terça-feira, 30 de setembro de 2025

The Magnus Archives — Primeira Temporada — Capítulo 08

Primeira Temporada  Capítulo 08: Queimado

Rusty Quill Apresenta “Os Arquivos Magnus”
Episódio oito: Queimado



JONATHAN SIMS

Depoimento de Ivo Lensik, sobre suas experiências durante a construção de uma casa na Hill Top Road, em Oxford. Depoimento original prestado em 13 de março de 2007. Gravação em áudio por Jonathan Sims, Arquivista-Chefe do Instituto Magnus, Londres.

Início do depoimento.



JONATHAN SIMS

Trabalho na construção civil há quase vinte anos, em grande parte na região de Oxford e seus arredores. Quando meu pai faleceu em 1996, assumi sua empreiteira e tenho trabalhado de forma constante desde então.

Posso fazer quase tudo o que me pedem, mas geralmente me especializo em novas construções, encanamento e fiação pra ser específico, e tenho uma certa reputação de estar disponível em curto prazo, então não é incomum ser chamado no meio de uma construção para fazer algum trabalho. Quando consegui o emprego trabalhando em uma casa na Hill Top Road em meados de novembro, nada na situação me pareceu estranho. O cara que eles tinham para fazer a fiação tinha sido chamado para o júri e o perderam por algumas semanas, sendo assim me pediram para substituí-lo. Estava em outro trabalho durante o dia, porém minha noiva, Sam, estava em uma conferência em Hamburgo por um tempo e estávamos economizando para o casamento, o que me fez pensar que poderia trabalhar à noite.

Bem, a Hill Top Road é uma rua bastante isolada na área de Cowley. Não há muitas casas de estudantis por lá, então é um lugar bem tranquilo, ainda mais depois que todas as crianças que moram lá já foram dormir. A casa em si tinha sido inaugurada há pouco tempo, pois uma disputa pela propriedade havia mantido o terreno fechado por anos, e quando cheguei, seguia quase vazia. Tinha dois andares com um mezanino que seria outro quarto, para combinar com as outras casas da rua. As portas tinham sido instaladas, embora as fechaduras não, contudo os espaços vazios onde as janelas deveriam estar ainda estavam vazios, deixando entrar o frio. Aquele lado da rua dava para o South Park, com cercas marcando o fundo de cada jardim.


O jardim daquela casa em particular era quase todo cheio de materiais de construção e entulho, no entanto me lembro de que, sobressaindo tudo, havia uma árvore. Era muito grande e muito morta, e, para ser sincero, a coisa me assustou pra caramba. Parecia projetar sombras estranhas, que eram escuras e claras mesmo nos dias mais nublados. Entretanto não foi a árvore que começou. Não, isso aconteceu na minha terceira noite no trabalho. Deviam ser 8 ou 9 da noite, pois já estava escuro há algumas horas. Fiquei trabalhando na fiação do térreo quando ouvi uma batida na porta da frente. A princípio, pensei que fosse um dos outros construtores que tinha esquecido alguma coisa, todavia logo percebi que não havia fechadura na porta; qualquer um dos outros estaria ciente e só entraria. Comecei a me sentir um pouco inquieto quando a batida voltou a soar. Ao longo dos anos, tive alguns conflitos com vagabundos que queriam causar problemas nas minhas obras, então peguei um martelo ao me aproximar. Fiz o possível para segurá-lo casualmente, como se tivesse acabado de usá-lo.

Abri a porta e vi um homem modesto, de casaco bege. Era bem jovem, branco, talvez na casa dos vinte e poucos anos, barbeado e com cabelos castanhos desgrenhados. Seu casaco tinha um corte bem antigo; a mim lembrava algo saído de uma Polaroid antiga. Disse que se chamava Raymond Fielding e que era dono da casa. Enquanto falava, senti meu aperto no martelo se intensificar, embora não tenha ideia do porquê. Perguntei se tinha alguma identificação ou documento, e ele me entregou o que parecia, pelo que pude perceber, ser a escritura da casa, bem como do terreno abaixo, e de fato listava um homem chamado Raymond Fielding como proprietário. Sendo assim, o deixei entrar. Pedi desculpas pela corrente de ar e disse que os vidros seriam instalados nos próximos dias, mas até lá faria frio. Ele não respondeu, apenas caminhou até a moldura vazia da janela dos fundos e olhou para o jardim. Tentei continuar meu trabalho, mantendo um olho naquele estranho. Nada naquela situação parecia certo, porém não me parecia estar fazendo nada suspeito, apenas parado ali, olhando para o jardim, então voltei minha atenção para a fiação.

