domingo, 21 de setembro de 2025

Slayers — Volume 11 — Capítulo 49

Capítulo 49: Confronto na Cidade da Água Carmesim

“Graaaaaaaah!” gritou a cabeça dividida verticalmente de Narov. Os tentáculos ao redor de sua boca se agitaram e se contorceram.

Espera aí... Esse cara absorveu o cadáver de Narov?

Não tenho certeza de quão poderoso Narov era quando vivo, mas, pelo menos, esse acontecimento deu um verdadeiro impulso à sua bizarrice. Mesmo assim, não tenho obrigação de deixá-lo exibir o que sabia fazer! Comecei um cântico silencioso, porém antes que Aileus ou eu pudéssemos fazer qualquer movimento...

“Lança Elemekia!” Dilarr lançou um feitiço atrás de mim, um feitiço capaz de causar dano direto ao espírito e derrotar um demônio inferior com um único golpe.

Aileus era basicamente um pedaço de carne crescendo do chão, então não tinha como se esquivar. A lança de luz de Dilarr o atingiu em cheio... Contudo o rosto do jovem não piscou, e o rosto de Narov continuou uivando e agitando seus tentáculos.

Então... Fwsh! O pedaço de carne atingido pela Lança Elemekia descascou como uma crosta, e...

“Graaaaaaah!” a cabeça de Narov soltou outro grito. Inúmeros pontos de luz apareceram ao seu redor, fazendo o próprio ar ranger!

Guh!

“Desviem!” gritei para o meu grupo, abortando meu feitiço e rapidamente me distanciando.

Enquanto corria, nosso oponente liberava sua luz em todas as direções! Consegui desviar dos primeiros pontos que vinham em minha direção e... Vrm! Então veio uma vibração repentina e poderosa, forte o suficiente para machucar meus ouvidos. Foi seguida por uma onda de calor e vapor.

“Todos estão bem?” gritei.

De além da névoa, pude ouvir cada um dos meus aliados responder...

“Estou bem!”

“Acho que sim...”

“Pelo menos estou vivo!”

Parecia que todos tinham conseguido sobreviver, no entanto aquele feitiço que Aileus acabara de lançar era infernal... Tinha que ser uma Bomba Explosiva. Foi incrível, era como disparar várias Bolas de Fogo energizadas de uma só vez. As bolas de luz explodiram contra a superfície da água, criando uma onda de vapor.

Graças a isso, agora não conseguíamos ver nosso inimigo. Claro, ele estava na mesma situação... Ou é o que eu esperava, entretanto não era sensato fazer suposições sobre alguém que já havia cedido sua humanidade. Além do mais, essa não era a única coisa contra nós. Como estava usando minha espada curta como uma tocha com Iluminação lançado sobre sua ponta lá no túnel, acabei perdendo-a quando fomos arrastados pelo canal subterrâneo. Não foi um golpe fatal para mim nem nada, todavia era sempre bom ter uma lâmina à mão para desviar de ataques ou distrair oponentes.

Embora, bem, não adianta chorar por espadas perdidas!

Comecei a entoar um feitiço...

...!

E de repente, inexplicavelmente, senti um arrepio percorrer minha espinha. Movi-me para a esquerda por instinto. Assim que o fiz... Skrch! Senti algo surgir da névoa, passando perto da minha ombreira.

“Guh!”

“Wuh!”

Pude ouvir Gourry e Dilarr ganindo através da névoa quase no mesmo instante. Será que Aileus estava usando aquilo como cortina de fumaça, afinal? Não posso deixar as coisas tão fáceis para ele!

“Vento de Diem!”

Fwoosh! Minha poderosa rajada de vento dissipou a névoa e, assim que consegui enxergar outra vez meus arredores, contemplei a forma bizarra que Aileus havia assumido. O pedaço de carne seguia enraizado no chão, com o rosto do jovem e Narov saltando para fora como antes... Mas agora algumas dezenas de braços haviam brotado do corpo.

Bem, estou chamando de braços, porém é óbvio que não eram braços humanos. Eram mais como os galhos de uma árvore morta, longos e multiarticulados.

Claro... Então foi isso que saiu da névoa.

Agora, quando a névoa se dissipou completamente...

“Bola de Fogo!”

Whoom! O feitiço de Dilarr queimou Aileus. Gourry o atacou ao mesmo tempo, e Aileus estendeu a mão quando ele se aproximou.

“Hng!” Gourry o golpeou com sua espada! Esperava ver o braço decepado de Aileus girando no ar, contudo em vez disso...

Zing! Ouviu-se um som forte quando ele foi apenas desviado para o lado. Pelo visto esse cara era mais forte do que parecia.

Além disso, a parte do corpo de Aileus que havia sido queimada pela Bola de Fogo de Dilarr antes apenas descascou, permitindo que nova carne(?) inchasse em seu lugar. Foi o mesmo que aconteceu com a Lança Elemekia de antes. Todo o seu corpo deve ser semelhante à cauda de um lagarto, capaz de se desprender e crescer à vontade. No entanto, se fosse esse o caso, devia haver uma parte crítica que não conseguia se regenerar... E esse seria seu ponto fraco.

“Graaaaaaaah!” a cabeça de Narov gritou mais uma vez.

Parecia um uivo irracional para ouvidos humanos, entretanto supus que fosse um cântico mágico.

O movimento de seus tentáculos bucais provavelmente era a formação de sigilos mágicos. De qualquer forma, agora que sabia que tinha muita magia na manga, não podia deixá-lo terminar aquele cântico!

“Explosão Infernal!” Aria gritou.

“Zellas Bullid!” eu fiz o mesmo.

Lançamos nossos feitiços juntas. O dela atravessou os braços de Aileus e atingiu o rosto do jovem. Enquanto o meu desviou dos braços para pulverizar a cabeça de Narov!

