Capítulo 10
Muriel estava perdida no sono mais profundo de sua vida quando os choros a acordaram. Ela se sentou, ajeitou o travesseiro e tateou em busca do abajur ao lado da cama. Este iluminou o pequeno quarto, o brilho penetrante machucando seus olhos.
— Avalon?
No cômodo ao lado, a água batia nas laterais da banheira, mas ninguém respondeu.
Tudo estava em silêncio.
— Só um sonho! — murmurou, e então ouviu de novo.
— Socorro!
Vinha de fora.
Muriel saiu da cama, grogue, e encontrou seus chinelos. O relógio lhe dizia que já passava da meia-noite. Quem estava fora tão tarde?
— Por favor! — gritou uma voz miserável, tingida com o tipo de desespero que Muriel não ouvia desde o naufrágio do Charlotte Dane em 1966, quando resgatou um homem do mar e o arrastou até a praia, deixando um longo rastro de seus intestinos na areia.
— Estou indo. — gritou, embora duvidasse que a pessoa pudesse ouvi-la. Cambaleou para o corredor e vestiu o casaco de inverno, tirando os chinelos e calçando as galochas verdes. Depois de uma última espiada no banheiro para ver Avalon, ele flutuava silenciosamente, saiu de casa.
O ar da noite era cortante de tão frio contra sua pele. Muriel olhou ao redor em busca da fonte da voz.
— Quem está aí? — chamou.
Nenhuma resposta. Teria sido um sonho? Avalon estaria lhe pregando peças? Ela olhou para a noite, procurando por movimento. Não havia nada, nenhum movimento, exceto o salgueiro solitário que balançava ao vento. Caminhou, com dificuldade, até os fundos da casa, fechando o zíper do casaco até o queixo e lamentando estar usando o gorro de lã.
— Oi? Tem alguém aí?
As luzes mais para o interior estavam tão brilhantes como sempre, brilhando com uma intensidade sobrenatural.
Muriel semicerrou os olhos. A luz tremeluziu enquanto olhava através da escuridão. Algo estava pegando fogo. Um prédio, bem ao longe, na linha férrea.
— Arthur! — ela sussurrou.
Era a casa dele. Tinha que ser. Era a única construção próxima que seguia de pé. Muriel começou a andar, depois começou a correr, cambaleante. Havia movimento na grama alta ao lado, contudo não se deu conta, esquecendo os gritos lamentosos que a haviam acordado. A casa de Arthur estava pegando fogo.
Precisava se apressar.
O vento mudou de direção, trazendo consigo o cheiro de madeira queimada. Uma chuva leve caiu, no entanto longe de ser o suficiente para apagar as chamas que se elevavam cada vez mais. O incêndio iluminou a área ao redor. Certamente alguém tinha visto? Os trabalhadores, os homens operando as máquinas... Era impossível não notar! E então um pensamento sombrio invadiu seu subconsciente.
Talvez eles tivessem optado por não chamar os bombeiros. Afinal, era do interesse da Organização Grant.
E se tivesse sido proposital?
Ela chegou à casa mais rápido do que o esperado. Do ponto de vista de Muriel, as chamas pareciam tocar a lua. Alcançou o portão e o abriu, todavia o calor imenso a forçou a recuar. O telhado já havia desabado, as vigas de madeira queimando em preto, brasas douradas cuspindo no ar como estrelas cadentes.
Muriel ficou observando, impotente, e uma hora depois, quando as luzes do carro de bombeiros atingiram o topo da duna, seguia estando lá, chorando pelo amigo. Ela caiu de costas na grama molhada enquanto os homens desciam do caminhão e pegavam a mangueira.
Eles sabiam tão bem quanto ela que era tarde demais.
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