Depois de um ou dois minutos, senti um cheiro forte e desagradável. Pensei que talvez tivesse ligado algo errado, porém não... Cheirava a cabelo humano queimado. Olhei para onde Raymond estivera, contudo ele havia sumido. Onde estivera, havia apenas um pedaço de piso de madeira queimado, pelo que notei ainda fumegando e exalando aquele fedor horrível. Corri para pegar o extintor de incêndio em um cômodo adjacente. Saí por apenas alguns segundos, no entanto quando voltei, o cheiro tinha sumido e não havia mais fumaça ou fogo, apenas a marca de queimado no piso de madeira em frente à janela. Ao tocá-lo, percebi que estava tão frio quanto o resto do piso. Comecei a limpar e percebi que a madeira abaixo parecia intacta, com apenas uma camada de fuligem e cinzas por cima. Dei uma olhada em volta procurando por Raymond Fielding, entretanto se realmente esteve lá, já tinha ido embora. Foi só quando terminei de limpar a marca que a verdadeira estranheza da situação começou a se instalar e eu entrei em pânico.

Talvez deva explicar um pouco do meu medo, já que não era por causa de fantasmas, cheiros fantasmagóricos ou coisa do tipo. Veja bem, há um histórico bastante significativo de esquizofrenia entre os homens da minha família. Meu pai tinha, assim como meu tio-avô, e em ambos os casos isso levou ao suicídio. Não sabia muito sobre meu tio-avô, todavia vi o declínio do meu pai em primeira mão. Começou logo após o divórcio da minha mãe, embora, pensando bem, talvez tenham sido os estágios iniciais que exacerbaram os problemas conjugais deles. Independentemente disso, ele começou a passar muito tempo trancado no escritório fazendo “seu trabalho”. Eu tinha por volta de 24 ou 25 anos na época e ainda morava em casa. Trabalhava com meu pai, fazendo quase o mesmo trabalho que faço agora, e foi nesse ponto que precisei assumir cada vez mais a administração do negócio, já que meu pai estava começando a priorizar seu “trabalho” em detrimento do emprego em si. Seu “trabalho” acabou sendo fractais. Estava obcecado por eles, parecia passar o tempo todo desenhando-os, observando-os, medindo os padrões que criavam. Passava horas conversando comigo sobre a matemática por trás e me dizia que estava à beira de uma grande verdade. Ele iria abalar a matemática até os alicerces assim que descobrisse essa verdade, oculta naqueles padrões fractais em cascata.

Um dia, voltei para casa e encontrei meu pai olhando através das persianas, aterrorizado. Alegou que alguém o estava seguindo e me disse que planejavam interromper seu trabalho. Perguntei quem era, mas ele balançou a cabeça violentamente e disse que eu o reconheceria quando o visse, porque “todos os ossos estão em suas mãos”. Tentei ajudá-lo, é claro que tentei, porém meu pai se recusou a tomar qualquer medicamento, pois disse que interferia em seu trabalho, e como não era perigoso, não poderia interná-lo. Sabia que era apenas uma questão de tempo até que se machucasse e, com certeza, chegou o dia em que não atendeu às batidas na porta do escritório. Invadi a casa e o encontrei morto em uma poça de sangue, com marcas profundas nos pulsos e braços. As paredes estavam cobertas de desenhos fractais, todas as superfícies estavam empilhadas com eles e aparas de lápis cobriam o chão. O inquérito considerou sua morte um suicídio, embora o legista não tenha conseguido identificar a ferramenta que havia causado os cortes em seus braços ou por que tinha uma expressão de medo no rosto.