Na mosca! Aquilo deveria interromper sua conjuração!

Todavia o próprio Aileus não deu sinais de diminuir o ritmo. Estava usando cinco ou seis braços para manter Gourry sob controle enquanto o restante continuava a atacar de forma esporádica a mim, Aria e Dilarr. Por sorte, o controle dos braços de Aileus parecia impreciso. A mira era ruim e os movimentos previsíveis, de tal forma que até mesmo Aria, a novata, conseguia se esquivar. Mas, isso não terminaria de fato até que derrubássemos o cara.

O rosto de Aileus, onde Aria o atingira, descamava, embora mais carne inchou logo em seguida, reconstruindo seu rosto.

“É inútil, sabe...” sussurrou.

“Eu não acredito!” Aria gritou em desespero.

Hmm... Ela realmente não está acostumada a lutar, está?

Admito que o rosto desse cara parecia gritar: ‘Ei! Acerte meu ponto fraco bem aqui!’, porém um regenerador do seu nível não deixaria um ponto fraco tão óbvio exposto. Seu rosto é só uma isca para atrair nossos ataques.

Por sua vez, a cabeça de Narov seguia se regenerando do meu golpe... Talvez tenha demorado mais para se recuperar já que não fazia parte do corpo original de Aileus. De toda forma, é evidente que voltaria e começar a conjurar novos feitiços. Tenho que terminar com essa luta o quanto antes...

O verdadeiro ponto fraco de Aileus deve estar em algum lugar bem no fundo do seu corpo. Se continuássemos a atingi-lo com ataques mágicos comuns, apenas continuaria a se desfazer da carne danificada.

Espere, nesse caso...

Enquanto desviava dos golpes de seus braços, conjurei um feitiço amplificado.

“Bram Blazer!”

Whom! Uma explosão de luz pálida capaz de matar até mesmo um demônio inferior atravessou o corpo de Aileus!

“H... Hraaaagh!” um estertor de morte ecoou pela caverna subterrânea escura.

Seus braços, semelhantes a galhos, soltaram um farfalhar seco e começaram a pender frouxamente sobre a ilha. Imaginei que um feitiço perfurante pudesse atingir seu ponto fraco, e parece que acertei em cheio. O corpo de Aileus começou a se desfazer como argila cozida.

“Acho que conseguimos!” suspirou Gourry, aliviado.

“Suponho que sim.” assenti em resposta. “Então, enfim... O caminho a seguir deve estar em algum lugar desta ilha.”

“Espere um minuto!” disse Dilarr, me encarando. “Quando você disse que tinha um plano para encontrar o caminho... Queria dizer aquilo?”

“Sim!” admiti casualmente.

Resumindo, é óbvio que haveria inimigos protegendo o caminho para o nosso destino. Sendo este o caso, se nos tornássemos notáveis o suficiente, era certeza que viriam atrás de nós. Meu plano era vagar por aí, esperar os inimigos atacarem e descobrir onde estavam acampados para encontrar o caminho a seguir.

“Você está louca? Poderia ter nos matado!” gritou Dilarr.

“Porém estamos bem, então, sério, qual é o problema?” retruquei num tom fofo.

Com os punhos tremendo, Dilarr estava prestes a discutir mais.

“Sua... Sua pequena...”

Contudo foi interrompido quando Aria chamou bem atrás do pilar no centro da ilha.

“Senhora Lina! Será que é aqui?”

Fui olhar e a encontrei apontando para um buraco na base do pilar. Contudo...

“É bem pequeno.” sussurrou Gourry, franzindo a testa.

Meu companheiro tinha razão. O buraco parecia ser bem fundo, no entanto mal dava para eu rastejar por dentro se tirasse as ombreiras. Mesmo que levasse a algum lugar, Gourry e Dilarr não conseguiriam usá-lo.

“Eu não... Acho que seja aqui. Aquele Narov disse que era um caminho, suponho que seria grande o suficiente para ele passar, pelo menos.” disse Dilarr, perspicaz. E tinha razão. Não havia como Narov ou aqueles demônios-peixe conseguirem passar por aquela passagem estreita.

Entretanto... Espere um minuto. Poderia ser...?

Entoei baixinho um feitiço...

“Iluminação!” e joguei a bola mágica de luz que produzi na água.

Pwsh! Visível abaixo da ilha, nas profundezas agora iluminadas, abria-se uma grande caverna subaquática.

Plip... Plip... Ouvi o som de água pingando ao nosso redor. O ar estava úmido.

Entramos na caverna alagada usando um feitiço Lei Asa, viajando por ela até finalmente alcançarmos o ar. Nesse momento, dispensei o feitiço e começamos a caminhar.

Se aquele fosse de fato o caminho para o conselho dos feiticeiros, era razoável esperar uma emboscada inimiga à frente. O demônio-peixe que havia desaparecido durante nossa batalha com Aileus devia ter fugido para cá... Ou, quem sabe, retornado à base para relatar nosso ataque. Se tudo o que nos importasse fosse velocidade, voar teria sido melhor do que caminhar, todavia caminhar parecia a escolha mais segura, dada a probabilidade de ataque inimigo.

A propósito, havia musgo luminescente no teto e nas paredes aqui embaixo também, então não precisávamos preparar uma luz. Dito isso...

“Nossa... É um longo caminho.” suspirou Gourry depois de caminharmos por um bom tempo.

O caminho estava escorregadio, dificultando o ritmo, e a monotonia da paisagem aumentava a sensação de que estávamos caminhando para sempre. Mas mesmo assim, o caminho era bastante longo. Fico imaginando se nos levara ainda mais abaixo do lago subterrâneo.

“Espero que, depois de toda essa caminhada, não descubramos que entramos na caverna errada!” disse Dilarr, parecendo exausto.

