Eu carrego metade do peso para você.”

“Gourry...” eu o alcancei lentamente... E passei um braço firmemente em volta do seu pescoço! “Olha só você, Sr. Expressões Obrigatórias de Apoio! Acho que sabe que eu te estrangularia se tentasse me ignorar!”

“Urrrr! M-Mas você está me estrangulando mesmo assim!”

“Tenho que me arriscar quando posso, não é? Senão, tenho certeza que se esquivaria ou revidaria!”

“Claro que sim! Porém... Parece que você está bem, pelo menos...”

“Acho que sim... Ficar remoendo a depressão não vai fazer bem a ninguém.”

“Verdade. Enfim... Nós paramos a insurreição e a espada se foi.” disse Gourry com um sorriso. Sorri de volta, embora sem muita convicção.

Gourry tinha razão. Depois que minha espada negra a atingiu, seu corpo se transformou em cinzas e desapareceu sem deixar vestígios. Isso deve ter causado algum dano a Dulgoffa, pelo menos. No entanto o General Sherra ainda estava por aí, o que significava que Dulgoffa voltaria. Por que Sherra a entregou a Bell? O que os mazokus estavam tramando? Ainda não tinha a resposta para essas perguntas.

Continuei olhando em silêncio para a lua no céu a leste. A noite estava apenas começando.



Posfácio:

Cena: O Autor e L

Au: Whew. Quase não consigo voltar.

L: Ei, conseguiu sobreviver? É verdade, nunca lutei em nenhuma das outras vezes em que você foi morto em um posfácio e depois voltou ileso... Mas reviver no intervalo de duas novels publicadas ao mesmo tempo ainda parece um pouco rápido.

Au: O que quer de mim? É assim que o mundo funciona. Enfim, conclui a reimpressão de Slayers: Ilusão em Crimson!

L: Até para as novels, que têm uma contagem de corpos bem alta, muitas pessoas certamente morrem nesta história.

Au: Verdade. Sinto que a filosofia fundamental da parte 2 é que as pessoas vão morrer, embora isso inspira aqueles que elas deixam para trás a apreciar ainda mais a vida.

L: Espera aí. Acha que está dizendo algo legal agora? Usei meu raio laser para te decompor em seus átomos constituintes, você volta um volume depois todo “Whew, quase não consigo a tempo’, e espera soar como um filósofo confiável sobre morte e sacrifício?

Au: Erk... Tem razão. Droga. Como faço para que as pessoas me levarem a sério de novo?

L: Vamos fingir que realmente morreu da última vez, e eu mesma cuido de todos os posfácios subsequentes!

Au: De jeito nenhum! Tudo o que faria é torná-los algo bobo e sem sentido!

L: Oi, com licença! Na verdade, espere... Está com a impressão de que os posfácios em que você aparece não são bobos?

Au: Er, b-bem... Deixa isso para lá por agora. Aham. Contudo reviver tão casualmente porque tenho que continuar aparecendo nos posfácios tira um pouco da seriedade das mortes na série... Ah! Já sei! Por que não tentamos de outra forma? Todos que morreram antes na história acabarão estando vivos o tempo todo!

L: É uma ideia ainda mais estúpida! E minaria todo o drama! Pense no volume 2, O Feiticeiro de Atlas!

Halciform: Para recuperar meu amor perdido...!

Rubia real: Whew. Quase não consigo a tempo. Ah, Halciform, quanto tempo!

Halciform: Hã?

Rubia: Hum, Mestre Halciform, ela está...

Halciform: Espera, o quê? Rubia? Você está... Viva?

Rubia real: Claro que estou! Não achou mesmo que aquilo me mataria, achou, seu bobo?

Rubia: (sussurra) O meu verdadeiro eu é uma pessoa muito diferente...

Então Lina e Gourry não teriam nada para fazer além de comer!

Au: Isso é tão errado assim?

L: Pode apostar que sim! Até Talim, que é só uma cabeça, voltaria dizendo ‘quase bati as botas’!

Au: É, ok. Acho que não daria certo, né?

L: Viu? Até a minha turnê gastronômica mundial seria melhor que isso!

Au: É, tenho que discordar. No entanto, pensando bem, é difícil decidir quem vive e quem morre nessas histórias. Há um tempo, estive conversando com um certo editor durante o almoço, e ele me disse...

‘A propósito, o que aconteceu com o Randy do conto? É um membro da família real, não é?’

Eu respondi...

‘Bem, eu escrevi que ele parou de se mover no final do conto, então deve estar morto.’

E então ele disse...

‘O que está dizendo, Kanzaka-san? As pessoas não podem morrer em Special!’

Ele foi tão insistente que pensei que fosse morrer... Porém levei essas palavras a sério.

L: Acho que não é tão incomum. Sério, tem que se perguntar o que acontece com todos aqueles bandidos que a Lina está sempre explodindo como piada.

Au: Na verdade eu costumo ignorar isso. Às vezes, deixo ambíguo, ou nem decido por mim mesmo. É para deixar os leitores imaginarem as coisas. Às vezes, falo sobre os jogos, o mangá de Knight of Aqualord ou o anime como uma ‘parte 3’ paralela, em grande parte por isso.

L: Entendo. Então, o motivo pelo qual não escreve sobre mim é porque quer deixar os leitores imaginarem minhas aventuras incríveis e as infinitas possibilidades que elas representam!

Au: Não, não é isso que...

L: Se eu simplesmente lançar um título como ‘L vs. Belas Estalajadeiras do Mundo Todo’, os leitores poderão se divertir imaginando minhas façanhas! Essa é a lição de casa para a próxima vez, pessoal! Criem minhas aventuras baseadas nesse título e enviem suas cartas antes que o próximo posfácio seja publicado!

Au: Espere! O próximo posfácio...

L: Bem, nos vemos no próximo volume!

Posfácio: Fim.

***

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