É por isso que o aparente desaparecimento de Raymond Fielding me preocupou tanto. Eu era mais jovem do que meu pai, contudo tinha essa possibilidade dentro de mim. Essa linha de pensamento foi talvez o motivo pelo qual não estive prestando tanta atenção quanto deveria onde estava pisando e escorreguei na parte molhada do piso que acabara de limpar. Caí para a frente, batendo a cabeça com força. Acho que não fiquei inconsciente por mais do que alguns segundos, no entanto quando acordei, sangrava de um corte profundo na têmpora. Tentei chegar ao meu carro, todavia me senti tão tonto só de ficar em pé que sabia que dirigir estava fora de cogitação. Sem outra opção, chamei uma ambulância. Esta chegou em pouco tempo e me levou ao Hospital John Radcliffe.

Quando cheguei lá, eles foram muito solícitos e rapidamente determinaram que tive uma concussão bastante grave, então fiquei em observação durante a noite. Contei tudo ao meu médico sobre meu encontro com Raymond Fielding. Se fossem sinais precoces de esquizofrenia em desenvolvimento, queria saber o mais cedo possível. O médico ouviu com atenção e disse que era improvável, pois seria surpreendente que desenvolvesse alucinações de forma tão abrupta, entretanto que estariam me mantendo em observação. Percebi que, enquanto explicava minha experiência, a enfermeira que media minha pressão parecia estar ouvindo atentamente, embora tenha saído antes que eu pudesse perguntar o porquê.

Fiquei no hospital por mais dois dias. Sam quis encurtar a viagem quando soube da minha concussão, mas disse a ela que qualquer perigo real havia passado e que ficaria bem até o final da sua conferência, então fiquei sozinho na maior parte desse tempo. Foi na manhã anterior ao seu retorno que voltei a ver a enfermeira. Tinha acabado de receber a notícia de que todos os exames estavam normais, então tinha recebido alta e ela veio me dar uma última olhada.

A enfermeira me perguntou se tinha certeza de que o homem que tinha ido à casa na Hill Top Road se chamava Raymond Fielding. Respondi que sim, e que até vi a sua assinatura na escritura do terreno, porém que não conhecia nada da história do lugar. A enfermeira ficou em silêncio e sentou-se. Era uma mulher mais velha, acho que malasiana, e chutaria que tivesse uns cinquenta e poucos anos, embora não tenha perguntado. Ela disse que sua família morava na Hill Top Road há muito tempo e que conhecia o lugar onde estou trabalhando. Na década de 1960, a casa que ficava ali pertencera a um homem chamado Raymond Fielding, um devoto frequentador da igreja, e a usava como casa de recuperação em nome da diocese local, cuidando de adolescentes fugitivos e jovens com problemas mentais. Ao que parecia, a vizinhança não gostava da casa, já que seus moradores se envolviam em encrencas com frequência e a Hill Top Road começava a ganhar uma certa reputação por isso. Ninguém jamais disse uma palavra contra o próprio Raymond, que, segundo todos os relatos, era uma alma tão bondosa e gentil a ponto de ser amado por quase todos.

Ninguém soube ao certo quando Agnes se mudou; alguns até diziam que era filha de Raymond, já que ambos eram parecidos e ela era mais nova do que a maioria das outras crianças que moravam lá. A garota não devia ter mais de onze anos quando apareceu e não falava muito, a não ser para dizer seu nome às pessoas, se perguntassem. Todos começaram a notar aquela criança com maria chiquinhas castanhas encarando-os através das janelas da casa de Raymond. Pelo que se sabia, era tudo o que parecia fazer... Encarar as pessoas pelas janelas. Era perturbador, no entanto ninguém tinha nenhum problema real com aquilo.