Não podia culpá-lo por se sentir exausto. Tínhamos entrado na Cidade de Crimson por volta do pôr do sol, e agora já devia passar da meia-noite. Em outras palavras, tirando o tempo que passamos inconscientes depois da nossa pequena viagem improvisada pelo rio subterrâneo, estávamos avançando quase sem parar. Questionaria a humanidade de qualquer um que não estivesse exausto naquele ponto.

A própria Aria parecia bastante exausta. Ela não dissera uma palavra desde que entramos na caverna. Apesar de tudo, não tínhamos tempo para descansar no momento. Precisávamos nos infiltrar na base inimiga e resolver as coisas o mais rápido possível. Para ser sincera, comecei a cogitar a ideia de só explodir o prédio do conselho dos feiticeiros com um Dragon Slave assim que chegássemos lá... Contudo, pensando melhor, a irmã da Aria poderia estar lá dentro. Bem, vou cruzar essa ponte quando chegar a hora.


“Este me parece o caminho certo.” sugeri.

“O que te faz dizer isso?” perguntou Dilarr.

“Bem, dã... Eles fizeram um caminho.”

“Um caminho? Quer dizer esta coisa por onde estamos caminhando agora?” perguntou Gourry no lugar de Dilarr.

“Exato. Está vendo aquelas estalactites no teto? Deveriam ter estalagmites correspondentes abaixo delas, no entanto o chão aqui é plano. Isso significa que alguém as limpou para uma passagem melhor. Por sinal, acho que estamos perto do nosso destino também...” com isso, virei os olhos para a frente. Ambos os lados da passagem estavam alinhados com jarros de vários tamanhos. “O lugar é obviamente usado para armazenamento, o que significa que deve haver alguém por perto fazendo o armazenamento. Diga, Aria, você fazia parte do conselho, certo? Já ouviu falar de um caminho subterrâneo?”

“Bom... Ouvi dizer que havia um depósito subterrâneo... Mas havia um grupo dedicado a gerenciá-lo... Então nunca fui lá...” ela respondeu hesitante, parecendo cansada.

Hmm... Um lugar como este, conectado ao porão do conselho, com certeza teria gerado pelo menos um pouco de conversa, certo? Ou havia algo sobre esta passagem subterrânea que exigia que fosse mantida em segredo? Teríamos que continuar e descobrir.

Continuei pensando em tudo aquilo, e o número de contêineres e outras ferramentas cuja finalidade não conseguia identificar aumentou cada vez mais à medida que avançávamos. Por fim...

“Diria que é uma sorte grande.” comentei ao parar.

Estava em frente a uma porta de metal que parecia deslocada no túnel de pedra em andamento no qual estava construída. Alguém estava expandindo seu porão, por acaso bateu nesta caverna e simplesmente bateu uma porta ali? Sim, claro. Apesar da colocação desleixada, a porta era reforçada com pedra. Não conseguia sentir a presença de nenhum inimigo do outro lado... Mas sempre podia haver alguém capaz de se camuflar.

“Tudo bem... Hora da verdade. Vamos entrar.” anunciei.

Alguém engoliu em seco. Gourry silenciosamente sacou a espada, preparando-se para um ataque surpresa. Dilarr sussurrou um feitiço baixinho. Coloquei a mão na porta, empurrei e...

“Ah, devia ter imaginado. Está trancada.”

“Ei!” Dilarr rugiu, interrompendo o feitiço só para gritar comigo.

Qual é... É claro que uma porta no meio de um sistema de cavernas estaria trancada.

“Hmm, espere aí. Acho que é uma trava simples. Nesse caso...”

Após uma breve inspeção, peguei uma faca fina que guardava na minha ombreira e a deslizei entre a porta e o batente. Então a arrastei para cima e... Senti um movimento acompanhado de um pequeno tilintar. Parece que consegui destrancar a fechadura.

Ok!

“Agora vamos lá!” eu disse enquanto a empurrava.

Um rangido metálico e pesado ressoou quando a porta se abriu lentamente para dentro. Pelo menos não encontramos nenhuma emboscada nos esperando. Porém...

“É bem pequeno para o porão do conselho, hein?” sussurrou Dilarr olhando ao redor.

“Há sinais claros de vida aqui também...” acrescentou Gourry. Quando olhei para ver, ele estava indicando vários utensílios de cozinha e limpeza espalhados.

Eles estavam certos... Este lugar era apenas um pouco maior do que um cômodo de qualquer casa comum. Havia uma única lâmpada apagada pendurada no teto, e mais da metade das coisas espalhadas eram para uso doméstico.

Que diabos...?

Entoei um feitiço.

“Iluminação!”

Joguei minha luz mágica em direção ao teto e, quando ela estava no lugar, pude ver claramente... Que este era o porão de uma residência particular. Havia uma escada mais para dentro.

“Não consigo evitar a sensação de que estamos no lugar errado...” observou Gourry. “B-Bem... Talvez deveríamos subir e ver o que está acontecendo, de qualquer forma.” depois de rir dele, fui direto para a escada nos fundos. Os outros três me seguiram em silêncio.

A escada era íngreme e estreita. Havia uma fechadura simples na porta no topo, contudo tirei um alfinete do bolso, enfiei-o no buraco e abri a coisa com facilidade. Depois de me certificar de que não havia sinais de vida do outro lado... Creak...

Além da porta, havia um corredor. Saí por ele, seguido por Gourry, Aria e depois Dilarr.

“Este não é o salão do conselho...” Aria sussurrou com uma expressão vítrea.

É... Sabia. Era uma mansão bastante grande com excelente alvenaria, embora ainda era uma residência particular.

“Ugh... Droga, acabou que me enganei mesmo?” murmurei.

“Deveríamos tentar ir mais abaixo no túnel?” perguntou Gourry.

“É, acho que deveríamos tentar.” admiti.

Nos viramos para descer as escadas quando...

“Esta é... A mansão de Kailus.”

As palavras de Aria, em transe, nos paralisaram.

“Você... Você tem certeza?” perguntei.

“Tenho certeza. Só vim aqui uma vez, antes da insurreição, quando minha irmã me chamou, contudo tenho certeza. Reconheço este lugar.” respondeu Aria com confiança, e saiu andando pela casa.

“E-Espera aí! Aria! Aonde está indo?”

“O quarto da minha irmã.” ela respondeu sem se virar ou diminuir o passo. Na verdade, acelerou o passo. Sem outra escolha, a seguimos.

Tudo bem... Então, erroneamente, presumimos que o ‘caminho’ significava o ‘caminho para o conselho dos feiticeiros’, mas, na verdade, era um caminho para a mansão de Kailus. Narov deve ter percebido o mal-entendido... Porém não tinha obrigação de corrigi-lo, é claro.

Aria prosseguiu sem medo, apesar da probabilidade de inimigos estarem por perto. Ela só parou quando chegou a uma porta. Respirou fundo, estendeu a mão para a maçaneta e, antes que pudéssemos tentar impedi-la, sua mão abriu a porta com um puxão! E naquele instante...

“Irmã...” havia um tremor em sua voz fraca.

Era um quarto amplo, mobiliado com uma cama de dossel e um criado-mudo, iluminado apenas pelo luar que entrava pelas janelas do terraço. Ao lado da cama, havia uma cadeira de balanço, e de pé ao lado estava uma garota muito parecida com Aria. Seus longos cabelos prateados brilhavam sob os raios de luar.

“A... Aria?” perguntou.

“Bell!” gritou Aria, correndo para se jogar nos braços da irmã.

“Aria... O que está fazendo aqui?”

“Eu vim para te salvar! O exército imperial está vindo para impedir a rebelião de Kailus. Só de pensar nesta cidade se tornando um campo de batalha com você aqui, eu... Vim para te salvar!”

Lágrimas escorreram por seus olhos, com a voz embargada. O reencontro com a irmã parecia ter liberado todas as suas emoções reprimidas.

Bell acariciou os cabelos de Aria de sua irmãzinha com delicadeza e então voltou seu olhar para nós.

“Quem são essas pessoas?”

“Seus guarda-costas... Mais ou menos.” respondi. “Porém vamos deixar as apresentações depois. Por enquanto, vamos embora. Não há como dizer quando o esquadrão de capangas pode aparecer.”

Ao ouvir minhas palavras, Aria de repente olhou para cima.

“É-É verdade... Irmã, você deve vir conosco.”

“Receio que não vá acontecer...” uma nova voz interrompeu, ecoando pela sala. Uma voz familiar.

“Zonagein?” gritei, virando-me para ver a figura diminuta e familiar parada ali em sua capa com capuz.

Ao seu lado estava um homem de cerca de quarenta anos com cabelos negros. Ele usava uma capa de gola alta bordada com fios de prata, além de vários amuletos cravejados de joias salpicados em sua roupa... O que não combinava muito com sua cara de vilão barato.

Dada a ocasião, tinha um palpite sobre sua identidade.

“Você não seria Kailus, por acaso, seria?”

“Na verdade, sou. Gostaria de elogiá-los por terem chegado aqui... Contudo é o fim da linha para todos. Preparem-se para encontrar seu destino.”

“Pfft!”

Kailus franziu a testa, irritado com minha risada abrupta.

“Qual é a graça?”

“Sabia que diria algo assim!” estufei o peito e apontei ousadamente para Kailus. “É típico de um vilão de terceira categoria, até o jeito de falar! Até uma criança acharia hilário!”

As sobrancelhas de Kailus se arquearam mais, no entanto talvez temendo outra represália minha, conteve a raiva desesperadamente.

“Justo... Justo, garota. Entretanto clichê ou não, todos vocês morrerão aqui!”

“Bem, bem! Veremos!” respondi enquanto me encostava na parede. Nesse momento...

“Bola de Fogo!” Dilarr, que esteve entoando um cântico atrás de mim, lançou um globo flamejante!

Fwoosh! A explosão de chamas que se seguiu lambeu o corredor. Nos escondemos atrás da porta aberta para nos proteger do calor. Era a mesma tática de distrair e atacar que havíamos usado contra Narov no subsolo. E não havia como escapar do ataque naquele corredor estreito e reto. Todavia...

Zing! Crash!

Uma flecha de luz atravessou a fumaça rodopiante e pulverizou a porta que usávamos como escudo! Voei para trás e comecei a entoar um feitiço. Conforme a fumaça se dissipava, lá no fundo do corredor, pude ver Zonagein e Kailus.

Eles chegaram tão longe tão rápido? No momento em que reparei nisso, ouvi um farfalhar estranho e, de repente... Zonagein estava bem na minha frente! Com a mesma velocidade bizarra, voltou pelo corredor. Instintivamente, estendi a mão para pegar minha espada perdida...

Wham! Ouvi um forte impacto bem acima da minha cabeça. Gourry veio correndo para bloquear algo preto que me atacava.

Isso é...?

Parecia a perna de uma aranha. Uma gigante. E pude ver várias outras crescendo nas costas do velho feiticeiro.

“Impressionante... Como esperado daquele que derrotou Graymore.” disse Zonagein, suas pernas de aranha o jogando para trás.

Mesmo tendo vendido sua humanidade, ainda queria evitar uma luta corpo a corpo com Gourry. Nesse caso...

Lancei meu feitiço.

“Bram Blazer!”

Virei-me e disparei a luz azul em uma nova presença hostil atrás de mim! Atingiu uma mulher de verde que havia aparecido no corredor em algum momento, porém no instante em que fez contato... Vrm! Ela liberou uma luz azul que preencheu o corredor!