Nos anos seguintes, as crianças da casa de recuperação pararam de causar problemas na área ao redor da Hill Top Road. Não foi uma mudança óbvia, pouco a pouco as pessoas que moravam lá foram vistas cada vez menos. Raymond seguia lá e parecia perfeitamente alegre. Se alguém lhe perguntasse sobre algum morador que não aparecia há algum tempo, ele explicava que eles haviam se mudado ou encontrado um lugar próprio, e ninguém se importava o suficiente para investigar suas informações. Logo, as únicas pessoas morando naquela velha casa eram Agnes e Raymond. Então Raymond também desapareceu. Agnes devia ter 18 ou 19 anos nessa época e seguia sem quase nunca falar. Quando questionada sobre o que aconteceu com Raymond, apenas respondeu que este tinha ido embora e que a casa era sua. As pessoas ficaram um pouco preocupadas, e a polícia conduziu uma pequena investigação, todavia a casa havia sido legalmente transferida para Agnes e não havia sinal de qualquer crime. Nem sinal de Raymond, aliás.

E assim os anos se passaram e Agnes continuou morando naquela velha casa. Quase nunca parecia sair dela, apenas observava pelas janelas. O pessoal da Hill Top Road aprendeu que era melhor não ter animais de estimação, pois eles tendiam a desaparecer. Então, em 1974, Henry White desapareceu. Ele tinha 5 anos e a busca não deu em nada. As pessoas sempre sussurraram sobre Agnes, entretanto agora os sussurros se tornaram maldosos. Sujos o suficiente para que, quando a fumaça foi vista saindo da velha casa dos Fielding, uma semana após o desaparecimento do pequeno Henry, ninguém fizesse nada. Ninguém ligou para os bombeiros nem tentou ajudar. Apenas observaram. Agnes também não deve ter telefonado pedindo ajuda, pois quando os caminhões de bombeiros chegaram, não havia mais nada para salvar. Durante todo o tempo, ninguém viu sinal de vida dentro do prédio. Nenhum grito, nenhum movimento, nada além do rugido das chamas. Quando o fogo enfim foi apagado, encontraram restos mortais, mas não era de Agnes nem de Henry White. O único corpo que encontraram foi o de Raymond Fielding. Tudo o que restou foi um esqueleto gravemente carbonizado, sem a mão direita.

Essa era a história do lugar, como a enfermeira me contou. Depois que os escombros foram removidos, o terreno ficou atolado em complicações legais relacionadas à propriedade e assim permaneceu até o início do ano passado. Ela me pediu para não deixar ninguém saber que estava falando sobre isso, pois não queria que pensassem que estava espalhando histórias. Disse que ficaria quieto e ela foi embora. Não a vi mais e fui para casa logo depois.

Descansei em casa por alguns dias, porém acho a inatividade forçada muito chata e minha cabeça estava ótima, então decidi voltar ao trabalho. Eu deveria ter evitado voltar para Hill Top Road, só que me senti ressentido com a sensação que a casa me causava. Não acreditava em fantasmas, para ser sincero, ainda não tenho certeza se acredito, e o médico me garantiu que não apresentava nenhum outro sintoma de esquizofrenia, então não havia motivo para sentir essa apreensão torturante. Convenci-me de que a única maneira de banir a sensação era voltar e terminar o trabalho que comecei. E foi o que fiz, embora tivesse o cuidado de trabalhar apenas à luz do dia e tentasse evitar ficar sozinho.

Mesmo assim, havia momentos ocasionais em que me via sendo o único a trabalhar em uma sala, ou quando o silêncio caía sobre o prédio. E logo sentia o cheiro outra vez, aquele cheiro de cabelo queimado, ou vislumbrava tranças castanhas desaparecendo em uma esquina. À medida que o trabalho se aproximava do fim, tornou-se mais difícil evitar trabalhar lá depois de escurecer, até que, certa tarde, perdi a noção do tempo e olhei para cima para ver que não só a noite havia caído, como era o único que restava no prédio. Quase assim que percebi, comecei a suar. A princípio, pensei que fosse nervosismo ou até mesmo um ataque de pânico por me encontrar sozinho, contudo era o calor; esse calor que parecia começar nos meus ossos e irradiar através de mim. Tirei o chapéu e o casaco, no entanto fiquei cada vez mais quente até parecer que estava cozinhando por dentro. Tentei gritar, mas não conseguia respirar, não conseguia me mover. Eu estava queimando.