“Guh!” ao fazer isso, uma onda de choque atingiu meu corpo. Seu poder era baixo, contudo era um Bram Blazer com certeza! Será que refletiu meu feitiço de volta em uma forma dispersa?

Depois que a luz se dissipou, a mulher de verde... Não. Quando a olhei de novo, percebi meu erro. Não estava vestida de verde. Seu rosto, seu tronco, seu cabelo, seus membros... Seu corpo inteiro era translúcido como uma esmeralda.

Com essa nova adição ao lado de Kailus, estávamos definitivamente em apuros. Esperava acabar com o cara ali e pular direto para o desfecho... No entanto as coisas estavam se tornando um pouco mais complicadas.

“De volta para o quarto!” gritei, recuando para perto das irmãs. “Aria! Bell! Vamos sair daqui!” gritei antes de começar um cântico.

Assim que Bell saísse da mansão, eu poderia usar as armas pesadas e destruir tudo!

“Não os deixem escapar! Peguem-nos! Zonagein! Mycale!” a voz de Kailus, vinda do corredor, parou Aria no mesmo instante.

“Ele... Acabou de dizer...” ela murmurou.

“O que você está fazendo, Aria? Mexa-se!” gritou Dilarr, abrindo a janela do terraço com um chute.

“Eu...” Aria rapidamente começou voltou a correr.

Gourry se afastou de Zonagein quando este apareceu na porta e...

“Espere! Não vá!”

Quando ele gritou, Aria, Bell e Dilarr já estavam no terraço. Assim que os três pararam... Whunk! Um grande objeto semelhante a uma foice atravessou o peito de Dilarr vindo de cima. Lentamente, ele caiu no chão.

“Mestre Dilarr?” gritou Aria, parecendo aflita.

Gourry e eu corremos para o terraço. No minuto em que pisamos nele... Whoosh! Algo cortou o vento noturno, mas a espada de Gourry o afastou. Apoiei o caído Dilarr com um braço enquanto segurava a mão de Aria com o outro. Verifiquei se Gourry estava segurando meu ombro e então lancei o feitiço amplificado que estive entoando!

“Lei Asa!”

No mínimo, pensei que conseguiríamos usá-lo para sair dali. Entretanto assim que meu feitiço foi ativado...

“Eek!” Bell gritou. Olhei e vi algo parecido com um galho de árvore morta agarrando sua perna.

Espere, não é...

“Irmã!” Aria gritou. A mão de Bell havia escorregado da sua mão!

“Fuja!” foi tudo o que Bell conseguiu dizer enquanto caía da minha barreira de vento completa.

Nós quatro decolamos no ar, deixando-a para trás.

“Por favor...!” Aria mal conseguiu conter um grito estridente. É provável que quisesse me pedir para voltar e salvar sua irmã... Porém também notou que Dilarr precisava de tratamento.

Só que... Eu já conseguia sentir o calor deixando seu corpo. Sabia como era a sensação de alguém morrendo.


———

No prédio abandonado, havia apenas escuridão, ar mofado e silêncio. Ninguém tentou falar. Nem eu. Nem Gourry. Nem Aria.

Depois de alçar voo, levamos um tempo para nos livrar da força aérea perseguidora e encontrar abrigo nesta velha casa vazia. Dilarr já estava morto. Usei magia para cavar um buraco no porão, fiz um funeral simples para ele e então...

Nós três ficamos ali sentados na escuridão. Não sabia dizer por quanto tempo.

Por fim, Aria sussurrou.

“O... O que devo fazer?”

Não havia emoção alguma em sua voz.

“Não consegui salvar minha irmã. Deixei o Mestre Dilarr morrer...”

“Não é sua culpa...”

“A culpa é minha!” ela insistiu... Ou melhor, gritou, interrompendo-me. “Se... Se tivesse me segurado com mais força, poderia tê-la salvado! Se não tivesse insistido para virmos para Crimson, Mestre Dilarr... Mestre Dilarr poderia não estar...!”

“Acho que sou mais responsável por Dilarr. Não imaginei que ele estaria lá fora, então meu plano estava errado desde o início.” sussurrei com um sorriso de autocensura.

“‘Ele’? Quer dizer que você sabe quem o atacou?” ouvi Gourry perguntar na escuridão.

Assenti, mesmo sabendo que Gourry não podia me ver.

“Acho... Que era Aileus. O cara com quem lutamos na ilha do lago subterrâneo.”

“Quer dizer... Que sobreviveu?” Aria sussurrou.

“Não é bem que tenha sobrevivido, e sim... Acho que a sua versão que derrotamos no subsolo era apenas uma parte do todo. Quando saímos da mansão de Kailus com o Lei Asa, olhei para trás e o lugar inteiro estava coberto de trepadeiras com aqueles caroços redondos grudados aqui e ali...”

“Então está dizendo que...” Gourry ofegou.

Assenti em resposta.

“É. Acho que Aileus é, na verdade, flora e não fauna. Seus corpos na superfície e no subsolo estão conectados em algum lugar...”

O fato de ter entrelaçado toda a mansão significava que sua presença estava dispersa, e foi por essa razão que nós não a sentimos em um primeiro momento. Era potencialmente possível que o que quer que estivesse cobrindo a casa fosse apenas outra pessoa com habilidades como as de Aileus, contudo aquela coisa parecida com uma foice que atingiu Dilarr... Tinha o mesmo formato das barbatanas dos demônios peixes. E considerando que tínhamos um demônio peixe no subsolo sem ser encontrado, parecia-me mais provável que Aileus o tivesse absorvido do que que houvesse uma entidade discreta, embora semelhante, por ali.

Se estivesse certa sobre meu palpite... Nesse caso Aileus era um inimigo muito perigoso. Também não fazia ideia de onde poderia estar seu ponto fraco. Talvez pudéssemos eliminar o problema explodindo a mansão inteira... A palavra-chave é talvez. Você poderia matar um animal esmagando sua cabeça, no entanto algumas plantas podem se regenerar a partir de suas raízes ou até mesmo de um único galho restante. Se Aileus tivesse propriedades semelhantes às de uma planta, poderia ser capaz de se regenerar a partir de qualquer pedaço que deixássemos para trás.

“Eles com certeza são um bando difícil de lidar.” murmurei. “Não sei o quão formidável o próprio Kailus é, mas tem Aileus, além daquele boneco voador com seus demônios alados, e então Zonagein e aquela Mycale...”

“Na verdade, sobre isso...” Aria interrompeu enquanto listava nossos inimigos. “Quando entrei para o conselho... Havia outra garota que entrou na mesma época. Recebemos muitos dos mesmos projetos e nos tornamos amigas. O nome dela era... Elydia Mycale.”

“Hã?” sussurrei.

“E... Acabei de lembrar... Que uma das pessoas que administravam o depósito subterrâneo... Se chamava Aileus.”

“Espere, você não quer dizer...!”

A única resposta de Aria foi o silêncio.

“Posso perguntar... Se Mycale e Aileus apoiavam Kailus?” arrisquei.

“Bem... Eu só conhecia Aileus de nome, então não sou muito familiarizada... Porém Elydia odiava Kailus, com toda certeza.”

“Ei, onde exatamente isso vai dar?” perguntou Gourry.

Dei um pequeno suspiro.

“Está tomando forma... Como se Kailus tivesse transformado os membros do conselho em quimeras sob seu controle.”

“Contudo... Ele é mesmo capaz de uma coisa dessas?” questionou Aria. “Kailus era um faz-tudo. Conhecia magias de ataque e cura, além de maldições, criação de itens mágicos e criação de quimeras... No entanto, ao mesmo tempo, não tinha muito conhecimento sobre nenhuma delas. Não o consideraria capaz de criar quimeras tão avançadas.”

“Então acha que tem outra pessoa no comando?”

“É... Possível. Entretanto não conheço Kailus a fundo... Também é possível que soubesse muito sobre quimeras e apenas não cheguei a ter ciência disso.”

“Entendo!” respondi vagamente.

Ainda assim, não imagino Kailus como um pesquisador sério de quimeras com base no que vi de sua mansão. Eles tendiam a ser o tipo de pessoa que mantinham grandes laboratórios em seus porões... E não estou dizendo à toa. Criar quimeras exigia muito espaço, e um conselho de feiticeiros comum não permitiria que ninguém ocupasse uma parte tão grande de suas instalações comunitárias. Além do mais, compartilhar espaço com outros na mesma área costumava resultar em teorias e técnicas roubadas. É por essa razão que os pesquisadores de quimeras com recursos para o ofício preferiam construir suas próprias instalações dedicadas em algum lugar de suas casas, quase sempre um porão isolado.

Claro, não é como se tivesse visto cada canto da mansão de Kailus. Era possível que houvesse um porão secreto além daquele por onde havíamos entrado, ou talvez um laboratório no segundo andar, por mais incomum que fosse. Entretanto ainda que fosse esse o caso, sinto que deveria haver sinais... E certamente não havia como estar usando as instalações do conselho para transformar todos ali em quimeras.

“Senhora Lina, sobre Elydia... Quer dizer, Mycale... Não há como... Fazê-la voltar ao normal?” perguntou Aria.

Eu não tinha uma resposta. Conhecia outro cara que havia sido transformado em uma quimera e estava procurando uma maneira de restaurar sua humanidade. Não sabia como ele estava agora, todavia ele teve uma luta infernal com sua situação desde que o conheci. Nas palavras de outro conhecido, só porque se sabe fazer um coquetel de suco não significava que pode extrair o suco de laranja após ser misturado.

No caso de Mycale, também parecia bastante claro que estava sendo controlada mentalmente. Se fosse apenas o resultado de um feitiço de Marionete, derrotar Kailus resolveria o problema. Mas se a sua mente tivesse sido sobrescrita por lavagem cerebral ou uma técnica semelhante, então...

“Ah... Acho que não.” a voz triste de Aria ressoou na escuridão.

“Bom, falando por mim, não entendo muito de quimeras, sendo assim não posso te dar uma resposta definitiva... Porém se for possível, não será uma tarefa fácil.”

“En... Entendo.”

Então, ela se calou.

“Ei, deveríamos descansar um pouco.” sugeriu Gourry, como se esperasse sua chance. “Não podemos fazer nada até recarregarmos nossas energias. Vamos terminar isso amanhã, certo?”

“É... Certo.” assenti em resposta. “Vamos dormir um pouco por enquanto, Aria. Amanhã, nós... Vamos trazer Bell de volta e fazer Kailus pagar.”

———

A noite chegou no dia seguinte. A luz que entrava pelas janelas do prédio abandonado tinha acabado de ficar vermelha com o pôr do sol quando decidimos partir. Nosso destino? A mansão de Kailus.

“Como chegamos lá?” Gourry perguntou.

“Vamos pela hidrovia.” respondi. “Se formos por terra, corremos o risco de sermos avistados pela Força Aérea, e por baixo, corremos o risco de nos perder e enfrentar os mesmos problemas de ontem à noite. Contudo aquele tal de Narov se foi e deve haver menos demônios-peixe nos canais agora. É verdade que nosso inimigo pode estar esperando que tentemos tirar vantagem da situação, no entanto ainda parece mais seguro do que ir por terra. Cavaremos um túnel daqui, nos conectaremos a um canal e usaremos um feitiço Lei Asa para seguirmos para a mansão de Kailus debaixo d’água. Aria, por favor, nos mostre o caminho.”

“Pode deixar!” ela respondeu, com um firme aceno de cabeça.