Houve uma batida na porta e a sensação desapareceu abruptamente. Eu estava frio de novo, deitado no chão. Lutei para me levantar quando a batida tornou a soar. Minha mão tremia quando a abri. A essa altura, não sabia o que esperar. Seria Raymond de novo? Agnes? Ou alguma outra coisa para anunciar o fim da minha sanidade. O que não esperava era um padre católico. Ele era baixo e um pouco corpulento, com cabelo curto e rugas profundas de sorriso ao redor da boca. Ele se apresentou como Padre Edwin Burroughs e me disse que “Annie” havia lhe pedido para fazer uma visita ao local. Não conheço nenhuma Annie e lhe contei isso, e o padre pareceu um pouco confuso, disse que ela trabalhava como enfermeira no Hospital John Radcliffe. Aquilo acalmou meus medos o suficiente para que o deixasse entrar e perguntei se era algum tipo de exorcista. O Padre Burroughs sorriu e me disse que sim, que era exatamente isso que era.

Então contei minha história enquanto examinava a casa. Sua cabeça acenou alguma vezes enquanto lhe contava o que havia acontecido, as vezes fazendo uma pergunta sobre o que havia sido dito ou como havia me sentido. Por fim, pareceu satisfeito e disse que faria o que pudesse. Explicou que exorcismo era, na verdade, apenas para demônios e não era algo que pudesse fazer com fantasmas, pelo menos não oficialmente... Se fantasmas de fato existiam ou não era uma questão tão polêmica dentro da igreja quanto fora dela... Contudo faria algumas bênçãos e veria se poderia ajudar. Ele me pediu para esperar do lado de fora enquanto trabalhava, então fui para o jardim dos fundos e esperei.

Enquanto estava ali no frio, meus olhos pousaram na árvore. Aquela árvore assustadora e maldita. Não sei por quê, entretanto naquele momento senti uma raiva intensa e enlouquecedora daquela árvore. Peguei um pé-de-cabra largado em uma pilha de madeira próxima e, jogando meu braço para trás, girei-o em direção ao tronco, enterrando-o com toda a minha força. Senti algo quente e úmido jorrar onde atingi. Seiva? Não, não parecia ser seiva. Acendi minha lanterna e vi sangue escorrendo da árvore ferida. Escorreu pelo pé-de-cabra e pingou na terra, correndo em riachos. Quando chegou às raízes, vi algo diferente na luz da minha lanterna: velhas marcas pretas de queimadura se erguendo da base da árvore.

Naquele instante, tomei minha decisão. Foi fácil, como se destruir aquela árvore fosse a única coisa a fazer, o único caminho a seguir. Encontrei uma longa corrente entre os materiais de construção no jardim e a enrolei no tronco ainda sangrando, depois prendi as pontas ao meu carro.


Levei menos de um minuto para puxá-la para baixo, e não houve mais sangue. Quando a árvore estava caída de lado, arrancada e sem forças, olhei para o buraco onde havia se instalado e notei algo caído na terra.

Descendo, recuperei o que se revelou ser uma pequena caixa de madeira, com cerca de quinze centímetros quadrados, com um padrão intrincado esculpido na parte externa. Linhas gravadas a cobriam, deformando-se e entrelaçando-se, tornando difícil desviar o olhar. Abri a caixa e dentro dela havia uma única maçã verde. Parecia fresca, brilhante, com uma camada de condensação, como se tivesse acabado de ser colhida em uma manhã fria de primavera. Eu a peguei. Não ia comê-la, não sou tão idiota assim, no entanto mais do que árvores sangrando ou queimaduras fantasmas, isso me confundiu. Porém assim que a tirei da caixa ela começou a se deteriorar. A casca ficou marrom e machucada, e começou a murchar na minha mão. Então se partiu. E saíram aranhas. Dezenas, centenas de aranhas irrompendo daquela maçã que apodrecia bem diante dos meus olhos. Gritei e a larguei antes que qualquer uma delas pudesse tocar meu braço. A maçã caiu no chão e explodiu em uma nuvem de poeira. Recuei e esperei até ter certeza de que todas as aranhas tinham ido embora antes de recuperar a caixa. Quebrei-a com um pé de cabra e joguei os restos em uma caçamba.