Assenti de volta e comecei a entoar meu feitiço.

———

“Estamos chegando!” falou Gourry enquanto nos aproximávamos da mansão de Kailus.

Pude ver algo se aproximando através da água carmesim. Eram os tentáculos de Aileus!

Vroosh! Vários objetos semelhantes a foices perfuraram minha barreira de vento para chegar até nós. Zing! Enquanto me agarrava com a mão esquerda, Gourry brandiu a espada com a direita para desviar o ataque. E então...

“Congele Bullid!” Aria conjurou seu feitiço do lado de fora da barreira! Este congelou a água ao redor, prendendo os tentáculos no lugar. Era o mesmo feitiço que Dilarr usara nos demônios-peixe no dia anterior, e era impressionante a rapidez com que aprendera a usá-lo! “Estamos quase lá, Senhora Lina!”

“Certo! Subindo!” ordenei que minha barreira subisse da água para o ar.

De fato, estávamos bem ao lado da propriedade de Kailus. Como antes, todo o prédio estava emaranhado nas videiras de Aileus, e podíamos ver a força aérea espalhada no céu acima. Ignorei-os e fui direto para a mansão! A força aérea nos perseguiu, e os tentáculos-foice de Aileus dispararam para bloquear nosso caminho. Esperava que pudéssemos apenas entrar pelo terraço, mas tudo bem!

“Bola de Fogo!” Aria conjurou. Seu feitiço apareceu atrás de nós, correndo em nossa direção, e...

Bwoom! Explodiu ao entrar em contato com a barreira de vento!

“O quêêê...”

A força explosiva nos acelerou para frente... Direto através dos tentáculos e da janela do terraço, nos jogando para dentro da mansão!

Whew, sei que usei a mesma tática ontem, no entanto... Aria deve estar realmente furiosa!

De qualquer forma, descartei meu feitiço e nos joguei no chão lá dentro.

“Ei, Aria...” disse Gourry com uma expressão preocupada, colocando a mão em seu ombro. “Só para que saiba, aprender com maus exemplos pode realmente te levar para o caminho errado na vida.”

“O que está insinuando, Gourry?” perguntei bruscamente.

“Ah, nada... Enfim, vamos indo.”

Não me ignore! Eu queria protestar, porém Gourry tinha razão; não tínhamos tempo para discussões mesquinhas agora.

Havíamos conseguido manter nosso plano e entrar pelo quarto de Bell, contudo ela não estava em lugar nenhum. Talvez a tenham levado para outro lugar.

“Aqui vamos nós!” proclamei, chutando a porta e entrando no corredor. Precisávamos descobrir para onde tinham levado Bell. “Aria! Você sabe onde eles podem ter colocado sua irmã?”

“Não sei!”

“Ok, então teremos que procurar em todos os lugares!”

Por puro instinto, escolhi um corredor e corri por ele. Aria e Gourry me seguiram. Chutamos todas as portas que encontramos até chegarmos ao saguão de entrada. E lá...

“Ora, ora... Um pouco imprudente, não é?” perguntou Zonagein, que chegou sem fazer qualquer barulho com as pernas que cresciam em suas costas.

Então ouvi o ranger das tábuas do assoalho. Quando me virei para olhar, avistei Kailus descendo a lentos passos a escada que circundava o grande salão, acompanhado pela silenciosa Mycale.

“Aha... Então vocês voltaram!” disse ele. “E perderam um membro.”

“Onde está minha irmã?” Aria gritou com raiva, irritada com as suas palavras.

“Bell, você quer dizer? Está na mansão. É tudo o que direi, contudo preciso perguntar... Acha que pode fazer algo com esse conhecimento?”

“Ah, eu farei alguma coisa!” informei-o, dando um passo à frente. “Aria, fique calma. Não deixe esse vilão meia boca te irritar.”

“Sua...!” Kailus começou a gritar de raiva.

“Se é tão meia boca...” interrompeu Zonagein baixinho. “Como matou um dos seus aliados?”

Aria estava prestes a protestar, no entanto levantei a mão para impedi-la.

“Uma guerra de provocação é perda de tempo para todos nós.”

“Tem razão. Nesse caso... Vamos lá!” Zonagein começou a correr pelo chão.

Gourry se moveu para interceptá-lo, espada em punho. Assim que Gourry estava prestes a atacar, Zonagein saltou para cima, girou uma vez no ar e...

“Bram Blazer!” ele lançou o feitiço que havia entoado! Seu alvo era... Mycale?

Shah! O corpo inteiro de Mycale brilhou com luz. Sua potência era baixa, todavia uma onda de choque irrompeu em sincronia com a luz, atingindo a mim, Gourry e Aria!

Ei! Isso doeu!

Zonagein pousou atrás do Gourry que estava meio atordoado e, sem se virar, balançou duas das pernas em sua direção! Entretanto meu companheiro sentiu o ataque se aproximando e saltou reflexivamente para a frente para se esquivar, disparando em direção a Kailus! Mycale se interpôs. E naquele momento...

“Lança de Gelo!” Kailus lançou um feitiço nas costas de Mycale.

Bwoosh!

“Guh!” o feitiço, espalhado pelo corpo de Mycale, transformou-se em uma nevasca que forçou Gourry recuar.

Ela consegue até dispersar esse tipo de feitiço?

Kailus usando Mycale, que dispersava feitiços, como escudo enquanto se sentava e observava... Essa era uma estratégia complicada de combater. Se eu tentasse atacá-lo com um feitiço de ataque, Mycale o bloquearia e o refletiria de volta para nós. Se tentássemos nos aproximar, Kailus lançaria um feitiço para Mycale nos atingir.

É verdade que não significava que estávamos indefesos. Tenho certeza de que Mycale não conseguiria dispersar todos os feitiços. Se a atingíssemos com algo grande o suficiente, estou certa que a destruiria. A verdadeira questão era... Quão forte teria de ser ‘grande o suficiente’? Se a esbofeteasse com um Dragon Slave, não haveria como resistir, entretanto não conseguiria jogar uma bomba dessas dentro de casa. E se usasse um Dynast Blas um pouco mais fraco ou um Zellas Bullid, e por acaso o refletisse para nós...

Quer dizer, esses eram feitiços que podiam eliminar mazokus com um único golpe, então mesmo uma versão dispersa deveria ser capaz de nos matar. E depois de ouvir que Mycale era uma antiga amiga de Aria, não estou nada ansiosa para matá-la. Isso significava que nossa jogada mais inteligente agora era atacar Kailus de vários ângulos ao mesmo tempo.

Ok! Nesse caso...

“Gourry! Mantenha Zonagein ocupado!”

“Entendido!” ele respondeu, então se virou para encarar o velho.

Meus olhos permaneceram fixos em Kailus e Mycale enquanto começava a entoar meu próximo feitiço.

“Ora, pretende me dedicar algum tempo, hein?” disse Zonagein enquanto movia várias pernas para bloquear o golpe de espada de Gourry. Apêndice e lâmina se chocaram, e ambos os lados resistiram por uma fração de segundo antes de...

Fwee! Ouviu-se um som semelhante a um assobio, e um fio disparado da boca de Zonagein se enrolou na mão da espada de Gourry!

“Ngh!” Gourry gemeu, e naquele momento...

“Lança de Gelo!” Aria lançou um feitiço no flanco de Zonagein!

Ele rapidamente saltou do chão com suas pernas de aranha, lançando-se por cima da cabeça de Gourry com a corda ainda enrolada em seu punho. Gourry, com seus movimentos contidos, ficou em desvantagem, mas...

Agora! Corri direto para o lugar onde previ que Zonagein pousaria. Zonagein percebeu o que estive fazendo e hesitou por um breve instante. Houve uma pequena hesitação em decidir se deveria atacar Gourry ou lidar comigo primeiro! E nesse momento...

“Lança Flamejante!” lancei o feitiço que vinha entoando enquanto corria, depois respirei fundo e o prendi.

Mycale se moveu para interceptar o feitiço e dispersá-lo de volta para mim. Fechei os olhos e... Fwoom! Um calor poderoso me envolveu. Eu e Zonagein também!

“Gah!” ele gritou.

De fato, aquele feitiço não era para ser um ataque surpresa a Kailus, e sim uma tentativa de atingir Zonagein. A Lança Flamejante normalmente tinha o poder de torrar um oponente com um único golpe, porém eu o reduzi um pouco de propósito. Combinado com o efeito da dispersão de Mycale, era quente o suficiente para tostar um pouco a pele.

Contudo o que acontecia quando se inalava calor daquele jeito? Ao contrário de mim, que fechei os olhos e prendi a respiração, Zonagein havia queimado os próprios pulmões. Sua expressão era de agonia.

Whunk! Atrás dele, tendo escapado da rajada de calor, Gourry atravessou o velho feiticeiro.

“Ghhk!” ele soltou um grito quase silencioso enquanto as pernas de aranha em suas costas arranhavam o ar. E então...

“Dam Blas!” Aria, que também estava fora da zona de dispersão, lançou seu próprio feitiço.

Não havia como sobreviver a tudo aquilo. As patas traseiras de Zonagein se contraíram repetidamente e depois ficaram imóveis.

“Um já foi, faltam dois!” falei, dirigindo um sorriso ousado para Kailus.

“Hng!” ele resmungou. Seu rosto se contorceu de ódio, no entanto também estava tomado pelo pânico.

Olhei ao redor, mantendo o sorriso.

“Você está em uma situação bem complicada, entretanto não vejo os caras voadores ou Aileus correndo para te ajudar... Imagino que estejam presos lá fora, né? O que significa que tudo o que tem aqui para te proteger é Mycale, o peão dispersor de um truque... Espero que esteja preparado para a dor, Mestre Kailus!” falei com absoluta confiança.

Tenho certeza de que uma ameaça como aquela levaria Kailus para fora em busca da ajuda de Aileus e seus lacaios alados. Estava contando com esse movimento, na verdade. Assim que Kailus estivesse lá fora, poderia usar um grande feitiço de área para acabar com o desgraçado de uma vez! E depois que derrotasse Kailus, não haveria necessidade de lutarmos contra Mycale ou Aileus. Mas...

“Ha... Haha...” Kailus soltou uma risada carregada e caminhou devagar até Mycale. “Entendo... Porém este... Este é o meu sonho, e alguém como você jamais o arruinará!”

Com essas palavras, sua mão agarrou Mycale pela nuca.

O que está...

Um forte estalo soou. Fragmentos verdes voaram pelo ar.

“Elydia!” Aria gritou.

Kailus havia estilhaçado a cabeça de Mycale com a mão.

O quê?

“Haha... Ha...” Kailus abraçou o corpo de Mycale por trás enquanto caía sem cabeça.

“O que está fazendo?”

“Não é óbvio? Haha... Não saberei o que fazer se não...” Kailus respondeu, sua própria resposta insana. O brilho em seus olhos me disse que sua sanidade havia desaparecido. Não sabia o que estava planejando, contudo...

O primeiro a notar foi Gourry, que gritou.

“Os corpos deles!”

Virei-me para trás por um momento, sem entender. Ele estava olhando diretamente para Kailus. Virei-me de novo... E vi com meus próprios olhos. Pouco a pouco, o corpo de Mycale estava afundando no de Kailus.

Ele está... A absorvendo?

Parecia que Kailus não era mais humano. Logo, engoliu Mycale por completo.

“Bwahahahahaha!” a risada enlouquecida de Kailus ecoou pelo cômodo.

***

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