O Padre Burroughs voltou logo depois. Ele me disse que tinha feito suas orações e esperava que fosse de alguma ajuda. Se notou a árvore derrubada, não fez perguntas sobre, em vez disso, apenas me entregou seu cartão de visita e me disse para ligar se houvesse mais problemas. A casa não parecia diferente, mas não havia cheiro de cabelo queimado, nem calor, nem fantasmas, nem qualquer estranheza que eu pudesse ver. Trabalhei naquela casa por mais uma semana, e não sei se foram as orações do padre ou o fato de ter arrancado a árvore, todavia não encontrei nada de incomum durante o tempo que passei lá. Depois disso, minha parte do trabalho terminou, e não voltei para Hill Top Road desde então.



JONATHAN SIMS

Depoimento encerrado.

Ah, traumatismo craniano e esquizofrenia latente, os melhores amigos dos fantasmas. Além do uso excessivo de drogas psicoativas, parece-me que simplesmente não há maneira melhor de entrar em contato com o mundo espiritual. Mesmo assim, loquacidade à parte, a história do número 105 da Hill Top Road merece investigação. E embora confie no depoimento do Sr. Lensik sobre suas próprias experiências tanto quanto posso acreditar em uma árvore sangrando, há uma nota no arquivo mencionando que o Padre Edwin Burroughs registrou sua própria versão desses eventos no Depoimento 0218011. Embora ainda não tenha localizado esse arquivo específico no caos que se passava pelo arquivo de Gertrude Robinson, a sugestão de que pode haver corroboração externa dá algum crédito potencial à história delirante do Sr. Lensik. Nenhum outro trabalhador no canteiro de obras na época relatou quaisquer distúrbios como os relatados pelo Sr. Lensik.

Martin não conseguiu encontrar a data exata em que a casa original foi construída, contudo os registros mais antigos que conseguiu encontrar a listam como tendo sido comprada por Walter Fielding em 1891. Foi herdada por seu filho Alfred Fielding em 1923 e, em seguida, por seu neto, Raymond Fielding, em 1957. Não havia registro de que tivesse sido usada como casa de recuperação, certamente nenhuma ligada à diocese católica local, embora os registros da Igreja da Inglaterra para a área aos quais Sasha teve acesso estivessem, infelizmente, incompletos. Os moradores mais antigos de Hill Top Road corroboram o relato da enfermeira, Anna Kasuma, conforme relatado aqui.

Tim conseguiu marcar uma entrevista com a Sra. Kasuma, no entanto ela aparentemente não conseguiu fornecer mais informações além do que contou ao Sr. Lensik. Ela admitiu, porém, ter pedido ao Padre Burroughs para dar uma olhada na casa, pois estava preocupada com esta e já o vira realizar exorcismos antes. Não parece haver nenhuma evidência impressa do que aconteceu com a casa; nenhuma notícia ou afins sobre o incêndio. Mas um morador forneceu uma fotografia da casa em chamas.

O obituário de Raymond Fielding relatou brevemente que sua morte foi causada por um incêndio e elogia seu trabalho com jovens problemáticos, todavia não dá detalhes sobre nenhum dos dois. Agnes permanece um mistério, pois não conseguimos encontrar nenhuma prova definitiva de sua existência. Exceto... Não podemos provar nenhuma conexão, entretanto Martin desenterrou um relato sobre uma tal Agnes Montague que foi encontrada morta em seu apartamento em Sheffield na noite de 23 de novembro de 2006, o mesmo dia em que o Sr. Lensik afirma ter arrancado a árvore. Ela havia se enforcado. Sua idade é informada como 26, o que não corresponde em nada. Contudo, presa por uma corrente à sua cintura, havia uma mão humana decepada, a mão direita. Seu dono nunca foi identificado, no entanto o legista parece ter ficado bastante perplexo, pois a deterioração do tecido indicava que o dono original da mão deve ter morrido quase ao mesmo tempo que Agnes.

Duas famílias moraram na casa desde que esta declaração foi originalmente feita, embora nenhuma outra manifestação foi relatada na Hill Top Road.

Fim da gravação.

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